sexta-feira, 8 de maio de 2015

A Janela de Overton

Muito interessante, vale a pena conferir:

http://www.portalcafebrasil.com.br/podcasts/362-a-janela-de-overton/

A POESIA DESPOETISADA DA BAGUNÇA


             Louvem a bagunça, pois da desordem da ordem estamos cheios! O caos ordenado ou a ordem caótica? Não sei em qual delas encaixo meu país. Prefiro viver na ordem ou até mesmo no caos, pois assim não me desorientaria. A ordem orienta para sua manutenção; e no caos sabemos onde está o norte.

E onde estamos, o que sabemos? Se não sabemos sequer onde estamos, onde encontrar o norte? Quem é o norte? Não me surpreende se buscamos o além, pois o aquém está perdido.

Perdido na bagunça que causamos. A bagunça entra em nós, e nós nela! Como escapar disso? Desde a redemocratização que criamos a ordem desordenada, apoiamo-la fervorosamente. Quiçá até a adoramos... criamos em torno dela uma espécie de tabu! Achávamos que a ordem dependia da manutenção deste tabu, coitados!

A nossa ordem não é a ordem dos “achados”; “perdidos” nada sabem ordenar, muito menos a nós! Jogaram o futuro do nosso país – o nosso futuro! – nas mãos de quem nada sabe: o povo – bagunçado (e bagunceiro!), desordenado (e desordenando!), e perdido (e pondo a perder!). Quem nada sabe, nada faz ou faz errado!

Já nascemos bagunçados e esperamos o que? Que o milagre venha de nós? Quimera fantasiosa! – desculpa a proposital redundância! Vivemos à revelia deste povo culpado pelo seu próprio crime e que se acha inocente – tamanha a desorientação!

Desconstruímos o que não construímos; vivemos a morte de nossos tempos (e atos), e morremos onde nunca houve vida.

O que vivemos na esfera político-econômica é produto de nossas escolhas e atos. Escolhemos errado, fizemos errado. A matemática é simples. Mas esperar que o certo venha de quem é imanentemente errado, só em filmes de ficção que nem em Hollywood conseguiu se produzir!

Participamos de manifestações, fazemos “panelaços”, opinamos contra nas redes sociais, compartilhamos vídeos, áudios e textos contra a “situação”, aderimos à moda do “fora corruPTos”, negamos que neles votamos, pedimos impeachment, mas se uma outra eleição ocorrer, erraremos de novo! Talvez não da mesma forma, mas outras escolhas erradas seriam tomadas. Só bagunçaríamos o que nunca foi arrumado.

Ah, a intenção era fazer poesia... mas a bagunça (dentro e fora) é tão grande que não dá para organizá-la em verso e prosa. 

sábado, 2 de maio de 2015

REFLEXÕES SOBRE O ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA (Jo. 4. 1-26) - PARTE II



v. 15“Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, nem venha aqui tirá-la”.
De imediato, aquela mulher reconheceu que as suas tradições não preenchiam o vazio de sua alma; era-lhe insuficiente demais, não serviam como alicerce para a sua vivência na terra. A expressão “nem venha aqui tirá-la” significa, em outras palavras: “para que eu não mais recorra as minhas tradições”.

        É bem verdade que o Ser humano procura razões para viver e se orgulhar; o Ser humano é um ser local e ideológico, costuma se orgulhar de suas raízes, e busca alguma ideologia para se identificar. Como já bem disse um cantor e compositor brasileiro: “ideologia, eu quero uma pra viver”. Mas a mulher samaritana teve uma atitude louvável: reconheceu a insuficiência de suas tradições, raízes, e a ideologia recorrente na Samaria. Talvez naquele momento ela tenha desabafado algo que a deixava engasgada e viu a pessoa certa e o momento certo para dizer que aquelas tradições não lhe representava.
Fico a imaginar quantos e quantas estão presos(as) às mais diversas tradições, o mais fundo de suas consciências os acusam que suas tradições e ideologias não os levam a canto algum, não preenchem seus vazios existenciais, enfim, lhes são insuficientes.

     Não é novidade alguma que o cristão deve lutar contra a tríade maligna: satanás, carne, e o mundo. Destes, o mundo faz a parte dele pondo em nossa frente um “cardápio” imenso de ideologias, ou seja, motivos para se viver. O encurtamento das distâncias provocada pela internet, só fez aumentar ainda mais esse “cardápio”, e como consequência, o vazio. Muitos passam a se identificar com histórias que não são suas, com raízes que nunca lhes pertenceu, e com ideologias que nada tem a ver com a sua história de vida. O vazio humano é tamanho que chegam mesmo a abraçar, “de corpo e alma”, estilos de vida e causas, que nunca pertenceu ao seu território.

     Óbvio, não era o caso da mulher samaritana, ela se orgulhava das tradições criadas em sua própria terra. Porém, todo tipo de tradição – seja ela “de dentro” ou “de fora” – que não é fundamentada em Cristo, não tem o poder de preencher a alma com satisfação. Um dia tornará a ter sede.

vs. 16 a 18 – Ao ler esse trecho, nada tira de minha cabeça que Jesus estava testando o grau de sinceridade daquela mulher. Percebam que Jesus pede para que ela chame seu marido, logo após ela pedir “a água que não mais dá sede”. Embora sendo Deus, e conhecido a sinceridade interior da mulher ao pedir desta água, Jesus queria mais uma prova de sinceridade e pede para ela falar de algo que traz constrangimento à vida de qualquer mulher de sua época – e a muitas de nossos dias! Ela poderia, movida pelo constrangimento, ter mentido sobre sua situação matrimonial, como tenho visto muitas mulheres fazerem em nossos dias: vivem amasiadas com algum homem, tem toda uma vivência de casados, e os chamam de maridos ou “namoridos”. Porém, devo destacar que a aliança do casamento, firmada na presença de Deus e da sociedade, tem um caráter mais do que simbólico para Deus: é também uma aliança espiritual. Perceba que Jesus reconhece isso ao dizer: “...e o que agora tens não é teu marido...”. Jesus deixa bem claro que aquele tipo de relação não era uma casamento de fato! Sinto muito se o que está sendo dito agora está trazendo constrangimento a alguém, mas a verdade precisa ser dita (com zelo e amor) e que sirva de alerta para muitos e muitas, para que corrijam suas relações amorosas diante de Deus. Pode até haver o amor sincero entre vocês, porém, para Deus, isso não é suficiente para que se declarem casados.

    Abro parêntese: “A igreja é um local de renovação de esperanças, mas também é de exortação”. Fecho o parêntese.

vs. 20 e 21A mulher ainda estava com a cabeça movida pelas tradições. Ela não mais tinha dúvida de que Jesus era um profeta (ver v. 19), acreditava em suas palavras, porém, a esfera espiritual, para ela, ainda estava atrelada a algum tipo de tradição. Ela ainda acreditava que existia um local certo para se adorar: “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”. Antes, um adendo: se perceberem a narrativa do diálogo entre Jesus e a mulher, em nenhum momento se vê Jesus falando que “em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”. Além de o julgar pela região onde habitava (Judeia), quis colocar palavras na boca de Jesus. Ruídos de comunicação acontecem a todo instante.

     Muitos agem como essa mulher: ainda acreditam que a igreja A ou B é a certa, que Deus só recebe a adoração e escuta seus clamores naquela denominação ou templo. É um tipo de religiosidade, algo que deve ser banido da mente de muitas pessoas. E foi nesse intuito de banir essa percepção que Jesus declara: “Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai”. Jesus deixa claro que a adoração não é amarrada a algum tipo de local, tradição. A verdadeira adoração é algo que vem de dentro, e isso fica evidenciado nos versículos 23 e 24. Basta nos lembrarmos da silenciosa oração de Ana (1Sm 1. 13), que pediu a Deus um filho, e pediu no íntimo de seu Ser. Quando nós só recorremos a Deus – e não para outros deuses simultaneamente, como faz a igreja católica – para a solução de nossos problemas, isso é uma forma de adorá-Lo, pois reconhecemos a suficiência de seu poder, misericórdia e benignidade para nos ajudar.

v. 22Talvez achemos que Jesus esteja sendo territorialista ao declarar isso. Porém, não se trata de sectarismo algum. Conforme diz o estudioso Norman Champlin, a expressão “vós” se refere tanto aos samaritanos como aos judeus que não o reconheciam como Deus; e “nós”, aos cristãos.

     E ao dizer que “a salvação vem dos judeus”, Jesus destaca a função histórica de Israel e não ao Israel espiritual.

vs. 23 e 24 – Uma das mais famosas declarações bíblicas em que vemos ser cantadas em diversas canções. “Em espírito, em verdade, te adoramos, te adoramos”. Isso manifesta o caráter interior da adoração. Os judeus costumavam (e ainda costumam) adorar a Deus nas praças, no muro das lamentações, fazendo vãs repetições e gritando suplicas a YHWH. Muitas igrejas que se dizem cristãs seguem o mesmo erro, costumam adorar e clamar aos gritos e com manifestações corporais exóticas.

     Deus não procura performances da adoração. Ele quer que o adoremos em espírito – que o adore com fé, creia que Ele é Deus e galardoar dos que o buscam (Hb. 11. 6) – e em verdade – sendo seu amigo, fazendo o que Ele manda (Jo. 15.14).

v. 25 – Até aquele momento a mulher acreditava que ele era um profeta (v. 19), mas jamais poderia imaginar que estava falando com o próprio Cristo (que significa Messias), aquele que viria libertar judeus e samaritanos das garras do pecado, de satanás, e da morte eterna – e quero crer que se houvesse aceitação e reconhecimento por parte dos judeus de que ele era o messias, os libertaria também do poder dos romanos, já que essa era a maior esperança dos judeus, um libertador político.

vs. 26 – Jesus declara ser este messias. Fico imaginando a mescla de susto e surpresa que aquela mulher teve. Mas o que mais me chama a atenção é o caráter pessoal de Deus: “... eu que falo contigo”. Nosso Deus é um Deus pessoal. Como bem disse Ed René Kivitz, em seu livro “O livro mais mal-humorado da bíblia” (fazendo referência ao realismo de Eclesiastes):


Na tradição espiritual judaica, Deus não se apresenta como 'Deus dos rios, sol e vento', mas sim como 'Deus de Abraão, Deus de Isaque, e Deus de Jacó'. Na hora de se identificar ele escolheu citar nomes de pessoas e não de objetos naturais” (p. 8, 2014).


     Pode nos parecer estranho, mas como pode o criador do universo (com as suas bilhões de galáxias), dos céus, da terra, do mar e de tudo o que neles há, falar comigo? Eu não sou nada perante o universo. O ínfimo dos ínfimos! Mas Ele não apenas fala, como melhor que isso: tem a intenção de iniciar um diálogo conosco.

      Foi o que vimos acontecer com a mulher samaritana (v. 7) e em tantos outros exemplos bíblicos. Portanto, busque-o, mas busque-o de todo o coração, pois o acharão se o buscardes de todo o coração (Jr. 29. 13).