sábado, 11 de dezembro de 2010

A Ditadura do Ultrajante


Ditatoriar o tempo, esgarçar as horas, vagar na memória, vender-se ao ócio... quem declina à vida, declina ao tempo. Entremete-se no sótão da mente, busca do âmago os arrepios, as sujeiras, e extrapola emoções. Mentiras... não é mais possível esconder. Subverte-se socialmente, atitudes insanas amiúdes. Nunca se viu nesta situação! Destempero no riso, insensatez nas lágrimas, morbidez nas piadas... é... surtou o coração!

De surtos em surtos vivemos no mundo, como moribundos, em busca de laços e abraços; mentecaptos, ineptos e mitômanos nos tornamos! Malogrados os sonhos, turvamos o pensamento cartesiano e percorremos trajetos venais. Vicissitudes morais, idiossincrasias e sabujices são marcas da volúpia do Ser.

Ser? Somos o quê? Somos o que nos tornamos! Contra à gosto, mas nos tornamos! Tornamo-nos em algo mundano, fruto do ocaso, janízaros de correntes político-filosóficas e religiosas. Forças inextinguíveis nos adentram, modelam e saem à bolor. É um ciclo vicioso. Pensamos que mudamos, mas agimos, reagimos e retroagimos num mesmo caminho. Mudam-se os cenários, mudam-se os atores, mas a cena permanece a mesma!

Palavras jogadas ao vento, pensamentos ao relento... legados inexistentes. Vazio da alma, sapiências tosquenejadas! Ilusor e lúdico no (e pelo) mundo. Influência positiva para uns e negativa para alguns. Tergiversamos o lógico em busca de lograr os pensamentos. Se preciso for, usamos, peremptoriamente, de maniqueísmos, tropelias dos grandes menestréis de guerras e políticas.

Tornamo-nos fâmulos de grandes teóricos e assim não criamos; tão somente reproduzimos. É o estorvo da humanidade! Coarctamos nossos caminhos, reduzindo ao ínfimo nosso poder de criação, o que nos faz cooptar com o velho e torna-nos claudicantes diante do novo. E ainda nos damos ao direito à vacuidade! Não de forma consciente, nos fabricamos como ignaros e labruscos. E assim, pensamos que mudamos o mundo... hum!

sábado, 13 de novembro de 2010

Devanear é Preciso


I
Devanear é preciso!
Libertar-se do esperado,
sagrar-se libertário,
andar para trás,
elogiar loucuras,
descortinar defeitos,
desdogmatizar doutrinas,
maravilhar-se com o urbano,
odiar a natureza...
Ah! devanear é preciso!

II
Macular o limpo,
sair para entrar,
entrar para sair,
rir com a desgraça,
chorar nas alegrias,
romantizar o objetivo,
poetizar rotinas,
alegrar-se na guerra,
entristecer-se na paz...
Ah! devanear é preciso!

III
Entristecer o palhaço,
alegrar o melancólico,
viver pela fé,
cegar o racionalismo,
construir causos,
desconstruir realidades,
mascarar o aparente,
desmascarar o teatralismo,
desejar o indesejável...
Ah! devanear é preciso!

IV
Elogiar a loucura,
refutar a sabedoria,
ser forte na fraqueza,
confundir os sábios,
viver na ignorância,
ler de cabeça pra baixo,
passear elegantemente,
informalizar-se no casamento,
fazer esculturas de lixo...
Ah! devanear é preciso!

V
Não planejar o amanhã,
viver sempre o último dia,
infantilizar-se na maturidade,
recrear-se na seriedade,
morrer na melhor parte,
exultar no luto,
desfalecer no nascimento,
piorar na saúde,
melhorar na doença...
Ah! devanear é preciso!

VI
Saborear o diferente,
amar quem nos odeia,
acreditar em utopias,
honrar quem nos desonra,
levantar-se em meio aos feridos,
prestatizar-se ao indiferente,
iluminar o que é escuro,
obscurecer o iluminado,
emergir na movediça...
Ah! devanear é preciso!

VII
Prender-se em pleno vôo,
voar numa cela,
correr de olhos vendados,
perder para ganhar,
ganhar para perder,
misturar teorias,
inventar quimeras,
tumultuar a ordem,
ordenar o caos...
Ah! devanear é preciso!

VIII
Dormir até tarde,
faltar ao trabalho,
banhar-se no mar,
viajar sem planejar,
conhecer pessoas novas,
conhecer outras histórias,
andar sem destino,
militar em causas sociais,
apregoar uma fé...
Ah! devanear é preciso!

IX
Suspender agendas,
brincar com o cachorro,
criar uma música,
plantar uma árvore,
não fazer filhos,
viver para os outros,
ser indiscreto,
tentar mais de uma vez,
ser demitido...
Ah! devanear é preciso!

X
Fazer uma poesia,
abrir uma gaiola,
desfazer-se de orgulho,
deixar ser ultrajado,
silenciar-se nas calúnias,
gritar nas injustiças,
brigar com o forte,
unir-se ao mais fraco,
nunca negar o passado,
Sim, devanear é sempre preciso!

sábado, 6 de novembro de 2010

O Mundo Anda Doente.


Sei que todos já estão cansados de ouvir isso. Mas é uma realidade que deve ser dita todos os dias, para ver se, ao menos, como fruto da insistência, as pessoas acordam e vejam no que está se transformando o mundo em que elas não apenas vivem, mas ajudam a construir. Há quem achará alguns pontos conservadores demais, fruto de meu ascetismo religioso. Bom, não deixa de ser uma visão de mundo e, como tal, deve ser respeitada – como respeito as demais. O mundo anda doente sim! E em todos os sentidos. Tento enumerá-las:

1. A começar pelo consumismo exacerbado. Vejo que as pessoas enxergam no consumo um meio de status e de satisfação de seu ego perante os que lhes cercam mais imediatamente. A máxima tragicômica espalhada pelos correios eletrônicos à fora é uma verdade incontestável: “As pessoas possuem aquilo que não tem necessidade, para mostrar às pessoas que não gostam de que podem ter aquilo que não gostam”. Parabéns ao autor anônimo desta frase. É doentio! É loucura! Ando pela minha pequena cidade, e vejo a quantidade de carros novos – invariavelmente quase todos conseguidos de forma financiada, trocando muitas vezes o necessário pelo sonho de consumo – espalhados e apinhados em quase todos os cantos de Maceió. O sentimento de se pensar coletivamente inexiste nas mentes das pessoas. O que lhes importa mesmo é ter o seu carro novo, mesmo que não trafeguem como deveriam – ou como sonhariam. Tornam a cidade num verdadeiro caos, e transferem este caos para as suas vidas. Não é nenhuma mensagem de satanização ao carro. Ter carro é bom, útil e cômodo, desde que usado na medida certa. Olham apenas para os seus umbigos. E a tendência é que nunca acordem deste mal, mesmo que inúmeras vozes se levantem proclamando o caos que não há de vir, mas que já chegou! São “vozes que clamam no deserto”. Não adianta! Achamos que, como seres humanos, progredimos diametralmente ao progresso tecnológico e industrial; mas ao que parece, caminhamos em sentido oposto.

2. A fácil aceitação pelas coisas que vem de qualquer religião, mas o desprezo pelos elementos do cristianismo. Vejo artistas brasileiros cantarem e exaltarem divindades das religiões afro, e serem admirados por isso. Mas se algum deles cantar, em meio às suas canções, músicas que exaltem o nome de Cristo, são logo ridicularizados.

3. A valorização pelo exterior, e não pelo interior. Beleza virou mais do que meio de atração sexual – comportamento até então aceitável nos seres humanos, pois trata-se de algo imanente. Transformou-se em meio de aceitação social, status a ser perseguido e alcançado. A Moda contribui decisivamente para isso, ditando o que é belo e o que não é. Assim, quem quiser manter seu “estilo próprio” é considerado ridículo, ou quando menos gravemente, como alguém excêntrico, extemporâneo. Enfim, obrigatoriamente “temos que ser iguais”!

4. As oito horas de trabalho diários. Parece argumento de preguiçoso, mas acreditem: não é! André Gorz já me convenceu disso: onde fica o espaço para aprimorarmos nossas vocações? Nem todas as vocações são voltadas aos interesses capitalistas. Muitos, como eu, querem aprender a tocar algum instrumento, ou aprender uma arte qualquer. São coisas do interior, pertencentes ao individualismo. Onde fica o espaço de tempo diário dedicado à família? A lógica capitalista tende à segregação familiar, e nunca à sua união.

5. Insensibilidade social. Lembro-me de um programa televisivo que assisti no Nat Geo, de uma experiência em trazer membros de uma tribo que nunca estiveram em alguma cidade urbana. Hospedaram-nos numa família urbana e ali puderam trocar experiências. Numa dessas experiências, no intuito de aprenderem o dia a dia de uma família de classe média urbana, eles acompanharam o banho e tosa do animal de estimação da família. À caminho do Pet Shop, eles puderam ver homens e mulheres dormindo nas calçadas e bancos das praças. Quando todos já estavam de volta à casa, um dos membros da tribo perguntou: “Eu não consigo entender, como é que vocês cuidam tão bem de seus animais, mas deixam seus irmãos dormirem ao relento”. Meu Deus! Foi chocante em mim! Essas palavras foram dirigidas a mim! Como é que nunca pensei nisso?

6. Mal uso da política. Historicamente, o Brasil e muitos países das Américas do Sul e Central, além da África e Ásia, carregam em si uma construção deturpada dos valores políticos. É de berço. Desde a construção da res publica que o estilo patriarcal de governo transpassou do modelo familiar para o da política, no Brasil. Isso é bem demonstrado nas compras de votos e nas trocas de favores. Nestes último dias, época de campanha eleitoral, uma sobrinha de minha cunhada, ainda criança, acenou para um deputado estadual recentemente reeleito que passava em campanha. Na sua inocência como criança, esperava apenas uma retribuição de aceno, mas, ao invés disso, recebeu R$ 20,00. Revoltante! Mas o tiro saiu pela culatra pois a mãe desta criança também revoltou-se com a cena.

7. A banalização da vida. É lamentável como tirar a vida de alguém tornou-se algo tão natural! Natural não apenas para quem tira a vida, mas também para nós, que assistimos e lemos nos meios de comunicação, todos os dias, assassinatos de toda espécie. Nossa mente já calejou. Não conseguimos sentir mais nada com isso. A dor do próximo não nos diz mais nada!

8. Desesperança. Enquanto estivermos neste mundo não temos certeza de nada. Caminhamos desesperançosos, até mesmo esperando pelo pior mais à frente; isto para não enlouquecermos quando o mal nos vir de súbito. Assim vivemos sempre ansiosos, não sabendo o que nos sucederá. Às vezes estamos tão atolados à má sorte que estranhamos quando algo de bom nos bate à porta. Construímos na vida porque é o percurso esperado por todos, mas a vontade mesmo é não construir, para evitar decepções futuras. Em todas as culturas, mas, mais acentuadamente na cultura ocidental capitalista, retroagir é demérito, humilhante. Vivemos aqui como “mortos vivos”, e a nossa sorte estará sempre à mercê dos outros. Não existe estabilidade. Nosso bem-estar sempre estará à mercê de julgamentos alheios. Vivo sempre esperando pelo pior, até mesmo como forma de me fortalecer perante as intempéries da vida.

9. A supressão da liberdade. Ora, não é preciso viver preso para se concluir isto. Você já se imaginou vivendo numa sociedade onde uma simples opinião, visão de mundo, não pudesse ser simplesmente exposta? Você já se imaginou tendo sua opinião banalizada pela maioria? Já imaginou se prevalecesse apenas a vontade da maioria e você sendo obrigado a segui-la? Muitos países socialistas, tais como China, Coreia do Norte, Vietnã, Cuba, Iêmen, dentre muitos, ainda existe. Há quem diga – e com muita propriedade – que o capitalismo persegue os ideais da liberté, enquanto que o socialismo persegue apenas a égalité. Parece até que são ideais antagônicos. Mas o são por culpa nossa, pelo nosso egoísmo doentio. Um capitalismo urbano, em detrimento do selvagem, me parece mais apropriado.
E supressão da liberdade parece não apenas ser exclusividade de países socialistas. Países teocráticos, como o Irã, também são mestres na arte de suprimir. É lamentável que ainda se mate em nome de Deus!

10. A banalização do sexo. Saiu do plano natural e se encontra no plano da deturpação moral. Sexo perdeu sua finalidade de procriação e de intimidade. Tornou-se escopo a ser perseguido com toda a mente e força. É a Vulgarização da mais alta demonstração de amor entre dois seres humanos. Aliás, sexo virou a vulgarização, em si, do amor. Se não fosse pelas religiões, que se mantém numa posição de vanguarda, de defesa dos ideais simbólicos e dos bons costumes, e se dependesse das interpretações ultra-subjetivas das Ciências humanas e sociais, o amor receberia outros nomes, tamanhas as leituras e releituras que fazem de si. Ninguém consegue entrar em consenso quando se trata em defini-lo.
A sensualidade está exposta em todos os lugares e pessoas. Desejar ser sensual é mais do que conquista do sexo oposto, é um meio de aceitação social. A pornografia é um dos mercados que mais cresce no mundo. Isto não é um fenômeno de nossos dias, mas vem de muitos anos. Aqui no Brasil, só para servir de exemplo, a indústria pornográfica recebe isenção fiscal. Ou seja, é mais que uma permissão, é um incentivo à promiscuidade. Na Holanda, prostitutas são expostas em vitrines, e tenho certeza que isso servirá de exemplo a ser seguido no mundo inteiro, como demonstração de liberdade, laicidade e até mesmo como demonstração de amadurecimento social e desenvolvimento legal de uma nação. Posso dizer sem medo, que se fosse para dar nome à presente era, a chamaria de Era da Sexolatria. O termo resume tudo.

O mundo anda doente; estamos doentes. Doença da alma, da psiquê e do corpo. Somos Vítimas e algozes, ao mesmo tempo, desta construção do mundo objetivo e subjetivo. Para onde olhamos vemos o mundo sangrar. Sangramos juntos e não sentimos. “É dor que desatina sem doer”, parafraseando Camões. Não temos forças, em nós mesmos, para mudar este quadro, pois estamos por demais embebidos neste mundo, ao ponto de nos considerarmos: somos do mundo, somos o mundo! Olho para as igrejas cristãs, e enxergo alguém que poderia fazer a diferença no mundo, mas que tem estado doente igualmente. Este modelo de cristianismo business que tenho visto, nunca fará a diferença. É o espírito do capitalismo estado presente na vida das igrejas: visam o crescimento de seus templos e de sua membresia. Viver como Cristo viveu, é um preço que não estão dispostos à pagar. Tamanha omissão colabora para a chaga mundial. Só uma interferência divina direta poderá nos salvar, pois, à depender de seus eleitos, estamos perdidos! Mas não podemos exigir cuidados de alguém que também anda doente.

A Ameaça Socialista


Se o mundo achava que estava livre deste mal*, está enganado! Explico:

a) A China é considerada uma superpotência não apenas do ponto de vista econômico, mas também militarmente. Põe medo a qualquer nação do mundo, inclusive aos Estados Unidos, onde, um possível confronto, seria o fim do mundo (metaforicamente, claro). Embora seja economicamente capitalista, mas politicamente é socialista e, como sabemos, não há como haver separação total entre os modelos econômico e político. Sempre a economia de um país receberá interferências da política. Exemplo disso são os Estados Unidos e alguns países europeus, tais como França, Portugal, Espanha e Grécia, que estão mergulhados numa crise econômica sem precedentes e que, para se verem livres deste mal, mudam suas políticas cambial, econômica, financeira e social. Medidas dantescas que afetam a vida e os bolsos dos trabalhadores. Em caminho contrário à crise, de vento em popa, a China vai mostrando ao mundo que as decisões políticas socialistas ajudam não apenas a manter intacta sua economia, bem como fazê-la prosperar em meio a tanta turbulência; que a perestroika foi um “mal necessário” no tocante ao crescimento e fortalecimento da nação.

b) Embora Cuba não seja uma potência econômica – talvez fruto do embargo econômico imposto pelos EUA –, e esteja caído no ostracismo político e econômico, sempre foi considerado exemplo do ponto de vista educacional e da Saúde. Taxa de analfabetismo zero e uma Saúde de pôr inveja a qualquer país do BRIC e do G-8, Cuba nunca cansou de apregoar que tais méritos são frutos de uma política socialista.

c) Senão todos, mas a grande maioria dos países sulamericanos são governados por partidos de esquerda. Embora não façam menção de seus ideais de antanho – exceto Venezuela e Bolívia – as experiências ideológicas e de lutas adquiridos pelos seus governantes nunca serão totalmente extirpados. Fazem parte de suas trajetórias de vida política, e sempre vão dever seus sucessos políticos do presente, às lutas de outrora. Sem falar que os países sulamericanos sempre tiveram uma queda pelos ideais de esquerda e um certo rancor aos EUA e aos seus respectivos países colonizadores. Isto se deve, principalmente e historicamente , à interferência americana e europeia em suas economias, culturas e políticas. Ser um país colonizado com fins extrativistas deixou-nos marcas sociais negativas profundas, e isso é praticamente imperdoável pelos países do baixo trópico. Como corajosamente disse Cristina Kirchner, no episódio do velório de seu marido, em que impediu a entrada e participação do vice-presidente Julio Cobos: rancor não se cura!

d) Os EUA estão mergulhados numa crise econômica sem precedentes. E por incrível que pareça não é fruto da competitividade natural capitalista – como previam os marxistas –, mas sim da inadimplência deles mesmos. Sicofantas de si mesmos! Cuspiram pra cima! Alguns economistas prevêem que os EUA devem recompor sua economia no prazo máximo de dois anos, correndo o risco de não lograrem êxito, passado este prazo. Como foi visto, medidas nunca antes navegadas na mente humana foram tomadas: até mesmo doação (é doação mesmo e não empréstimo!) às grandes empresas e bancos foi feito pelo governo americano, no intuito de socorrê-los. É a velha interferência política na economia. Para quem sempre apregoou e se gabou do livre comércio e da não interferência política nos assuntos econômicos foi um tapa daqueles! Fica a pergunta: por que algumas poucas empresas e bancos de grande porte foram beneficiadas com essas doações em detrimento de outras de mesmo porte? É amigos, sujeira política não é particularidade de países pobres, quem diria!
Tenho minhas dúvidas se conseguirão sair desta crise, principalmente pela atualíssima composição de seu Congresso: Republicanos à torto e à direito! Como é da praxe política de toda oposição - em qualquer lugar do mundo -, não vão perder oportunidade, tempo e esforços para culpar os Democratas, e solução que é bom: nada! Obama passou de mocinho para bandido nesta história. O solution-men decepcionou os corações dos menos conservadores do mundo inteiro, e o jeito será baixar a crista e entregar-se de corpo e alma às mãos dos xiitas conservadores Republicanos, para ver no que vai dar. Se der certo, os Democratas terão que amargar uma bom tempo no ostracismo político, até cair no esquecimento coletivo o seu fracasso. O mesmo se aplicaria ao Brasil, caso o governo do PT fosse um fracasso. Mas para nossa sorte (ou competência dos petistas!) saímos bem na fita.

Como se pode ver, a guerra fria não teve seu fim com a queda do muro de Berlim. E toda essa conjuntura citada pontualmente, trata-se apenas do início (ou retorno?) das dores!

* Mal apenas para os conservadores.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

É Preciso Uma Introspecção Política


Estamos, mais uma vez, diante do processo mais democrático que pode existir numa sociedade democrática representativa. Verdadeiramente – e não por falácia – temos um rico e imenso poder em nossas mãos. Fico demasiadamente triste ao saber que tal poder está alienado e engessado pelo pensamento absoluto em que pensar a política (quer nas conjunturas municipais, estaduais e nacional) é coisa de intelectual ou de “quem não tem nada a fazer”. Sei que a direita conservadora, através de sua práxis política, ajudou, e muito, o constructo deste pensamento; isso ajudava na manutenção do status quo político de suas bases, afastando o interesse público de seus reais interesses: pessoais e inalienáveis. Esse afastamento político faz com que se prolifere as práticas de corrupção e descaso que arruínam nosso país. Segundo estudos da ONU (Organização das Nações Unidas), se o Brasil reduzisse em apenas 50% a sua corrupção, teríamos a mesma estrutura em saúde e educação que os países de primeiro mundo. Como foi mensurado, não sei. Talvez somando os montantes descobertos pelas Polícias, Ministério Público e Controladorias Gerais, ao longo destas últimas duas décadas.

Há quem diga que a situação política que vivemos seja fruto de nossa própria natureza humana: corrompida, aproveitando-se das brechas situacionais para usurpar interesses próprios. Há fundo de verdade nisso, e talvez seja a explicação última e componente sine qua non do arcabouço explicativo holístico para tais práticas. Quando falo que “é preciso uma introspecção política”, não me refiro apenas a uma mudança de estrutura política nos âmbitos representativos de poder, mas também de uma mudança de estrutura do pensamento e, consequentemente, comportamental, enquanto sujeitos políticos. Devemos nos reconhecer nas ações políticas que são discutidas e votadas nas Casas Democráticas de nossa nação; saber que verdadeiramente não há distâncias, como se as decisões políticas interferissem na vida de seres alienígenas e não à nossa. A Lei da “Ficha Limpa”, por exemplo, deveria ser vista como um despertar da população para o tamanho do poder que temos em nossas mãos; de mostrar que é sim possível mudanças partidas de dentro da sociedade organizada; que mudanças significativas na estrutura social, político e econômico são viáveis, desde que haja o auto-reconhecimento de boa parte da sociedade – para não ser utópico em dizer toda sociedade – da influência que seus pensamentos e atitudes podem fazer. O “estrago” seria grande! Refiro-me ao “estrago” nos interesses pseudo-políticos dos maus representantes.

Entendo que uma possível organização social em massa não se dá de forma pura, ou seja, sem interferências ideológicas e doutrinárias, pois como já bem disse Bakhtin “um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social) [...] tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo” (Bakhtin, 1997). Muitos, principalmente os ideólogos de esquerda – que discutem e labutam há muito nas causas sociais – veriam como uma oportunidade ímpar na história (mais uma!), para propagar suas doutrinas, e incutir na mente daqueles que não se reconhecem de esquerda que, mesmo sem querer, defendem os mesmos ideais e projetos. Isso seria um verdadeiro “balde de água fria” na continuidade da luta social civil organizada, tendo em vista que, quase que em absoluto, a população brasileira é politicamente tradicional, conservadora, tendo, às vezes, ojeriza pelo pensamento de esquerda (refiro-me à esquerda verdadeira, e não a uma Terceira Via, adotado por FHC e continuado por LULA). Basta relembrarmos a Marcha da Família com Deus Pela Liberdade, ocorrido em março de 1964, onde estima-se ter reunido cerca de 500 mil pessoas, em detrimento à Marcha dos Cem Mil que militavam contra a ditadura. De lá para cá pouca coisa mudou no perfil político brasileiro. Mudam-se as gerações e continua impregnado na cultura política brasileira o mesmo conservadorismo – senão pior.

Mudar o pensamento político dos brasileiros não significa necessariamente deixar o conservadorismo e aderir aos ideais de esquerda. Quando a sociedade passa a se interessar e participar dos processos políticos de seu município, e/ou estado, e/ou nação, não importa a bandeira que esteja no poder (se de Direita, Centro ou Esquerda - isto é, a velha pseudo-esquerda brasileira que tanto conhecemos). Todos eles passarão a ter maior cuidado nos gastos públicos, serão mais rigorosos em casos de corrupção, em casos de projetos de leis mais delicados – que vão de encontro ao pensamento cultural e religioso da sociedade, bem como à vida econômica dos brasileiros – passarão a fazer mais plebiscitos, consultando e não mais desrespeitando a soberania popular. A mesma realidade se aplicaria às questões sócio-ambientais, onde possivelmente os interesses de pequenas comunidades não seriam tragados pelos interesses do mercado imobiliário e do grande capital, que enxotam populações tradicionais de suas regiões, esgarçando raízes históricas, culturais, sentimentais e naturais para atender aos interesses fúteis dos novos burgueses, que surgem como beneficiários e resultados de uma educação diferenciada da grande maioria dos brasileiros.

Destarte, não importaria tanto um welfare state ou um laissez-faire. De uma forma ou de outra, com a participação e interesse direto da sociedade (não estou fazendo alusão a uma democracia direta, onde acho pura quimera), as coisas andariam dentro dos conformes – dentro de seus respectivos modelos políticos e econômicos, óbvio. Todos têm a contribuir, desde que haja participação da sociedade civil organizada no controle dos gastos e nos acordos licitatórios realizados pelos governantes. Podem até pensar que estou sendo pragmático ao extremo, sem firmeza ideológica, mas tenho percebido que muitos intelectuais da política pensam-na sobejamente como uma atmosfera meramente ideológica, não havendo espaço para a prática, que, ao meu ver, é o que verdadeiramente faz a diferença no meio social. Muitas vezes sou levado a crer que em uma defesa político-ideológica, em confrontação à outra(s), há muita vaidade, mas não uma vaidade pura e simples; refiro-me a uma vaidade extremada, que cega ao ponto de não enxergar propostas positivas em outros campos ideológicos. Isso (a vaidade), ao meu ver, explica, em boa parte, a grande diversidade de partidos políticos de esquerda – sem levar em conta seus interesses políticos (desta vez entendam "políticos" pejorativamente). No frigir dos ovos, todos têm propostas e anseios em comum, mas distanciam-se pelo orgulho doentio em querer que seus pontos de vistas superem aos dos demais. É como se seus interesses egóicos sobressaíssem em detrimento aos interesses sociais. Nada mais além do que fruto de uma esquerda acadêmica, teórica, aprendida – e convencida – nas cadeiras escolares, e não na prática pela defesa dos interesses dos menos favorecidos, vítimas da selvageria capitalista que esgarçam qualquer tipo de esperança que possa florescer em seus corações. Enfim, um simulacro!

(Re)Pensar a política intimamente é mais do que um dever cívico: é um dever moral. Não há demérito algum em refleti-la de forma não viciada, objetiva, imparcial, tendo como único escopo o bem-estar de todos. Parafraseando a bíblia: quem tem ouvidos, ouça!

sábado, 31 de julho de 2010

Crítica à Razão ou Exaltação à Emoção?


Escrito em 13.07.2005.


Emoção: um incrível e único meio de se viver a vida. Razão: um incrível meio de se pensar a vida (Será?). Mas como pensar a vida sem um bom estado emocional? Seria por isso a dicotomia existente nas conclusões “do que seria a vida” entre um melancólico (Camões) e um expansivo (Manoel da Costa)? Seriam as conclusões racionais frutos de nosso estado emocional? Estaria assim a razão à mercê da emoção? Olhando nesta perspectiva o homem seria apenas emoção? É seguro o homem pensar o próprio homem? Em outras palavras, seria possível a razão pensar questões concernentes à humanidade? Mas o que é segurança? É capaz o homem de ser seguro? Pertence ao homem a segurança? Estariam errados os filósofos pré-socráticos até aos atuais? É confiável a psicologia? São confiáveis os descobrimentos freudianos da psicanálise? Estaria a humanidade, desta feita, vivendo sem meio e fim? Retrocederia o homem na história evolutiva da ciência, reconhecendo assim, a importância da Teologia? Seria a razão – ou a pura e simples tentativa de sê-lo – fruto da audácia humana de querer pensar e, conseqüentemente, decifrar a vida? Por ser audácia, seria pecado? Sendo assim, querer pensar a vida se constituiria pecado? Tendo a Teologia uma resposta sobre “o que é a vida”, não estaria assim pecando? Desta feita, não seria a Teologia fruto do pecado humano? Enfim, onde está e o que seria a razão? Criação humana? E você? Ainda tem certeza sobre a vida? Emocione-se, para logo após responder. Qualquer tentativa em querer responder tais perguntas, será, nada mais e nada menos, fruto de seus sentimentos. Portanto, Vive le setim‘etu!!!

Peço Perdão...


Esta poesia foi escrita quando do mais alto de minha subjetividade e introspecção... escrita alguns anos atrás... não sei precisar o tempo.


PEÇO PERDÃO...

Peço perdão à Deus, por nunca ter correspondido
ao seu imenso amor demonstrado na cruz.

Peço perdão aos meus pais, por nunca ter realizado
os sonhos que um dia vocês sonharam para mim.

Peço perdão aos meus amigos, por nunca ter alcançado
o nível que vocês esperavam de mim.

Peço perdão aos meus inimigos, por nunca tê-los
feito ver em mim um inimigo à altura.

Peço perdão ao meu corpo, por sempre tê-lo feito
alvo de minha discrepância intelectual.

Peço perdão à minha alma, por sempre tê-lo conduzido
ao obscurantismo de minha subjetividade.

Peço perdão a mim, por sempre
enganar meus próprios planos.

Peço perdão às minhas paixões não correspondidas,
por não ter sido capaz de fazê-las ver em mim alguém
capaz de realizar suas utopias.

Peço perdão à luz do dia, por nunca ter aprendido
o que sempre foi ensinado sob seu clarear.

Peço perdão à lua e às estrelas, por nunca ter
buscado inspiração em tamanha beleza.

Peço perdão ao amor, por nunca tê-lo decifrado
por mais que eu o sentisse.

Peço perdão à alegria, por não permitir que em
mim brilhasse no teor em que nasceu para brilhar.

Peço perdão à amizade, por ter-me envergonhado em
demonstrá-lo num abraço, aperto de mão,
carinho, sorriso e paciência.

Peço perdão à solidão, por nunca ter apreendido o seu
valor positivo e que sempre quis me ensinar.
Pelos mesmos motivos eu peço perdão à tristeza,
à amargura, à dor e ao sofrimento.


Peço perdão à verdadeira inteligência,
por sempre tê-la assassinado.

Peço perdão à morte, por não ter a devida coragem
em responder aos seus constantes convites.

Peço perdão aos leitores deste emaranhado de palavras,
por não ter sido capaz de tê-lo feito em prosa e verso.

Peço perdão...

Perdão...

Perdão...

Perdão...

Sobre a Língua


Este pequeno texto foi produzido para a confecção de folder's do acampamento da Jubal, quando da minha estada como presidente desta instituição.


Não erro ao dizer que a batalha mais duradoura do mundo é a batalha do crente. É uma batalha que começa quando adquirimos consciência e só termina no final de nossas vidas. Esta batalha a que me refiro é a batalha espiritual. É uma batalha onde o mero armamento humano não é suficiente, onde todas as estratégias oriundas da inteligência humana nada podem fazer. O apóstolo Paulo, na carta aos efésios capítulo 6 e versículo 11, nos dá a orientação da única estratégia capaz de vencer a batalha: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo”. Revestir-se da armadura de Deus, aqui está o cerne de nossa batalha. Costumo dizer que seguir uma vida de santificação é o mesmo que tentar se construir uma casa em meio às dificuldades; na chuva, com o cimento sendo espalhado pelo vento, a argila, a areia e a massa sendo arrastados pelas águas, os tijolos sendo destruídos por outros, enfim, já se imaginou construindo uma casa assim com tantas situações adversas?
O pior de tudo é saber que o diabo não apenas se utiliza de nossas fraquezas, como também – e porque não dizer principalmente – de nossas paixões, ou seja, daquilo que aparentemente não seja pecado, mas que se torna à medida que valoramos algo de tal forma que venha tomar a prioridade de nossas vidas, que só a Cristo deve pertencer. C. H. Spurgeon, em seu célebre livro intitulado Batalha espiritual, nos diz que a armadura de Deus “... é o sangue de Cristo e que este sangue é santidade.” Assim, vemos a grande importância de sermos santos, pois não apenas fomos lavados pelo sangue do Cordeiro, como também o carregamos conosco, sendo ele a marca de Cristo em nossas vidas e o que nos faz “irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo”(Fp.2.15).
Mas, uma pergunta que não quer calar, o que a língua tem a ver com tudo isto? O próprio Jesus Cristo nos fala em Mt. 15.18 que “o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem”. Agora sim, podemos começar a entender a importância que a língua exerce no processo de santificação. Ela é um simples meio para se exteriorizar os nossos pensamentos e intenções.
E você? Como está utilizando sua língua? Que prioridade você está dando-a? Ela edifica mais do que danifica? Maldiz mais do que bendiz? O que há no seu coração?
Porque Quem quer amar a vida, E ver os dias bons, Refreie a sua língua do mal, E os seus lábios não falem engano”(1Pe. 3.10). Eis aqui mais um desafio em meio a nossa batalha espiritual que nos fará pensar nestes quatro dias de acampamento.

Primeira Poesia para minha pequena Ari


Tu que emanas e transcendes as luzes das estrelas,
fez ascender em mim as chamas da paixão;
O amor outrora desconhecido, agora corre livre
nas veias de quem se deixa guiar pelos encantos da paixão.

Surgistes assim do nada, de um período longo e obscuro,
onde não havia luz, vida, esperança... tudo limitava-se a
um mórbido orgulho, de quem tudo pensava saber.

Assim aparece você, envolta em humildade, alegria e mansidão.
Fizeste-me ver que a vida não se restringe num simples e pobre
depositário do saber; fizeste-me ver que a vida pode ser um lindo
campo, que plantado por sementes de amor e regado pela paixão,
faz brotar da terra um tenro e pequeno fruto, que alimenta, completa
e revigora qualquer triste coração.

O amor surge da relação, da construção, da harmonia de pensamentos.
De corações desejosos de um mesmo objetivo.



Éder Lima
em 15 de Nov. de 2006

Poesia para Minha Ari (1 ano)


Este poesia foi feita para minha pequena Ari... quando de nosso 1º ano de namoro.

Sentimento assim...
Que nutre o peito, torna mais forte o desejo;
Que entra e constrói o seu reino.
Sentimento que alimenta, fazendo aumentar
a imaginação e a esperança, que em muita de suas
andanças descobriu dois corações perdidos, esperançosos
por um amor autêntico, altruísta, cheio de esperança,
que faz a diferença em quaisquer circunstâncias.

Sentimento orgulhoso, pois tudo ele pode;
Tudo ele opera, tudo ele move. Selvagem por natureza,
Mas belo como a destreza de um Condor, onde, no seu vôo,
há muito esplendor.
Faz sair a angústia, faz esquecer os problemas, faz curar a alma
Que muitas vezes se encontra abalada por esta vida e suas farpas.

Sentimento curador, que promove a libertação, mesmo que seja
Em meio à dor. Seus benefícios a nada se compara;
Tudo à sua vista parece pequeno, perto do seu bom veneno
Que adormece, estabiliza e restaura qualquer coração
Adoentado.

O Amor é assim...
“Sofredor, benigno, não-invejoso, não trata com leviandade,
não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os
seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não anda com a injustiça, mas sim com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê,
Mas, acima de tudo, TUDO ESPERA e TUDO SUPORTA”.

Sobre a Essência

Dizem que sem existência não há essência; mas a essência da existência tem consequências que põe em falência dos mais vis aos mais nobres corações em concupiscências.

Maleficências re-significadas e reificadas com a indecência e a imprudência de quem tudo adentra sem pedir licença, modificando, ambientando e fragilizando as mais fortes ideologias julgadas em imanência.

Constrói as divergências e romantiza o objetivo, tornando-o fruto de interpretações subjetivas e de olhares poucos esculpidos.

Uma essência que, no excesso ou na deficiência, gera a loucura, e a loucura a violência.

Sarcástica por natureza, a essência ufaniza-se na adolescência; enaltecendo uns, enlouquecendo alguns e ludibriando todos.

Segue seu destino, traçando bons ou maus caminhos, na unilateral trilha da vivência, interposta pela convivência, sem a qual não haveria a existência.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Amálgama


Sou um amálgama de razão e emoção.
Ser social, Ser construído e moldado
Segundo os ditames culturais de minha época e local.
Filho do tempo; pós-moderno.
Ser previsível. Óbvio.

Ser pensante e ambulante, que na forma de andante
enche-se de forma, vida e preconceitos nas
experiências percorridas, transcorridas e sentidas
fazendo-me ver, mas não enxergar; enxergar, mas não ver;
ver, e não sentir; sentir e não ver;
pensar, e não concluir; concluir, mas sem pensar.

Assim, torno-me um ser inconstante,
que se gerencia pelo sentimento e pensamento constante,
e inconstante.
Que se guia pelo pensamento construído e fundamentado, banalizado,
revisionado, solapado, vaiado, ovacionado, que mescla-se com o orgulho...
um orgulho assassinado.

Simples mortal eu sou. Simples como folhas e flores
que surgem na beleza de seu esplendor, embelezando
a paisagem, instigando imaginações, inspirando canções,
mas que murcha e cai sem ser lembrado jamais.

Pobre homem eu sou. Rico homem eu sou.
O que antes tudo pensava saber, hoje envergonho-me do que sei.
Machucado pelas pedras, perfumado pelas rosas que atravessaram meu caminho,
hoje posso ver e sentir; enxergar e concluir, que a vida tem sim seus mistérios;
e que ao pobre, rico, mortal, constante e inconstante Ser cabe tão somente viver,
sem se deixar preceder de idéeas que abusam e massacram um tão simples e humilde viver.

Um Infeliz Reconhecimento


O reconhecimento de que minha capacidade intelectual é pequena foi-me chocante! É algo que ninguém gostaria de reconhecer. Todo Ser humano tem um pouco de orgulho dentro de si que o impede de reconhecer suas limitações. Ontem à noite, ao quebrantar-me diante de Deus, Ele me mostrou, diante dos meus olhos, que esta é a minha condição. É como se um outro Éder me fosse apresentado. É claro que sinto um certo medo de como será meu futuro, mas sei que Ele providenciará um trabalho que não exija de mim algo que não tenha capacidade de fazer (aquilo que normalmente qualquer um faria), até o dia em que Ele regressar ou me chamar. Será a Sua sustentação e cuidados com a minha vida. Reconheci também que minha inteligência emocional é inexistente. Isso explica a minha confusão mental ao ponto de não saber quem eu mesmo sou ou do que capaz eu sou de fazer – mas sei exatamente o que não posso fazer. Isso explica a minha falta de amigos – lembro-me de uma reportagem que li numa revista de grande circulação, onde mostrava que o grau de inteligência de uma pessoa é medida pela quantidade de amigos. Isso explica também o por que de tudo ser atrasado na minha vida – estou perto dos 30 e não tenho emprego, bem como não tenho perspectiva de vida – não consigo, sequer, passar em entrevistas de emprego!

Não me desespero quanto ao futuro, pelo menos acho que quanto ao que comer e o que vestir será providenciado por Deus. Mas por outro lado é uma pena por não poder dar uma vida melhor a minha Ari (que merece o melhor desta vida!). Às vezes sinto que estou iludindo-a. Preciso abrir seus olhos ao meu respeito. Não quero ter filhos por dois motivos: a. Não terei condições de dar o melhor a eles; b. Não quero que eles herdem a maldição de terem a inteligência do pai.

Passei todo este tempo achando que poderia ser mais do que sou. Foi um fracasso atrás do outro. Já tive vontade de me matar, mas não queria matar meu pai de tristeza. Já cheguei ao ponto de planejar minha morte logo após a partida de meu pai deste mundo – pois sua presença é que me sustentava a vida. Mas hoje não penso mais assim.

Tenho que louvar a Deus o que sou – devemos louvá-lo no pouco também! -, preciso aprender a amá-lo pela sua graça e não por outra coisa. Para Ele não importa o grau de inteligência das pessoas; isso não é condição sine qua non para a salvação. A Sua graça me basta. Pelo menos isto eu acho que posso aprender. Tenho que martelar isto na cabeça para ser feliz!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Quebrantamento


Sem ânimo para viver... este foi meu sentimento assim que obtive o resultado do concurso da CEF. Bateu-me um desânimo muito grande, um sentimento de que não foi desta vez e de que nunca chegará meu dia. Tomei meu banho chorando, liguei o chuveiro e deixei a água escorrer pelo meu corpo enquanto, cabisbaixo, chorava. Ao terminar o banho tive a lembrança de algo que sempre tive vontade de fazer: peguei minha cadeira de praia, pus no meu fusquinha e dirigi-me à praia de Pajuçara. O clima estava agradável, o vento não estava tão forte e tão frio; muito bom. Ali, pus-me a conversar com Deus, sem máscara. Rasguei-me diante Dele e expus tudo que estava em meu peito a me afligir. Comecei brigando com Ele, culpando-o pelo meu fracasso, pedindo até que Ele me retirasse a vida ou, ao menos, separar-me de Ari, pois não queria que as "maldições divinas" pudesse atingi-la - que tem um coração lindo, puro e ingênuo como uma criança. Não a toa digo sê-la minha bebezinha.

Mas logo de imediato comecei a chorar, ou melhor, a gemer de tristeza. Derramei-me diante de Deus; clamei, de todo o meu coração, alma e consciência: ENXERGA-ME! Por diversas vezes repeti o clamor. Levei minhas mãos ao rosto, enquanto lágrimas corriam pelo meu rosto. Em seguida, reconheci minha condição corrompida e nojenta, senti-me mais desgraçado que satanás. Reconheci que sou o mais miserável dos pecadores, pior mesmo que um animal. Finalmente reconheci algo que meu orgulho me impedia de reconhecer: que minha capacidade de compreensão das coisas é muitíssimo pequena, que minha estrutura emocional é destruída, enfim, reconheci que não sou normal, como os demais são. NÃO TENHO INTELIGÊNCIA! Este é o meu espinho na carne! Ao colocar tudo isso para fora, senti uma paz inexplicável. Pensei até que iria sair pior do que quando cheguei à praia. Não esperava esse quebrantamento. Aliás, meu intuito era de brigar com Deus. Ali mesmo reconheci a bondade de Deus; minha consciência foi tomada pela certeza da bondade de Jesus, e do quão bom Ele é e sempre foi. Comecei a louvar a Jesus Cristo. Deus falou comigo! Eu sei! Ele falou através da lembrança de que o preço pago na cruz do Calvário foi e é suficiente! Lembrança de que aconteça o que acontecer, a salvação de minha vida já basta! A minha graça te basta, e devolve-me a alegria da Tua salvação foram textos bíblicos que me vieram à mente. Veio-me também, à mente, as palavras de minha pequena Ari quando, ao desabafar meu estado de espírito, ontem à tarde (domingo), ela me indagou: onde está o seu tesouro? Hoje percebi que meu tesouro estava, todo este tempo, na procura pela estabilidade financeira. Como sou pequeno!
Eu sei: a salvação de Jesus Cristo é suficiente. E esta certeza me encheu de paz, alegria, ânimo. Louvo ao meu Deus pelo milagre que Ele operou em minha vida, pois Ele me deu não aquilo que eu desejava, mas sim o que eu realmente precisava: cura, libertação e um novo direcionamento.

Eu o amo Jesus! Realmente o amo muito! O Senhor sabe mesmo como cuidar de mim.

sábado, 8 de maio de 2010

Sobre a Amizade


Há algum tempo, quando fui buscar meu pai no aeroporto – regressava de Cuiabá – tive a oportunidade de comprar um livro de Marco Tulio Cícero, um dos grandes filósofos já produzidos pela humanidade. Tal livro tem por título “LÉLIO, ou A AMIZADE”. Achei interessante sua visão romântica e ao mesmo tempo realista sobre a amizade – o autor enfatiza o lado romântico. Mais especificamente sobre sua visão realista, logo houve uma grande identificação com o que penso a respeito. Sempre achei a amizade um “mal necessário”. Sim, isso mesmo! Mal porque, ao meu ver, a amizade não passa de uma demonstração de fraqueza da alma humana (medo da solidão, conceituação funesta da solidão, necessidade irrisória de identificação, iludir a vida com momentos fugazes de alegria, fazer-nos esquecer do triste mundo em que vivemos – tornando-nos egoístas –, etc.). Cícero vem enfocar este lado “pejorativo” da amizade quando pergunta:

“Será por fraqueza e indigência que se busca a amizade, cada um visando por sua vez, através de uma reciprocidade dos serviços, receber do outro e devolver-lhe esta ou aquela coisa que não pode obter por seus próprios meios, ou seria isto apenas uma de suas manifestações, a amizade tendo principalmente uma outra origem, mais interessante e mais bela, escondida na própria natureza?”

Minha visão “pejorativa” da amizade eleva-se ao pensar sê-la uma demonstração egoística da humanidade. A verdade é que faz-se amizades apenas visando suprir a necessidade momentânea – e ao mesmo tempo constante – de companhia. Quando vejo amigos se encontrarem, enxergo uma supressão mútua de necessidades, carências, e não uma “origem mais interessante e mais bela, escondida na própria natureza”. É tudo uma questão de interesses, e nada mais! Talvez influenciado pelo conceito aristotélico de felicidade (1), Cícero vem nos dizer que a vida só é feliz se existir no círculo de amizade "[…] todos os bens que os homens julgam ser necessário buscar, consideração, glória, tranquilidade de espírito e alegria [...]” Como se vê, busca-se apenas supressão de interesses; alguns deles bastante irrisórios (consideração e glória), que apenas almas doentias, sedentas por poder (2), a buscam.

Outro ponto de relevância importância a ser dita é o fato da impossibilidade de se manter intacta uma amizade até o fim de nossas vidas. Isto porque o que cimenta esta troca mútua de necessidades, chamada romanticamente de “amizade”, é a identificação de interesses (especialmente no tipo de diálogo existente entre as partes), bem como a manutenção do caráter e da personalidade – que afetam diretamente o tipo de diálogo existente. Como bem sabemos, tais identificação e manutenção são impossíveis de se manterem inertes, pois, enquanto Sujeitos sociais, estamos à mercê de fatores determináveis que afetam nosso Ser, modificando-o. Dentre os vários fatores, os mais determinantes são a idade e a educação. Tais fatores trazem, intrinsecamente, a maturação de nossas personalidades. Não há como manter os mesmos diálogo e pensamento que tínhamos há 15 anos, por exemplo; assim como não há possibilidade de manutenção de nossas opiniões à medida que crescemos em leitura e conhecimento prático.

Mas, já que a amizade é um “mal necessário”, como escolhê-las? Alguém pode pensar: Baseado nas palavras acima dar-se a entender que, já que mudamos com o tempo e com o acúmulo de conhecimentos, então mudaremos nossas amizades constantemente. Bom, não é bem assim. Até porque nossa personalidade chega a um ponto de maturação que não podemos mexê-la, isto é, a parte não-modificável da personalidade (a parte que contém os valores e princípios) – uma vez que creio na existência de uma outra parte auto-modificável (nem todos os comportamentos e ideias são movidos pelos nossos valores). Mais uma vez Cícero vem nos socorrer quanto a esta indagação:

“A regra que caberia antes ensinar é escolher o leque de nossas amizades com bastante cuidado para jamais começarmos a amar alguém que corremos o risco de um dia odiar. Ademais, se ocorresse de não termos sido muito felizes na escolha de nossas afeições […] deveríamos suportá-la, e não prepararmo-nos para tempos de inimizade.”


Como cada ser humano tem em si a capacidade de pré-julgamento (ou preconceito), dá para nos utilizarmos dele na avaliação daqueles que se aproximam, ou até mesmo de quem nos aproximamos – já que, em nossa sociedade, não há demérito algum em cedermos à fraqueza de nossa alma na busca da “amizade”. Se, durante o período de aproximação, alguma atitude ou ideia da outra parte te parecer suspeito, isso servirá de sinal de que um dia você poderá ser a vítima de tais comportamentos; neste caso, fuja! Procure em outras pessoas o mais depressa possível, pois um dia você poderá odiá-la. Mas não precisa romper de forma a produzir inimizade – como erroneamente já fiz diversas vezes na vida – basta apenas se afastar (mesmo que seu afastamento venha produzir mais rancor ao outro lado).

Parece-me bem extremista sermos frios e racionais demais nas nossas escolhas , como se o fator emocional nunca estivesse presente. Mas o outro extremo é mais perigoso, mais vulnerável, com grandes chances de decepção futura. É bem verdade que o Ser humano é muito negligente nas suas escolhas. Cícero já nos dizia com mais propriedade:

“Cada um sabe dizer quantas cabras e carneiros possui, mas não quantos amigos; quando as pessoas adquirem esses animais, fazem-no com o maior cuidado, enquanto na escolha a seus amigos são negligentes e não sabem em que tipo de sinais, de marcas, se quiserem, irão confiar para reconhecer só que seriam capazes de amizade.”

E ele continua:

“Nesse sentido, são as pessoas seguras, estáveis, constantes que devemos escolher, uma espécie muito rara. Ora, é difícil julgá-las corretamente sem a prova dos fatos, e justamente essa prova só pode realizar-se dentro da própria amizade. De sorte que a amizade precede o julgamento [...]”

Neste caso, a amizade serve como um test-drive bem diferente, onde ao invés de apenas dirigir – já que não podemos dirigir a amizade 100% do nosso jeito – nos contentamos em ficar parte da viagem no banco traseiro e deixar-se levar para ver se tal companhia dirige bem, ou seja, se é confiável, estável. Mas vale salientar que também é de extrema importância que você dirija um pouco, pois isso é uma maneira de você deixar-se ser avaliado, sem máscaras, sendo democrático e querendo aos outros o que você deseja a si mesmo.

O que muitas vezes acontece é o não reconhecimento, de imediato, da verdadeira face do amigo. Isso ocorre pelo fato salutar de se estar bastante envolto emocionalmente com o novo amigo – todo início de relacionamento é sempre agradável, uma nova aventura e, de certa forma, um novo horizonte que se abre em nosso mundo; ou pela ânsia em satisfazer a carência de nossa alma por amigos, de uma maneira que ignoremos os defeitos dele – o que considero de um egoísmo profundo, pois só estamos interessados em nosso “umbigo”, ou seja, em nossas necessidades; ou até mesmo pela máscara imposta pelo nosso amigo, já que, o princípio da conquista ao sexo oposto também se aplica no campo da amizade. Às vezes me aventuro em imaginar que há semelhanças entre as etapas cronológicas – ou pelo menos lógicas – do casamento e da consolidação de uma amizade. Para dar-se ao casamento, faz-se necessário que o mesmo seja antecedido pela a. Paquera; b. Namoro e c. Noivado. Na amizade não é diferente, pois o período de “paquera” inicia-se com a atenção, interesse e desejo que focamos em alguém ou um grupo específico (lembra muito o modelo A.I.D.A. utilizado pelos profissionais e teóricos do marketing – Atenção, Interesse, Desejo e Ação). Dada a ação – início da amizade ou namoro, conforme nossa analogia – começa a fase de conhecimento mais aprofundado do outro. Somente o tempo poderá desmascará-lo. Deve haver uma atenção muito forte não apenas na esfera da amizade entre os dois. Este conhecimento deve ultrapassar as fronteiras deste campo peculiar aos dois e avaliar o relacionamento do amigo com outros amigos e com a sociedade em geral. Assim, verificaremos se há máscaras da parte dele em relação aos outros, e nunca esquecer que o que ele faz aos outros pode fazer a você também! É o princípio da estabilidade de caráter já mencionado por Cícero anteriormente.

A máscara, muitas vezes, vem caricaturada de adulações, bajulações e de baixa complacência, onde esconde-se a verdade de seus sentimentos no intuito de conquistar o outro. É um comportamento típico de “[...] pessoas frívolas, hipócritas, cuja palavra busca sempre agradar, jamais exprimir a verdade […] por conseguinte, essa triste e vã adulação [recebe] créditos senão junto àqueles que se comprazem nela e a atraem, convém prevenir as pessoas mais ponderadas e mais sérias a prestarem atenção para não se deixarem cair na armadilha de uma complacência hábil. O adulador que manobra abertamente não pode passar despercebido, a não ser de um perfeito idiota; mas para evitar que o adulador hábil, oculto, consiga se insinuar, é preciso ser muito crítico.”

Quando advém os acontecimentos negativos – e virão! - e com eles as frustrações, vem a fase em que você se verá agindo em dois caminhos distintos, conforme a estrutura de sua natureza psíquica e emocional: romper (separar) ou ignorar os graves defeitos do amigo, tornando-se conivente com suas falhas, e correndo o risco de se tornar igual a ele - pois é inevitável, devido ao intercâmbio de experiências e comportamentos ocorridos numa relação. Quem escolhe esta última opção, encontra-se num plano falso da amizade. Quanto a isso, Cícero vem nos dizer com mais propriedade:

“É frequente sobrevirem importantes acontecimentos que levam a afastar-se dos amigos! Quem deseja evitar isso porque há o risco de lhe ser difícil suportar os lamentos, tem uma natureza fraca, frouxa e, precisamente por essa razão, encontra-se numa situação inteiramente falsa no plano da amizade.”

Quem escolhe o primeiro caminho estará sendo honesto consigo e com o outro. Nem sempre o caminho que nos traz dor é sempre o pior: “Todo sofrimento breve é obrigatoriamente suportável, mesmo que intenso”. Pode parecer de imediato, pois todo e qualquer rompimento é carregado de dor e sofrimento. Mas o fruto de tal atitude é sempre saboroso, pois, no fundo, há uma satisfação consigo de que o correto foi feito, e isso contará pontos no fortalecimento de nosso caráter e personalidade. É um princípio Ciceroniano: “Com frequência, inesperadamente, alguns graves defeitos de amigos se manifestam, seja em relação a seus próprios amigos, seja em relação a outras pessoas […] as amizades deste tipo, convém deixá-las se afrouxarem até o desaparecimento completo [...]” Por isso que é interessante evitar iniciar uma amizade criando expectativas em relação ao outro. É difícil, bem verdade, mas não impossível. “[...] a única precaução e medida de previdência consiste em não se apressar em amar [...]” Para isso, não espere que do outro lado haja amor também, pois, como esperar do candidato a amigo algo que você não lhe dá? É preciso estar atento a isso para evitar julgar precipitadamente o outro, tachando-lhe de “frio” e “insensível”.


(1). “Felicidade é o descanso da vontade na posse do bem.”
(2). De acordo com a corrente psicanalítica “Trilogia Analítica”, ao qual me afeiçoo, todo aquele que busca o poder, seja em qualquer esfera (política, religiosa, social, etc.) possui um espírito doentio.

quarta-feira, 5 de maio de 2010


Hoje, ao acordar pela madrugada, motivado por um pesadelo que tive à respeito de um amigo de infância, veio-me à mente um pensamento que não gostaria de perdê-lo; por isso, ponho-me a registrá-la: “Colocar os milagres acima da suficiência da salvação, é jogar o sacrifício de Cristo no lixo.”

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O grande impulso da vida.


Não tenho receio e/ou vergonha algum em dizer que o impulso sexual é a grande máquina propulsora de nossas vidas. É muito grande sua influência sobre nosso corpo e psiquê. Lembro-me que há alguns anos pretendia defender uma tese– e ainda pretendo se oportunidade e competência tiver – sobre a influência do sexo em nossa construção individual e social, e que a nomearia de A Centralidade do Sexo. Ora, ao meu ver, as partes de nossa personalidade e caráter auto-modificáveis têm como referência, sempre, o EU atraente ao sexo oposto. E não para por aí. Nossas escolhas sociais (escolha profissional, círculo de amizade, ideologias, e etc.) levam sempre em consideração se tais escolhas vão atrair o sexo oposto – de um modo geral – ou alguém – especificamente. Não apenas nas nossas macroescolhas, mas nossos comportamentos sociais também estão embebidas da mesma influência. Moldamos nossos comportamentos, vestimos determinadas roupas, escolhemos determinadas modas, os tipos de músicas, enfim, uma infinidade de microescolhas que são afetadas direta ou indiretamente pelo Sexo. Todas as nossas escolhas, quer macros ou micros, levam em consideração a imagem que vai ser construída nas mentes do sexo oposto. Isso é fato inegável! Mesmo quando conquistamos a pessoa desejada, continuamos a seguir nossas escolhas de um modo a manter a atração e atenção da pessoa conquistada. Não mais com aquela ênfase e ânsia da fase de conquista, mas de uma forma mais branda. Não a toa, e com muita humildade, discordo do Sociólogo Ricardo Antunes, ao defender que o Trabalho é que é central na vida da humanidade. Como, se até o trabalho é condicionado pelas representação que o OUTRO do sexo oposto terá de nós?

Não me darei ao trabalho de exemplificar fatos de minha vida, nem mesmo exemplos hipotéticos, fictícios. A consciência de cada um diz se tais rápidas e singelas palavras aqui escritas são de grande verdade, ou não!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Poesia Para Minha Pequena



Minha pequena menina, linda menina,
de olhar meigo e singelo,
que emana ingenuidade
e não guarda maldade.

Carregas em ti pura doçura,
encantadora ternura,
típica de criança
com suas travessuras.

Minha linda menina,
pequenina criança,
és de beleza d'alma sem igual,
como jamais vi igual.

Tua vida serve de prova
de que Deus derrama seus cuidados
naqueles a quem Ele aprova.

És dádiva graciosa,
pedra preciosa, que não perde o brilho,
nem ofusca o valor de alguém
linda como a flor!

Tua beleza assemelha-se aos raios de sol,
que não precisa pedir lincença para brilhar;
ou como a luz das estrelas, que, de muitas,
não há como decifrar.

Enquanto isso, sigo o meu "castigo",
nesta sina que me abrigo,
de querer sempre te amar!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Pequeno ensaio sobre a vida e a morte.


Na verdade o que falar? A verdade, e do meu jeito! Tenho medo. Vivo com medo. Ao mesmo tempo que tenho ciência de que a vida – por mais bem vivida que seja – não tem valor, não passa de vapor e vaidade, mais eu tento dá-la sentido. É um paradoxo que não consigo explicar. A nossa passagem pelo mundo deixa suas marcas, mas com efeitos voltados apenas para aqueles que nos cercam mais imediatamente - ainda assim, não para todos. Pouquíssimos são aqueles que guardam um pouco de nós dentro deles. E cabe mais um “ainda assim”: gerações vindouras não guardarão mais nada de você. É apenas uma prova fática de que a vida não tem valor, pois o que verdadeiramente tem valor não perece, sobrevive às intempéries dos anos, e continua a ter seu valor para sempre. Diante desta realidade, como viver a vida? Por que enchê-la de sentido? E o que mais me intriga: por que o medo da morte? Tento, como qualquer outro Ser humano, e no usufruo do meu direito de humano, conjeturar algo como resposta. A minha conclusão é a mais simplória e foge de qualquer prolixidade filosófica, aproximando-se até do senso comum: “desejamos aquilo que os olhos veem”. Nossa limitação humana, faz-nos apegarmos à vida, porque nos acostumamos com aquilo que vemos. Isso se explica até para aqueles que vivem – ou apenas sobrevivem – condições miseráveis em quaisquer aspectos. Nos acostumamos com a vida como ela é e, por desconhecermos a morte – ou o que nos espera no pós-morte – não queremos nos desapegar àquilo em que temos conhecimento de causa.

É bem verdade que sou frustrado nesta vida, reconheço abertamente! Mas, movido pela minha condição inerente de Ser humano, aposso-me de uma esperança sobrenatural que me impulsiona a dar a volta por cima e ver, a cada porta que se abre, uma nova chance de reescrever minha história, mesmo acreditando que a vida per si não tem valor.
Então, por que dar sentido a algo que não tem valor? Não existe nisso uma contradição? Sim, é bem verdade, é aí que entra a Sociologia tentando, assim como a Filosofia, dar explicações a algo sem valor. O processo de sociabilidade humana elege alguns comportamentos e situações (status) que introjetam no homem a falsa ideia de ser algo valorativo. Tais status e comportamentos variam de acordo com a época e o meio sócio-cultural do indivíduo. Para cada campo social há seu habitus específico e os poderes simbólicos – conforme conceituações de Pierre Bourdieu – que nos iludem e nos fazem depreender energias em busca de uma aparência e aceitação social efêmeras. Às vezes a fugacidade é tão grande que desaparece antes mesmo da morte.
Quando nos deparamos com a realidade absoluta de que vamos morrer, torna-mo-nos tristes, e esvaia-se nossas energias em busca do crescimento e da aceitação social. Mas a vida tem seus subterfúgios, destacando-se como principal delas a inconstância dos pensamentos em relação a morte. Não pensar a toda hora e a todo momento que um dia teremos de enfrentá-la, traz-nos um efeito anestesiante e, como efeitos colaterais desta anestesia, tendemos ao lazer, ao bem-estar, enfim, a toda sorte de prazeres que a vida, dentro de seu dinamismo, nos oferece. Destarte, isso não passa de um efeito anestésico, e, como tal, tem seu fim; cedo ou tarde. Não a toa que o rei Salomão – considerado o mais sábio de sua época – declarou com muita propriedade um de seus provérbios: “É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia vamos morrer. E os vivos nunca devem se esquecer disso”. O simples fato de não nos esquecermos disso, já nos acorda do sono profundo provocado pela anestesia. Creio, com toda convicção de minha alma que, se tivéssemos a certeza da morte constante em nossas mentes, acabaríamos por agir mais sabiamente no nosso viver e proceder. E isso vale a mim. O quão louco e idiota eu fui na vida! Quantas decisões erradas! Quantos caminhos tortuosos eu construí! Lembrar-me deles, causa-me arrepios.

sexta-feira, 26 de março de 2010

A construção do presente.


Hoje pela madrugada assisti parte do filme "A Grande Ilusão", estrelados por grandes nomes do cinema mundial, tais como Sean Penn, Anthony Hopkins e Jude Law. Numa das cenas, Jack (Jude Law) fala para uma outra personagem - que não me recordo o nome, no momento - uma das frases mais memoráveis que pude presenciar nos cinemas: "Afinal de contas, nosso presente é reflexo de nosso passado". Tal simplicidade e obviedade da frase poderia ter passado desapercebido por mim, mas por uma razão ou outra não passou, permanecendo vivo em minha memória.
Pois bem, trata-se, ou não, de uma verdade? Ao nos analisarmos iremos deparar com uma realidade que muitas vezes não queremos lembrar ou, ao nos lembrarmos, nos arrepiamos, tamanha a vergonha e arrependimento que sentimos com fatos do passado. Esta realidade vivenciada no passado, com certeza fez e ainda faz parte do que nos constitui, no que tange à personalidade e caráter. Nossa constituição psíquica carrega muito do que sentimos ou vivenciamos no passado. Hoje, estamos diante de um EU que muitas vezes não gostaríamos que fosse constituído assim.
Ao olharmos de uma perspectiva mais macro, iremos ver que este mesmo pensamento proferido por Jack se aplica às atuais situações sócio-econômicas, políticas e culturais de uma nação. Como exemplo pensamos no nosso Brasil que, marcado pelo passado de escravidão e exploração de matéria-prima, de governos paternalistas e sobretudo pela forma política coronelista, fez com que hoje fôssemos uma nação e um povo que não gostaríamos que fôssemos.
Do ponto de vista pessoal, com muita honestidade, iremos concluir que hoje não somos realmente aquilo que gostaríamos. Escondido em nosso passado sempre há algo (atitude ou sentimento) que nos arrependemos bastante. Sem nossa consciência se dar conta, tais atos ou sentimentos ajudaram a construir o que somos hoje.
Para a correção de nosso EU contemporâneo não podemos fazer mais nada. O que foi feito já foi feito! Basta apenas aceitar e lamentar o que somos. A única coisa que podemos fazer, hoje, é nos lembrarmos que nosso EU de agora representa o nosso EU do amanhã; por isso mesmo, devemos cuidar para que, no futuro, não nos arrependamos de ser algo que poderia ser mudado hoje. Para fechar com chave de ouro, finalizo com a Palavra do próprio Deus - autor da vida e da História - e também com a certeza que não foi a toa que o Espírito Santo de Deus, através do autor da carta aos Hebreus, nos disse a grande verdade: "E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela".. Vale à pena nos corrigirmos hoje, para não sermos piores amanhã.

domingo, 21 de março de 2010

Apenas um deslize...


Hoje a noite me bateu uma vontade louca, enorme de comer um sanduíche. Estou de dieta há três semanas e estou fazendo atividade física todos os dias (de segunda a sábado). Foi um deslize, é verdade, mas ele não vai me dizer o tamanho de minha força de vontade; o que vai me dizer mesmo é a capacidade de dar a volta por cima. Estou disposto a continuar.

Esse simples fato do mundo físico me fez analogar com o mundo espiritual. Estou certo de que uma vida impecável - enquanto vida tivermos - não existe. Mas a capacidade de dar a volta por cima, tentando a perfeição, vai dizer, e muito, da nossa capacidade espiritual. Tal capacidade advém da crença de que "as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não tem fim" (Lm. 3. 22). Esta deve ser a crença que norteia a vida de todo aquele que se diz cristão, pois é um motivo que lhe dá esperança. É bem verdade que meu deslize nutricional poderia ser evitado - e insistentemente minha consciência me acusou do erro prestes a cometer - mas mesmo assim continuei, ciente de meu erro - o que me faz duplamente culpado. E o que ganhei com isso? Uma consciência pesada, e o desgosto comigo mesmo. Quando o verdadeiro cristão peca, o efeito é o mesmo em nossa consciência; isso desde que não haja um anestesiamento de uma vida pecaminosa. Desta vez não é nossa consciência que nos acusa do erro, mas sim o Espírito Santo de Deus - Ele não é um Ser inanimado, ou simplesmente um vento, sopro de vida (como apregoa a seita adventista). Ele age em nós e por nós, sempre nos orientando a vencer os inúmeros obstáculos em nosso dia-a-dia. Ultimamente tenho sentido que, da maneira mais natural possível, estou vencendo pecados que antes julgava ser totalmente incapaz de vencê-los - pois vergonhosamente confesso que já estava totalmente entregue a esse pecado. Mas tenho vencido, e não me sinto tentado a cometê-los como antes. O que era algo incontrolável passou a ser algo totalmente domável; sinto isso. Que bom, me sinto em paz!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Poder Para Mudar


Há poucos minutos recebi de um amigo um e-mail mostrando que o poder de mudar está em nós. Em parte é verdade! Não temos o poder de mudá-lo por completo, pois não somos semi-deuses. Mas também não podemos ignorar o fato de que o livre-arbítrio não nos dá apenas o poder de mudar nossa vida espiritual. Cabe ao livre-arbítrio, também, a escolha de construir caminhos decisivos, ou não, de nossas vidas. Cabe-nos a inércia ou a ação; o mal ou o bem; o silêncio ou a fala; a temperança ou o ímpeto, etc. Temos a desastrosa tendência de atribuir nossas derrotas ao(s) fato(res) que (onde) estamos vivenciando (inseridos). Basta lembrarmos do episódio de quando o pecado entrou no mundo: arguido sobre o fato de ter comido o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, Adão atribui sua derrota a Eva; da mesma forma, Eva atribui a serpente.

Para nos eximirmos de culpa, em pouquíssimos minutos nos transformamos em sociólogos, psicanalistas, cientistas políticos e etc., para provar que a culpa não é nossa, mas do "Sistema". Interpretamos (ou burlamos) os fatos e nossas emoções num piscar de olhos, tudo para não sermos reconhecidos nas derrotas. A máxima Socrática: conhece-te a ti mesmo serviria muito bem para que tivéssemos uma vivência mais honesta conosco e com quem nos cerca!

A verdade é que existe, sim, um parcial determinismo dos aspectos culturais, sociais, econômicos em nossas vidas, que nos limita, muitas vezes, de atingirmos nossos objetivos. Mas não se trata de alguma Jaula de Ferro - parafraseando Max Weber - que detém o poder absoluto de nossos rumos.
Dentro de nós há uma reserva de poder que nos impulsiona a mudar nosso status quo. Esse poder está intimamente ligado a nossa ESTIMA. Por isso mesmo, que se faz preciso mantê-la sempre em alta. Não olhar para as circunstâncias é uma dica bastante importante para isso. Transformar as derrotas em experiências é outra dica significativa. Se olharmos bem, nossa estima é o motor propulsor de nossas vidas; é o que de mais valioso temos! Precisamos construir verdadeiros "exércitos subjetivos" que estejam sempre vigilantes no intuito de não deixar que o(s) inimigo(s) a esgarce.

Certa vez um pensamento bastante óbvio me veio à mente: "A vida é ação, e não inércia". Não quero cometer o erro intelectual de dizer que tal aforia seja de minha autoria; mas também confesso não me lembrar de onde e quando me deparei com tal assertiva. Enfim, isso não é o importante. O fato é que ela é carregada de uma verdade estratosférica. Para cada ação existe uma reação, e isso não vale somente no campo físico; no campo subjetivo também é verídico. O que temos feito para mudar nosso status quo? É preciso agir o mais rápido possível e mostrar a nós e ao mundo que nos cerca que vencemos! Cá pra nós: sabemos que uma vitória diante do público que nos cerca torna-se mais gloriosa - para os que estão ao nosso lado, e para os que torcem contra nós!
Mas para que isso aconteça é preciso AÇÃO!

terça-feira, 9 de março de 2010

Quando a Esperança Falha.


Não é nada engraçado a sensação quando se recebe uma notícia negativa sobre algo que você esperava há muito, muito tempo. Uma tristeza muito grande; olha-se para os lados e não se vê solução alguma. E agora? Como se safar? Apelando para o Altíssimo, pois Ele tem cuidado de nós!
Enquanto houver vida, há esperança.

sábado, 6 de março de 2010

Ouvir ou não?


No meio evangélico, muito já se discutiu se o simples fato de ouvir música secular caracteriza-se como pecado ou não. Até pouco tempo atrás, não tinha uma opinião formada à respeito - até porque não estava disposto a me entreter sobre. Mas o fato é: ouvir ou não? A única opinião que carrego, diz respeito à experiência própria. Confesso a todos que não tenho nenhum referencial teórico sobre o assunto - muito embora, Ricardo Gondim, em seu livro intitulado É Proibido, pincele alguma coisa sobre o assunto.
Ouvir música secular, para mim, produz um efeito espiritual não muito bom. Não sei se é porque já está introjetado em mim a ideia de que "o que não é para Deus não voga" - fruto de meu ascetismo religioso -, ou se ela contém algum poder subliminar que afasta de mim o gosto pela oração e pela leitura bíblica. Conheço alguns irmãos na fé, e até mesmo pastores, que ouvem sem o menor peso na consciência. Para mim pesa, confesso. Por isso mesmo que decidi deixar, neste ano (2010), de ouvir tais músicas. Percebo que tomei uma atitude inteligente! Depois de uma autoanálise, percebi que não estava sendo bom para minha vida espiritual e, consequentemente, para as demais esferas de minha vida. Ariadini, minha noiva, disse-me que, quando ouvia, ficava com um comportamento mais agressivo, tornando-me mais impaciente. No passado, ainda adolescente, ficava com a auto-estima bem pra baixo. Não diria depressão, mas era quase isso.
Para substituí-los, enchi o cartão de memória do som de meu fusquinha só com canções evangélicas. Assim minha consciência não pesa e sinto-me em paz.
Há quem diga que isso seja fruto de minha ignorância. Mas quer saber? Que seja! O importante é que estou bem espiritualmente, e ouvir o que outros têm a dizer sobre minha suposta ignorância não irá me acrescentar, em nada, na vida espiritual.
É como se um ateu deixasse o ateísmo e se convertesse ao evangelho. Outros ateus iriam rechaçá-lo, mas seus argumentos não iriam trazer paz ao seu coração. É assim que me sinto hoje. Não quero uma fé tão intelectualizada ao ponto de haver espaço para o relativismo. Defendo, sim, que haja espaço para o entendimento, até porque Deus quer de nós um louvor completo (de mente e coração). Mas tal relativismo religioso, compara-se à lógica epicurista nos tempos de Aristóteles.

Pois bem, ouvir ou não ouvir? Prefiro não ouvir, nunca mais! Essa é minha experiência com a música secular!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sobre a Solidão.


Tudo fica mais susceptível quando estamos sós. Nosso mundo torna-se mais frágil, nossas emoções ficam mais à flor da pele; caímos em muitas ciladas, ciladas estas criadas e alimentadas pelas nossas próprias emoções. Ficamos sem condições de pensar nos momentos críticos da vida, e assim nos tornamos confusos.
Solidão demais tem seu preço, e não há subterfúgios que possam substituí-lo, ou ao menos amenizá-lo. O Ser humano é um Ser social e, por isso mesmo, não tem condições de ficar só por muito tempo. Quando me refiro a "ficar só" não é ao "só" propriamente dito, ou seja, ao estado de não ter ninguém por perto. Há a possibilidade de nos sentirmos sós no meio de pessoas próximas. Isto se dá quando não há uma conexão afetiva, de pensamentos e de humor entre nós e os nossos próximos. É por isso que se faz necessário saber escolher as amizades. E para isso, não apenas basta a sabedoria - que serve, dentre muitas coisas, para filtrar os candidatos a amigos -, faze-se necessário, também, o fator sorte. Seria mais cômodo se tivéssemos a sorte de acharmos no lugar certo e na hora certa, pois assim teríamos nossa necessidade de amizades sendo suprida mais rapidamente; mas nem sempre o lugar certo e a hora certa nos oferece os candidatos mais apropriados. Nestas horas, a sabedoria tem também a função de não fazermos sair por aí, à tôa, procurando em qualquer lugar; é preciso manter o equilíbrio, mesmo que a força da solidão nos impulsione ao erro. É bem difícil, é verdade, pois ficamos mais expostos quando nos achamos sós. Mas não é impossível.
Um dos erros mais graves cometidos por um recém-solitário disposto a se libertar desta condição, é se satisfazer, o mais rápido possível, de outros amigos que conheceu aleatoriamente. O vazio continuará, sem sombra de dúvidas. Esse erro é muito comum entre namorados que rompem o relacionamento e, para não estar só - até porque, nestas horas, a solidão lhe parecerá vergonhosa aos olhos do outro - arranjam qualquer um (ou uns). Isso não é grave, é gravíssimo!
Precisamos ter paciência - a paciência é um dos frutos da sabedoria -, e não tentarmos enganar a solidão preenchendo a lacuna produzida por ela com qualquer outra coisa. Isso seria um auto-engano. O segredo é: Paciência, e só!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Manter a Esperança.


Confesso que é muito difícil manter a esperança em meio a tanto niilismo acerca da vida e seu futuro. Tornamo-nos assim porque olhamos as circunstâncias ao nosso derredor. O "bixo homem" é assim! Sempre visível, analista das possibilidades, arrisca-se somente naquilo em que acha ter condições de sair ganhando, pois a derrota lhe é muito custosa - social e emocional. O medo de perder faz com que trilhe caminhos que nem mesmo ele sabe seu destino. Andam perdidos em seus corações, pois têm a maldita tendência de olhar para frente, para os lados, para trás, mas esquecem-se de olhar para o alto. Sim, para o alto! Lembro-me bem de quando fui visitar, junto com o Pr. Marcelo Mateus, o Pr. Rogério Sheidegger, quando este lutava contra o câncer. Na oportunidade, ele pegou uma pequena escultura de uma pirâmide, e disse que "Deus está no topo da pirâmide vendo tudo, enquanto o homem está apenas de um dos lados, não sabendo o que ocorre dos outros lados simultaneamente". Escutar tais palavras valeram não apenas o dia, mas até ao presente momento; e creio que valerá até o dia em que Deus me levar para perto Dele. Confesso que não tenho a capacidade de lembrar de fatos do passado, principalmente fatos-detalhes; mas por alguma razão (ainda desconhecida por mim) mantenho a me lembrar deste episódio. Que bom!
Olhando para o alto, ele morreu mantendo viva dentro de si a esperança. Não olhou para as circunstâncias que, diga-se de passagem, eram nada favoráveis. Isso se deu porque olhou para o alto.

Manter viva a esperança quando as circunstâncias são favoráveis, não há graça alguma. Não há expectativa! E uma vida com expectativas torna-se mais saborosa, graciosa, principalmente quando a vitória chega - um dia tem que chegar! Já se imaginou assistindo um filme tão óbvio, onde possa-se prever seu fim antes de chegá-lo? Os dramaturgos sabem explorar esse lado emocionante da vida. As expectativas, "materializadas" pelos sonhos, nos mantém vivos o tempo todo - seja lá qual for o sonho! Para isso, precisamos olhar para o alto, para Deus; colocar nossos sonhos nas mãos Dele; tirar definitivamente nosso caminho de nossas próprias mãos e entregá-Lo sem querer dividir o senhorio da vida com Ele. Quando Ele toma nosso caminho, o faz de uma forma que não podemos compreender. Podemos até nos enchermos de expectativas sobre o caminho que Ele constrói, ou seja, de como será seu fim; mas não podemos, nunca, expectar se seu fim será bom ou ruim, jamais! Isso nos dá uma segurança muito grande de que o fim do caminho construído por Ele é sempre bom, mas não sabemos especificá-lo - e por não sabermos especificá-lo é que temos o direito de nos enchermos de expectativas.

Neste exato momento estou cheio de expectativas em relação ao meu futuro, mas ao mesmo tempo tranquilo, sabendo que o caminho está sendo construído por Deus; e esse é o segredo para se manter em paz em meio a um mundo tão desesperançoso. É crer que Ele está no controle de tudo. Esperança e fé caminham lado-a-lado; ou melhor, a esperança é a fé, e vice-versa. Pois é impossível falar de um sem falar no outro. Quando entregamos nosso caminho nas mãos Dele e esta-mo-lo trilhando, podemos até pensar, em algum momento, que somos nós os construtores desse caminho, somos tendenciosos a isso, infelizmente. Mas precisamos nos lembrar, sempre, que não temos esse poder - e quanto mais rápido nos lembrarmos, melhor para nós!
Encerro com a canção intitulada "O Tapeceiro", de autoria de João Alexandre, que simplifica esta reflexão. Mas lembre-se: o que leremos a seguir só se consolida na vida de quem já entregou seu caminho nas mãos Dele!

Tapeceiro, grande artista,
vai fazendo seu trabalho;
incansável, paciente no seu tear.

Tapeceiro, não se engana,
sabe o fim desde o começo,
traça voltas, mil desvios sem perder o fio!

Minha vida é obra de tapeçaria,
é tecida de cores alegres e vivas,
que fazem contraste no meio das cores
nubladas e tristes.
Se você olha ao avesso,
Nem imagina o desfecho.
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem!

Quando se vê pelo lado certo,
muda-se logo a expressão do rosto;
obra de arte! Para Honra e Glória ao Tapeceiro!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Escuta meu clamor!


Logo no prefácio do livro Retorno à Santidade, de autoria do Dr. Gregory Frizzell, duas frases complementares me chamam à atenção: "Nunca houve um tempo na história da igreja quando o corpo de Cristo precisasse tanto de purificação como agora, no início do século XXI [...] a igreja de hoje é caracterizada pela indiferença, falta de compromisso...". Coincidentemente (ou não), agora a pouco, li um artigo do Pr. Paulo Barbosa, intitulado de Que Tipo de Animal?, onde o autor usa a linguagem figurada e compara alguns animais e suas características mais peculiares, relacionando-os com a vida de muitos cristãos; e que trata do mesmo assunto. Eis o trecho que mais me chamou a atenção: "Alguns membros de igreja empacam como uma mula no que diz respeito à obra do Senhor, mas, são astutos como uma raposa quando tratam de seus próprios negócios". Que grande verdade! Vou mais além. Digo que a esmagadora maioria dos crentes de hoje preocupam-se mais com o seu bem-estar, à obra do Senhor! Estive, temporariamente, enriquecendo essa maioria enquanto estava empregado. Por experiência própria, infelizmente, confesso que meus pensamentos, emoções e conversações estavam totalmente voltados para a empresa e seus problemas. Esfriei na fé e no amor; e muito me preocupa a declaração do Senhor Jesus quando disse: "que nos últimos dias o amor de muitos esfriarão". Não quero estar neste "muitos" quando Ele voltar! Peço a Deus que Ele me ensine a amar, a cada dia mais e sempre - e sei que preciso!
Tomei conhecimento, hoje, que, possivelmente, irei me ocupar "de uma das coisas deste mundo", novamente, na semana que vem. Bom por um lado, pois tenho pedido isso a Ele. Mas desta vez quero que seja diferente. Desta vez tenho que estar vigilante para que eu possa transformar "a coisa deste mundo" em bênçãos para mim e para os que me cercam. Tenho que ter em mente, sempre, que as riquezas deste mundo terão fim, e que preciso acumular riquezas nos céus, "onde traça, ferrugem e ladrões não destruam".
Deus, se esta porta estiver sendo aberta pelo Senhor, que ela ajude no meu crescimento espiritual acima de qualquer outra coisa! Escuta meu clamor!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sobre Representações Sociais.


No meu entendimento, toda e qualquer discussão no âmbito das Ciências Sociais, Políticas e Psicologia Social resume-se em Representações Socias. É um conceito caríssimo para mim. Portanto, merece uma reflexão à respeito.

Ao nosso entendimento, começamos à tratar de Representações Sociais, pois entendemos ser ela um espaço de construção da realidade que cerca o indivíduo, bem como trata-se, também, de um espaço que constantemente é construído por realidades inovadoras no espaço social do indivíduo, bem como pode ser construído por indivíduos que cheguem ao mesmo espaço, com visões diferentes da realidade e que podem interferir decisivamente na sua visão (construção) do mundo que o cerca. Somos, ao mesmo tempo, construtores e construções – não acabadas – da realidade que nos cercam. Tal afirmativa dar-se ao fato de sermos também alvos do olhar inquiridor do outro que pertence, ou não, de seu ciclo social. Tal contínua construção tem como base a realidade histórica vivida pelo ator social. Os valores – quer religiosas, familiares, ou de uma outra comunidade qualquer –, a situação sócio-econômico, bem como a educacional e as conversações são, ao nosso ver, os condicionantes sine qua non que irão determinar a visão do mundo que vão nos acompanhar no decorrer de nossas vidas. Porém, isto não quer dizer que tal visão de mundo é algo acabado, sem nunca receber modificações. Devemos sempre nos lembrar que o Ser Humano é um ser inacabado, um Ser sempre em construção, um Ser social e, como tal, sempre aberto a receber conscientemente e de maneira constante as modificações provenientes do mundo que o cerca. Mais à diante, iremos ver algumas conceitualizações à respeito de representações Sociais e tentaremos abrir discussões sobre o tema ao qual esta reflexão pretende.

Começaremos por Durkheim, por ser ele o autor que primeiro trabalha com este conceito. Para ele, o termo se refere a categorias de pensamento através das quais determinada sociedade elabora e expressa sua realidade. Podemos considerar esta elaboração da realidade como alicerce em que vão sendo construídos, através dos tempos, todas as outras ideologias e culturas que serão acrescentadas neste inacabado edifício da Representação Social. Durkheim vai advogar que este alicerce é onde sempre vai ser conservada a marca da realidade onde nascem, mas que também vão se reproduzir e se misturarem, tendo como causa outras representações e não apenas a estrutura social. Aqui queremos destacar este lado moldável das Representações Sociais. Ao mesmo tempo que existe uma base/alicerce, outros “tijolos e cimentos” sociais são colocados e misturados nesta base fazendo com que haja uma modificação – portanto, não completa – das visões e interpretações à respeito das situações circuvizinhas, bem como da realidade como um todo. Para Durkheim, esta base/alicerce das representações são o “substrato social”, porém, vai advogar também sua autonomia relativa. Para ele, algumas, mais que outras, exercem sobre nós uma espécie de coerção para atuar em determinado sentido. Dentre estas se destacam a religião e a moral, assim como as categorias de espaço, tempo e de personalidade, consideradas por ele como representações sociais históricas. Desta feita, podemos ver que uma ou umas esfera(s) de nossa existência pode(m) afetar mais do que outras na construção que fazemos da realidade. Como vimos, Durkheim considera a religião e a moral como os principais condicionantes, bem como as representações sociais históricas. Ao nosso entender, não é qualquer experiência fugaz que afeta nossa visão de mundo, mas somente aquelas em que lidamos no dia-a-dia, quer sejam elas impostas ou de nossa preferência. São, por nós, consideradas como mais sólidas, as mais significativas, que tem o poder de construção contínua, mesmo que seja por um determinado tempo. Portanto, não estamos aqui excluindo a possibilidade de que um evento único e efêmero possa trazer em si um poder de mudança. O que dizermos então de indivíduos que abandonam uma vida religiosa que herdaram dos pais para seguirem uma outra religião antagônica à sua, ao assistirem uma única vez a uma manifestação de culto de sua então nova religião? O que dizermos então de pessoas que passam boa parte de suas vidas crente em uma determinada teoria e que, ao assistirem uma única palestra abandonam por inteiro tal teoria? Não estamos aqui sacrificando o poder de transformação que tais eventos trazem em si, apenas dizemos que comparativamente aos de longa duração, eles quase que não tem significância. A convivência, por si só, constrói paredes mais altas, mais densas, difíceis de serem derribadas ou transpostas; mas não impossíveis.
Ainda em Durkheim, podemos ouvi-lo dizer que
“...as representações coletivas traduzem a maneira como o grupo se pensa nas suas relações com os objetos que o afetam. Para compreender como a sociedade se representa a si própria e ao mundo que a rodeia, precisamos considerar a natureza da sociedade e não a dos indivíduos. Os símbolos com que ela se pensa mudam de acordo com a sua natureza (...). Se ela aceita ou condena certos modos de conduta, é porque entram em choque ou não com alguns dos seus sentimentos fundamentais, sentimentos estes que pertencem à sua constituição”.

Aqui podemos ver da forma mais clara possível um dos conceitos mais importantes trabalhados por Durkheim: o da coercitividade social. Este conceito nos mostra a necessidade de pensarmos o indivíduo sem deixar de levar em consideração – e na visão do autor o mais importante – a influência social e o que ela construiu no indivíduo. Se alguma conduta choca-se com seus sentimentos é porque nunca antes tinha sido construído socialmente tal pensamento ou sentimento. Achamos louvável da parte de Durkheim quando ele usa o termo “sentimento”, pois não somente as dimensões cognitivas e sociais estão presentes na noção de Representação Social, mas também a dimensão afetiva. O caráter simbólico e imaginativo desses sabores traz à tona a dimensão dos afetos, porque quando sujeitos sociais empenham-se em entender e dar sentido ao mundo, eles também o fazem com emoção, com sentimento, e com paixão. Assim, vemos se tratar de um “todo” construído na vida de uma sociedade e, conseguintemente, na de um indivíduo, e não apenas algumas dimensões da vida de um sujeito social. Tal coercitividade é completa, atingindo o indivíduo por inteiro e não apenas parte dele. Diante de tal realidade não há mesmo como pensar o sujeito (a parte) sem pensar o todo. Isto porque o indivíduo não é apenas um instrumento transformador da sociedade, é, também, um produto social, alguém cujas características são dadas pela sociedade e pela cultura em que está inserido. Há quem defenda que até mesmo características julgadas como exclusivamente pessoais são nada mais e nada menos que fruto do meio, interpessoal. Podemos perceber isto ao analisar o sonho, quando Robert M. Farr vem nos dizer que “embora os sonhos sejam pessoais a quem os sonha, eles não permanecem assim no contexto da Psicoterapia. O Pessoal se torna Interpessoal. O conteúdo dos sonhos é influenciado pela cultura de quem os sonha. A forma (isto é, o visual) e o conteúdo dos sonhos são reflexos sobre o indivíduo, daquelas representações coletivas que eram objetos de interesse tanto para Wundt como para Durkheim”. Tal afirmativa vem apenas para comprovar tal completude da coercitividade social, mostrando seu poder de influência mesmo em uma esfera que ultrapassa ao da consciência, ou seja, o da subconsciência.

Portanto, é na esfera pública, enquanto lugar de alteridade, que se fornece às Representações Sociais o terreno sobre o qual elas podem ser cultivadas e se estabelecer. Por ser um lugar de alteridade, nada mais comum do que haver choques entre várias e diferentes correntes interpretativas, quer no campo das ciências, da religião, das artes, de relacionamentos, enfim, onde existir o humano há ali a alteridade. Vários são os campos sociais, como bem nos diz Bourdieu, e nelas há o espaço da alteridade, resultando na disputa pelo poder simbólico em cada campo. Tal pluralidade humana faz com que as ações e os discursos tornem-se necessários.
“Se nós fôssemos todos idênticos não haveria a necessidade de comunicação ou da ação sobre o que nunca varia; [...] É na experiência da pluralidade e da diversidade entre perspectivas diferentes – que, porém, pode levar ao entendimento e ao consenso – que o significado primeiro da esfera pública pode ser encontrado”.

E, como esfera pública, podemos aqui entender, o “mundo mesmo”, na medida em que é comum a todas as pessoas e que se diferencia do espaço privado de cada um dentro dele. Desta feita, a esfera pública estabelece as fronteiras que tanto ligam como separam as pessoas, que tanto as une como os impede de tropeçar umas nas outras. Vale salientar que, de fato, a esfera pública é mesmo diferenciada da esfera privada, pois segue uma lógica própria. Embora o todo seja composta pelas partes, mas a união destas partes faz com que haja uma lógica própria. Embora o todo seja composto pelas partes, mas a união destas partes faz com que haja uma lógica singular, que chega mesmo a independer das lógicas das partes individuais. É o que nos diz Durkheim em seu estudo clássico sobre o suicídio, que aquilo que ele chamava de fatos Sociais somente poderia ser explicado em termos de outros fatos sociais. Assim, pode-se ver que métodos de investigação da Psicologia – excetuando a da disciplina Psicologia Social – nada podem fazer para interpretar os fatos sociais; e que somente à Sociologia compete tal avaliação.

Ainda refletindo sobre o espaço público, podemos ver que tal esfera existe em função da pluralidade humana, como espaço que se sustenta em função de diversidade humana. Numa rápida tentativa de nos aprofundarmos na análise do espaço público, podemos trazer para o centro de nossa análise a dialética entre o “um” e o “outro”. Por que quem sou “Eu” se não o “eu” que outros apresentam a mim? Como bem vem nos dizer G. H. Mead (1934) sobre o “outro generalizado”, que dá ao sujeito sua possível unidade enquanto Eu, e não há possibilidade de um desenvolvimento do Eu sem a internalização de Outros. Aqui, mais uma vez, podemos ver a importante interferência do meio (todo) sobre o indivíduo (parte). Nossa imagem é compartilhada como um outro espelho na vida cotidiana – a face de um Outro, os olhos de um Outro, o gesto de um Outro. Estamos, desta feita, sempre à mercê das interpretações alheias, e elas nos são por demais importantes, pois o nosso Eu, nossa essência, não restringe seu significado a nós tão somente; mas diz respeito e, principalmente, ao outro. O significado dado pelo outro é o que há de mais importante, pois no âmbito da esfera pública a imagem a ser refletida não será a auto-imagem, mas sim a imagem refletida no espelho do outro, ou seja, o olhar do Outro. É neste sentido, e dentro da mesma lógica, que Winnicott diz que é da diferença, no sentido pleno da palavra, que o Eu humano se desenvolve, porque “quando se fala do homem, se fala dele enquanto resultado de suas experiências culturais. O todo forma a unidade”. Dentro da visão Winnicottiana, essa formação vem desde o primeiro encontro do indivíduo com outros. Esse encontro assegura as bases para a confiança no meio e para as primeiras experiências relacionais, onde a comunicação e mais tarde linguagem vão ocupar um lugar central, pois é através da linguagem que as representações sociais serão divulgadas e compartilhadas entre si, representações estas que serão formadas – principalmente na fase inicial da vida – através de símbolos.

São através dos símbolos que coisas diferentes podem significar umas as outras e podem mergulhar umas nas outras; elas permitem uma variabilidade infinita, e, ainda assim, são referenciais. Assim, é da essência da atividade simbólica o reconhecimento de uma realidade compartilhada – a realidade de outros. Tal reconhecimento da realidade compartilhada faz com que haja um enriquecimento no “acervo” simbólico dos indivíduos. Este “acervo” irá garantir que o entendimento do outro – mesmo parcial – facilite (ou não) o seu relacionamento com os outros. É na construção da simbologia, e estas compartilhadas através da comunicação e da linguagem, que as relações são construídas e, através desta interação, que as Representações são intercambiadas – entendido aqui fica o simples fato que a própria interação já é, por si só, intermediada por Representações Sociais.

A própria formação do símbolo para se entender o mundo que o cerca é uma construção mental do ator social, e não se trata de construções rígidas, imutáveis, mas sim de representações que vão se desenvolvendo – ou até mesmo substituídas – à medida que o indivíduo também se desenvolve (amadurece) socialmente e mentalmente. Esse é o caráter imaginativo e construtivo, que a faz, de certo modo, autônoma e criativa. Porém, tal autonomia não é completa, pois os “elementos que estruturam a representação advém de uma cultura comum e estes elementos são aqueles da linguagem”. Mas esta relativa autonomia é exatamente a capacidade de dar às coisas uma nova forma – que constitui uma Representação. É uma forma de mediação entre o sujeito e o objeto-mundo. Este último reaparece sob a forma de representações, re-criado pelo sujeito, que, por sua vez, é ele mesmo também recriado pela sua própria relação com o mundo. Vale salientar que a substância, ou o conteúdo do qual as representações são feitas, são símbolos.

É na relação com o mundo que um “novo mundo” de significados são construídos. De um lado, é através das relações com os outros que as representações têm origem mediando o sujeito e o mundo que ele, ao mesmo tempo descobre e constrói. De outro lado, há nas representações símbolos “que são pedaços de realidade social mobilizados pela atividade criadora de sujeitos sociais para dar sentido e forma às circunstâncias nas quais eles se encontram”. Isto quer dizer que o sujeito psíquico não está nem abstraído da realidade social, nem meramente condenado a reproduzi-la. Assim, as representações sociais são um fenômeno mediador entre o indivíduo e a sociedade. Tal mediação encontra-se embebida nas comunicações e nas práticas sociais: diálogo, discurso, rituais e etc. Como estão contidos nas práticas sociais, as representações sociais vão além do trabalho individual do psiquismo pois, como estamos falando em representações “sociais”, devemos analisá-lo considerando enquanto totalidade, ou seja, o social envolve uma dinâmica que é diferente de um agregado de indivíduos. Isso porquê as leis que englobam a constituição de uma estrutura não podem ser reduzidos à soma de seus elementos separados. Ao contrário, elas dão à totalidade propriedades distintas das propriedades de seus elementos. Desta feita, podemos compreender que as representações sociais não são um agregado de representações individuais, da mesma forma que o social é mais que um agregado de indivíduos.
“Assim, a análise da representações sociais deve concentrar-se naqueles processos de comunicação e vida que não somente as engendram, mas também lhe conferem uma estrutura peculiar. Esses processos, eu acredito, são processos de mediação social. Comunicação é mediação entre um mundo de perspectivas diferentes, trabalho é mediação entre necessidades humanas e o material bruto da natureza; ritos, mitos e símbolos são mediações entre a alteridade de um mundo frequentemente misterioso e o mundo da intersubjetividade humana; todos revelam, numa ou noutra medida, procura de sentido e significado que marca a existência humana no mundo”.

São através destas mediações sociais, em suas diversas formas, onde são geradas e compartilhadas as representações sociais; espaço para aprendizados comuns, onde todos são alunos e professores concomitantemente. A comunicação em si pode ser considerada o giz da grande lousa da vida, pois é através dela que são escritas na nossa vida as diversas maneiras de se enxergar e interpretar o mundo que nos cerca.

Um outro lado das Representações Sociais merece atenção neste momento. Elas podem ser vistas como uma estratégia desenvolvida pelos indivíduos para enfrentar a diversidade e um mundo que, embora pertença a todos, transcende a cada um individualmente. Desta feita, elas são consideradas um espaço de fabricação comum, onde cada sujeito vai além de sua própria individualidade para entrar em domínio diferente, porém relacionado: o espaço público. Assim, elas não são apenas frutos da mediações sociais, mas são, elas próprias, mediações sociais. É o espaço do sujeito na sua relação com a alteridade, em busca da interpretação do meio, bem como ajudando na construção do mesmo mundo.

Para a construção deste espaço, é condição sine qua non que cada indivíduo utilize-se, sem ele mesmo se conscientizar disto, os sítios simbólicos de pertencimento. Tal conceito é trabalhado por pelo pensador marroquino Hassan Zaoual, que vem nos dizer que se trata de um espaço, de um “marcador imaginário de espaço vivido. Em outros termos, trata-se de uma entidade imaterial que impregna o conjunto do universo local dos atores”. Em sua visão, o sítio é sempre singular, porém, pode ser aberto – suscetível à diversas trocas culturais em que se mantiver contato –, ou fechado – mais peculiar às sociedades mais simples. Dentro destes sítios, estão contidas as crenças, conceitos e comportamentos que se articulam em torno de um sentido de pertencimento. Porém, devemos ter o máximo cuidado para não confundirmos este sítio (espaço) com o espaço geograficamente delimitado, onde se encontra o indivíduo. Embora o indivíduo seja local, este sítio simbólico é formado por diversas combinações que, no mesmo tempo, se amalgamam vários mundos em múltiplas dimensões. Uma sociedade moderna, portanto, contém, em si, uma diversidade de sítios cujas características decorrem do fato de pertencer a classes, grupos, redes, bairros, religiões e etc. Esta diversidade de sítios é, ao mesmo, fonte de conflito e de enriquecimento; uma sociedade moderna é, na verdade, um macrossítio que contém em si, diversos microssítios e, por sua vez, diversas representações sociais. Como o próprio indivíduo é o próprio intérprete de seu mundo e de sua situação, ele assim o faz com todo o peso simbólico em que foi influenciado em sua vida e com todo o peso de seu passado. Como o próprio autor do conceito nos diz,
“o conceito de sítio é ‘flexível’. Pode aplicar-se em múltiplas escalas e organizações [...]. Tais entidades empíricas podem se combinar de diversas maneiras e dar lugar a macrossítio contendo uma pluralidade de microssítio, e assim por diante. É preciso então situar, em cada caso, o nível de aplicação da noção”.

O que de mais importante podemos compreender de “sítio simbólico” é que ele porta-se como uma verdadeira bússola”, orientando os comportamentos individuais e coletivos; o que de fato irá dar o sentido em que os indivíduos atribuem ao seu próprio mundo. Em sintonia com o autor, nos atentemos para o fato de que a hibridação, fruto da mundialização e do encurtamento de suas fronteiras através dos diversos meios de comunicação, faz com que este sítio simbólico fique quase que constantemente aberto, contribuindo assim para o seu enriquecimento simbólico, porém, e ao mesmo tempo, ao enfraquecimento de suas bases de pensamento e, consequentemente, das interpretações de seu mundo e das situações que o cercam. Mas ainda assim este sítio é considerado seu lugar de encontro e ancoragem, pois contribui para “a integração das organizações sociais e dos indivíduos que as compõem. O sítio é antes de tudo uma entidade imaterial, um espaço cognitivo que estabiliza o caos social”. Para ajudar na estabilização, e contribuindo que o sítio torne-se um lugar de ancoragem, estão as crenças – frutos das atividades cognitivas dos indivíduos. Tais crenças estruturam as práticas e, por sua vez, estas produzem fatos correspondentes. Não é demais dizer que nossas práticas são frutos de nossas crenças, sobretudo na crença de si próprio, de nossas interpretações, das correntes filosóficas e/ou religiosas, e/ou científica, da moral em que adotamos ou deixamos ser adotados. Desta feita, nenhum conhecimento do social pode ser totalmente separado dos valores e das crenças que anima os fatos e os gestos dos atores de um dado lugar. “O homem é incrivelmente um ser crente. A necessidade de sentido e de direção pode ser motivo para fazer isto ou aquilo”.

Um outro ponto de vital importância e que merece ser discutido nesta reflexão, encontra-se em dois dos autores mais importantes nas discussão de Representações Sociais. Tratam-se de Moscovici e Jodelet; o primeiro reconhece a dupla face que as Representações Sociais possuem em ser, ao mesmo tempo, estruturas estruturadas e estruturas estruturantes – termos pegos emprestados em Bourdieu. Quando se fala que o sujeito é um sujeito social, estamos falando do âmbito estrutural do indivíduo. Jodelet vem corroborar com esta afirmativa quando fala que
“um indivíduo adulto, inscrito numa situação social e cultural definida, tendo uma história pessoal e social [...] não é um indivíduo isolado que é tomado em consideração, mas sim as respostas enquanto manifestações de tendências do grupo de pertença e/ou afiliação na qual os indivíduos participam”.

O sujeito, enquanto estrutura estruturada, nada mais é que o fruto de seu meio, fruto dos pensamentos e manifestações políticas e culturais que o cerca. Afinal de contas, quando nascemos a cultura já existe, e somos automaticamente enquadrados nela. Correspondemos, e espera-se que de fato sejam correspondidas as nossas ações ao mundo e suas peculiaridades históricas e culturais que nos cercam.

O outro lado da face das representações sociais expressa a sua característica intra-individual, uma característica dotada de poder de transformação da realidade social. O sujeito não é e não pode ser visto apenas como mero reprodutor do meio, ele tem sim poder de transformação de sua realidade através das interpretações do seu meio. Esta interpretação não é apenas fruto da lógica e da cognição, mas também de elementos afetivos, sociais, da linguagem e da cultura como um tudo; o que não quer dizer que não haja no indivíduo capacidade de discordar, de não se afeiçar de algum elemento cultural ou ideológico, mas até o simples fato de não gostar de algum elemento cultural de seu meio, por exemplo, se dá pelo conhecimento prévio de outras culturas que, uma vez comparada com a cultura de seu meio, julgue o indivíduo ser esta última melhor que a primeira. Muitos são os meios que colaboram para este conhecimento; desde um simples intercâmbio cultural até, e principalmente, pelos meios de comunicação – sobretudo a televisão. Através dos meios de comunicação, uma diversidade de mundos, culturas e ideologias são colocados como elementos de um cardápio que fica à dispor da aceitação do sujeito. Seu leque de escolhas se abre, e até mesmo, se amalgamam, formando assim um novo aspecto para sua escolha e mostrando, desta feita, a característica estruturante, criadora e transformadora da realidade.

Destarte, quando dizemos que tal realidade pode ser modificada pelo indivíduo através de um conhecimento prévio de outras realidades, estamos com isso remetendo as Representações Sociais como produto social, das condições sociais que a engendram, ou seja, o seu contexto de produção. O simples fato do conhecimento prévio de outro mundo já é, por si só, elemento deste contexto. É analisando o contexto que se compreende as construções que deles emanam e nesse processo o transforma. Portanto, como contexto, não podemos apenas entender o espaço social em que a ação se desenrola, como também à partir de uma perspectiva temporal. Não visão de Spink (1995), três tempos marcam esta perspectiva temporal:
“a) o tempo curto da interação que tem por foco a funcionalidade das representações; b) o tempo vivido que abarca o processo de socialização – o território do ‘habitus’ (Bourdieu, 1983), das disposições adquiridas em função da pertença a determinados grupos sociais; e o c) tempo longo, domínio das memórias coletivos onde estão depositadas os conteúdos culturais cumulativos de nossa sociedade, ou seja, o imaginário social”.

Saliento aqui que encontraremos no tempo longo os núcleos mais estáveis das representações – considerando aqui a moral da sociedade como seu principal constituinte –, enquanto que no tempo curto concentra-se a diversidade e a criação, como fruto do aqui-e-agora da interação.

Mas não podemos falar aqui do contexto e suas peculiaridades, sem falarmos do Senso-comum. Por vários anos, o senso-comum (ou saber popular) foi visto como uma forma de pensamento primitivo, uma forma de raciocínio pré-lógico e fragmentado. A teoria das Representações Sociais vem justamente romper com esse pressuposto evolucionista ao mostrar que o senso-comum vem servir como uma
“ancoragem e tem como funções orientar condutas, possibilitar a comunicação, compreender e explicar a realidade social, justificar ‘a posteriori’ as tomadas de posição e as condutas do sujeito, e um função identitária que permite definir identidades e salvaguardar as especificidades do grupo”.

Assim, podemos perceber que o senso-comum é um espaço onde sedimenta-se várias ideologias que, ao longo do tempo, passaram e ainda continua a passar, mas que não se esvaeceram, deixando assim sua marcas e contribuições para a formação deste rico terreno. É por isso que falar em Representações Sociais é remeter-se ao conhecimento produzido no senso-comum. Mas não é todo e qualquer pensamento, mas uma forma de conhecimento compartilhado, articulado, que se constitui como uma teoria leiga à respeito de determinados objetos sociais. Tal terreno é formado através da intermediação da comunicação. Aliás, comunicação e Representação Social são inseparáveis, interdependentes. Como nos diz Moscovici,
“uma condiciona a outra, porque nós não podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representações e uma representação é compartilhada e entra na nossa herança social, quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicação”.

Dentre os diferentes tipos de comunicação, a conversação é destacada por Moscovici como o primeiro gênero de comunicação através do qual se constroem as representações sociais. Destaco aqui também – não colocando no mesmo patamar da conversação – as propagandas, principalmente as televisivas, bem como telenovelas, filmes, livros e revistas – estes numa proporção bem menor. É através da comunicação que o sujeito recebe informações sobre os objetos existentes no mundo, bem como das ações dos outros. Essas informações são filtradas e arquivadas na memória, que permite ao sujeito compreender as ações e os objetos, bem como agir sobre eles. Assim, é através desta compreensão que o sujeito constrói suas ideias à respeito do objeto, pela filtração das informações, e não a entende de forma nua e crua, como a recebeu.

É por isso que muitas vezes atribuímos significados diferentes à cerca de um mesmo objeto. Esta compreensão e forma como filtramos as informações dependem sobremaneira da desigualdade de interesses que os sujeitos dão ao mesmo objeto. É uma tendência tão natural que, cremos, seja por isso mesmo que tenha nascido a necessidade de se dissecar a ciência em partes, e uma mesma ciência em disciplinas, e estas, por sua vez, divididas em correntes de pensamentos teóricos. A compreensão está sempre à mercê dos hábitos lógicos e linguísticos de tradições históricas, do acesso à informação e da estratificação de valores. O modo como se apreende as informações, depende de outros conhecimentos e valores já arquivados em nossa memória. É uma construção já equilibrada servindo como base para outras construções do aqui-e-agora. Enfim, “a forma pela qual os conteúdos das representações são determinados e organizados, depende do lugar que os indivíduos ocupam ou das funções que exercem”.

Uma outra verdade nos é dada quando olhamos para um outro “aspecto-função” das Representações Sociais, ou seja, seu papel de “manutenção da identidade e equilíbrio sócio-cognitivos de um grupo, uma vez que ela mobiliza as defesas nos momentos de irrupção de novidades, temendo que estas possam se constituir em uma ameaça ao ‘status quo’, aos valores dominantes, aos modelos e aos quadros de pensamentos existentes nos grupos políticos e religiosos”. É a esfera dos choques ideológicos que se dá no espaço público; isso faz-nos mostrar que nem sempre o intercâmbio de valores e ideologias produzem, como consequência unilateral, o enriquecimento para ambas as partes. O outro, muitas vezes, pode se tornar algo ou alguém a ser combatido, aleijado, ou até mesmo exterminado, tudo isso sempre no intuito de se manter a identidade de um grupo.

Enfim, podemos resumir as funções das Representações Sociais, como bem fez Maria de Fátima de Souza Santos, assim:
“a) Função do Saber: compreender e dar sentido à realidade social; b) Função de Orientação: guias de conduta que orientam as práticas sociais; c) Função Identitária: pois as representações Sociais possibilita uma identidade grupal; d) Função Justificadora: servem como referências justificadoras do comportamento”.

Adiciono a estas, uma outra função, a e) Função Manutenção das identidades: uma vez que serve como defesa diante das irrupções das novidades.