Antes, gostaria de deixar claro que a teologia em epígrafe é uma expressão que tenho pensado e utilizado nos últimos dias. Qualquer similaridade é pura coincidência – digo isto com sinceridade; sequer me dei ao trabalho de pesquisar no google se já existia… não queria perder o sentimento de protagonismo (rsrsrs...).
Numa conceituação primordial, é, dentre outras coisas, uma leitura (e
sua interpretação inerente) da própria vida, das experiências
espirituais individuais acumuladas, e da realidade que o cerca, à
luz da escrituras sagradas – e longe das interpretações das
grandes escolas teológicas existentes. É uma maneira de estar
vigilante em todo tempo, sempre atento aos acontecimentos e diálogos
do cotidiano, confrontando-os ao que a bíblia lhes diz sobre os
fatos, aceitando-os ou rejeitando-os.
É, também, uma maneira de manter-se
sensível ao próximo, sempre procurando entender suas
peculiaridades, seu histórico (se oportunidade houver!) e no que
este influenciou em seu pensamento… enfim, interpretá-lo. Esta
sensibilidade é mais do que compreendê-lo (compreensão dá uma
conotação fria, distante e impessoal), é senti-lo. A Teologia
do Cotidiano (TC) nos devolve a capacidade de sentir a dor do
próximo como a nossa própria (Mt. 22. 39).
Mais do que isso, a TC deve nos
devolver a capacidade de respeitar o próximo; respeitar suas
idiossincrasias, seus trejeitos, seus pensamentos e sentimentos, sua
leitura da vida, enfim, respeitá-lo por completo.
Destarte, é uma maneira de olhar o
mundo, interpretá-lo e senti-lo com os olhos espirituais
exclusivamente, desprezando o olhar crítico dos “pré-conceitos”,
e dos diversos pressupostos das ciências humanas e sociais.
Sei que isso pode gerar críticas por
teólogos diversos, pois isso geraria uma espécie de teologia
individualizada, frágil, fragmentada, desconstituída do crivo das
grandes escolas teológicas já estabelecidas historicamente – que
hoje nos servem como referenciais. Argumentariam, com a devida vênia,
que isso abriria caminhos para surgimentos de discrepâncias
teológicas, ou, para os adeptos de teorias da conspiração, a
falência do corpo doutrinário e, conseguintemente, das denominações
cristãs – pois não haveriam mais identificação de pessoas que
comungam dos mesmos ideais. Para aquela, reconheço, há o perigo;
porém, para esta, creio não haver o perigo pois, historicamente, a
igreja de Cristo, desde sua fundação com os 12 discípulos, fez e
faz uma leitura espiritual do cotidiano baseado em suas experiências
espirituais individuais com Cristo. Basta ver os discípulos que
romperam por completo com as tradições judaizantes, e outros que
mantiveram. Pedro, após uma experiência individualizada com Cristo,
mudou por completo com sua concepção à respeito dos gentios; e
Paulo, embora reconhecendo a importância de algumas leis cerimoniais
e tradições judaicas, baseado também em sua relação pessoal
(individual) com Cristo – daquilo que o Espírito lho falou –,
desprezou-as como significativas para fins salvíficos. Já Tiago,
segundo Corrado Augias e Mauro Pesce, manteve seu posicionamento da
necessidade da circuncisão entre os gentios, ao converterem-se ao
cristianismo.
Embora as experiências individuais
com Cristo estejam no âmago da TC, faz-se necessário deixar bem
claro que isso não significa uma substituição às sagradas
escrituras, nem mesmo uma outra forma comunicacional de Deus para o
homem – a bíblia já cumpre muito bem este papel!
–, mas uma maneira real de relacionamento do Espírito Santo com a
nossa cognição (e, de maneira mais profunda, com nosso inconsciente).
É justamente esta relação que fará
toda a diferença em nosso maneira de olhar o mundo.