quarta-feira, 25 de maio de 2016

O MEDO

Uma das características mais destacadas em nosso mundo pós-moderno, sem dúvida, é o medo. Aliás, vou mais longe: ele sempre existiu desde que o homem é homem. Cada época e em cada espaço havia seus medos peculiares (ou compartilhados). Há uma regra, e parece-me inexistir exceção: o medo persegue os homens – e, num caso mais crônico, é o homem quem persegue o medo. O simples fato de existir nos faz temer o que nos rodeia... tudo nos ameaça. Podem ser ameaças reais, concretas, mas também podem ser ameaças subjetivas e outras – ainda no campo da subjetividade – até imaginárias1.

No plano espiritual, fico a indagar se o medo age como um pedagogo espiritual ou como um agente farsante. Digo isso porque tenho assistido pessoas buscarem a Deus somente quando são acometidos por algum tipo de mal. Passam a vida sem, sequer, lembrar que Deus existe, mas quando são acometidos por alguma enfermidade, ou quando o bolso esvazia, passam a clamar a ajuda do alto. E minhas indagações são: trata-se de uma procura legítima? Deus realmente se regozija com esta procura? Não seria mais real e convincente procurá-lo quando tudo está bem?

O mesmo se aplica ao arrependimento: será que arrepender-se de um pecado somente quando este torna-se público é, de fato, arrependimento? Não seria mais um sentimento de vergonha ao de arrependimento? Se nunca fosse descoberto, haveria arrependimento? Não seria mais legítimo arrepender-se quando ninguém sabe da existência de tal ato?

A busca do alto, quando em tempos de medo, põe em xeque a tese de que o medo paralisa. Ora, se ela impulsiona a tal busca, então não paralisa. Pelo medo, procuram a ajuda de Deus, procuram conhecê-lo, sentem nojo dos seus pecados, procuram falar mais com Ele e estar mais em Sua presença, enfim, passam a adquirir certos hábitos nunca (ou pouco) antes praticados.

É certo que para os céticos a simples busca por “alguém além deste mundo” é uma inação. Ora, não é para os que possuem esta cosmovisão (com as inerentes ontologia, epistemologia e fenomenologia) que escrevo. Escrevo para os que creem; para os que sabem que a sabedoria deste mundo é loucura e fraqueza para Deus, e vice-versa (1Co. 1.25; 3.19).

Não pretendo entrar no mérito das indagações em epígrafe, até porque, no campo da Teologia do Medo, nunca, nem ninguém, chegará a alguma conclusão consensual. É como um quadro, com seus diferentes ângulos de apreciá-lo, e a pluralidade de interpretações existentes.

Não dá para dizer qual o maior medo: se da morte ou do fracasso2. Aquela, nos passa uma sensação de que não haverá mais continuidade (segundas chances); e esta, nos mostra o tamanho de nossa incapacidade perante o mundo, seus conflitos e desafios – sejam coletivos ou particulares.

Porém, o “não temas” descrito pelo Profeta Isaías (41.10, 13, 14) nos mostra que não estamos sós; nos permite ver que há esperança no fim do túnel; de que, apesar de nós, Ele se mantém fiel (2Tm. 2.13). Isso é a supressão da bondade e do amor sobre o medo! Talvez seja por isso que o Espírito Santo nos fala que, dentre a fé, a esperança e o amor, o maior de todos é o amor (1Co. 13.13) pois, se a primeira e a segunda falharem, o amor jamais falhará.

1. Pode parecer redundante, uma vez que a imaginação também pertence ao campo da subjetividade. Medos subjetivos podem ser temer o que os outros pensam de si (total incerteza); e os imagináveis, achar que todos pensam mal de si (uma certeza parcial).

2Aqui faço esse recorte porque os considero como maiores e mais agressivos dentre outros tipos de medos.