Perdi a capacidade de pensar. Já
fui inteligente, eu sei. Estou totalmente
destreinado para a atividade de pensar. Não consigo ter a
mesma visão de mundo, atrofiei. O que antes saía
naturalmente, hoje demora; e quando a ideia nasce, nasce atrofiada.
Só sei falar de mim,
pura prova de que não sei mais falar de nada exterior a mim.
Sinto o desejo de escrever, mas só sai na primeira pessoa.
Estou preso em mim, porque nunca me libertei
para o que está fora de mim.
Não
sei
se isso é bom ou ruim. Se uma
fase,
ou
egoísmo. Acho
que egoísmo. Uma forma mínima de egoísmo, mas não deixa de ser.
Isso mostra meu
vazio intelectual, minha
pequenez, minha
limitação. Não sirvo
para nada, não sei
de nada.
Quando
quero
falar de algo exterior a mim,
isso se torna sacrificante, pesado, me
deixa amargurado. Típico pós-moderno, preso em seu mundinho,
cuidando das fronteiras de sua ilha e destruindo os binóculos que
avistava a solidão alheia.
Até
quando falar de mim
ajudará o próximo? Seres vazios não ajudam, não tem nada para
ensinar. A bem da verdade, eu
preciso
de ajuda. Não consigo
me
libertar de meu
vazio.
Cristo
foi altruísta, porque tinha o que ensinar. Aquele que tem conteúdo
ensina; quem não, porque não há conteúdo suficiente para ensinar.
Cristo ensinou e não cessou de ensinar. Uma
fonte de conhecimento e sabedoria. Tudo o que me
falta.
Procurei
meios institucionalizados e alternativos para iniciar os passos deste
caminho, mas não tem jeito... “volta o cão ao seu vômito, e a
porca lavada volta a revolver-se no lamaçal”.
Quanto
mais me
aprofundo, mais me
perco e conclusão alguma chego
a respeito de nada e nem de mim
mesmo. Nada de útil flui de mim.
Nem para falar de mim
mesmo sirvo. Isso me
angustia e sequer me
molda. Beirando à depressão.
Chegar
a tais conclusões me
deixam sem ânimo e me
direcionam para as derrotas da vida. Talvez a única serventia seja
me
preparar para o pior.
Vejo
os vitoriosos que me
cercam e contemplo
neles um olhar para fora de si, sempre se lançando para algo que
contribua com o bem estar social. Tomei
o caminho inverso e não consigo
arrepender-me.
Não deveria existir. Quem
não contribui,
que
não viva!