segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pobres Poderes

O artigo e o seu título, é de autoria do jornalista Ricardo Mota. Achei muito interessante e por isso reproduzu-o:

"Que moleque folgado, aquele! Em plena Pajuçara, fez parar o trânsito para que pudesse atravessar a rua. Ao concluir a sua “missão”, sinalizou aos motoristas que estes poderiam prosseguir viagem.

Achei muita graça na cena, imaginando que aquele garoto de rua, “maltrapilho e maltratado”, exerceu ali o seu fugaz poder. E o fez com autoridade, além de um tanto de deboche, o que me agradou mais ainda. Pensei: ele tem consciência do que está fazendo e gosta de fazê-lo (depois, pude observar de longe que ele repetia a ação de quando em vez).

É sedutor o poder, muito já foi dito. Mas acho que ele envolve com mais facilidade os que são fracos. Seja por buscá-lo a qualquer custo, seja pelo desejo mesquinho de consumir as sobras do farto.

As ruínas de uma existência podem surgir imediatamente após a conquista do troféu – pior ainda, se é o poder político. Pude acompanhar de perto, lamentando, a destruição de uma vida interessante de uma pessoa idem.

De sólida formação intelectual e profissional, ela conseguiu o que buscou quase que desesperadamente. Pouco tempo depois, me dizia aos prantos, havia descoberto o fundo do poço – a sua sensibilidade apontava.

E aí? O esforço sobre-humano que havia feito para chegar ao topo fez em dobro para lá permanecer. É a lei: perder é pior que não nunca ter tido.

Ademar de Barros, criador do “rouba, mas faz”, foi indagado, certa feita, por que gostava tanto de ser governador de São Paulo. Respondeu com uma pergunta:

- Sabe lá o que é passar quatro anos sem pegar na maçaneta de uma porta?

Pois é, eis uma das grandes confusões involuntárias e previsíveis dos “poderosos”: entendem bajulação como respeito ou admiração, puro interesse como amor, e por aí vai.

Aos que estão dispostos a conquistá-lo, é preciso saber: estar no poder é renunciar, quase sempre, à possibilidade de vir a ter uma nova amizade para valer, verdadeira. Se já tinham amigos antes da subida, que os conservem tanto quanto puderem – terá sido esta a melhor obra de suas vidas.

Só um amigo de verdade é capaz de apontar a falha “invisível” – mesmo que clamorosa -, pôr o dedo na ferida sem temer o grito do outro. Quem, estando alguns degraus acima, há de deixar aberto o canal da crítica ou até mesmo da autocrítica? A humildade morre com o humilde.

Mal comparando, o poder se assemelha à Caixa de Pandora. Mas com uma fundamental diferença: em vez da esperança, o que nela restará depois de aberta será uma imensa solidão."