Quando
lemos este capítulo, podemos perceber que a prostituição no seio
do povo de Deus é algo histórico, como um câncer da alma. Foi
grande a inclinação de Efraim, Israel e Judá para este tipo de
pecado. Tais povos lançaram-se à prostituição e com certeza nela
sentiram regozijo. Não tiveram receio algum da mão de Deus sobre
suas vidas; sequer lembravam Dele quando no cometimento do pecado; e,
se lembravam, pior eram suas culpas.
Porém,
é dito neste capítulo que “um espírito de prostituição está
no coração deles” (v.4). Fico a pensar o quão forte e velho
tem sido este espírito. Parece até que quanto mais velho, mais
forte se torna. Digo isto porque ao contemplar o nível de “consumo”
deste pecado, vejo-o se propagar como as pragas no Egito. Não seria
hipérbole dizer que este mal está arraigado nas igrejas – quer
sejam grandes ou pequenas –, em toda a parte do mundo. Tenho visto
este mal crescer, e não por fraqueza do Espírito Santo, como se
estivesse perdendo uma competição de quebra de braço. O mal nasce
da própria inclinação natural do homem ao sexo, algo natural
projetado por Deus, que foi potencializada e banalizada por este
espírito, tornando-o numa espécie de deus
que deve ser desejado e “adorado” através da consumação do
ato.
Este
mal corroeu tanto o povo de Deus narrado em Oseias, que o próprio
Senhor chegou a dizer: “Suas ações não lhes permitem
voltar para o seu Deus. (…) Quando eles foram buscar o Senhor com
todos os seus rebanhos e com todo o seu gado, não o encontrarão”
(vs. 4 e 6). Daí podemos concluir o quão grave Deus considera tal
pecado; ele é capaz de
afastar o homem – vítima e
adorador ao mesmo tempo de tal espírito – de Deus.
O
tempo segue o seu fluxo natural de transcorrer, e o povo de Deus
(aquele que se chama pelo Seu nome) continua a adorar este
deus. Nesta era tecnológica, fazem de suas casas, computadores,
celulares, tablets, as novas formas “litúrgicas” de adoração.
Assim como a liturgia no culto cristão recebe as modificações de
sua época, a Igreja da Prostituição
muda sua forma de contemplar o seu deus, utilizando
todos os meios imagináveis – e quiçá inimagináveis – de fazer
com que seus fiéis se
prostrem diante dele.
O mal avança e parece que o povo de Deus se torna cada vez mais
refém deste mal. Poderia considerá-lo “o mal de todos os
séculos!” Pior que isso, o povo de Deus é quem corre atrás do
algoz. Ele (o mal) não faz a mínima força para aprisioná-lo e
acorrentá-lo com grilhões ultrarresistentes.
O
sentimento de culpa é um inimigo que este povo carrega em si, desde
quando foi eleito. O próprio
Deus falou que “Irei
e voltarei ao meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a
minha face; estando eles angustiados, de madrugada me buscarão.”
(v. 15), e é exatamente isto que tem-se visto: o Seu povo tem
reconhecido sua culpa, tem se angustiado, tem buscado a Sua face
diuturnamente – inclusive para ser liberto de tal mal – mas mesmo
assim continua a ser escravo deste pecado. Isso os incomoda
espiritualmente; sentem-se enojados perante o Redentor; procuram
descanso para vossas almas; sabem
que estão errados e querem mudar… mas não conseguem.
A
sensação de não conseguir libertar-se recrudesce hodiernamente com
o avanço da tecnologia, onde a internet é vista como ferramenta
facilitadora para a prática pecaminosa. A prostituição não é
mais a prática em si que,
para ser consumado, precisa da figura de um(a) parceiro(a). Como bem
falou Norbert Elias em seu livro O Processo Civilizador,
com o desenvolvimento da
civilização, o olho passou
a canalizar todos os demais órgãos de sentidos do corpo humano. Ou
seja, não é mais preciso utilizar todos os sentidos para cometer um
mal; o simples fato de assisti-lo já faz-se necessário para
satisfazer os desejos e impulsos – e, diga-se de passagem,
a
prostituição materializa-se no simples olhar! Aliás, a carga moral
civilizatória já é por demais coercitiva, fazendo com que os principais impulsos humanos (sexual e agressividade) sejam
controlados socialmente para o bom desenvolvimento da própria sociedade.
Talvez
tenha sido esse o pecado, dentre todos, que tenha motivado o
cristianismo da Idade Média a criar os mosteiros, e assim separar o
pretenso monge da
sua sociedade, no intuito de não contaminá-lo mais ainda, haja
vista que o diálogo sobre a sexualidade neste período era mais
livre e intenso – principalmente na presença de crianças – em
detrimento aos períodos ulteriores.
No
entanto, para Deus, o pecado para caracterizar-se, basta acontecer no
plano da introspecção. Não é necessário externá-lo para
materializar-se. Como dito
anteriormente, materializa-se no simples olhar. Essa
é uma carga deveras pesada – no que concerne à prostituição –,
tendo em vista o bombardeio midiático do culto ao corpo
que vemos, mesmo quando
não queremos
ver. As vestimentas, os outdoors, os anúncios dos sites de notícias,
as propagandas televisivas, de revistas e em jornais impressos, etc.,
tudo alude ao sexo. Somos cutucados todo o dia (e o dia todo!) para
cometermos tal pecado – que, nestas alturas, já se encontra no
nível da iniquidade.
Sou
cristão, sei que o que direi não diminui minha fé, embora
possa maculá-la na interpretação alheia – e este é o preço de
expor-se! --; e por isso mesmo,
por ser de dentro, tenho a liberdade e ousadia para dizer: esta luta interior (da prática da prostituição materializada na lascívia) não tem sido
um jugo suave, e o fardo não tem sido leve.