segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A Verdadeira riqueza!

Vocês nunca saberão o que é riqueza até…
Ver Deus exortá-los…
Se sentirem arrependidos dos seus pecados…
Perdoar aos que os tem ofendido...
Sentir seus pecados sendo perdoados…
Ver que suas orações foram respondidas…
Ver Deus aconselhando-o…
Ver Deus prometendo bênçãos sobre suas vidas…
Ver Deus restaurar a sua vida...
Saber que Ele está perto dos que o buscam de todo o coração…
Saber que Ele se importa com você...
Sentir que é amado por Ele…
Entender que o sacrifício de Jesus foi feito para ele...
Ser salvo por Ele.

Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Romanos 11.33)

Breve meditação em Ezequiel 18. 21-32

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A TEOLOGIA DO COTIDIANO




Antes, gostaria de deixar claro que a teologia em epígrafe é uma expressão que tenho pensado e utilizado nos últimos dias. Qualquer similaridade é pura coincidência – digo isto com sinceridade; sequer me dei ao trabalho de pesquisar no google se já existia… não queria perder o sentimento de protagonismo (rsrsrs...).

   Numa conceituação primordial, é, dentre outras coisas, uma leitura (e sua interpretação inerente) da própria vida, das experiências espirituais individuais acumuladas, e da realidade que o cerca, à luz da escrituras sagradas – e longe das interpretações das grandes escolas teológicas existentes. É uma maneira de estar vigilante em todo tempo, sempre atento aos acontecimentos e diálogos do cotidiano, confrontando-os ao que a bíblia lhes diz sobre os fatos, aceitando-os ou rejeitando-os.

  É, também, uma maneira de manter-se sensível ao próximo, sempre procurando entender suas peculiaridades, seu histórico (se oportunidade houver!) e no que este influenciou em seu pensamento… enfim, interpretá-lo. Esta sensibilidade é mais do que compreendê-lo (compreensão dá uma conotação fria, distante e impessoal), é senti-lo. A Teologia do Cotidiano (TC) nos devolve a capacidade de sentir a dor do próximo como a nossa própria (Mt. 22. 39).

   Mais do que isso, a TC deve nos devolver a capacidade de respeitar o próximo; respeitar suas idiossincrasias, seus trejeitos, seus pensamentos e sentimentos, sua leitura da vida, enfim, respeitá-lo por completo.

  Destarte, é uma maneira de olhar o mundo, interpretá-lo e senti-lo com os olhos espirituais exclusivamente, desprezando o olhar crítico dos “pré-conceitos”, e dos diversos pressupostos das ciências humanas e sociais.

  Sei que isso pode gerar críticas por teólogos diversos, pois isso geraria uma espécie de teologia individualizada, frágil, fragmentada, desconstituída do crivo das grandes escolas teológicas já estabelecidas historicamente – que hoje nos servem como referenciais. Argumentariam, com a devida vênia, que isso abriria caminhos para surgimentos de discrepâncias teológicas, ou, para os adeptos de teorias da conspiração, a falência do corpo doutrinário e, conseguintemente, das denominações cristãs – pois não haveriam mais identificação de pessoas que comungam dos mesmos ideais. Para aquela, reconheço, há o perigo; porém, para esta, creio não haver o perigo pois, historicamente, a igreja de Cristo, desde sua fundação com os 12 discípulos, fez e faz uma leitura espiritual do cotidiano baseado em suas experiências espirituais individuais com Cristo. Basta ver os discípulos que romperam por completo com as tradições judaizantes, e outros que mantiveram. Pedro, após uma experiência individualizada com Cristo, mudou por completo com sua concepção à respeito dos gentios; e Paulo, embora reconhecendo a importância de algumas leis cerimoniais e tradições judaicas, baseado também em sua relação pessoal (individual) com Cristo – daquilo que o Espírito lho falou –, desprezou-as como significativas para fins salvíficos. Já Tiago, segundo Corrado Augias e Mauro Pesce, manteve seu posicionamento da necessidade da circuncisão entre os gentios, ao converterem-se ao cristianismo1.

   Embora as experiências individuais com Cristo estejam no âmago da TC, faz-se necessário deixar bem claro que isso não significa uma substituição às sagradas escrituras, nem mesmo uma outra forma comunicacional de Deus para o homem – a bíblia já cumpre muito bem este papel!2 –, mas uma maneira real de relacionamento do Espírito Santo com a nossa cognição (e, de maneira mais profunda, com nosso inconsciente).

   É justamente esta relação que fará toda a diferença em nosso maneira de olhar o mundo.

1 Embora este posicionamento não tenha fundamento na Carta de Tiago, mas é a interpretação dos autores citados, em seu livro Diálogo sobre Jesus – quem foi o homem que mudou o mundo? da Editora Bertrand Brasil, 2011.

2 Cf. Hebreus 1. 1,2.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

EM QUE SE BASEIA SUA FELICIDADE?



Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação” (Profeta Habacuque cap. 3, vs. 17, 18).

Não é preciso dizer que é um grande desconforto não ter suprimentos em tempos de crise. Somado ao desconforto, recai sobre nós um sentimento de impotência, vulnerabilidade, vergonha e decepção consigo mesmo. Isso se intensifica quando estamos fragilizados espiritualmente, onde, como corolário desta fragilização, as benesses materiais se sobrepõem às espirituais.

Se pararmos para pensar, em toda a trajetória de nossas vidas fomos mais abençoados que amaldiçoados. Se chegamos à idade que chegamos é porque Deus, em todo esse tempo, nos amou, alimentou, vestiu, protegeu, abrigou, e nos deu motivos para sorrir. Porém, nos esquecemos deste óbvio ululante quando somos assaltados por alguma desgraça – seja ela em apenas uma ou mais esferas de nossas vidas. Em momentos assim, tornamos o “agora” como base interpretativa de toda a nossa vida. É como se a desgraça do agora fosse o resumo de toda uma vida; num estralar de dedos nos esquecemos de toda uma gama de bênçãos.

Foi assim com o povo hebreu na travessia do deserto, está sendo com alguns cristãos atuais, e sempre continuará a ser, infelizmente.

Porém, a felicidade do profeta Habacuque nadava contra a maré emocional de todo um povo. É natural termos nossa felicidade afetada pela tristeza coletiva; podemos ver isso nos dramas – para não dizer tragédia – em Mariana-MG (nas cidades adjacentes e não apenas!) e Paris. Contudo, sobrenatural é não se contaminar com a tristeza e a leitura da vida que a coletividade faz da mesma, sempre baseada nas circunstâncias. O termo “ainda” deixa claro que a desgraça econômica – a atividade agropastoril era a base econômica à época da declaração – não se abateu na vida do profeta. Ainda é uma condição de possibilidade, sinônimo de “mesmo que”. Mesmo que a desgraça acometesse a vida do profeta, seu espírito estava pronto para enfrentar tais intempéries. Isto porque sua felicidade não estava mirada nas benesses materiais, mas tão somente naquilo que muitos crentes simplesmente esquecem: a salvação.

A cruz de Cristo para estes nada dizem. O sacrifício vivo na cruz do Calvário, a eleição incondicional, o favor imerecido (graça), a vida eterna, as misericórdias, enfim, todas estas manifestações do amor de Deus não são as condicionantes que os levam ao culto dominical. Vão para agradecer as bênçãos recebidas durante a semana e para pedir pela vindoura. É como se dissessem na prática: “a salvação para nada importa, desde que Ele me dê condições de suster minha família, e conservem todos com saúde e paz”. Se fossem valorar as bênçãos de Deus, a salvação seria a moeda de 1 centavo, e por dois motivos: não tem valor, e por não mais existir (A Casa da Moeda não mais produz). Há muito que desapareceu dos corações dos crentes – de outrora e hodiernos – o verdadeiro sentido de felicidade e, de longe, a maior motivação de culto: a alegria da salvação.


Quanta mediocridade! Quanta pobreza! Que cegueira terrível! Se todos os cristãos mantivessem a alegria em meio à crise, seria como uma luz que alumia uma cidade inteira. Um testemunho vivo de que a verdadeira felicidade está em Cristo e não nas circunstâncias.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Televisão: o controle ainda é seu

Entrevista solicitada pelo jornalismo do Jornal Show da Fé, da Igreja Internacional da Graça de Deus. Trechos da entrevista foram publicados na Edição Nº 116 do Ano 10, de Setembro de 2015.

Como a televisão é vista hoje? Até que ponto ela dita padrões de comportamento/personalidade/crença?

De umas três a quatro décadas para cá – quando ela passou a ser um bem de consumo possível nas casas das classes menos favorecidas economicamente – a televisão tem exercido um papel antagônico na vida da sociedade. Através dos telejornais, isto quando há a imparcialidade
jornalística (tão discutida pelos cientistas sociais, e rechaçada pelos ideólogos de esquerda), podemos vê-la desempenhar um papel fundamental na vida da sociedade como uma disseminadora da informação, um meio democratizante e eficaz de oferecer informação a todas as classes sociais num curtíssimo espaço de tempo, e com o potencial de atingimento em (quase) todos os espaços geográficos, quer sejam urbanos e rurais.

Porém, através dos seus núcleos de entretenimento, temos visto desempenhá-la um papel transgressor no que tange aos padrões ideológicos (que, em si, já engloba o comportamento e personalidade) da sociedade. É certo que já virou uma retórica caricatural dos defensores da cultura midiática a relativização dos padrões valorativos vigentes numa sociedade. Apegam-se à relativização para construírem seus discursos em prol da imparcialidade cultural, ou seja, ao fato de que manifestações artístico-culturais devem ser livres, não podendo estar sob a égide de padrão algum – sejam eles morais, filosóficos e religiosos. Atrelado a isto está a máxima constitucional da liberdade de expressão – vista nos artigos 5o, parágrafo IX; e 220 § 2º.

No entanto, não é necessário que sejamos experts em História das Artes para sabermos que, historicamente, nenhum tipo de arte, tais como pinturas, literatura, gastronomia, teatro, escultura, música e etc., foi isenta de algum padrão valorativo, filosófico, e, em alguns casos, religiosos; mesmo as manifestações artísticas que pareciam estar à frente de seu tempo tinham um viés contracultural, de transgressão aos padrões de seu tempo, comunicando, com isso, sua crítica aos status quo.

Apegado a esse discurso de relativização e liberdade, os diretores de telenovelas, filmes, e programas diversos (humorístico, de entrevistas (com ou sem auditórios), e até mesmo outros de assuntos mais específicos como esporte, automobilística, moda, e etc.), tem todo o espaço necessário para aspergir na sociedade valores (muitas vezes religiosos!) e comportamentos que sejam do interesse dos proprietários das diversas redes e sistemas televisivos. Desta feita, se torna extremamente prático transgredir alguns valores sociais e defender-se com a relativização de absolutamente tudo. Como exemplo, podemos ver em tempos de carnaval, numa determinada emissora brasileira, um quadro contendo uma mulata seminua, de corpo escultural, dançando sensualmente, sendo transmitida repetidas vezes ao dia, em todos os horários do dia – assistido por todo tipo de público, inclusive crianças. Dizer que isso é uma manifestação da arte carnavalesca e que, se alguém ver nisso um culto à sensualidade o problema estará nos olhos de quem vê, é, no mínimo, a maior de todas as relativizações da mídia televisiva em nosso país.

Outro exemplo está na massificante propagação da ideologia de gênero. Temos assistido a mídia como um todo – e não só a televisiva! –, utilizando-se de todos os seus meios possíveis (programas diversos e intelectuais ao seu serviço), convergindo para a naturalização das ideias de gênero. Ou seja, é querer relativizar aquilo que foi estabelecido naturalmente, biologicamente. Macho e fêmea, segundo seus ideólogos, não é mais visto como algo natural (objetivo), mas subjetivo. Isso, ao meu ver, se constitui como a mais atual tentativa de transgressão ideológica imposta pela mídia. Ah, e um detalhe: todos os valores sociais que boa parte da mídia tenta e, infelizmente, está conseguindo destruir, são justamente aqueles que o cristianismo contribuiu para a formação da sociedade, sobretudo a ocidental, tais como a indissolubilidade do casamento, o casamento monogâmico e
heterossexual, a atividade sexual após o casamento, o comportamento não violento, o contentamento material com o básico – que vai de encontro ao comportamento consumista também difundido pela TV –,... por que será?!

Podemos dizer que o indivíduo fica indefeso diante da tv? Por que?

Não creio que haja uma total “subserviência mental” diante da TV, mas admito que, nas pessoas que não tem um senso crítico elevado, a suscetibilidade aos padrões comportamentais difundidos pela TV tenha uma influência bem maior. Sabemos que a educação – não apenas a escolar, mas sobretudo a
familiar e a religiosa – tem um papel preponderante para tornar o indivíduo mais crítico, mais sensível, sábio no sentido do termo, incutindo nele a capacidade de peneiramento de tudo o que se passa a sua volta. Hoje, mais do nunca, vemos a necessidade da boa manutenção da estrutura familiar para o adquirimento e desenvolvimento deste senso crítico. Isto porque temos assistido em nosso país – e na maioria dos países em desenvolvimento – um sistema educacional descomprometido em tornar o indivíduo um melhor cidadão, ciente de seus deveres.

O sistema pedagógico nacional tem sido voltado somente ao conhecimento técnico, tudo em nome do desenvolvimentismo científico e econômico do país, numa clara demonstração da visão de uso e desuso que o próprio país tem de seus cidadãos. Em outras palavras, a mensagem que o Estado nos dá é: desde que seus conhecimentos e habilidades faça nossa nação crescer, e também desde que não provoque nenhuma desordem social, pouco me importará seu senso crítico! Diante deste cenário de “deseducação institucional”, criado pelo próprio Estado, e substanciado pela crescente desestruturação familiar que vemos no mundo – que fica evidenciado no grande número de divórcios, de violência doméstica, e de pais que pouco se relacionam com os filhos –, é de se esperar mais indivíduos suscetíveis às influências comportamentais da TV. Como bem diz o adágio popular: “quando a família não educa, a TV educa”.

Para que tipo de sociedade estamos caminhando digerindo o que a tv nos mostra por meio de sua programação/comercial?

Os padrões estereótipos de vida que a TV tem nos ensinado, manifestada principalmente pelos seus núcleos de entretenimento, tais como novelas, filmes e outros tipos de programas do ramo, são bastante elevados para a sociedade, o que requer dela uma postura mais nociva a si mesma. Para atingir os status apregoados por ela (TV), é necessário que o indivíduo assuma uma postura mais consumista, egoísta, hedonista, competitiva, e mais recentemente, através das redes sociais, “midiática”, ou seja, é preciso que seu sucesso seja visto por todos; e este sucesso quase sempre está atrelado à conquista de algum bem material ou cultural (viagens e títulos, por exemplo), mesmo que isso o leve a um alto grau de endividamento. Tudo vale para se enquadrar aos padrões televisivos! Abster-se de relacionamentos sadios e estáveis (aquelas que não provocam grandes emoções à vida, pouco picantes!) para socializar-se com pessoas de comportamentos transgressivos, ser o que não é, e possuir o que não pode.

Desta feita, a sociedade torna-se vítima e algoz de si mesma, num círculo vicioso onde ela mesma não é capaz de curar-se. E neste processo de desintegração social, a mídia televisiva tem uma parcela significativa de culpa, pois difunde como pouco importantes, até mesmo para satisfazer os interesses de seus patrocinadores, os papeis e estilos comportamentais que não são “vendáveis”. Me embasando em Zygmunt Bauman, polonês, um dos grandes teóricos da sociologia contemporânea, comportamentos assim são “despidos de valor numa sociedade treinada para medir os valores em
dinheiro e para identificá-los com as etiquetas de preço colocadas em objetos e serviços vendáveis e compráveis. São empurradas para longe das atenções do público (e, espera-se, dos indivíduos) ao ser eliminada dos cômputos oficiais do bem-estar humano”*.

Vivemos em tempos de fragilidade dos laços humanos, de liquidez de nossas emoções e por consequência dos relacionamentos. Os valores duradouros, que sobreviveram a séculos, que elevaram a condição humana a um maior patamar de desenvolvimento humano e social, tais como os
ensinados e praticados pelo judaísmo e cristianismo, logo são substituídos por padrões novos, que nunca tiveram uma comprovação histórica anterior para se mostrar superior. Os valores históricos que ultrapassaram séculos logo são taxados de obsoletos, e substituídos pelo novo, que não sabe-se suas consequências. O perigo desta substituição é que, historicamente, quando padrões ideológicos são substituídos numa sociedade, desprezando o velho em detrimento do novo, as consequências foram devastadoras. Foi assim com o nazismo, fascismo(s), socialismo e comunismo. Um novo que prometia a liberdade e prosperidade da nação, mas que teve o efeito inverso, inclusive com a morte de milhões de seus próprios cidadãos. 

Creio que os marqueteiros da televisão, considerados por muitos como “engenheiros sociais”, devam repensar suas responsabilidades perante a sociedade. Devem analisar criteriosamente quais os efeitos práticos (benéficos ou danosos) que um determinado programa ou comercial trará à sociedade.
“Tudo em nome da audiência” seria uma irresponsabilidade social dantesca.

A violência, erotismo e valores deturpados a que somos submetidos são os piores indícios das más influências televisivas? Por exemplo, estudos apontam para o aumento no número de divórcios desde a criação da tv. Sabemos que hoje, em muitas novelas e filmes, mais se incentivam as relações extraconjugais do que as relações monogâmicas. Este é o lado danoso a tevê?

Sim, e tudo o que já foi explicado anteriormente responde a estes questionamentos. Porém, cabe mais uma contribuição. 

No corpo teórico-metodológico das Ciências Sociais, tais como a Sociologia, Psicologia Social e Ciência Política, encontramos a “Janela de Overton”. O que vem a ser isso? À grosso modo, é uma ferramenta muito utilizada pelos marqueteiros e propagandistas para fazer a sociedade – ou parte dela – aceitar certos padrões comportamentais e opiniões que antes eram repudiadas por ela mesma. Por exemplo, o divórcio, há aproximadamente cinco ou seis décadas, era terminantemente proibido em grande parte das sociedades, e um divorciado era visto com ressalvas pela maioria. A medida que o tema era sendo exposto na mídia e discutida positivamente e com bastante frequência, a opinião pública saiu da esfera do “proibido” para “proibido com ressalvas”. A medida que foi aumentando o bombardeio midiático sobre o assunto, passou-se para “neutro”, “permitido com ressalvas”, até, em nossos dias, ser “permitido livremente”. E estas mudanças foram acontecendo sem mesmo a própria sociedade se dar conta. O casamento gay, hoje, diria que está na esfera do “permitido com ressalvas”,
mas, infelizmente, não durará muito para estar na esfera do “permitido livremente”.

A TV é a “casa” favorita dos marqueteiros, pois sabem da força que a mídia televisiva tem em detrimento de outras formas de mídia. A Janela de Overton utilizada na televisão passa a ter um poder avassalador na psiquê social, adquirindo um poder indestrutível.

Como lidar com as influências negativas que a tevê promove? A influência da tv depende do senso crítico do telespectador?

Como já dito anteriormente, o ideal seria o papel educador da escola, família e da religião para tornar o o senso crítico do indivíduo mais sensível. Porém, diante da deseducação institucional da escola e da degradação da estrutura familiar, uma outra forma seria partir para o contra-ataque através de outra forma midiática que ainda não tem o mesmo poder da mídia televisiva, mas que tem se popularizado freneticamente: a internet. Creio que é uma ferramenta democratizante – não mais privilégio das classes dominantes – que pode estar à serviço da sociedade civil conservadora (e aqui já subentende-se as igrejas). Esperar que a mídia televisiva abra espaço para esta ala da sociedade seria de uma ingenuidade estratosférica. Ela pode até, vez ou outra, abrir, para não incorrer no risco de ser taxada de antidemocrática. Contudo, será numa proporção infinitamente menor em detrimento aos progressistas ideológicos.

Que mudança é necessária haver diante dessa influência da tevê? A solução estaria no controle remoto, escolhendo o que assistir? Qual seria a solução?

Sejamos sinceros: esperar mudanças da própria sociedade diante da influência da TV seria por demais ingênuo. Grande parcela da sociedade está idiotizada (para usar o termo comumente utilizado pelo filósofo Olavo de Carvalho) pela mídia televisiva.

A construção do senso crítico apurado seria a solução, pois assim a sociedade estaria apta para praticar a declaração paulina: “provar de tudo e reter o que é bom”. Seria uma forma de extrair o que há de bom na TV, sem precisar desfazê-la. Desfazer-se da TV não é uma mudança apropriada para a
solução, seria um retrocesso cultural e (de aprendizado) tecnológico que não contribuiria para nosso crescimento intelectual.

Creio que nossas escolhas diante da TV são materializadas no controle remoto. Creio que antes de ligarmos a TV deveríamos nos perguntar: o que irei assistir irá me edificar em alguma esfera da minha vida, seja espiritual, moral ou intelectual? O problema maior a ser enfrentado seria incutir nas
mentes da grande parcela idiotizada da sociedade esse crivo.

A televisão exerce um efeito muito grande sobre a sociedade, e a sociedade não exerce qualquer controle sobre a televisão?

Sim, creio que haja esta retroalimentação entre a televisão e a sociedade. Afinal de contas, o extrato para as ficções das novelas e filmes é extraído das próprias relações e fatos sociais. 

Há um conceito muito caro para as Ciências Sociais intitulado de “Representação Social”. Trata-se de um espaço de construção da realidade que cerca o indivíduo, e que constantemente é construído por realidades inovadoras no espaço social por outros indivíduos que cheguem ao mesmo espaço, com visões diferentes da realidade e que podem interferir decisivamente na sua visão (construção) do mundo que o cerca. Desta feita, nos tornamos, ao mesmo tempo, construtores e construções – não acabadas – da realidade que nos cercam. Nisso se manifesta a capacidade de criação e recriação social de certos elementos que nos são apresentados cotidianamente – muitas vezes apresentados pela mídia televisiva.

Um exemplo disso é quando, através da TV, nos deparamos com alguma manifestação cultural de outro país. Temos a capacidade de adequá-la aos nossos elementos culturais locais. O movimento manguebit foi um exemplo vivo disso, onde o rock (criação norte-americana) foi mesclado ao maracatu rural do Nordeste brasileiro, surgindo assim um movimento diferenciado. 

O mesmo ocorre com alguns padrões comportamentais ou alguma cultura material difundidos pela TV. Há quem os aceite ipsis literis, outros, irão recriá-los aos padrões locais, dando surgimento a um novo elemento comportamental ou material. Isso, por sua vez, serve como matéria-prima para criação de ficções para filmes, seriados e telenovelas, bem como para matérias de telejornalismo e programas diversos.


* BAUMAN, Zygmunt, 1925. Amor líquido - sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p. 95.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

A Janela de Overton

Muito interessante, vale a pena conferir:

http://www.portalcafebrasil.com.br/podcasts/362-a-janela-de-overton/

A POESIA DESPOETISADA DA BAGUNÇA


             Louvem a bagunça, pois da desordem da ordem estamos cheios! O caos ordenado ou a ordem caótica? Não sei em qual delas encaixo meu país. Prefiro viver na ordem ou até mesmo no caos, pois assim não me desorientaria. A ordem orienta para sua manutenção; e no caos sabemos onde está o norte.

E onde estamos, o que sabemos? Se não sabemos sequer onde estamos, onde encontrar o norte? Quem é o norte? Não me surpreende se buscamos o além, pois o aquém está perdido.

Perdido na bagunça que causamos. A bagunça entra em nós, e nós nela! Como escapar disso? Desde a redemocratização que criamos a ordem desordenada, apoiamo-la fervorosamente. Quiçá até a adoramos... criamos em torno dela uma espécie de tabu! Achávamos que a ordem dependia da manutenção deste tabu, coitados!

A nossa ordem não é a ordem dos “achados”; “perdidos” nada sabem ordenar, muito menos a nós! Jogaram o futuro do nosso país – o nosso futuro! – nas mãos de quem nada sabe: o povo – bagunçado (e bagunceiro!), desordenado (e desordenando!), e perdido (e pondo a perder!). Quem nada sabe, nada faz ou faz errado!

Já nascemos bagunçados e esperamos o que? Que o milagre venha de nós? Quimera fantasiosa! – desculpa a proposital redundância! Vivemos à revelia deste povo culpado pelo seu próprio crime e que se acha inocente – tamanha a desorientação!

Desconstruímos o que não construímos; vivemos a morte de nossos tempos (e atos), e morremos onde nunca houve vida.

O que vivemos na esfera político-econômica é produto de nossas escolhas e atos. Escolhemos errado, fizemos errado. A matemática é simples. Mas esperar que o certo venha de quem é imanentemente errado, só em filmes de ficção que nem em Hollywood conseguiu se produzir!

Participamos de manifestações, fazemos “panelaços”, opinamos contra nas redes sociais, compartilhamos vídeos, áudios e textos contra a “situação”, aderimos à moda do “fora corruPTos”, negamos que neles votamos, pedimos impeachment, mas se uma outra eleição ocorrer, erraremos de novo! Talvez não da mesma forma, mas outras escolhas erradas seriam tomadas. Só bagunçaríamos o que nunca foi arrumado.

Ah, a intenção era fazer poesia... mas a bagunça (dentro e fora) é tão grande que não dá para organizá-la em verso e prosa. 

sábado, 2 de maio de 2015

REFLEXÕES SOBRE O ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA (Jo. 4. 1-26) - PARTE II



v. 15“Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, nem venha aqui tirá-la”.
De imediato, aquela mulher reconheceu que as suas tradições não preenchiam o vazio de sua alma; era-lhe insuficiente demais, não serviam como alicerce para a sua vivência na terra. A expressão “nem venha aqui tirá-la” significa, em outras palavras: “para que eu não mais recorra as minhas tradições”.

        É bem verdade que o Ser humano procura razões para viver e se orgulhar; o Ser humano é um ser local e ideológico, costuma se orgulhar de suas raízes, e busca alguma ideologia para se identificar. Como já bem disse um cantor e compositor brasileiro: “ideologia, eu quero uma pra viver”. Mas a mulher samaritana teve uma atitude louvável: reconheceu a insuficiência de suas tradições, raízes, e a ideologia recorrente na Samaria. Talvez naquele momento ela tenha desabafado algo que a deixava engasgada e viu a pessoa certa e o momento certo para dizer que aquelas tradições não lhe representava.
Fico a imaginar quantos e quantas estão presos(as) às mais diversas tradições, o mais fundo de suas consciências os acusam que suas tradições e ideologias não os levam a canto algum, não preenchem seus vazios existenciais, enfim, lhes são insuficientes.

     Não é novidade alguma que o cristão deve lutar contra a tríade maligna: satanás, carne, e o mundo. Destes, o mundo faz a parte dele pondo em nossa frente um “cardápio” imenso de ideologias, ou seja, motivos para se viver. O encurtamento das distâncias provocada pela internet, só fez aumentar ainda mais esse “cardápio”, e como consequência, o vazio. Muitos passam a se identificar com histórias que não são suas, com raízes que nunca lhes pertenceu, e com ideologias que nada tem a ver com a sua história de vida. O vazio humano é tamanho que chegam mesmo a abraçar, “de corpo e alma”, estilos de vida e causas, que nunca pertenceu ao seu território.

     Óbvio, não era o caso da mulher samaritana, ela se orgulhava das tradições criadas em sua própria terra. Porém, todo tipo de tradição – seja ela “de dentro” ou “de fora” – que não é fundamentada em Cristo, não tem o poder de preencher a alma com satisfação. Um dia tornará a ter sede.

vs. 16 a 18 – Ao ler esse trecho, nada tira de minha cabeça que Jesus estava testando o grau de sinceridade daquela mulher. Percebam que Jesus pede para que ela chame seu marido, logo após ela pedir “a água que não mais dá sede”. Embora sendo Deus, e conhecido a sinceridade interior da mulher ao pedir desta água, Jesus queria mais uma prova de sinceridade e pede para ela falar de algo que traz constrangimento à vida de qualquer mulher de sua época – e a muitas de nossos dias! Ela poderia, movida pelo constrangimento, ter mentido sobre sua situação matrimonial, como tenho visto muitas mulheres fazerem em nossos dias: vivem amasiadas com algum homem, tem toda uma vivência de casados, e os chamam de maridos ou “namoridos”. Porém, devo destacar que a aliança do casamento, firmada na presença de Deus e da sociedade, tem um caráter mais do que simbólico para Deus: é também uma aliança espiritual. Perceba que Jesus reconhece isso ao dizer: “...e o que agora tens não é teu marido...”. Jesus deixa bem claro que aquele tipo de relação não era uma casamento de fato! Sinto muito se o que está sendo dito agora está trazendo constrangimento a alguém, mas a verdade precisa ser dita (com zelo e amor) e que sirva de alerta para muitos e muitas, para que corrijam suas relações amorosas diante de Deus. Pode até haver o amor sincero entre vocês, porém, para Deus, isso não é suficiente para que se declarem casados.

    Abro parêntese: “A igreja é um local de renovação de esperanças, mas também é de exortação”. Fecho o parêntese.

vs. 20 e 21A mulher ainda estava com a cabeça movida pelas tradições. Ela não mais tinha dúvida de que Jesus era um profeta (ver v. 19), acreditava em suas palavras, porém, a esfera espiritual, para ela, ainda estava atrelada a algum tipo de tradição. Ela ainda acreditava que existia um local certo para se adorar: “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”. Antes, um adendo: se perceberem a narrativa do diálogo entre Jesus e a mulher, em nenhum momento se vê Jesus falando que “em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”. Além de o julgar pela região onde habitava (Judeia), quis colocar palavras na boca de Jesus. Ruídos de comunicação acontecem a todo instante.

     Muitos agem como essa mulher: ainda acreditam que a igreja A ou B é a certa, que Deus só recebe a adoração e escuta seus clamores naquela denominação ou templo. É um tipo de religiosidade, algo que deve ser banido da mente de muitas pessoas. E foi nesse intuito de banir essa percepção que Jesus declara: “Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai”. Jesus deixa claro que a adoração não é amarrada a algum tipo de local, tradição. A verdadeira adoração é algo que vem de dentro, e isso fica evidenciado nos versículos 23 e 24. Basta nos lembrarmos da silenciosa oração de Ana (1Sm 1. 13), que pediu a Deus um filho, e pediu no íntimo de seu Ser. Quando nós só recorremos a Deus – e não para outros deuses simultaneamente, como faz a igreja católica – para a solução de nossos problemas, isso é uma forma de adorá-Lo, pois reconhecemos a suficiência de seu poder, misericórdia e benignidade para nos ajudar.

v. 22Talvez achemos que Jesus esteja sendo territorialista ao declarar isso. Porém, não se trata de sectarismo algum. Conforme diz o estudioso Norman Champlin, a expressão “vós” se refere tanto aos samaritanos como aos judeus que não o reconheciam como Deus; e “nós”, aos cristãos.

     E ao dizer que “a salvação vem dos judeus”, Jesus destaca a função histórica de Israel e não ao Israel espiritual.

vs. 23 e 24 – Uma das mais famosas declarações bíblicas em que vemos ser cantadas em diversas canções. “Em espírito, em verdade, te adoramos, te adoramos”. Isso manifesta o caráter interior da adoração. Os judeus costumavam (e ainda costumam) adorar a Deus nas praças, no muro das lamentações, fazendo vãs repetições e gritando suplicas a YHWH. Muitas igrejas que se dizem cristãs seguem o mesmo erro, costumam adorar e clamar aos gritos e com manifestações corporais exóticas.

     Deus não procura performances da adoração. Ele quer que o adoremos em espírito – que o adore com fé, creia que Ele é Deus e galardoar dos que o buscam (Hb. 11. 6) – e em verdade – sendo seu amigo, fazendo o que Ele manda (Jo. 15.14).

v. 25 – Até aquele momento a mulher acreditava que ele era um profeta (v. 19), mas jamais poderia imaginar que estava falando com o próprio Cristo (que significa Messias), aquele que viria libertar judeus e samaritanos das garras do pecado, de satanás, e da morte eterna – e quero crer que se houvesse aceitação e reconhecimento por parte dos judeus de que ele era o messias, os libertaria também do poder dos romanos, já que essa era a maior esperança dos judeus, um libertador político.

vs. 26 – Jesus declara ser este messias. Fico imaginando a mescla de susto e surpresa que aquela mulher teve. Mas o que mais me chama a atenção é o caráter pessoal de Deus: “... eu que falo contigo”. Nosso Deus é um Deus pessoal. Como bem disse Ed René Kivitz, em seu livro “O livro mais mal-humorado da bíblia” (fazendo referência ao realismo de Eclesiastes):


Na tradição espiritual judaica, Deus não se apresenta como 'Deus dos rios, sol e vento', mas sim como 'Deus de Abraão, Deus de Isaque, e Deus de Jacó'. Na hora de se identificar ele escolheu citar nomes de pessoas e não de objetos naturais” (p. 8, 2014).


     Pode nos parecer estranho, mas como pode o criador do universo (com as suas bilhões de galáxias), dos céus, da terra, do mar e de tudo o que neles há, falar comigo? Eu não sou nada perante o universo. O ínfimo dos ínfimos! Mas Ele não apenas fala, como melhor que isso: tem a intenção de iniciar um diálogo conosco.

      Foi o que vimos acontecer com a mulher samaritana (v. 7) e em tantos outros exemplos bíblicos. Portanto, busque-o, mas busque-o de todo o coração, pois o acharão se o buscardes de todo o coração (Jr. 29. 13).





terça-feira, 7 de abril de 2015

REFLEXÕES SOBRE O ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA (Jo. 4. 1-26) - PARTE I


            O episódio se deu quando Jesus retornava da Judeia e se dirigia à Galileia. O deslocamento (forçado) de Jesus se após acompanhar os batismos que seus discípulos faziam na Judeia. A informação havia chegado de forma distorcida aos ouvidos do fariseus, onde acreditavam que ele praticava os batismos.
Para chegar à cidade da Galileia em curto espaço de tempo, era necessário passar pela Samaria (ou Samária em algumas traduções). Nesta região havia uma cidade chamada Sicar, onde havia um poço de importância histórica e simbólica – foi onde Isaque havia cavado e dado ao seu filho Jacó. Neste poço, Jesus, cansado da viagem, sentou-se para descansar e hidratar-se. Mas não apenas isso, creio que ele aguardava chegar a mulher samaritana (da qual a bíblia não cita seu nome) para travar um dos mais emblemáticos diálogos narrados no Novo Testamento.
Para entender ou relembrar a história, basta consultar o texto supracitado. Porém, é necessário lermos essa história fazendo um paralelo entre o fato narrado com a nossa história e idiossincrasias cotidianas. Creio que de uma maneira simbólica (alegórica) podemos contextualizar esse diálogo e fazer uma leitura das entrelinhas do que se passava.
v. 7“Dá-me de beber”. Uma simples expressão denota a iniciativa de Jesus em não apenas iniciar um diálogo, como também de quebrar as barreiras sociais que haviam entre judeus e samaritanos. É um Jesus revolucionário, quebrando os paradigmas sociais – mais uma vez! –, não dando importância ao mau falatório que isso poderia gerar entre os seus discípulos e para todo um povo. Era Jesus demonstrando que não estava interessado com as opiniões alheias à seu respeito. Ele sabia quem era, de onde veio e para que veio; fazia o que tinha de fazer, cumprir com as ordens do Pai, sem temor algum de sofrer retaliações morais e preconceito social.
Mas também nos ensina que, se somos nós os interessados em falar quem é Jesus, de onde veio, para que veio, e o que fez pela humanidade, então nos cabe a iniciativa de um diálogo. Não vamos aguardar que venham nos perguntar – a não ser por mera curiosidade –, pois isso é impossível para os que estão mortos em seus delitos e pecados (Ef. 2.1).
v. 9“Como sendo tu judeu, me pedes a beber a mim, mulher samaritana?”. Percebe-se duplamente introjetado na mulher as barreiras sociais. Não apenas o fato de ser “samaritana”, mas “mulher samaritana”. Bem sabemos que a cultura daquele tempo e região – assim como ainda ocorre em algumas regiões do planeta – as mulheres eram relevadas ao segundo plano; sequer eram contadas. Foi o meio em que ela viveu, viu durante toda sua vida um afastamento social entre o seu povo e os judeus, e não se tratava de um afastamento natural, mas recheada de ódio, brigas e perseguições. Não a julgamos, talvez nós tivéssemos introjetado esse mesmo tipo de sentimento. Sentimento compassivo entre estes povos existia apenas em uma única parábola (o bom samaritano) e mais em canto nenhum.
v. 10“Se tivesses conhecido o dom de Deus...”. Podemos entender este “dom” como sendo ele mesmo (Rm. 5.15), seu poder (At. 8.20), sua graça (Ef. 2.8), ou a vida eterna (Rm. 6.23) – as quatro formas interpretativas não são excludentes! Fico a imaginar o quão diferente seria a reação da mulher ao avistar Jesus, mas na condição de quem sabe sê-lo o dom de Deus. Isso nos faz pensar o quão importante é o conhecimento, e o tamanho de nossa responsabilidade de fazer Cristo conhecido entre os povos. Muitos (membros de nossas igrejas) podem ter ouvido falar de Cristo, mas conhecê-lo plenamente é outra condição completamente diferente, transforma a história de vida de quem passa a conhecê-lo.
Quem o conhece, o trata de uma maneira diferente, e aproveita de sua presença para ser abençoado (e por que não?!). Foi assim com os discípulos do caminho de Emaús, ao perceberem de quem se tratava o “nobre andarilho” que os acompanhavam, não queriam deixá-lo ir. Sua presença é agradável, dá segurança, dá paz, enfim, abençoa!
A mulher samaritana não o tratou de maneira diferente porque não o conhecia. Mas ela estava perdoada, pois não sabia o que fazia (Lc. 23.34). E muitos não o tratam com a devida honra porque da mesma maneira não o conhece. Fazer Cristo conhecido é uma maneira de honrá-lo, dignificar Sua pessoa e seu maravilhoso feito por nós!
vs. 11 e 12 – “Senhor, não tens como tirá-la [...] és, porventura, maior que o nosso pai Jacó... ?” – Pergunta clássica de quem não apenas desconhecia o Seu poder, como de quem tem suas tradições maior do que alguém ou qualquer outra coisa. É a reação típica de quem ainda não conhece a Jesus, não é de se espantar.
Também é a reação clássica de quem não conhece plenamente o poder deste maravilhoso Deus. É, também, a reação de quem confia em suas tradições, quando enxergam que elas nada podem fazer pela sua amarga situação.
- “Senhor, meu problema é grave demais, o poço é fundo! Como é que o Senhor vai tirar uma solução?”.
Quando estamos mergulhados no lamaçal dos problemas da vida, o desconhecimento de nosso Deus e a cor turva da lama (problemas) escurecem nosso campo de visão, ação e emoção. Minam nossas esperanças! O desconhecimento de Jesus Cristo (Deus!) de certa forma incapacita o poder de ação (e reação) Dele. Não se choquem com o que acabaram de ler, mas a fé – etapa posterior ao conhecimento – e a entrega da vida (consequência da fé) são condições primordiais para mudar de vida, nascer de novo! Se os doentes e aflitos que procuraram Jesus não o conhecessem, jamais teriam o procurado para sanar seus males. Mas eles não apenas conheciam, como também acreditaram que não havia poço fundo demais que ele não pudesse buscar a água de suas sedes.
v. 13“Todo o que beber desta água tornará a ter sede”. Jesus não se referia apenas à água do poço, referia-se também às tradições e história daquela mulher, bem como a todas e quaisquer benesses que o mundo possa oferecer. Sabia que todas as benesses da história que construiu as tradições e costumes de seu povo não eram suficientes para matar a sede espiritual daquela mulher.
Muitos são assim. Olham para trás e se orgulham de seus feitos. Chega um tempo em que olharão para trás e não sentirão mais tanto orgulho. Então, para manter seus orgulhos, sempre correrão atrás de novos feitos que sirvam de lenitivos para a sua alma, e isso vira uma cadeia de dependência sem fim; ou seja, sempre tornarão a ter sede!

v. 14“Aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede...”. “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Cristo” (Gl. 6.14); “tenho também como perda todas as coisas ‘pela excelência do conhecimento de Cristo’ [...] as considero como esterco...” (Fil. 3.8). Eis a diferença de quem já conheceu plenamente a Cristo!! Não há história, tradições, vitórias na vida que possam satisfazer sua sede! Somente “pela excelência do conhecimento de Cristo” é que se pode matar definitivamente a sede do homem. Quem bebe (conhece e crê) jamais terá sede! Muito mais que isso: tornar-se-á uma fonte que jorrará esta água, ou seja, passará a fazer Cristo conhecido na vida de muitos – não só através de palavras, mas, sobretudo, no comportamento –, tornando-se o pai na fé de muitas vidas.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A HUMANIDADE FRACASSOU, O CRISTIANISMO TAMBÉM!


A imagem que corre os diversos tipos de mídias, de uma menina Síria (Hudea, 4 anos) de braços levantados, rendendo-se ao confundir a câmera com uma arma, registrada pelo fotógrafo turco Osman Sagirli, em 2012, é caricatural! Emblemático! Descreve com perfeição o fracasso humano.
O Ser humano, ao longo de sua existência, aprendeu vários ofícios, desenvolveu a ciência nos diversos campos que abrange o melhoramento da vida humana, mas, ainda assim, não sabe ser Humano.
Sempre queremos culpar ao que está fora de nós (complexo de Eva), como motivação maior à degradação moral em que sempre viveu a humanidade – não é particularidade de nossa época. Os esquerdistas de plantão estão sempre prontos a vociferar que a culpa é do Capitalismo, que os humanos nascem neste sistema econômico e ideológico, se amoldando ao estilo de vida consumista, corroborando para o aumento do egoísmo no mundo. Vários foram os sistemas econômicos antes do capitalismo e nada mudou. Nem piorou. A humanidade continua falhando no seu projeto de ser Humano. Aliás, poucos homens projetaram seguir à risca alguns projetos que tentaram humanizar o homem – sejam eles oriundos de correntes ideológica, filosófica e/ou religiosa. Todos sem sucesso. Sobretudo (e todos), o cristianismo. Digo para a vergonha minha.
Meu cristianismo é superficial e mercadológico. Não tem competência moral para julgar o mundo de hoje, nem de outrora, pois ajudou a piorar a situação da humanidade ao longo de suas cruzadas e colonizações. Precisaria Cristo voltar mais uma vez para corrigir aquilo que os seus seguidores desfizeram, mas não em Seu Nome. Os seus poucos e verdadeiros seguidores (que ainda existem, acreditem!) e que aprenderam e praticam seus ensinos e conselhos, são de quantidade irrisória, irrelevantes para transformar o mundo. Precisariam ter o poder e a mente de Cristo para obterem êxito.
Não há fé suficiente para fazer as “obras maiores que do que eu faço” (Jo. 14.12), nem pleno conhecimento acerca de Cristo para possuirmos a sua mente (1Co. 2.16). A igreja faliu! Como tudo na vida, começou bem, mas não apenas piorou ao longo de sua jornada, como tornou-se o anverso de sua essência.
Que a humanidade fracassou, não me surpreende, mas o cristianismo tornar-se seu próprio antídoto, isso me fere e envergonha.

quinta-feira, 12 de março de 2015

EM PRIMEIRA PESSOA




Perdi a capacidade de pensar. Já fui inteligente, eu sei. Estou totalmente destreinado para a atividade de pensar. Não consigo ter a mesma visão de mundo, atrofiei. O que antes saía naturalmente, hoje demora; e quando a ideia nasce, nasce atrofiada.

sei falar de mim, pura prova de que não sei mais falar de nada exterior a mim. Sinto o desejo de escrever, mas só sai na primeira pessoa. Estou preso em mim, porque nunca me libertei para o que está fora de mim. Não sei se isso é bom ou ruim. Se uma fase, ou egoísmo. Acho que egoísmo. Uma forma mínima de egoísmo, mas não deixa de ser. 

Isso mostra meu vazio intelectual, minha pequenez, minha limitação. Não sirvo para nada, não sei de nada.

Quando quero falar de algo exterior a mim, isso se torna sacrificante, pesado, me deixa amargurado. Típico pós-moderno, preso em seu mundinho, cuidando das fronteiras de sua ilha e destruindo os binóculos que avistava a solidão alheia.

Até quando falar de mim ajudará o próximo? Seres vazios não ajudam, não tem nada para ensinar. A bem da verdade, eu preciso de ajuda. Não consigo me libertar de meu vazio.

Cristo foi altruísta, porque tinha o que ensinar. Aquele que tem conteúdo ensina; quem não, porque não há conteúdo suficiente para ensinar. Cristo ensinou e não cessou de ensinar. Uma fonte de conhecimento e sabedoria. Tudo o que me falta.

Procurei meios institucionalizados e alternativos para iniciar os passos deste caminho, mas não tem jeito... “volta o cão ao seu vômito, e a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal”.

Quanto mais me aprofundo, mais me perco e conclusão alguma chego a respeito de nada e nem de mim mesmo. Nada de útil flui de mim. Nem para falar de mim mesmo sirvo. Isso me angustia e sequer me molda. Beirando à depressão.

Chegar a tais conclusões me deixam sem ânimo e me direcionam para as derrotas da vida. Talvez a única serventia seja me preparar para o pior.

Vejo os vitoriosos que me cercam e contemplo neles um olhar para fora de si, sempre se lançando para algo que contribua com o bem estar social. Tomei o caminho inverso e não consigo arrepender-me. Não deveria existir. Quem não contribui, que não viva!

terça-feira, 10 de março de 2015

Episódios





“Um episódio não é a consequência inevitável de uma ação precedente, nem a causa do que virá em seguida” (Bauman in Kundera, 2004, p. 70)*.

Esta frase me parece por demais generalizante. Não creio que os fatos sejam dissociáveis de experiências de outrora. Há, óbvio, no cotidiano, ações – ou mesmo discursos – não concatenados com fatos precedentes, por mais que isso possa contrariar os materialistas históricos e analistas de discursos. Porém, generalizar é um erro gritante.

Creio que somos aquilo que construímos, mesmo à contragosto e longe do que idealizamos para nós. Nossos atos dizem mais de nós àquilo que pensamos de nós. Somos nossos rastros nos vários terrenos pelos quais passamos. Não compactuo com a ideia de que somos o “agora”, e que as experiências passadas construiu-nos; não dissocio o “fomos” do “somos”, apenas somos. Alguns hábitos podem ter sido deixados para trás, pensamentos à respeito de assuntos pontuais e exclusivos podem ter sido substituídos pela posição antagônica – ou mesmo radicalizados –, e quiçá a própria essência do caráter tenha sido significativamente transformada. Porém, ainda assim, somos.

Somos as várias máscaras que vestimos ao longo da vida; elas podem ser exteriores a nós, frutos da determinação sócio-cultural, ou mesmo da desigual luta contra essa macrodeterminação, afinal de contas somos seres históricos – locais, finitos e temporais – mas também podem ser máscaras construídas, como uma maneira de encarar a realidade.

Destarte, os episódios são o terreno que calçam nossa existência. Muitos são construídos (forjados), outros nos surgem de supetão e exigem de nós uma resposta imediata, que certamente virá de acordo com as experiências construídas, ou seja, daquilo que fomos lá trás e que novamente seremos no presente – mesmo que de maneira diferente de outrora, levando em conta as lições aprendidas.

* Bauman, Zygmunt. Amor líquido - sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2004.