Uma
das características mais destacadas em nosso mundo pós-moderno, sem
dúvida, é o medo. Aliás, vou mais longe: ele sempre existiu desde
que o homem é homem. Cada
época e em cada espaço havia seus medos peculiares (ou
compartilhados). Há uma regra, e parece-me inexistir exceção: o
medo persegue os homens – e, num caso mais crônico, é o homem
quem persegue o medo. O simples fato de existir nos faz temer o que
nos rodeia... tudo nos ameaça. Podem ser ameaças reais, concretas,
mas também podem ser ameaças subjetivas e outras – ainda no campo
da subjetividade – até imaginárias1.
No
plano espiritual, fico a indagar se o medo age como um pedagogo
espiritual ou como um agente
farsante. Digo isso porque tenho
assistido pessoas buscarem a Deus somente quando são acometidos por
algum tipo de mal. Passam a vida sem, sequer, lembrar que Deus
existe, mas quando são acometidos por alguma enfermidade, ou quando
o bolso esvazia, passam a clamar a
ajuda do alto. E minhas indagações são: trata-se de uma procura
legítima? Deus realmente se regozija com esta procura? Não seria
mais real e convincente procurá-lo quando tudo está bem?
O
mesmo se aplica ao arrependimento: será que arrepender-se de um
pecado somente quando este torna-se público é, de fato,
arrependimento? Não seria
mais um sentimento de vergonha ao de arrependimento? Se
nunca fosse descoberto, haveria arrependimento? Não seria mais
legítimo arrepender-se quando ninguém sabe da existência de tal
ato?
A
busca do alto, quando em tempos de medo, põe em xeque a tese de que
o medo paralisa. Ora, se ela impulsiona a tal busca, então não
paralisa. Pelo medo, procuram a ajuda de Deus, procuram conhecê-lo,
sentem nojo dos seus pecados, procuram
falar mais com Ele e estar mais em Sua
presença, enfim, passam a adquirir certos hábitos nunca (ou pouco)
antes praticados.
É
certo que para os céticos a simples busca por “alguém além deste
mundo” é uma inação. Ora, não é para os que possuem esta
cosmovisão (com as inerentes ontologia, epistemologia e
fenomenologia) que escrevo. Escrevo para os que creem; para os que
sabem que a sabedoria deste mundo é loucura e
fraqueza para Deus, e
vice-versa (1Co. 1.25; 3.19).
Não
pretendo entrar no mérito das indagações em epígrafe, até
porque, no campo da Teologia do Medo,
nunca, nem ninguém, chegará a alguma conclusão consensual. É como
um quadro, com seus diferentes ângulos de apreciá-lo, e a
pluralidade de interpretações existentes.
Não
dá para dizer qual o maior medo: se da morte ou do fracasso2.
Aquela, nos passa uma sensação de que não haverá mais
continuidade (segundas
chances);
e esta, nos mostra o tamanho de nossa incapacidade perante o mundo,
seus conflitos e desafios
– sejam coletivos ou
particulares.
Porém,
o “não temas” descrito pelo Profeta Isaías (41.10, 13, 14) nos
mostra que não estamos sós; nos permite ver que há esperança no
fim do túnel; de que, apesar de nós,
Ele se mantém fiel (2Tm. 2.13). Isso é a supressão da bondade e do
amor sobre o medo! Talvez seja por isso que o Espírito Santo nos
fala que, dentre a fé, a esperança e o amor, o maior de todos é o
amor (1Co. 13.13) pois, se a primeira e a segunda falharem, o amor
jamais falhará.
1.
Pode parecer redundante, uma vez que a imaginação também pertence
ao campo da subjetividade. Medos subjetivos podem ser temer o que os
outros pensam de si (total
incerteza); e os
imagináveis, achar que todos pensam mal de si (uma certeza
parcial).
2Aqui
faço esse recorte porque os considero como maiores e mais
agressivos dentre outros tipos de medos.