terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Os efeitos simbólicos da morte de Ceci Cunha para os alagoanos.


Da: Profª. Dra. Ruth Vasconcelos - coordenadora do Programa Ufal em Defesa da Vida.

Fonte: http://www.ufal.edu.br/noticias/2011/12/os-efeitos-simbolicos-da-morte-de-ceci-cunha-para-os-alagoanos

Há 13 anos a família de Ceci Cunha foi barbaramente golpeada pela ação do crime organizado no Estado de Alagoas; há 13 anos sua família sofre a dor de uma perda irreparável; há 13 anos, mais uma vez, a democracia em Alagoas foi gravemente ferida, e os 60 mil eleitores que elegeram Ceci Cunha, foram desrespeitados em seu desejo de tê-la como representante na Câmara dos Deputados; há 13 anos nós, alagoanos, convivemos com a impunidade de um crime que se tornou emblemático pela perversidade do feito; há 13 anos, nós que estudamos o tema da violência ficamos perplexos com a brutalidade de um crime que produziu imagens ainda hoje represadas em nossas memórias; há 13 anos, indignamo-nos pela ineficiência, insuficiência, morosidade, para não dizer descaso das instituições que teriam de apresentar à família de Ceci Cunha e à sociedade alagoana o imediato esclarecimento da chacina e a devida punição dos culpados desse crime hediondo que atingiu a honra de todos que defendemos a vida como um bem inalienável. Há 13 anos, experimentamos a sensação de desproteção e desamparo que ampliam a cada dia o sentimento de vulnerabilidade em nós que vivemos no Estado de Alagoas.

Estive presente na missa em celebração da morte de Ceci Cunha e dos familiares que também foram assassinados no fatídico dia 16 de dezembro de 1998, há 13 anos. Como coordenadora do Programa UFAL EM DEFESA DA VIDA, fiz-me presente, antes de tudo, num gesto de solidariedade à família, mas também para reafirmarmos o compromisso institucional da UFAL de fazer da educação um instrumento de promoção da cidadania e da defesa dos direitos humanos. É um desafio para nós educadores, inscrevermos na formação profissional dos nossos estudantes o compromisso com os valores éticos, humanitários, democráticos que pressupõe assumir uma postura de respeito ao outro como um sujeito de direitos.

Estive presente na missa representando o Programa UFAL EM DEFESA DA VIDA, mas também na condição de mulher, mãe, filha, irmã, amiga, educadora, enfim, assumindo a minha condição humana. Vivenciei esse momento com imensa tristeza e desolação. Estamos às vésperas do Natal e pensei quantas noites de Natal a família de Ceci viveu amargando a dor da perda e o desamparo produzido pela impunidade. Senti profundamente pelos seus filhos, sua irmã e amigos presentes. Fiquei comovida e chorei pelos filhos de Ceci Cunha que, a despeito de terem perdido sua mãe numa idade em que a presença maternal ainda é tão importante, tiveram a possibilidade de atravessar essa tragédia mantendo a dignidade e a esperança de verem a justiça sendo feita, ainda que tardiamente.

Nessa missa também lembrei as milhares de famílias que perderam seus entes queridos e vivem, assim como a família de Ceci, a tristeza não só da perda, mas também da impunidade. No dia 16 de Janeiro de 2012 está marcado o Júri Popular para finalmente fazermos a justiça nesse caso de Ceci Cunha. É lamentável que tenhamos mantido essa ferida simbólica aberta há 13 anos, sem uma resposta judicial.

Nós, que defendemos a vida, precisamos ficar vigilantes para que não haja mais adiamentos nesse julgamento; e para que todos que um dia ceifaram a vida de alguém, de forma direta ou indireta, não fiquem impunes, pois a impunidade tem um forte efeito de desagregação e desestruturação da sociedade. É preciso dizer que, se a violência produz o efeito de “rompimento da coesão” psíquica e social, a única forma de sua restauração é a punição dos culpados. Como afirma a psicanalista Maria Laurinda de Souza, “O ato de justiça conserta a ruptura da ordem social, confirma a validade da lei e, por conseguinte, a própria ordem legal” (2005, p. 58).

É um perigo para os destinos de uma sociedade quando um crime não tem como resposta a punição; pois, a punição é a condição para que todos reconheçam o código civil e penal como dispositivos legais que garantem a proteção e a regulação social. Sem esses dispositivos não podemos falar em democracia. Então, temos um longo caminho pela frente para que possamos dizer que vivemos, efetivamente, a democracia no Estado de Alagoas. Comecemos fazendo justiça no Caso de Ceci Cunha; mas, paralelo a esse, vamos buscar fazer justiça aos milhares de assassinatos que estão absolutamente impunes em nosso Estado. Esse é um desafio inadiável!

domingo, 11 de dezembro de 2011

A nova investida "Diaglóbica"


A podre e imunda Rede Globo está lançando um evento com cantores gospel que será televisionado ao Brasil inteiro. Muitos estão dizendo: "Aleluia! Deus está operando na Globo". Mas o fato é puramente comercial e enganador. É uma forma de ganhar o público evangélico, para:

a) Não sei se vocês estão percebendo, mas a Som Livre (que pertence ao grupo Globo) está produzindo CD's de cantores gospel. Qual o interesse? Pela ética cristã, não podemos adquirir CD's piratas. Embora tenha muitos evangélicos que não seguem essa ética, mas a maioria compra CD's originais. Assim, o lucro obtido é exorbitante para a indústria sonográfica hodierna (que tem tido prejuízos dantescos por causa da pirataria). Em resumo: INTERESSE COMERCIAL;

b) A Rede Globo ganha a confiança dos "evangélicos gospel modinhas" para continuar a lançar sua podre filosofia e estilos de vida, embasados no Espiritismo Kardecista e na filosofia humanista. Desta feita, ganha espaço suficiente para adentrar às igrejas, no intuito de destruí-las. Ao fazer isso, a Rede Globo incorpora a figura do "lobo travestido de cordeiro".

Não condeno os cantores gospel que participarão deste evento; até porque eles estão sendo ingênuas vítimas do real interesse da Globo. Ingenuamente, pensam "ser uma oportunidade ímpar de falar de Jesus a todo Brasil" - muito embora, infelizmente, alguns participarão no interesse (não declarado) de alavancar ainda mais suas carreiras.


Meus irmãos, muito cuidado com essa investida diabólica (ou melhor, diaglóbica). Estejam vigilantes! NADA, ABSOLUTAMENTE NADA QUE VENHA DA REDE GLOBO PODE SER VISTO COM BONS OLHOS.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sobre a laicidade do Estado.


Dou graças ao Pai que o nosso país é laico. Quando me perguntam se eu gostaria que a política brasileira fosse embasada nos princípios cristãos, muitos se chocam quando respondo NÃO. Muitos pensam que eu não creio que os princípios cristãos sejam bons à humanidade. Mas a questão não é essa.

Ao responder negativamente, baseio-me na seguinte premissa: "O livre arbítrio é um dom de Deus; e estabelecer uma 'religião oficial' a um país - mesmo que seja a cristã - é ir de encontro ao livre-arbítrio, e, portanto, um desrespeito à Sua vontade (que é boa, perfeita e agradável)".

Entrementes, creio ser a laicidade a melhor opção.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

E viva o fracasso!!


Admita: você é um um fracasso! Sua vida não corresponde aos padrões do mundo. O mundo espera que você faça o que ele prega. Quer que compre o que ele propagandeia; quer que se comporte da maneira que ele adestra; quer que você introjete o pecado no seu dia-a-dia; quer que você faça do seu corpo um mero objeto de desejo e outdoor ambulante de grifes de roupas; quer que você seja consumista e passe a desejar as coisas que “a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam”, e assim fazer com que se esqueça dos tesouros celestiais. Enfim... você é um fracassado, pois não presta para este mundo!
O mundo quer ditar seu nível de felicidade pelo consumo. Quer que você pense: “Se tenho dinheiro, posso consumir; e se posso consumir, então sou feliz!” Um dia desses, estive pensando no seguinte: O cristão, muitas vezes de maneira mecânica, abre a boca e diz: “Jesus Cristo me é suficiente; Ele é o motivo da minha felicidade”. Mas quando passa por alguma dificuldade financeira, logo a tristeza lhe bate o peito.
Meu irmão, não permita que a sua situação financeira dite o seu estado de felicidade. Faça com que a sua felicidade plena esteja tão somente no fato de estar ETERNAMENTE SALVO! Os primeiros cristãos entendiam perfeitamente isso. E não à toa, são exemplos para nós até os dias de hoje: pois não se deixaram levar pela lógica do acúmulo de bens. Pelo contrário, “vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um” (At. 2. 45). Eles entendiam que este mundo era um fracasso; e que eles, aos olhos do mundo, eram fracassados. Eram incompatíveis. Nada mais lhes importava, a não ser a pátria celestial.
Dou graças ao meu Deus por ser um fracasso aos olhos do mundo, pois não dou aquilo que ele tanto quer de mim: o meu estado de felicidade.

Então... viva o fracasso!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Predestinação: crer ou não?


Achei fantástica as palavras do Rev. Augustus Nicodemos na reportagem dada ao portal creio.com.br
Sobre a predestinação ele diz:“Você pode dizer que não entende a predestinação, mas dizer que ela não é bíblica você está errado (...) Ninguém vai pro céu sob a condição de acreditar na predestinação. Você é predestinado mesmo que não acredite. Pelo menos não diga que não é certo. É bíblica, a gente não sabe direito como resolver."

Colocação por demais coerente.
Parabéns reverendo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Motivos Incômodos


Os motivos não tem conexão um com o outro, a não ser pelas heresias propagadas. Ei-las:

a) Sobre a provisão de Deus.

A bíblia nos desafia a crer que se Deus cuida das aves dos céus “que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta” (Mt. 6. 26), quanto mais a nós, que valemos mais do que elas. Sei que é verdade, não duvido, porém não deve ser essa a razão principal de procurarmos a nos apegar a Deus, mas a salvação de Cristo, que nos é suficiente em todos os sentidos, mesmo que a provisão divina não venha sobre nós. Isto fica evidenciado no célebre texto de Habacuque 3: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado. Todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. Isto mesmo: se alegrar mesmo que tudo venha a dar errado no plano material, pois a salvação é motivo mais que suficiente para nos alegrarmos. Fico a imaginar o que a desgraçada da Teologia da Prosperidade tenha a dizer sobre este texto.

b) Sobre o Sábado.

Me veio, também, a lembrança repentina de um amigo que me contou sua conversa com um pastor adventista. Meu amigo o perguntou: “nós presbiterianos não guardamos o sábado. Nós iremos ao inferno por isso?” ao que o pastor respondeu: “- vai, vai passar a eternidade no inferno”. Será que para essa gente Cristo não foi suficiente? A lei ainda tem efeito da salvação? Cristo não veio para substituir a lei? A bíblia nos diz que os discípulos se reuniam no primeiro dia da semana (At. 20. 7), e não no sábado. Pergunto: os discípulos estão no inferno? O nosso próprio Senhor Jesus não guardou o sábado e ainda defendou seus discípulos que trabalharam nele (Mt. 12. 8, 11 e 12). Pergunto novamente: nosso Senhor Jesus está no inferno?

c) Sobre o Espírito Santo.

Certa vez outro amigo me contou que o maior nome da Igreja Assembleia de Deus (AD) em Alagoas, Pr. José Neco, uma vez proferiu as seguintes palavras: “Se quiserem sair da Assembleia, fiquem à vontade; só não sei dizer se as outras igrejas têm o Espírito Santo”. Eu não sei dizer se a Assembleia de Deus, como denominação, compactua com essa opinião, ou se se isto foi apenas a opinião pessoal do Pr. José Neco. Se isto for a opinião geral da AD, posso considerá-la como uma igreja séria? Passei 30 anos de minha vida achando sê-la séria, mas se isto for a opinião denominacional, tenho que descartá-la de minha lista de igrejas sérias.

d) Sobre o batismo no Espírito Santo.

Certa vez o mesmo amigo que me contou o fato anterior a este, me disse que foi batizado no Espírito Santo, e que este Espírito “entrou pelo dedão do pé”, quando este estava de joelhos. Ora, a bíblia nos fala que o Espírito Santo veio sobre Cristo (Mt. 3. 16), ou seja, veio de cima (sobre). Outro fato foi o dia de pentecostes, quando “de repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados” (At. 2. 2). Mais uma vez veio de cima (do céu). Posso considerar seu batismo como do Espírito?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O VERDADEIRO MOTIVO PARA NÃO PECARMOS

Essas palavras ditas pelo Pr. Paulo Junior são o que há muito já pensava. Pela coincidência de pensamentos, resolvi divulgar pelas próprias palavras do pastor.
Dispensa qualquer comentário!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

11 RAZÕES PARA ACABAR COM O ENTRETENIMENTO NO CULTO

Por: Alan Caprilles

Tais apresentações não passam de show, com verniz de santidade e capa de religiosidade.

Sei que o entretenimento está tão enraizado na cultura evangélica, que parecerá um absurdo a tese que defendo. Mas, além de não estar sozinho na luta contra o "culto show", estou ainda muito bem acompanhado, por pastores renomados, como Charles Haddon Spurgeon, que no século XIX já havia escrito sobre este perigo, alertando que o fermento diabólico do entretenimento acabaria levedando toda a massa em curto espaço de tempo. E é neste estado de lastimável fermentação que se encontra a massa evangélica atual.

Hoje em dia é quase impossível que uma igreja não tenha conjuntos musicais, ou corais, ou grupos de coreografia, ou cantores para se apresentar durante o culto e nos eventos por ela realizados. Na maioria das igrejas o período de culto é tomado deste tipo de apresentações, com a desculpa de que "é pra Jesus". Mas, quando analisamos racionalmente, e a luz das Escrituras, a verdade é que tais apresentações não passam de entretenimento, com verniz de santidade e capa de religiosidade.

Que ninguém fique ofendido. Eu mesmo gostaria que alguém houvesse me alertado disso na época em que eu, cegamente, gastava horas com ensaios de conjuntos e de peças teatrais. E eu me convencia de que isto era a obra de Deus.

Mas, no fundo de meu coração, eu sabia que havia algo de errado, que não era nisto que Jesus esperava que seus discípulos se focassem, ou se esforçassem. Como ninguém me despertou, busquei a Deus em oração e o próprio Espírito Santo, por meio das Escrituras, convenceu-me do meu erro.

Desde então, tenho meditado tão seriamente a respeito disto, que encontrei mais de dez razões para eliminar por completo o entretenimento dos cultos na igreja que pastoreio. E já o fizemos! Substituimos o tempo que antes gastávamos com ensaios entre quatro paredes, pelo evangelismo bíblico na comunidade e pela oração nos lares. E, quanto às apresentações nos cultos...Sinceramente, não estão fazendo a menor falta.

Mas, vejamos porque o entretenimento deve ser eliminado dos cultos que realizamos ao Senhor:

1 - O Senhor nunca ordenou entreter as pessoas
Esta já seria uma razão suficiente, que dispensaria os demais argumentos. O problema é que raramente se encontra hoje uma igreja que queira ser bíblica, composta por membros que só desejem cumprir a vontade de Deus, expressa em sua Palavra. Assim sendo, talvez seja necessário ainda os argumentos a seguir.

2 - Entretenimento não atrai ovelhas
Chamemos de ovelhas aqueles que realmente amam a Jesus, que reconhecem a voz do Senhor e o seguem (Jo 10:27). No entanto, a divulgação de apresentações na igreja dificilmente atrairá pessoas interessadas em Deus. Certamente será um atrativo para as que gostam de uma distração gratuita. Mas, podemos chamar a estas pessoas de ovelhas, ou não há uma grande chance de serem bodes? (Mt 25:32-33)

3 - Entretenimento afasta as ovelhas
As verdadeiras ovelhas não se satisfazem com apresentações durante o culto. Elas querem oração e palavra, edificação e unção. Uma ovelha de Cristo não procura emoções, mas a Verdade, para que se mantenha firme no caminho da vida eterna (Jo 6:67). Quanto mais o pastor encher o culto com apresentações, mais rápido as ovelhas sairão em busca de uma verdadeira igreja, que priorize a oração e a palavra de Deus. Aos poucos, a "igreja-teatro" deixará de ter ovelhas para estar ainda mais cheia, porém de bodes, que gostam de uma boa distração. E, infelizmente, o que muitos pastores buscam hoje é quantidade, o crescimento a qualquer custo. E, com este fermento, a massa realmente cresce...

4 - Entretenimento reduz o tempo de oração e palavra
O tempo de culto já é muito limitado, chegando a no máximo duas horas. Quando se dá oportunidade para apresentações, o tempo que deveria ser usado para se fazer orações e se pregar a palavra de Deus torna-se curtíssimo. Em algumas igrejas não chega nem a trinta minutos! Como desenvolver uma mensagem expositiva em tão curto espaço de tempo?

5 - Entretenimento confunde os visitantes
Os visitantes concluem que a igreja existe em função disto: conjuntos, corais, coreografias, peças teatrais, ou qualquer outro tipo de apresentação que torne o culto um show. E eles passam a frequentar os cultos com esta expectativa, esperando pelo próximo espetáculo.

6 - Entretenimento ilude os membros
Os membros pensam que estão servindo a Deus com suas apresentações. Desta forma, sua consciência fica cauterizada para atender aos chamados para a escola bíblica, para o evangelismo e para socorrer os carentes. Afinal de contas, ele pensa que seu chamado é para as artes, e não para serviços que não lhe colocam debaixo dos holofotes (que, aliás, são muito comuns nas igrejas hoje em dia).

7 - Entretenimento é um desgaste desnecessário
Quanto esforço é despendido para que tudo saia perfeito! Uma energia que é gasta naquilo que o Senhor nunca mandou fazer! Será que ainda sobram forças para se fazer o que realmente o Senhor manda? (Lc 6:46)

8 - Entretenimento coloca os carnais em destaque
Pessoas que raramente aparecem nos cultos de oração e estudo bíblico, e que nunca comparecem ao evangelismo, geralmente são as mesmas que gostam de aparecer cantando, dançando ou representando nos cultos mais cheios. A questão é: Por que dar destaque justamente para estes membros carnais?

9 - Entretenimento promove disputas
Disputas entre membros, entre conjuntos e até entre igrejas. Quem canta melhor? Quem dança melhor? Que conjunto tem o uniforme mais bonito? Quem recebeu mais oportunidade? Quanta medíocre carnalidade... (1 Co 3:3; Tg 4:1)

10 - Entretenimento alimenta o ego
O entretenimento não gera fé, mas fortalece o ego dos que amam os aplausos e elogios. Apesar de sua roupagem "gospel", o fermento dos fariseus continua tão venenoso quanto nos dias de Jesus (Mt 23:5-6; Lc 12:1)

11 - Entretenimento é um desperdício de tempo
Se o mesmo tempo que as igrejas gastam com ensaios e apresentações fosse utilizado com oração e evangelismo, este mundo já teria sido alcançado para o Senhor! (Ef 5:15-17)

12 - Entretenimento não é fazer a obra de Deus
A desculpa para o entretenimento é que este seria uma forma de atrair as pessoas. Mas a questão novamente é: que tipo de pessoas? Se entretenimento fosse uma boa alternativa, não teria a igreja apostólica usado de entretenimento para atrair as multidões? No entanto, ela simplesmente pregava o evangelho, porque sabia que nele há poder. O evangelho "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16). Mas o entretenimento... O entretenimento é a artimanha do homem para a perdição de todo aquele que duvida.

Quero concluir com uma palavra aos pastores. De pastor, para pastor. Amado colega de ministério, não duvide do poder do evangelho para atrair e converter as pessoas. Não queira encher sua igreja com atividades vazias e atraentes ao mundo, mas que não tem o poder do Espírito Santo para converter vidas. Tenha coragem e limpe sua congregação desta imundície egocêntrica. Talvez com isto você perderá alguns membros, mas não perderá ovelhas, somente bodes. Tenha fé em Deus e confie no modelo bíblico para encher a igreja, que é a oração, o bom testemunho e a pregação ousada do genuíno evangelho de Cristo. Lembre-se que "enquanto os homens procuram melhores métodos, Deus procura melhores homens."

domingo, 23 de outubro de 2011

Vamos falar em milagres

É isso mesmo: Milagres! Este tema tornou-se tão melindroso entre as igrejas evangélicas sérias¹, que muitas preferem, sequer, citar o nome MILAGRE. Isso para não correr o risco de se parecer com as falsas igrejas² evangélicas que tem surgido “à rodo”, com o intuito de ludibriar a muitos, prometendo milagres e mais milagres, como se eles fossem os provedores dos milagres e não o nosso Deus. Quando vejo estes que se auto-intitulam “pastores, bispos e apóstolos” se sentido importantes por estarem realizando milagres (diga-se de passagem: falsos milagres), só me lembro
do episódio em que o próprio Cristo diz: “Nem todo o que me diz: Senhor,Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7. 21 a 23). Devemos ter em mente que os mesmos milagres que existiam no passado podem acontecer hoje. Basta termos o interesse de sermos cheios do Espírito Santo. Mas não um “interesse interesseiro”, ou seja, de querer ser cheio do Espírito só para realizar milagres. Não! Devemos almejar ser cheios do Espírito para chegarmos à estatura de Cristo, que implica em:a) amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo de todo o coração; b) ter uma fé capaz de remover montanhas; c) amar os nossos inimigos; d) viver em Espírito e não pela carne; e) sentir verdadeiro prazer em realizar a obra de Cristo; f) ter compaixão pelas almas perdidas; g) exalar alegria e etc.

Quando atingirmos este nível, então Deus realizará milagres por meio de nós, naturalmente. Afinal de contas, Ele mesmo nos disse: “Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas” (João 14.12).



1. Batistas (poucas da CBB, Regular e Fundamentalista), Presbiteriana, Luterana, Anglicana, Metodista e Congregacional.

2. Refiro-me a Universal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus, Internacional da Graça de Deus, Evangelho Quadrangular, Deus é Amor, e a 99,99% das Neo-pentecostais que tem surgido. Sem contar as seitas: Adventistas, Testemunha de Jeová, Mórmons, etc.

sábado, 15 de outubro de 2011

Conselhos

"Se conselho fosse bom, ninguém daria de graça” - É assim que pensa o mundo. Na verdade aconselhar é algo de muita responsabilidade: você transfere ao outro a sua visão de mundo. Sabemos que por conta da nossa individualidade,temos uma visão de mundo própria. Essa visão de mundo nunca é completa,óbvio, porque não temos a onisciência de Deus. No entanto, quando aconselhamos, achamos que dizemos a coisa certa na hora certa.

Viver um problema e não saber o que fazer diante dele não significa necessariamente falta de sabedoria. Costumo dizer que a vida é como um jogo de futebol: “Quem tá jogando, tá sentindo a pressão, o clima, e as dificuldades do jogo. Mas quem tá do lado de fora, nas arquibancadas, está tranquilo, vendo as brechas e possíveis soluções para se ganhar o jogo”. E quando estamos passando por algum problema não é diferente, pois estamos sentindo a pressão, o clima, e as dificuldades do problema. Mas nosso(a) amigo(a) está apenas como espectador, vendo as brechas e as soluções. Por isso pedir conselho é algo muito importante e pode fazer toda a diferença.

O problema então passa a ser outro: a quem pedir conselhos? Em tese, o povo de Deus era pra ser o mais bem preparado do mundo para se dar conselhos. Afinal de contas, tem conhecimento a respeito de Deus, e conhece muito bem a Sua palavra. Mas não é isso que temos visto. Até porque ainda há um outro problema em cima desse: “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”; "o joio cresce junto com o trigo”; e “nem todos que dizem Senhor, Senhor entrarão no
Reino de Deus”
. Ou seja: Nem todos que vão às igrejas são considerados filhos de Deus e por isso mesmo não podem ser considerados aptos a serem conselheiros. Mas ainda não para por aí, pode piorar: Cristo nos deu a dica para que conhecêssemos os bons conselheiros: “pelos frutos os conhecereis”. Mesmo assim nem todos são aptos a identificarem esses frutos (embora Ele nos cite um a um para não restar dúvidas: “... o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio” (Gal. 5. 22 e 23)). E Tem mais um problema. Aliás, dois: (1) O que pode ser amor ou bondade (por exemplo) para uns, não pode ser para outros; e (2) quando um verdadeiro filho de Deus se ira (IRA=FALTA DE AMOR), quer dizer então que ele não seja verdadeiramente filho de Deus?

É um problema atrás do outro. Uma verdadeira panaceia! Por isso mesmo que precisamos, mais do que nunca, pedir conselhos à fonte: A leitura da Bíblia, com a orientação do Espírito Santo (que não é um espírito incompetente, nem inerte, mas que age em nós e, embora seja invisível, é mais real do que tudo que os nossos olhos possam ver!).

domingo, 9 de outubro de 2011

A Vaidade.

Vejo vaidade em todos os lugares, inclusive na obra de Deus. Muitos pastores acham que tem um chamado, onde na verdade escutam o chamado do status almejado. Gostam de sentir o poder sobre outras pessoas, de poder interferir na vida de outros através de suas falsas mensagens. O que temos visto é uma invasão de pastores, bispos, apóstolos e reverendos na mídia, todos buscando agradar e atrair as pessoas para si, e não para Deus. Dizem o que as pessoas querem ouvir, mas não dizem o que as pessoas precisam ouvir. Eles não se importam no que Deus pensam deles, e confundem a aceitação das pessoas como sendo fruto da bênção de Deus em seus “ministérios”. A verdade é que o coração do homem é enganoso, eles crêem naquilo que querem crer, e não Naquele que precisam crer.

Mas a vaidade não se restringe apenas aos “pastores midiáticos”, como também àqueles que não almejam que o evangelho cresça se não for pelo seu ministério, na sua igreja. Egocêntricos!Estes são mais propensos a fazer do evangelho um parque de diversões, onde oferecem de tudo que agrade as pessoas, com todo tipo de movimento lúdico (festas gospel, danças extravagantes, jogos e etc.). Outros – mais simples, porém não menos vaidosos – ostentam suas soberbas através de suas mensagens. Preocupam-se mais em “vomitar” seus conhecimentos científicos à respeito da vida, a dizer simplesmente o que a bíblia diz. Para esses a bíblia não é suficiente. Não levam à sério um dos princípios da reforma protestante que diz: “Sola Scriptura" (Somente a Escritura). Numa única mensagem, dão muita ênfase ao que dizem os grandes nomes da Filosofia, Sociologia, Psicologia, Literatura e etc. Almejam serem vistos como intelectuais e não simplesmente como servos do Deus Altíssimo. Não levam à sério a recomendação de Cristo quando diz: “Aquele que quiser ser o primeiro, que seja o último”.

João Alexandre, um dos mais renomados da música cristã, resume tudo isso em uma de suas canções, intitulada “Vaidade”:

“Vaidade no comprimento da saia, no cumprimento da lei. Vaidade exigindo prosperidade por ser o filho do Rei. Vaidade se achando a igreja da história: vaidade pentecostal. (...) Vaidade juntando a fé e a vergonha, chamando todos de irmãos. Vaidade de quem esconde a verdade por ter o povo nas mãos. Vaidade buscando Deus em si mesmo, querendo fugir da cruz. (...) Os falsos chamados apostolados do lado oposto da fé. Dinheiro, saúde, felicidade, aquele que tem, contra aquele que é. Rádios, TV's, auditórios lotados, ouvindo o “evangelho da marcha ré”. A morte se esconde atrás dos templos, tudo é vaidade!”

sábado, 8 de outubro de 2011

Sobre a Ilusão.

A ilusão não apenas faz parte da vida, como é a força motriz dela. Caçamos a ilusão em todas as esquinas; tudo nos vira motivo de nos iludirmos. Construímos uma imagem lúdica de nós mesmos que nos dão força para “seguirmos em frente” na estrada da vida. A ilusão bloqueia nossa capacidade de autoavaliação; aliás, podemos até dar nomes às nossas falhas, mas a ilusão faz-nos crer que nossas qualidades as superam.
A ilusão nos faz fugir da realidade daquilo que somos, de nossas incapacidades, assim como do mundo – que mais parece um campo de batalha. Procuramos meios de fugir desta selva de pedra; a desesperança perante a vida faz-nos apegar a tudo aquilo que nos dar prazer. É um meio de fuga. Se pararmos para analisar, veremos que o mundo nos oferece a doença, mas ao mesmo tempo nos apresenta o remédio. Ou melhor, o pseudo-remédio. A indústria do entretenimento e da pornografia, assim como o consumo, são os antídotos oferecidos que amenizam a dor de viver neste mundo. As artes de um modo geral, nos faz esquecer dos mundos externo e interno. O filme, por exemplo, faz-nos entrar em outras realidades e temporariamente (enquanto durar o filme) esquecer o nosso. Num mundo consumista como o nosso, a nossa capacidade de consumir interfere diretamente em nosso estado de felicidade. Não permitir que a nossa capacidade ou incapacidade de consumo dite o nosso estado de felicidade, é ir de encontro com a ilusão.
Ao dizer que a ilusão é a força motriz da vida, dizemo-la capaz de fazer com que não reconheçamos nossa incapacidade de aprender algo ou mesmo de pertencer a um certo meio. Isso gera um conforto sobrenatural que nos faz procurar a diferença. A ilusão tem esse poder: de ludibriar-nos a fazer com que busquemos caminhos diferentes, achando que coisas diferentes nos acontecerão. Pensamos: “precisamos ser diferentes, fazer coisas diferentes, para que coisas diferentes aconteçam em nossas vidas”. É um pensamento que, embora tenha um fundo de verdade, não passa de estratégia da ilusão para nos fazer seguir em frente.
Há quem olhe a ilusão como algo maléfico, destrutivo. Mas quem poderia me dizer que seria capaz de lançar um olhar profundo de si mesmo e permanecer inerte, sem choque algum? Ao lançarmos este olhar de nós mesmos, de pronto a desilusão toma-nos conta. É para combater a desilusão que buscamos, desenfreadamente, toda forma que nos proporcione prazer, e que, por usa vez, nos façam esquecer de olhar pra nós mesmos.
O mundo tenta, através de suas nomenclaturas, pôr a depressão como categoria de doença. Mas eu diria que deprimidos são todos aqueles que um dia tiveram a ousadia de olhar para si mesmos, e de reconhecer que seus defeitos superam suas qualidades. A verdade nua e crua fez com que colidissem com a ilusão e, para estes, a ilusão não tem poder.
Uma outra estratégia da ilusão é fazer com que creiamos no nosso próprio ponto de vista. Mas como bem sabemos, a vida é muito mais aquilo que os nossos olhos podem ver. A própria História e Sociologia, lançam um olhar parcial para um determinado fato histórico-social. O olhar vai de acordo com as inquietações do pesquisador. Por isso, a incapacidade humana de saber interpretar o fato em sua completude. A visão holística não passa de uma ilusão; uma tentativa frustrada de pôr o humano no mesmo patamar de Deus, ou mesmo uma negação ou superação do Ser Divino.
Vivo no mundo desiludido, ou seja, sei o fiasco que sou. Quando olho para o meu passado, vejo alguém que tentava, a todo custo, ser alguém que realmente nuca fui. E não adianta, nesta altura da vida, culpar os meios os quais fui inserido. Sei do poder de influência do meio, mas sei que seu poder não é total. Aliás, diga-se de passagem, duas observações merecem atenção: a primeira é que a ilusão recebe o codinome de autoestima; e a segunda é que nunca deve-se confundir a ilusão com a quimera, pois a primeira é atingível, enquanto que a segunda é inatingível.
Não serei um janízaro da desilusão. Guardo-a para mim. Embora saiba que a ilusão não é imanentemente saudável, sei que o poder da desilusão deixa inerte àqueles que dela se apoderam. Por isso, não me dou ao direito de tirar de ninguém a sua ilusão; deixo-o seguir em frente. Afinal de contas, estou cônscio de que nunca poderei mudar o curso do mundo.

sábado, 24 de setembro de 2011

Pensamentos de Primavera

“Sempre houve em mim uma desconfiança da sinceridade do meu amor por Deus e pela minha esposa. Mas ontem, ao gritar com ela, me bateu, de imediato, um profundo arrependimento pelo mal cometido, uma vontade enorme de reatar os laços e de retomar a paz entre nós. Assim descobri que a amo e que também amo também a Deus; pois, quando peco, também me vem um sincero arrependimento, uma vontade de apagar o mal cometido. Então descobri que o amor humano não é ausência de erros, mas o arrependimento deles.”

Em 24/09/2011
03:30 AM


“Vivo uma grande oportunidade de perseverar na fé em Deus. Minha situação financeira me preocupa, e isso faz, em rápidos lapsos, me abater e me fazer duvidar da presença de Deus e de Sua provisão na minha vida. Mas sei que não posso deixar que a minha situação terrena (seja ela qual for: financeira, física, psicológica) dite o meu estado emocional, as minhas certezas, e consequentemente a qualidade do meu trabalho a Deus; mas sim a suficiência da cruz de Cristo e de Sua graça, seja o único motivo que me impulsione a viver de forma alegre em todos os momentos, e no trabalho que Deus me der a fazer.”


Em 24/09/2011
03:50 AM

sábado, 10 de setembro de 2011

Viva o Fracasso!

Sou mesmo um fracassado. Isto admito porque não correspondo aos padrões do mundo capitalista. Minha mão de obra é totalmente desqualificada para aquilo que se espera aos interesses capitalistas. Não posso contribuir para que me suguem ao ponto de acumularem riquezas suficientes às custas de meu trabalho alienado. Sugam sua alegria de viver, suas forças, sua mentalidade, “adestra” seu comportamento para uma espécie de tipo ideal capitalista de subserviência que irá proporcionar o bem-estar aos donos do poder; bombardeia – através da mídia, ciência e até mesmo da religião – sua psiquê ao ponto de estabelecer como verdade absoluta o fato de que se render aos interesses capitalistas vão torná-lo feliz através da recompensa financeira (que muitas vezes não corresponde ao esforço realizado).
Preciso passar a minha existência sendo escravo deste sistema? O mundo é capitalista e parece não haver jeito de se livrar desta ilusão. Durante anos o socialismo (assim como o anarquismo, de forma mais radical) tentou vitoriá-lo, mas sem lograr êxito. Não sei dizer se seria diferente com o socialismo, mas quero me ater a pensar somente a realidade – e não hipotetizar “como seria” o mundo com outro sistema. Eu me enxergo hoje, como alguém totalmente despreparado a viver neste mundo, pois não posso dar aquilo que o sistema tanto quer de mim – minha própria vida. Não quero me render a este sistema e não é porque quero medir forças com ele, ou seja, não é uma questão de poder (correlação de forças); mas sim de não tornar infeliz minha passagem neste mundo em nome de um sistema que não se interessa em saber o que ELES podem TE oferecer, mas sim o que VOCÊ pode oferecê-los. Não há reciprocidade de interesses. Eles ditam o que querem e só resta a você concordar – se é que você queira viver dentro dos padrões materiais e éticos estabelecidos por eles.
Somos valorizados pelo que temos. É a lógica do acúmulo. Se quisermos adquirir respeito neste mundo, temos que TER. Até a Ciência está subserviente à logica do acúmulo do saber e do dinheiro. Exemplo disso é que até para se adquirir conhecimento precisamos de dinheiro para adquirirmos as fontes do saber – os livros. E percebam também que, para que o nosso saber seja valorizado e reconhecido pela humanidade, precisa-se estar representado por um diploma, intermediado por uma Universidade. É tudo ilusão. Nas Universidades, vale salientar, seu valor está intimamente ligado à sua produção acadêmica. Quanto mais produz, mais valor você tem. É a lógica do acúmulo na Ciência.
Os grandes pensadores do mundo e suas contribuições teóricas, assim como as grandes descobertas da humanidade, não estavam à mercê de Universidade alguma. Muitos deles nem sequer estavam interessados pelo reconhecimento, pelo contrário, foram presos, torturados e mortos em nome de suas descobertas e pensamentos (ver Galileu e Lutero, por exemplo). Eram livres em seus pensamentos, altruístas em suas descobertas, e esta liberdade os levou a grandes realizações que revolucionaram o mundo.
O SER não passa de uma representação do TER. A lógica do trabalho intermedia os julgamentos. Julgamos as pessoas pelos seus trabalhos. Ninguém mais se interessa pelo seu caráter. Estamos presos a uma lógica destrutiva onde o conceito de felicidade está ligada intimamente ao dinheiro. Até o mundo da Arte está dividida; grande parcela dela está subserviente ao dinheiro. Já dizia Chico Science: “Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”. A arte radical grita, tentando seu espaço, mas sem sucesso.
Reconheçamos que até o cristianismo dos últimos tempos está totalmente subserviente a esta lógica. Cristo ensinou-nos a não acumularmos riquezas neste mundo; falou-nos que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; falou-nos que devemos negar a nós mesmos; Cristo mesmo foi exemplo vivo de altruísmo; mas isto é ensinado nas igrejas? Talvez. E, se sim, muito pouco. Basta nos lembrarmos de como e graças a quem o capitalismo se desenvolveu no mundo. Cristo não foi contra o trabalho em si, mas o seu uso para fins de acúmulo; e é isto que o capitalismo nos doutrina; é isto que a humanidade persegue com todas as suas forças; é nisto que está ligado o conceito de felicidade; e foi isso que o protestantismo ensinou ao mundo, desvirtuando por completo do cerne do ensinamento do próprio Jesus: “Que todo aquele que Nele cresse, tivesse vida em abundância (…) e não se conformar com o mundo”. Vejo que até para os mais ascetas cristãos, posso ser visto como o maior asceta entre todos (cumprindo com os todos os deveres religiosos exigidos), mas se não trabalhar, passarei a ser visto como um fracassado. Até o conceito de fracasso, para os cristãos de hoje, está intimamente ligado à lógica do trabalho capitalista. O espiritual pouco importa; o que importa mesmo é estar à serviço do capitalismo.
Até o conceito de amor eros está totalmente deturpado. Não conseguimos amar alguém que não esteja à nossa altura (medidos pelo TER material e imaterial). Não queremos passar o resto de nossas vidas com alguém que não possa nos oferecer algo que nos proporcione algum conforto (mais uma vez: material e imaterial).
Não me envergonho em dizer para o mundo inteiro: sou um derrotado (e que seja!). Posso ser julgado como preguiçoso, lunático, utópico, mas, como já dito outrora, o julgamento humano está totalmente alienado à logica capitalista do trabalho, e esta, por sua vez, do acúmulo. Por isso mesmo não me importo. Não me importo em TER, nem mesmo em SER – aos olhos do mundo. Quero ter a sensação de liberdade em dizer na “cara” do povo, que sou um derrotado por não me moldar à lógica mundana e de não compactuar com a mesma; e fitar bem os meus olhos em seus olhos e esperar o olhar confuso, julgador e penalizado, ao mesmo tempo.

Maceió, 10 de Setembro de 2011.
03:13 AM

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pobres Poderes

O artigo e o seu título, é de autoria do jornalista Ricardo Mota. Achei muito interessante e por isso reproduzu-o:

"Que moleque folgado, aquele! Em plena Pajuçara, fez parar o trânsito para que pudesse atravessar a rua. Ao concluir a sua “missão”, sinalizou aos motoristas que estes poderiam prosseguir viagem.

Achei muita graça na cena, imaginando que aquele garoto de rua, “maltrapilho e maltratado”, exerceu ali o seu fugaz poder. E o fez com autoridade, além de um tanto de deboche, o que me agradou mais ainda. Pensei: ele tem consciência do que está fazendo e gosta de fazê-lo (depois, pude observar de longe que ele repetia a ação de quando em vez).

É sedutor o poder, muito já foi dito. Mas acho que ele envolve com mais facilidade os que são fracos. Seja por buscá-lo a qualquer custo, seja pelo desejo mesquinho de consumir as sobras do farto.

As ruínas de uma existência podem surgir imediatamente após a conquista do troféu – pior ainda, se é o poder político. Pude acompanhar de perto, lamentando, a destruição de uma vida interessante de uma pessoa idem.

De sólida formação intelectual e profissional, ela conseguiu o que buscou quase que desesperadamente. Pouco tempo depois, me dizia aos prantos, havia descoberto o fundo do poço – a sua sensibilidade apontava.

E aí? O esforço sobre-humano que havia feito para chegar ao topo fez em dobro para lá permanecer. É a lei: perder é pior que não nunca ter tido.

Ademar de Barros, criador do “rouba, mas faz”, foi indagado, certa feita, por que gostava tanto de ser governador de São Paulo. Respondeu com uma pergunta:

- Sabe lá o que é passar quatro anos sem pegar na maçaneta de uma porta?

Pois é, eis uma das grandes confusões involuntárias e previsíveis dos “poderosos”: entendem bajulação como respeito ou admiração, puro interesse como amor, e por aí vai.

Aos que estão dispostos a conquistá-lo, é preciso saber: estar no poder é renunciar, quase sempre, à possibilidade de vir a ter uma nova amizade para valer, verdadeira. Se já tinham amigos antes da subida, que os conservem tanto quanto puderem – terá sido esta a melhor obra de suas vidas.

Só um amigo de verdade é capaz de apontar a falha “invisível” – mesmo que clamorosa -, pôr o dedo na ferida sem temer o grito do outro. Quem, estando alguns degraus acima, há de deixar aberto o canal da crítica ou até mesmo da autocrítica? A humildade morre com o humilde.

Mal comparando, o poder se assemelha à Caixa de Pandora. Mas com uma fundamental diferença: em vez da esperança, o que nela restará depois de aberta será uma imensa solidão."

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Uma Breve Análise das Três Décadas.

Analisando bem as exatas três décadas de vida hoje, assim como qualquer outro, tive altos e baixos. Na verdade não estou como gostaria de estar. Pensava eu chegar nesta idade com uma estabilidade financeira que me impulsionasse a sonhar em ter alguns bens à longo prazo. Não posso. Pelo medo, fruto da inutilidade pela qual sinto. Sinto-me um completo inútil em meu emprego, sem falar que não gosto nem um pouco de estar aqui. É um trabalho que não me causa estresse – como no meu antigo emprego –, porém, a sensação de inutilidade é extrema. Sem contar que a minha frustração crescia a cada ano de vida. Desde o ano passado, quando minha auto-estima cresceu, que resolvi arriscar – em meio ao medo – e dar uma guinada na vida: casei, estou fazendo um curso de idiomas, resolvi terminar o “interminável TCC” (das frustrações, essa é o 2ª que mais me envergonho, perdendo apenas para o fato de nunca ter passado num concurso), e pretendo, como diz meu amigo Julio, não fugir mais dos “antidepressivos”, ou seja, seguir carreira na área da reflexão. Acho que realmente tenho um viés acadêmico, embora meu medo tivesse me tirado essa vocação. Pois bem, fiz um plano de 5 anos na minha vida; lembra um pouco da máxima de Juscelino Kubitschek : “50 anos em 5”. Pretendo, no final destes 5 anos, já estar casado (como já estou), terminar meu curso de idiomas e terminar meu mestrado. Depois, faço planos para mais 5, sem nenhum problema com a idade – vale mais o meu estado de espírito. Espero em Deus realizá-lo.
A minha vida sempre foi marcadao pelo melancolismo. Lembro-me que, desde criança, quando minhas vontades não eram realizadas, recolhia-me a pensar em minhas limitações, do porquê não ter consguido o que queria. Esta característica me acompanhou – e acompanha, hoje em menor grau – por muito tempo. Tenho uma tendência violenta à melancolia e a consequente inércia. Nesta semana, recebi um e-mail cômico de uma colega, com uma foto de um belo cavalo amarrado a uma cadeira de plástico, e o seguinte dizer: “às vezes, nossas amarras são apenas mentais”. Pus-me a refletir, e ver que se trata de uma verdade. Será que minhas “amarras mentais” me fizeram não ir adiante todo este tempo? Trago em minha história muitas frustrações, dentre elas, ter desistido do curso de Agronomia, por medo de uma única disciplina. Lembro-me que o medo foi tão grande que cheguei a fazer uma prova final desta disciplina e sequer tive a curiosidade de ver a nota. Desisti do curso sem pestanejar. Não conclui meu TCC até agora, também por medo. Mas coragem não é ausência de medo, mas sim o seu controle. Então, corajoso é o que não sou, pois nunca o controlei. Tenho pretensos planos para estes cinco anos. Se conseguirei obter êxito, não sei, só sei que tenho que seguir adiante, aos trancos e barrancos, sempre respeitando minhas limitações – que são inúmeras!
Chego aos 30, agradecendo pela boa saúde, pela realização do casamento, pela minha família, pelas inesgotáveis graças de Deus – de todos os tipos imagináveis e inimagináveis –, pelo perdão dos pecados, mas não celebro muito na área profissional. Mas tudo bem, enquanto há vida, há esperança – e isso já é um salto enorme na minha vida, tendo em vista que no passado tinha a tão estimada “desesperança nossa de cada dia” por perto e sempre. Ser convencido de que Deus é um Deus pessoal já me faz muita diferença, já me faz ter esperança no presente e no futuro. Hoje, sinto-me um pouco envergonhado por não ser levado tão a sério, mas ao mesmo tempo sei que minhas atitudes levaram a essa representação social, dos que me cercam mais imediatamente.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Uma Breve Análise da Realidade

Sentimento é algo enganoso e fugaz. O Ser humano, por ter como parte constituinte de seu Ser os sentimentos, não tem como tomar decisões no tocante ao seu próprio caminho com total racionalidade. Vivemos num mundo onde o capitalismo é mais do que um modo de produção, é mesmo uma ideologia. Tal ideologia nos convence que, assim como é preciso a total racionalidade para o desenvolvimento tecnológico voltado à produção em massa e, conseqüentemente, ao acúmulo financeiro exacerbado, essa mesma racionalidade deve ser aplicada ao controle de nossos sentimentos. Tal pensamento faz aumentar a chaga de nossas almas. Queremos nos tornar em algo não inanimado, porém, desalmado, sem a interferência das emoções.

Este culto ao racionalismo nos move ao ponto de sermos uma espécie de “videntes”. Como assim? Queremos viver no mundo de tal forma que não queremos ter decepções. Para que isso nunca ocorra, passamos a nos precaver de forma errônea, desconfiando de tudo e de todos – pois em nossa mente qualquer palavra a nosso respeito soa como algo maquiavélico. É uma espécie de auto-reclusão que dista da convivência sadia que alimenta e fortalece nossa personalidade – pois o contato com o diferente nos fortalece o entendimento, abre nossas mentes para o novo.

Pois bem, e por que então o sentimento é enganoso? Quando nos inflamamos de ódio de alguém, interpretamos-lhe tão somente como um sentimento ruim, que adoece a alma e faz a razão rumar por caminhos desconhecidos por ela mesma. Trata-se de uma interpretação “pigméia”, rasa, sem qualquer tipo de profundidade de raciocínio. O que mais nos faz nascer e domesticar este tipo de sentimento em é a profunda certeza de que nos sentimos inferiores ao objeto de nosso ódio. Tão profunda é essa certeza que chega mesmo a se esconder nos recôncavos de nossa alma e psique. Tal profundidade dificulta a sua descoberta em rápidos pensamentos. Muito “lixo emocional” dificulta a clareza da análise e faz com que uma enxurrada de emoções – e conseqüentes maus pensamentos – tomem conta da verdade em essência. Na verdade, não é o impedimento das emoções que nos fazem chegar a tal conclusão, mas sim, a sua substituição por outros sentimentos. Não há, na verdade, como divorciar a razão da emoção. Mesmo o tipo de racionalidade tecnológica é imbuída de sentimento. Não seria possível seu desenvolvimento se não houvesse o orgulho pelo que faz e a satisfação que isso traz. A vaidade, por assim dizer, toma conta do Ser, impulsionando-o ao “infinito”, fazendo-o se apaixonar pelo trabalho. A satisfação financeira, fruto dessa motivação (entenda: motivação = satisfação + vaidade), o impulsiona à busca pelo aprimoramento. Embora o dinheiro seja algo objetivo, sua essência é subjetiva. É como um espírito do baixo espiritismo que ganha “cara e cor” através de um deus materializado em imagem esculpida, presentes nos centros de candomblé. Há uma essência por trás dele, algo mesmo subjetivo, que foge do campo da compreensão. No mundo capitalista de hoje podemos dizer que a motivação é regada pelo dinheiro e pelo seu espírito que possui àqueles que assim se vendem ao presente sistema. Em outras palavras: quanto mais você se vende, mais motivado se sente, e mais ambientado (à vontade) se sente ao presente século. Na verdade, a humanidade, em sua grande maioria, está possuída pelo espírito do capitalismo. Tal espírito o incapacita a procurar outras saídas e, para aqueles que querem sair de sua égide, o mesmo espírito procura meios – coisa que não é difícil para ele – de prendê-lo. Escravidão seria o termo mais apropriado. Não há como sair. É a mão invisível que a nós todos controla.

A nossa felicidade, como exemplo da fugacidade de nossos sentimentos, é constantemente alimentada e retroalimentada por alguns “momentos alegres” igualmente fugazes. Na grande maioria das vezes, tais momentos só existem graças à interferência direta ou indireta do dinheiro. Interferência indireta? Como assim? Explico: até mesmo os sentimentos humanos que julgamos mais belos estão contaminados pelo espírito do capitalismo. Não conseguimos direcionar nossa paixão e o amor Eros àqueles que não se aproximam de nossa realidade financeira e/ou educacional (pois a educação, como a conhecemos, também está sob a lógica do acúmulo, que, por sua vez, é parte integrante da lógica maior do capitalismo). Agir contra essa lógica chega a ser vergonhoso. Até mesmo a beleza exterior, algo que deveria ser uma qualidade estética cultural, está com o seu conceito deturpado pela realidade capitalista. A moda, juntamente com as indústrias de cosméticos e de confecções, são instrumentos do capitalismo que ditam o belo, modificando-o ao seu bel-prazer. É desta forma que a beleza, como intermediadora primeira da paixão e do amor Eros – por estar imbuída do espírito capitalista – interfere indiretamente nos sentimentos mais belos da humanidade – principalmente a humanidade ocidental capitalista.

“Se ficar o bixo pega, se correr o bixo come” – seria o adágio popular mais apropriado para nossa realidade. O momento de mudança desta realidade já passou: o muro já ruiu! Mudança ainda é possível, no entanto, depreenderá de nós um esforço incomunal, de nadar contra a maré, sempre e sem parar!

sábado, 11 de junho de 2011

Você É Amigo de Deus?

Essa é uma pergunta que não quer calar: nos consideramos, de verdade, como amigos de Deus? Ao longo da história, o Seu povo sempre desprezou a Sua amizade. Lembremos: Quando Ele tirou o seu povo do Egito, agiu de diversas maneiras milagrosas, dando prova de Sua amizade: abriu o mar vermelho, colocou colunas de fogo para guiar o Seu povo à noite, pôs nuvens sobre todo o povo para protegê-los do sol, deu codornizes em abundância quando Seu povo enjoou do maná, fez sair água da rocha, enfim, inúmeras demonstrações de seu amor. E como eles agradeceram? Fazendo um Bezerro de ouro e elegeram-no como seu deus! Ou nos lembremos do povo Judeu, que em determinado momento estendeu mantos e palmas e clamaram: “Hosana ao que vem em nome do Senhor!”; e algum tempo depois, o mesmo povo clamou: “crucifica-o!”
Ou olhemos para a igreja católica, que até determinado momento de sua história era uma igreja íntegra, mas depois, chutou os princípios bíblicos e adotou pensamentos humanos, colocando-os acima da Palavra de Deus. A Igreja Católica brasileira, por exemplo, chegou ao ponto de adotar como objeto de sua adoração, uma "pequena estátua sem cabeça" encontrada no fundo de um rio! Que vexame! A própria bíblia deles condenam esta prática de idolatria (ver o livro do profeta Isaías). Muitos atribuem milagres àquele pedaço de madeira (ou pedra). Não sabem eles que o próprio diabo se transforma em anjo de luz para enganar a muitos. O poder das trevas também pode operar milagres: lembre-se que o bruxo contratado por Faraó, no tempo de Moisés, fez uma vara se transformar em serpente, assim como fez Deus através de Arão; ou lembre-se também das palavras do próprio Senhor Jesus Cristo (ver Mateus 24): "Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos".
E o que dizer das igrejas evangélicas? Os evangélicos de hoje adoram mais aos cultos ao próprio Deus. Prova disso são os cultos shows, sem solenidade alguma, onde o que os motiva a ir à igreja são os ritmos dos cânticos e/ou a amizade oferecida pelos seus membros. Nossos cultos têm se tornado cada vez mais antropocêntricos: fazemo-lo de forma que agrade aos homens e não a Deus! Ficamos onde nos sentimos bem! Aliás, o que importa mesmo é a nossa satisfação garantida, e não o nosso sacrifício feito a Ele. E não estou falando de pseudos-crentes de Igreja Universal e afins. Me refiro aos “crentes” das ditas igrejas sérias.
Ou o que dizer de nós mesmos, que muitas vezes pecamos, conscientes de que estamos desagradando a Deus?
Agora, sinceramente responda: você é amigo de Deus?

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eis o problema do Poder.


A busca pelo poder e pela liderança é expressão do estado doentio pelo qual vive o mundo. Impor a “moral” em detrimento aos seus iguais, “não ficar por baixo” numa discussão com outros sujeitos sociais, são simples demonstrações de nossa chaga. Crescer profissionalmente, atingindo cargos mais altos no ambiente do trabalho tem sido uma constante na vida da sociedade capitalista ocidental de umas décadas para cá. Mas não um crescimento motivado pela paixão pelo o que faz, mas sim pelo poder e para o poder. Aliás, deve-se deixar bem claro, que foi a ganância pelo poder que fez Lúcifer ser expulso dos céus. O sentimento de poder e a sua busca está diametralmente oposto ao sentimento de se reconhecer no outro, como em comum, ou, mesmo que possa parecer paradoxal, de aceitar o outro como superior a si mesmo, como nos ensina o Evangelho de Jesus Cristo. O capitalismo, através de seus instrumentos práticos e ideológicos – ou práxis, como queiram – direciona-nos de forma doentia, a buscar o poder motivado tão somente pelo sentimento de superioridade, que lhe é tão imanente. É a “luciferização” da sociedade. Desde pequenos, quando ainda no desempenho dos papéis sociais de criança, filho e aluno (que vem do grego alumnus, ou seja, “lactante – aquele que está crescendo e sendo nutrido” e não de “sem luz”, como dizem os maus filósofos) somos bombardeados a buscar o conhecimento não pelo prazer (não tomem aqui como o falso prazer do hedonismo) e pela curiosidade, mas sim pelo sentimento de superioridade que isto vai lhe proporcionar num futuro próximo. Isso demole o princípio belo do conhecimento como auxiliadora da convivência humana e do desenvolvimento humano na vida em sociedade - desculpem-me pela proposital redundância.

A materialização do poder não se restringe às esferas macroestruturadas de nossa sociedade, mas perpassam – e não refletem – nos relacionamentos interpessoais. Aliás, o caminho chega mesmo a ser o inverso: a mácula na macroestrutura social é fruto direto da mácula pessoal – já que para o filósofo inglês Thomas Hobbes, à guisa de Plauto: “Homo homini lupus“ (o homem é o lobo do homem). A natureza social não apenas legitima essa prática doentia, mas a aprimora. Como ideologia, o capitalismo expõe em “pratos limpos”, para todo mundo ver, que o seu esteio é a acumulação (sobretudo a acumulação de bens) à todo custo. Repito: à todo custo! No Brasil, mais até do que outros países latino-americanos (que tiveram uma história de formação político e cultural mais ou menos parecido com a nossa), essa prática parece que se “aprimorou” (entre aspas, poque ganha conotação pejorativa) mais do que deveria. O célebre Sociólogo Sergio Buarque de Hollanda já nos alertou sobre a cordialidade brasileira. Mas não tomem o termo cordialidade como gentil, ou seja, em seu sentido nobre. Aqui ele se refere a um comportamento flexível ao ponto de atropelar a ética e a civilidade, confundindo o público com o privado, motivado pela ação emocional típica do brasileiro, em detrimento a ação racional. Apropriar-se do dinheiro público, enriquecendo ilicitamente, através de licitações de “cartas marcadas”, facilitado pelo tráfico de influência e formação de quadrilha, instalada nas três esferas de poder (executivo, legislativo e judiciário), contando também com o forte braço da mídia – que deveria ser imparcial em sua prática jornalística –, tem se tornado a maneira mais corriqueira e rápida de fazer crescer o seu patrimônio pessoal. Somos levados, muitas vezes, a fazer vista grossa, tendo em vista a manutenção de nossos empregos e consequente manutenção do triste status quo que de perto nos rodeia. O capitalismo utilizou-se da característica cordial do brasileiro para naturalizar algo que deveria ser extirpado de nosso meio. É campo fértil para a lavoura da corrupção! Estamos anestesiados (ora por pura e simples aceitação, ora pelo sentimento de impotência) diante da realidade. Vou mais além: é mais do que anestesia, é covardia! Achamo-nos sábios em não nos metermos em coisas maiores que nós, e principalmente quando não nos atingem direta e exclusivamente. Desculpa esfarrapada! Somos todos parte de um todo! “Um passo a frente e não estamos mais no mesmo lugar” já nos dizia o genial Chico Science. Sua ação diz alguma coisa, mesmo que lhe cause ônus. Aliás, perder algo, mesmo que a própria liberdade, por não compactuar com a corrupção, é algo nobre, digno de ser aplaudido pelas almas e mentes mais dignas da história. Não me refiro apenas às grandes personalidades que estamparam seus nomes nos anais da história social, mas àqueles anônimos que viveram materialmente pobres, mas incorruptíveis, ricos de uma dignidade que o mundo jamais foi merecedor de recebê-los.

Enquanto as licitações de “cartas marcadas”, apoiadas em quadrilhas de “colarinho branco” lhes rendem poder (financeiro, político e social), nossa educação continuará sendo sempre precária, nossa saúde “andará doente” com doenças dos séculos passados que ainda matam (tais como malária, dengue, meningite e tuberculose), a segurança continuará a inexistir, miseráveis continuarão a não ter um teto digno sobre suas cabeças, e toda sorte de mazelas que passam a existir por falta de investimento público, desviado aos cofres de seres egoístas que hipocritamente chegam a abrir e manter centros de cuidados a crianças carentes, como uma forma de maquiar a podridão que está por trás de seu caráter. “Sepulcros caiados”, bem já definia esses tipos nosso Senhor Jesus Cristo.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Pequena reflexão sobre a Supressão doutrinária do consumismo sobre a ascese religiosa cristã.


Considerando o Capitalismo não apenas como um Modo de Produção econômica tão somente, mas principalmente como uma ideologia que molda toda a estrutura objetiva e subjetiva dos indivíduos e, conseguintemente, da sociedade como um todo, com suas práticas embasadas principalmente no consumo – desnecessário, muitas vezes –, tenho percebido, principalmente nestas últimas décadas, o mesmo penetrar a subjetividade dos indivíduos de tal forma que tais atores sociais demonstram, através de suas práticas, supervalorizarem tal ideologia em detrimento dos valores e princípios religiosos ensinados pela doutrinação religiosa que professam; que ensinam (a doutrinação), dentre muitos outros, o não consumo exorbitante e o estilo simples de vida, do ponto de vista material.

Pelo fato dos jovens – do ponto de vista de algumas correntes da Psicologia – estarem em fase de construção do caráter, se constituem os alvos mais comuns dos “ataques” da ideologia capitalista, acabando por se renderem e, conseguintemente, introjetarem seu valor.


Faz-se necessário, primordialmente, tratar sobre o conceito de consumo adotado para esta reflexão. Para Featherstone (1995), “o consumo tem como premissa e expansão da produção capitalista de mercadoria que deu origem a uma vasta acumulação de material na forma de bens e locais de compra e consumo” (p. 31). Tal expansão não seria possível se não houvesse uma ideologia por trás do ato de consumo per si que convencesse os sujeitos sociais a se enquadrarem em seus princípios e "doutrinas". O capitalismo não teve como método primordial o convencimento através de sua ideologia, para posteriormente moldar os comportamentos e estabelecer os hábitos de consumo nos sujeitos sociais; tal convencimento veio de forma prática, paralela, seduzindo e introjetando hábitos e costumes nos indivíduos.


Tais hábitos são retroalimentados quando as mercadorias em si viram instrumento de mediação de status, diferenciação e conservação social, como formas de se inflacionar as diferenças e as distâncias com outras classes mais baixas da hierarquia sócio-econômica de sua sociedade local. Tendo como premissa a coisificação do humano, esse mesmo princípio macroestruturado tende a interfirir significativamente em todas as esferas micro em que o indivíduo possa estar, nas sociedades capitalistas. Daí a sua expressiva interferência na religião – demonstradas nas comunidades religiosas cristãs em que os sujeitos estão inseridos – chegando mesmo a resignificar os valores que, à princípio, no âmbito religioso, deveriam ser formados pelos ensinamentos que lhe apraz. O que era para ser um lugar de adoração a Cristo (divindade), onde comportamentos e pensamentos deveriam ser todos eles voltados com este único fim, passam a estar perdendo terreno para o estabelecimento, diferenciação e exibição do status social, através de seus bens de consumo no seio das igrejas. Assim, as mercadorias são usadas como forma de se distinguir, bem como para se criar vínculos sociais com outros sujeitos que congregam a mesma comunidade religiosa, sendo (os bens), desta feita, por demais significantes na decisão de escolha de seus vínculos sociais.


Conforme Baudrillard, isso causa uma falência nas relações humanas, onde o apego às coisas se torna mais significante do que as próprias pessoas. As coisas tornam-se instrumentos balizadores nas relações interpessoais, determinando não apenas o tipo de relação, bem como elegendo o tipo de pessoa a quem quer se relacionar.


Uma outra proposta conceitual pertinente é a da pós-modernidade, não tomando o pós como uma supressão total da modernidade, mas sim como uma nova forma de exigências - principalmente no mundo do trabalho – que se fazem no mundo atual, aumentando assim a disparidade entre as classes econômicas. Para tratar sobre o conceito, não há como esquecer de Zigmunt Bauman, que julga a pós-modernidade não apenas incapaz de ser propiciadora de sentidos, bem como a principal fomentadora da angústia dos homens na atual sociedade. Isto porque corresponde à característica da pós-modernidade, uma sociedade marcada pelo capitalismo pós-industrial, consumo exacerbado, movimento constante, efemeridade e fragilidade dos laços afetivos entre as pessoas. O impacto desses fenômenos nos relacionamentos afetivos interfere nas relações transformando-as “em amores líquidos”, motivada pela efemeridade das relações, fruto nada mais e nada menos do que a efemeridade dos sentimentos, característicos da pós-modernidade. Esta característica pode interferir sobremaneira nas relações entre membros e congregados de uma mesma comunidade religiosa, onde os laços se tornam mais afrouxados, quando a mercadoria passa a ser a principal modeladora e determinante nas relações pessoais. Os sentimentos que muitas vezes são também moldados pelos ensinos religiosos (fundados dentre muitos outros ensinos, no altruísmo e no amor ao próximo), passam a não apenas ter suas amarras afrouxadas, bem como a ser suprimida pelo apego às coisas e não mais às pessoas, como de fato deveria. Ainda sobre o conceito de Pós-modernidade, devemos nos lembrar de Huyssens quando o mesmo diz que…

“…o que aparece num nível como o último modismo, promoção publicitária e espetáculo vazio é parte de uma lenta transformação cultural emergente nas sociedades ocidentais, uma mudança de sensibilidade para a qual o termo ‘pós-moderno’ é na verdade, ao menos por agora, totalmente adequado. A natureza e a profundidade dessa transformação são discutíveis, mas transformação ela é. Não quero ser entendido erroneamente como se afirmasse haver uma mudança global de paradigma nas ordens cultural, social e econômica; qualquer alegação dessa natureza seria um exagero. Mas, num importante setor da nossa cultura, há uma
notável mutação na sensibilidade, nas práticas e nas formações discursivas que distiguem um conjunto pós-moderno de pressupostos, experiências e proposições do
de um período precedente”
(A. Huyssens, 1984, “Mapping the post-modern”. New German Critique, No. 35, pp. 5-52, Apud Harvey,1996:45).

Assim, há um reconhecimento por parte do autor – e conseqüente convencimento de minha parte – de que há uma mutação na sensibilidade e nas práticas da presente época, onde tal mutação seja fruto mesmo da pós-modernidade. Como arcabouço de conceitos e teóricos que discutem o tema, temos em Anthony Giddens a idéia de que a globalização é uma continuação de tendências postas em movimento pelo processo de modernização que teve início na Europa do século XVIII. A modernização substituiu as formas de sociedades tradicionais que eram baseadas na agricultura, e que nunca estanca no tempo, mas continua em seu processo de movimento, perpassando pela industrialização, informatização e etc. Vale salientar que as substituições (alterações) não se dão apenas no âmbito objetivo, material, mas interfere significativamente na subjetividade do sujeito e, conseguintemente, em suas formas de se relacionarem.

Enfim, a ideologia do consumo suprime a doutrinação cristã ao ponto de colocá-lo em segundo plano (não por iniciativa da igreja e de seus líderes) mas pelos seus próprios membros, que assim o fazem desintencionalmente.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre a Remonstrância.



Trecho do livro Graça, Fé, Livre-arbítrio. De Robert E. Picirilli.

Conseqüentemente, em 1610, com as tensões ainda em crescimento, os seguidores de Arminius apresentaram uma petição aos Estados, chamado de “Remonstrância” (por isso que aqueles que a apoiaram foram chamados “Remonstrantes” e os calvinistas que se opuseram “Contra-Remonstrantes”). Entre os líderes do lado arminiano estavam Uitenbogaert, um estudioso chamado Simon Episcopius, e um advogado influente chamado Hugo Grotius; Oldenbarnevelt deu apoio a eles.

A Remonstrância expressou os principais pontos dos arminianos sucintamente em cinco artigos. Estes são como segue:

Art. 1. Que Deus, por um eterno e imutável plano em Jesus Cristo, seu Filho, antes que fossem postos os fundamentos do mundo, determinou salvar, de entre a raça humana que tinha caído no pecado – em Cristo, por causa de Cristo e através de Cristo – aqueles que, pela graça do Santo Espírito, crerem neste seu Filho e que, pela mesma graça, perseverarem na mesma fé e obediência de fé até o fim; e, por outro lado, deixar sob o pecado e a ira os costumazes e descrentes, condenando-os como alheios a Cristo.

Este artigo apresenta o ponto principal em debate. Ele aceita a predestinação como incluindo tanto a eleição para salvação quanto a reprovação para condenação. Mas ele coloca ambos os decretos após a queda voluntária (não necessária) do homem no pecado, e faz ambos os decretos condicionais à respectiva fé ou incredulidade dos indivíduos que são os objetos da eleição ou reprovação. Este está em oposição à concepção calvinista da eleição incondicional.

Art. 2. Que, em concordância com isso, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e cada um dos homens, de modo que obteve para todos, por sua morte na cruz, reconciliação e remissão dos pecados; contudo, de tal modo que ninguém é participante desta remissão senão os crentes.

Este artigo enfatiza a expiação ilimitada ou universal, e todavia deixa claro que nem todos são na verdade salvos por esta expiação; somente os crentes experimentam seus efeitos redentores. Isto se opõe à concepção calvinista de que a expiação proveu redenção somente aos eleitos.

Art. 3. Que o homem não possui por si mesmo graça salvadora, nem as obras de sua própria vontade, de modo que, em seu estado de apostasia e pecado, para si mesmo e por si mesmo, não pode pensar nada que seja bom – nada, a saber, que seja verdadeiramente bom, tal como a fé que salva antes de qualquer outra coisa. Mas que é necessário que, por Deus em Cristo e através de seu Santo Espírito, seja gerado de novo e renovado em entendimento, afeições e vontade e em todas as suas faculdades, para que seja capacitado a entender, pensar, querer e praticar o que é verdadeiramente bom.

Este artigo enfatiza que tudo envolvido tanto na salvação como na vida cristã é pela graça de Deus. Nem mesmo o livre-arbítrio do homem pode iniciar uma resposta positiva a Deus à parte da graça capacitante. Assim até a fé salvadora não é efetuada pelo homem “de si mesmo.” Os arminianos foram sempre acusados de atribuir muito ao homem e então depreciar a graça. Este artigo tinha o propósito de anular essa falsa acusação e mostrar que eles estavam de acordo com seus oponentes ao atribuir todo o bem à graça de Deus.

Art. 4. Que esta graça de Deus é o começo, a continuação e o fim de todo o bem; de modo que nem mesmo o homem regenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação para o mal sem a graça precedente (ou preveniente) que desperta, assiste e coopera. De modo que todas as obras boas e todos os movimentos para o bem, que podem ser concebidos em pensamento, devem ser atribuídos à graça de Deus em Cristo. Mas, quanto ao modo de operação, a graça não é irresistível, porque está escrito de muitos que eles resistiram ao Espírito Santo.

O quarto artigo continua a ênfase do terceiro, mas acrescenta uma importante qualificação: a graça de Deus opera de tal modo que o homem pode de forma sucedida resisti-la. Ninguém é superada por ela, a liberdade do homem não é tirada por sua operação. Isto foi para opor a concepção calvinista de que a graça salvadora é irresistível.

Art. 5. Que aqueles que são enxertados em Cristo por uma verdadeira fé, e que assim foram feitos participantes de seu vivificante Espírito, são abundantemente dotados de poder para lutar contra Satã, o pecado, o mundo e sua própria carne, e de ganhar a vitória; sempre – bem entendido – com o auxílio da graça do Espírito Santo, com a assistência de Jesus Cristo em todas as suas tentações, através de seu Espírito; o qual estende para eles suas mãos e (tão somente sob a condição de que eles estejam preparados para a luta, que peçam seu auxílio e não deixar de ajudar-se a si mesmos) os impele e sustenta, de modo que, por nenhum engano ou violência de Satã, sejam transviados ou tirados das mãos de Cristo. Mas quanto à questão se eles não são capazes de, por preguiça e negligência, esquecer o início de sua vida em Cristo e de novamente abraçar o presente mundo, de modo a se afastarem da santa doutrina que uma vez lhes foi entregue, de perder a sua boa consciência e de negligenciar a graça – isto deve ser assunto de uma pesquisa mais acurada nas Santas Escrituras antes que possamos ensiná-lo com inteira segurança.[21]

Este artigo final é o maior. Ele mostra que os primeiros arminianos, embora não tinham completamente se decidido, estavam abertos à opinião de que alguém pode ser perdido após ter sido salvo. Esta não foi uma das questões chaves na controvérsia, embora ela tenha sido levantada. A declaração representa um sentimento cauteloso e prematuro sobre o assunto. Posteriormente os arminianos viriam a expressar esta opinião sem tal hesitação, se colocando em oposição à crença calvinista na necessária perseverança.



MINHAS CONCLUSÕES EM SUSCINTAS PALAVRAS:

Art. 1º - Concordo plenamente.
Art. 2º - Concordo “em gênero número e grau!”
Art. 3º - Creio que o “livre-arbítrio” não pode ser interpretado como um “mal-arbítrio”, ou seja, como uma incapacidade de se pensar qualquer tipo de bem. Se assim o fosse, filhos incrédulos ao evangelho não pensariam bem de seus pais.
Art. 4º - Somente os bens praticados que forem persuadidos pelo Espírito Santo. Exemplo: se alguém grita com você, você pode: a) não revidar pois simplesmente acha desnecessário (sabedoria humanista); ou b) não revidar, pois essa não seria uma atitude praticada por Jesus, se estivesse em seu lugar (sabedoria divina). Se diante da circunstância a sua opção for “b”, podemos dizer que foi ação do Espírito Santo que “convenceu do mal”. Portanto, nem todas as obras boas e todos os movimentos para o bem, que podem ser concebidos em pensamento, são atribuídas à graça de Deus em Cristo.
Art. 5º - concordo quanto à primeira parte. Quanto à última parte do artigo, é bem verdade que há trechos na bíblia que nos direcionam à doutrina da “perda da salvação” (ver Apóstolo João 15.6). Mas prefiro as outras palavras de Jesus quando diz: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (João 6.37).

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Tornar-se si mesmo



Por Dulce Critelli (Carta Capital, 22 de novembro de 2010 às 9:44h)

Não somos lançados no jogo da vida de mãos vazias nem totalmente em aberto. Nossa primeira identidade nos é dada pelos outros.



Felipe tem quatro anos. Quando ele nasceu, seu pai tinha 19 anos e sua mãe 18. Ambos de classe média, começando sua formação universitária, estavam namorando há uns dois meses quando descobriram que ela engravidara. Românticos, talvez, decidiram se casar.

As famílias levaram um susto. O casamento e a gravidez eram fora de hora, mas entendiam que para os dias de hoje a situação era completamente natural. O casal passou a morar com os pais da moça e Felipe nasceu logo depois. Ele era lindo e seus pais o amaram. Todos o amaram.

O pai e a mãe de Felipe, sem trabalho, continuaram a viver como filhos de seus pais. Achavam isso supernatural. E os avós de Felipe, também achavam supernatural continuar a bancar a vida dos filhos e, agora, também o neto, que os enchia de alegria.

Os pais de Felipe queriam ser independentes, que ninguém desse palpite nas suas vidas nem na educação do Felipe. Com relutância, começaram a buscar emprego. Sem qualificação suficiente para o mercado de trabalho, ganhavam mal. E se cansavam, porque não estavam acostumados a ajudar a prover a vida nem a cuidar senão de si mesmos.

Felipe tinha pouco mais de 1 ano quando os pais se separaram, e logo arrumaram outros namorados. Depois outros, e mais outros. A mãe do Felipe foi morar sozinha, num apartamento pequeno que os pais dela alugaram e o pai do Felipe continuou a morar na casa em que sempre viveu com o pai e a mãe.

Os dois trabalhavam e estudavam e namoravam e queriam se divertir. Felipe ficava uma vez com o pai, outra com a mãe, outra com os avós maternos, outra com os paternos, outra ainda com algum amigo do pai, ou da mãe. Nunca numa ordem certa, era sempre com quem estava disponível. Depois que aprendeu a falar, Felipe sempre perguntava, aflito, para a pessoa com quem estava no momento: “Onde eu vou dormir hoje?”

Felipe não tinha horário para dormir ou acordar, ou para comer. Frequentava todos os lugares que seus pais frequentavam. Seus horários ficavam determinados pelos horários da casa em que estivesse. Comia da comida da casa em que estivesse, brincava com os brinquedos que havia – se haviam – na casa em que estivesse… Às vezes, ficava sozinho na escolinha por horas, porque os pais se esqueciam dele.

Os pais de Felipe o amavam, mas não reconheciam a necessidade de se dedicarem a ele. Quando lhes diziam que essa era sua obrigação, respondiam que gostavam muito do filho, mas que eles eram jovens e o filho não poderia impedi-los de viver a vida.
A mãe do Felipe encontrou um parceiro mais fixo que também tinha dois filhos, vindos de dois outros casamentos anteriores. Um dia, o Felipe estava com seu pai e chamou o namorado da mãe de pai. O pai do Felipe não gostou.

Felipe, doce que era, começou a ficar mais agressivo e batia nos companheiros da escolinha. A mãe do Felipe foi estudar no exterior e o Felipe, que já tinha dispensado as fraldas, voltou a precisar delas e da chupeta. A mãe não gostou, mas só começou a pensar que podia estar fazendo algo errado, quando alguém perguntou para o Felipe quem era sua mãe e ele apontou para a avó.

A mãe do Felipe mudou muito. E seu pai também faz muitos esforços. O Felipe, hoje, fica mesmo é com a mãe, tem seu lugar, seus horários, suas referências próprias… seu mundinho. Ele está mais feliz e está se encontrando.

A história do Felipe me faz pensar em várias coisas, mas quero tratar apenas de uma, relativa às condições necessárias para a construção da identidade pessoal.

Quando um ser humano nasce, uma novidade vem ao mundo. Nunca ninguém antes de nós, nem depois de nós, será igual a nós. O mistério da humanidade é sua singularidade. Esta singularidade, porém, não vem pronta, mas é construída ao longo de toda a vida.

Quem sou eu e qual o sentido da vida, são as duas questões que começam no berço e carregamos como interrogação e tarefa até a hora da nossa morte. A pessoa que seremos vai se desenvolvendo lentamente. Os atos e as palavras, ou seja, os modos por meio dos quais enfrentamos os eventos da vida, vão moldando nossa identidade. Que sempre depende de como enfrentamos a vida.

Mas não somos lançados no jogo da vida de mãos vazias nem totalmente em aberto. Nossa primeira identidade nos é dada pelos outros. Quando alguém vem ao mundo, geralmente nasce no seio de uma família, de quem recebe nome e sobrenome, uma situação financeira, um país, um bairro, uma tradição cultural e religiosa… Recebe, também, as expectativas que os outros (principalmente seus pais) têm a seu respeito, além das esperanças, dos medos, das incapacidades, dos problemas… que os próprios familiares mais próximos vivenciam.

Nossa primeira identidade nunca nos abandona. Ela é nossa origem, o ponto e as condições com que começamos nossa vida, a primeira sinalização do nosso destino. É onde e como começamos a nos reconhecer, a formar nossa biografia e a nos tornar o personagem que somos.

As circunstâncias e situações da vida cotidiana, o modo como as pessoas tratam uma criança, os afetos, o tempo, a atenção que lhe dedicam, entre outros, são revelações tácitas (mesmo que totalmente inconscientes para os adultos) sobre sua identidade, sobre o que ela deve fazer e querer, se ela é importante ou uma presença supérflua no mundo.

Também as maneiras como os adultos, próximos à criança, vivem a vida são revelações sobre seu próprio ser. Assim como nossa primeira identidade nos é dada, também as primeiras orientações de como existir nos são definidas pelos outros. Aprendemos, sempre, a lidar com a vida, seguindo o exemplo dos outros.

Como é ser homem ou mulher, criança, adulto ou velho, o quê querer, como enfrentar situações, como lidar com o corpo, com dinheiro, com a cultura, a beleza… são aprendizados que fazemos na surdina, distraídos. Fazemos, somos e queremos, em primeira mão, como os outros fazem, querem e são.

Um elemento é importante para que essa aprendizagem aconteça: a repetição. Algo precisa durar entre nós para que nos habituemos a ele, de modo que esse hábito se torne parte de nossas condições de viver.

Junto com a repetição, para que uma criança vá formando, com segurança, sua identidade pessoal, outro elemento é primordial: a invariabilidade do ambiente, a rotina das atividades e a mesmice das relações pessoais. O que mantém nossa sanidade, em meio à infindável profusão de solicitações que vivemos a cada dia, é podermos voltar para a mesma casa, dormir na mesma cama, encontrar as mesmas pessoas e repetir os mesmos hábitos (de dormir, comer, brincar, de horários…).

O que seria de nós se não sentíssemos nosso cheiro nos lençóis, se não encontrássemos na geladeira as coisas que gostamos e queremos comer, se o relógio e todas as coisas que usamos não estivessem sempre no mesmo lugar, disponíveis ao uso ou à contemplação?

Sem rotina, hábitos, permanência e estabilidade do ambiente, exemplos a seguir, crenças organizadas e compartilhadas, estaríamos no caos. E o que é próprio dos humanos é a incapacidade de viverem no caos. Os homens precisam transformar o caos em cosmos, em mundo, para poderem viver nele. Fora isso, lhes sobra a loucura, a perdição, a fraca consciência de si (de seus limites, possibilidades, características…).

Felipe começou a receber, agora, aos 4 anos, um cosmos onde encontrar referências e construir autorreferências. O quê não terá compreendido do mundo e de si mesmo enquanto a vida que lhes ofereciam beirava o caos? O quanto não terá sofrido para conseguir, aí, sustentar-se e sobreviver?