quinta-feira, 24 de maio de 2012

“Se escravo Teu eu for, verdadeiramente serei livre”.

Somos escravos! Quer você queira acreditar, ou não, todos nós somos. A militância existente entre carne e espírito e vice-versa (Gal. 5.17) é pela nossa escravização. Cada um direciona-nos para lados opostos da vida e, de certa forma, justificará nosso fim. Não são os fins justificando os meios (cf. Maquiavel), mas seu inverso. Nosso viver cotidiano – com bondades e maldades – não determina nosso fim, apenas justifica-os. O pecado não deve ser entendido como uma atitude isolada, fruto do ocaso, mas como consequência de toda uma conjuntura espiritual, que desemboca no plano material. Conhecemos essa conjuntura assim que abrimos a Bíblia. Logo de início Deus nos mostra o “por quê” de pecarmos. E a prova fica mais evidente quando Ele destrói toda a humanidade (com a exceção de Noé e seus familiares) e, mesmo assim, a natureza caída e corrompida do homem se manifesta. Em detrimento ao restante da humanidade, Nóe era visto como justo por Deus. Tenho plena certeza que Deus não o teria como justo se ele vivesse de forma egoísta, não ensinando seu estilo de vida aos seus filhos. Isso nos dá substrato para conjeturarmos que Nóe e seus filhos tinham um estilo de vida mais “santificado” (separado) que os demais humanos de sua geração. Num pensamento franciscano, tudo levava a crer que o pecado (ou mesmo seu excesso) seria extirpado junto com o dilúvio, e que, com uma geração mais “santificada”, os novos preceitos comportamentais seriam ensinados de geração a geração. Mas isso não aconteceu. E por quê? Porque o pecado não é fruto de uma cultura, de valores e princípios hegemônicos de uma nação, mas de nossa natureza caída e corrompida. Isso, por si só, já explicaria o “por quê” da deturpação moral de muitos valores culturais que temos em nosso mundo – independente do grau de desenvolvimento. Esse “gene espiritual” está preso à carne. Ou melhor, é constituinte da carne. Faz-me lembrar de Karl Marx, quando o mesmo, influenciado pelos ideais filosóficos de Feuerbach, disse: “o espírito está prenhe da matéria”. Lembro-me também do Apóstolo Paulo, quando nos diz: “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm. 7. 17-20, 24). Evidencia-se que Paulo não atribui o seu pecado aos ensinos culturais, mas à sua própria natureza humana. Ele reconhece a militância existente entre espírito e carne pela escravização do seu “eu”. Embora pareçam três pessoas distintas (o “eu”, a carne, e o espírito), mas tratamos, de fato, de apenas duas: pois o eu e a carne são um. Não se pode desvencilhá-los. Sem ter a pretensão de querer corrigir Marx e Feuerbach, mas não creio que seja o espírito prenhe da matéria, mas sim a consciência. Esta sim (a consciência entendida como o nosso eu) não pode existir se não houver materialidade, expressividade, enfim, existência. O pecado não existiria se não houvesse quem o praticasse. Assim como não conheceríamos o amor se ele não fosse manifestado por Deus – muito embora, mesmo que Deus não o tivesse manifestado, o amor continuaria a existir, pois Deus é amor (1 Jo. 4. 8); apenas não chegaria ao nosso conhecimento. Não podemos entender essa militância entre espírito e carne no sentido de guerra, pois o conceito de guerra, por si só, dá a entender uma equiparação entre forças, algo que absolutamente não existe entre a débil carne e a irresistível força do Espírito Santo. Mas militância existe, pois é da própria natureza do pecado ser audacioso. A mesma audácia que Lúcifer teve em querer se igualar a Deus. Na vida de um ser em processo de regeneração – enquanto estivermos no mundo não podemos dizer nunca que já somos totalmente regenerados – o pecado ganha forças pelo simples fato da inclinação da carne ser para a morte e para a inimizade contra Deus (Rm. 8. 6, 7). Ou seja, o pecado se utiliza de uma inclinação natural para ganhar forças. Do contrário, força alguma ela teria. É com esta força conjunta que o pecado milita contra o espírito. Por isso que o pecado ganha significância no que tange à separação do homem de Deus – seu objetivo, vale ressaltar. Mas é com esta força que o pecado, também, escraviza o homem. No entanto, liberdade nos é oferecida por Cristo (Jo. 8. 36). Porém, não podemos entender “liberdade” nos moldes secular, ou seja, “de fazer o que quer, no momento que quiser”; até porque este conceito secular vai de encontro aos valores e regras (leis) sociais vigentes. Esta nova liberdade que nos é oferecida por Cristo teve a intenção de nos libertar do poder da escravidão das trevas para nos escravizar à luz. Novamente o Apóstolo Paulo vem contribuir ao nos dizer: “E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rm. 6. 18). Enfim, houve apenas uma substituição de Senhores. Isso me faz concluir que o Ser humano é fadado à escravidão. Se não regenerado: escravo do pecado; se em processo de regeneração: escravo da justiça. Que o meu Deus, o meu Senhor Jesus Cristo seja sempre glorificado pela liberdade que me escraviza. Assim como um senhor comprava escravos para lhe servir, tenho consciência que fui comprado (redimido) por Seu sangue. Como bem disse o poeta Luiz de Camões em seu sonêto 11: “É querer estar preso por vontade...”. Eu quero sempre estar preso a esse Senhor que com muito amor me libertou... ou melhor, escravizou, por amor de Seu Nome! “Se escravo Teu eu for, verdadeiramente serei livre”.