segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O Medo e o Ambiente de Trabalho



Certo de como as coisas acontecem, proferiu, uma vez mais, as mesmas palavras:  
-“O medo é inimigo da inovação!”
Tal desaforo não sairia barato, pois tinha plena convicção de que a cultura coronelista, de cabresto, que estava arraigada à alma da empresa a qual era empregado, não suportava tal afronta.
Mas a sua intenção era esta mesmo: impactar! Ele precisava mostrar à alta direção da empresa, não apenas com palavras, mas sim com atitudes, que a geração atual é mais antenada aos seus direitos e deveres.

Suas palavras soaram como um sino altissonante aos ouvidos de seus superiores. Ninguém nunca lhes afrontara daquele jeito. Afinal, eles estavam acostumados a lidar com “gado” e não com Seres críticos. A demissão seria a atitude mais pedagógica aos olhos de seus chefes, afinal, serviria de exemplo aos demais – aumentando ainda mais o sentimento e comportamento bovino!
Mas será mesmo que foi a melhor atitude a ser tomada pela alta cúpula? É interessante a cultura do medo? Quem se atreve a inovar num ambiente deste?

Com isso, a empresa só fazia mais do mesmo... seu único setor voltado à criação tinha a obrigação de inovar – e não a liberdade! Sobrepeso é o que carregavam em seus ombros, cabeças, e até mesmo na região abdominal; afinal, tamanha ansiedade estava sendo dirimida com guloseimas, prejudicando assim a saúde dos colaboradores deste setor.

Enfim, um ambiente hostil.

A alta cúpula precisa entender que o mercado financeiro está voltado para a nova geração, e esta não está adestrada para prisões metodológicas, filosóficas, religiosas, processuais, enfim, nada que envolva pensar demais. Claro que para toda regra existe exceção. Porém, não é de exceção que o mercado vive; precisa estar voltado às massas, afinal, são eles os detentores do desejo consumista, e não os críticos, chatos, que não sabem viver, não gozam dos privilégios e status que os objetos vendáveis podem proporcionar.

O mercado precisa de seres carnais e não espirituais! O belo é palpável, não mais admirável; para valer à pena, faz-se necessário prová-lo de alguma maneira, pois, contemplação não figura mais como meio de destilar prazer.

De fato, ainda há a compreensão de que sejam necessárias regras para qualquer tipo de Organização, entretanto, doses cavalais eliminam o prazer de trabalhar, tornando o ambiente conservador para uma geração progressista, despreparada em se relacionar com o diferente.

Líderes empresariais, é preciso acordar! Inda é hora, caso queira sobreviver a um mundo mutável – não entro no mérito da mudança; se boa ou ruim, vossas subjetividades julgarão.


P.S.: Não concordo com as mudanças no seio religioso. Afinal, as ideias religiosas são guiadas por dogmas e, como tais, não estão abertas às mudanças sociais. Quem aceita seguir uma religião deve tornar-se um guardião de seus dogmas, e não um agente transformador. Afinal, os dogmas estão acima de qualquer interesse ou interpretação pessoal.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Escola sem partido e crítica à academia no Brasil

Tudo o que penso sobre a "Escola sem partido", e também sobre a crítica às academias de educação no Brasil foi muito bem sintetizado pelo Professor Maro nessas excelentes colocações:


https://www.youtube.com/watch?v=zCtKJxIoX2E

quarta-feira, 25 de maio de 2016

O MEDO

Uma das características mais destacadas em nosso mundo pós-moderno, sem dúvida, é o medo. Aliás, vou mais longe: ele sempre existiu desde que o homem é homem. Cada época e em cada espaço havia seus medos peculiares (ou compartilhados). Há uma regra, e parece-me inexistir exceção: o medo persegue os homens – e, num caso mais crônico, é o homem quem persegue o medo. O simples fato de existir nos faz temer o que nos rodeia... tudo nos ameaça. Podem ser ameaças reais, concretas, mas também podem ser ameaças subjetivas e outras – ainda no campo da subjetividade – até imaginárias1.

No plano espiritual, fico a indagar se o medo age como um pedagogo espiritual ou como um agente farsante. Digo isso porque tenho assistido pessoas buscarem a Deus somente quando são acometidos por algum tipo de mal. Passam a vida sem, sequer, lembrar que Deus existe, mas quando são acometidos por alguma enfermidade, ou quando o bolso esvazia, passam a clamar a ajuda do alto. E minhas indagações são: trata-se de uma procura legítima? Deus realmente se regozija com esta procura? Não seria mais real e convincente procurá-lo quando tudo está bem?

O mesmo se aplica ao arrependimento: será que arrepender-se de um pecado somente quando este torna-se público é, de fato, arrependimento? Não seria mais um sentimento de vergonha ao de arrependimento? Se nunca fosse descoberto, haveria arrependimento? Não seria mais legítimo arrepender-se quando ninguém sabe da existência de tal ato?

A busca do alto, quando em tempos de medo, põe em xeque a tese de que o medo paralisa. Ora, se ela impulsiona a tal busca, então não paralisa. Pelo medo, procuram a ajuda de Deus, procuram conhecê-lo, sentem nojo dos seus pecados, procuram falar mais com Ele e estar mais em Sua presença, enfim, passam a adquirir certos hábitos nunca (ou pouco) antes praticados.

É certo que para os céticos a simples busca por “alguém além deste mundo” é uma inação. Ora, não é para os que possuem esta cosmovisão (com as inerentes ontologia, epistemologia e fenomenologia) que escrevo. Escrevo para os que creem; para os que sabem que a sabedoria deste mundo é loucura e fraqueza para Deus, e vice-versa (1Co. 1.25; 3.19).

Não pretendo entrar no mérito das indagações em epígrafe, até porque, no campo da Teologia do Medo, nunca, nem ninguém, chegará a alguma conclusão consensual. É como um quadro, com seus diferentes ângulos de apreciá-lo, e a pluralidade de interpretações existentes.

Não dá para dizer qual o maior medo: se da morte ou do fracasso2. Aquela, nos passa uma sensação de que não haverá mais continuidade (segundas chances); e esta, nos mostra o tamanho de nossa incapacidade perante o mundo, seus conflitos e desafios – sejam coletivos ou particulares.

Porém, o “não temas” descrito pelo Profeta Isaías (41.10, 13, 14) nos mostra que não estamos sós; nos permite ver que há esperança no fim do túnel; de que, apesar de nós, Ele se mantém fiel (2Tm. 2.13). Isso é a supressão da bondade e do amor sobre o medo! Talvez seja por isso que o Espírito Santo nos fala que, dentre a fé, a esperança e o amor, o maior de todos é o amor (1Co. 13.13) pois, se a primeira e a segunda falharem, o amor jamais falhará.

1. Pode parecer redundante, uma vez que a imaginação também pertence ao campo da subjetividade. Medos subjetivos podem ser temer o que os outros pensam de si (total incerteza); e os imagináveis, achar que todos pensam mal de si (uma certeza parcial).

2Aqui faço esse recorte porque os considero como maiores e mais agressivos dentre outros tipos de medos.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

O POVO DE DEUS E A PROSTITUIÇÃO (Capítulo 5 de Oseias)

     Quando lemos este capítulo, podemos perceber que a prostituição no seio do povo de Deus é algo histórico, como um câncer da alma. Foi grande a inclinação de Efraim, Israel e Judá para este tipo de pecado. Tais povos lançaram-se à prostituição e com certeza nela sentiram regozijo. Não tiveram receio algum da mão de Deus sobre suas vidas; sequer lembravam Dele quando no cometimento do pecado; e, se lembravam, pior eram suas culpas.

     Porém, é dito neste capítulo que “um espírito de prostituição está no coração deles” (v.4). Fico a pensar o quão forte e velho tem sido este espírito. Parece até que quanto mais velho, mais forte se torna. Digo isto porque ao contemplar o nível de “consumo” deste pecado, vejo-o se propagar como as pragas no Egito. Não seria hipérbole dizer que este mal está arraigado nas igrejas – quer sejam grandes ou pequenas –, em toda a parte do mundo. Tenho visto este mal crescer, e não por fraqueza do Espírito Santo, como se estivesse perdendo uma competição de quebra de braço. O mal nasce da própria inclinação natural do homem ao sexo, algo natural projetado por Deus, que foi potencializada e banalizada por este espírito, tornando-o numa espécie de deus que deve ser desejado e “adorado” através da consumação do ato.

    Este mal corroeu tanto o povo de Deus narrado em Oseias, que o próprio Senhor chegou a dizer: “Suas ações não lhes permitem voltar para o seu Deus. (…) Quando eles foram buscar o Senhor com todos os seus rebanhos e com todo o seu gado, não o encontrarão” (vs. 4 e 6). Daí podemos concluir o quão grave Deus considera tal pecado; ele é capaz de afastar o homem – vítima e adorador ao mesmo tempo de tal espírito – de Deus.

    O tempo segue o seu fluxo natural de transcorrer, e o povo de Deus (aquele que se chama pelo Seu nome) continua a adorar este deus. Nesta era tecnológica, fazem de suas casas, computadores, celulares, tablets, as novas formas “litúrgicas” de adoração. Assim como a liturgia no culto cristão recebe as modificações de sua época, a Igreja da Prostituição muda sua forma de contemplar o seu deus, utilizando todos os meios imagináveis – e quiçá inimagináveis – de fazer com que seus fiéis se prostrem diante dele.

   O mal avança e parece que o povo de Deus se torna cada vez mais refém deste mal. Poderia considerá-lo “o mal de todos os séculos!” Pior que isso, o povo de Deus é quem corre atrás do algoz. Ele (o mal) não faz a mínima força para aprisioná-lo e acorrentá-lo com grilhões ultrarresistentes.

   O sentimento de culpa é um inimigo que este povo carrega em si, desde quando foi eleito. O próprio Deus falou que Irei e voltarei ao meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, de madrugada me buscarão.” (v. 15), e é exatamente isto que tem-se visto: o Seu povo tem reconhecido sua culpa, tem se angustiado, tem buscado a Sua face diuturnamente – inclusive para ser liberto de tal mal – mas mesmo assim continua a ser escravo deste pecado. Isso os incomoda espiritualmente; sentem-se enojados perante o Redentor; procuram descanso para vossas almas; sabem que estão errados e querem mudar… mas não conseguem.

   A sensação de não conseguir libertar-se recrudesce hodiernamente com o avanço da tecnologia, onde a internet é vista como ferramenta facilitadora para a prática pecaminosa. A prostituição não é mais a prática em si que, para ser consumado, precisa da figura de um(a) parceiro(a). Como bem falou Norbert Elias em seu livro O Processo Civilizador, com o desenvolvimento da civilização, o olho passou a canalizar todos os demais órgãos de sentidos do corpo humano. Ou seja, não é mais preciso utilizar todos os sentidos para cometer um mal; o simples fato de assisti-lo já faz-se necessário para satisfazer os desejos e impulsos – e, diga-se de passagem, a prostituição materializa-se no simples olhar! Aliás, a carga moral civilizatória já é por demais coercitiva, fazendo com que os principais impulsos humanos (sexual e agressividade) sejam controlados socialmente para o bom desenvolvimento da própria sociedade.

    Talvez tenha sido esse o pecado, dentre todos, que tenha motivado o cristianismo da Idade Média a criar os mosteiros, e assim separar o pretenso monge da sua sociedade, no intuito de não contaminá-lo mais ainda, haja vista que o diálogo sobre a sexualidade neste período era mais livre e intenso – principalmente na presença de crianças – em detrimento aos períodos ulteriores1.

    No entanto, para Deus, o pecado para caracterizar-se, basta acontecer no plano da introspecção. Não é necessário externá-lo para materializar-se. Como dito anteriormente, materializa-se no simples olhar. Essa é uma carga deveras pesada – no que concerne à prostituição –, tendo em vista o bombardeio midiático do culto ao corpo que vemos, mesmo quando não queremos ver. As vestimentas, os outdoors, os anúncios dos sites de notícias, as propagandas televisivas, de revistas e em jornais impressos, etc., tudo alude ao sexo. Somos cutucados todo o dia (e o dia todo!) para cometermos tal pecado – que, nestas alturas, já se encontra no nível da iniquidade.

    Sou cristão, sei que o que direi não diminui minha fé, embora possa maculá-la na interpretação alheia – e este é o preço de expor-se! --; e por isso mesmo, por ser de dentro, tenho a liberdade e ousadia para dizer: esta luta interior (da prática da prostituição materializada na lascívia) não tem sido um jugo suave, e o fardo não tem sido leve.




1Vide O Processo Civilizador (1939) de Norbert Elias.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

O Pós-modernismo e o Abandono

1 João: 2. 19 - "Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos".

Chama-me a atenção como este verso tem se tornado real com o passar dos séculos. Quando o apóstolo João o escreveu, foi entre os anos 85 e 90, em Éfeso. Porém, à medida que se passam os séculos, temos visto essas palavras se tornarem realidades no seio do Corpo de Cristo.

Podemos contemplar este verso em duas esferas: macro e micro. Macro, considerado mais agressivo, diz respeito ao abandono de Cristo e dos seus ensinos; e micro, trata do abandono da igreja (entendida aqui como comunidade) a qual fez parte - e quiçá ajudou em sua construção -, e que foi alimentada por ela por longos anos, descartando-a de maneira vil tempos depois. É desta última esfera que quero tratar.

Quando nos remetemos à história do pensamento ocidental, temos visto o crescimento da relativização em todas as esferas de nossa vida. Fazendo um recorte histórico, observa-se o Renascimento como o período onde iniciou-se a "moda" do relativismo. Isto porque foi através dele que rompeu-se com o pensamento medieval.

 No entanto, temos visto o recrudescimento do Relativismo com o passar das épocas (passando pelo iluminismo, revolução industrial, pensamento moderno e, o atual pós-modernismo). Tal relativismo tem se tornado mais nocivo hodiernamente, pois não apenas os pensamentos têm sido relativizados, mas os sentimentos também.

 Conceitos ancoradouros e norteadores da vida tais como o amor, amizade, fidelidade e enraizamento histórico têm perdido seu valor. Tal perda tem sido acompanhada pelo aumento do individualismo, da depressão, do remorso, das inimizades, rancores etc., e muitos estudiosos da psiquê humana tem declarado acertadamente que se trata de características da Pós-modernidade.

Temos visto o relativismo adentrar nossas igrejas. Ser igreja (doutrinariamente imaculada) em tempos pós-modernos é difícil. A igreja de Cristo tem sido bombardeada pelos modismos que têm surgido e arrebanhado multidões de massas que, diga-se de passagem, nunca foram, não são, e não querem ser leitores (e estudiosos) afincos das Sagradas Escrituras. São totalmente aversos à leitura da bíblia, trocando-a pelo modismo gospel, que, ao invés de contribuir para o crescimento do Reino de Deus, têm tornado-o doente e banalizado. Surgiu para alimentar desejos reprimidos por gostos musicais diversos e, óbvio, faturar com isso - não é novidade para ninguém o interesse mercadológico por trás da indústria fonográfica gospel. Estão mais interessados em servir à  música (em si) do que ao Reino, fazendo daquela o seu deus.

O relativismo os dominam a tal ponto que, há muito, se tornaram antropocêntricos. Escolhem a igreja que melhor se adequa aos SEUS gostos e interesses: liturgia, música, quantidade de pessoas - aumentando com isso a probabilidade de se fazer novos amigos -, existência ou não de classes que atendam a todos da família etc. Enfim, não existem para servir, mas para serem servidos. Não se dispõem a contribuir para o crescimento e fortalecimento de suas comunidades, pelo contrário, querem tudo pronto, tal como um suco em caixa nas prateleiras dos supermercados, pronto para o CONSUMO. Aliás, a facilidade e a praticidade é uma das características do pós-modernismo; faz parte do processo de fragilização do homem atual a busca pelo mais fácil. Da mesma forma que procuram produtos práticos para o consumo, assim fazem na escolha de uma igreja, tornando-a mais um produto para o consumo, que satisfará seus desejos e caprichos.

Repito: ser igreja (sadia) nos dias de hoje tem sido difícil. Temos visto uma parcela significativa das igrejas que se dizem evangélicas prostituirem-se doutrinária e liturgicamente. Atraem "clientes" (com o codinome de "fiéis") através das estruturas arquitetônicas, musicais, numéricas de membros e congregados, dentre outras, usando tudo que tem ao seu alcance para fazer de iscas, no intuito de pescar seres espiritualmente frágeis que não se dispõem a estudar a bíblia e assim aprenderem os perigos inerentes de tais comunidades prostituidas doutrinária e liturgicamente, que transformam seus cultos os mais parecidos possíveis com shows (e ainda dizem, dissimuladamente, ser o melhor para Deus!).

É, amados, ser igreja pequena em tempos pós-modernos não é fácil - assim como devo imaginar que não foi fácil ser um dos 300 escolhidos por Gideão!

Por fim, só permanece quem quer servir, e não ser servido; aqueles que tem consciência que a igreja deve ser cristocêntrica e não antropocêntrica; aqueles que se dispõem a mortificar o seu EU em detrimento ao Reino de Deus, limpo, imaculado e não prostituido. Nunca é tarde para repensarmos nossas escolhas!

Justiça como punição, ou prevenção?

Mateus: 1.19 - "E como José, seu esposo, era justo, e não a queria infamar, intentou deixá-la secretamente."

Me chama a atenção a concepção de justiça neste verso. Eu mesmo confesso que "justiça" seria pôr a boca no trombone e espalhar aos quatro cantos da terra o mal que me fora feito, para que todos saibam a espécie de mulher que ela fora e o mal que me causara. Seria uma espécie de punição pelo mal cometido; uma forma de não permitir que a impunidade impere.

Nosso senso de justiça baseia-se mais pela punição do que pela prevenção. Achamos justo quando um meliante recebe a sentença, mas não achamos que seja justiça dá-lo as condições necessárias - sejam elas objetivas (materias) e/ou subjetivas (psíquicas) - para uma boa vivência neste mundo. Achamos justo a aplicação da pena, mas não achamos justo conceder os meios de livrá-lo da condenação.

E foi o que José fez com Maria, concedeu-lhe uma maneira de não submetê-la à pena da infâmia e do vexame perante a sociedade. Concedeu-lhe "oportunidade", considerada por mim como a maior forma de justiça que se possa dar a alguém.

Quando falamos que nossos governantes e sociedade são injustos, assim dizemos  mentalizados na corrupção que lhes são inerentes; mas não falamos pelas oportunidades usurpadas, pelos mesmos,  dos menos favorecidos. Estes lutam em condições desiguais, são violentados pela própria sociedade, e esta ainda exige daqueles o mesmo desempenho dos abastados (que nasceram cercados de oportunidades), o que, ao meu ver, trata-se de mais uma violência velada, uma violência subjetiva dantesca! Se não atingirem os mesmos patamares de vida dos filhos da elite é porque são fracos, incompetentes e preguiçosos!

Uma luta só pode ser considerada justa quando todos estão em condições iguais de lutarem. A elite política de nossa sociedade (e não apenas esta!) é covarde à medida que não permite a igualdade de condições de luta da sociedade COMO UM TODO. É o meio que encontram de manter os seus sempre no topo da pirâmide.

Voltando ao texto bíblico, José até teria o direito (legal) de iniciar a luta pelo julgamento da sociedade, sobre a possível traição, de maneira desigual; era só narrar o fato de que Maria estava grávida mesmo antes de conhecê-la - o que não era nenhuma mentira. Porém, ele bem sabia que não teria o direito (moral) de iniciar a luta de maneira desigual. Sabia da necessidade de concedê-la a oportunidade de explicar-se à sociedade sem antes contaminá-la (a sociedade) com seu pré julgamento.

Que possamos, assim como José, conceber "justiça" como prevenção e não apenas como punição.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A DECISÃO DE DANIEL

Daniel, contudo, decidiu não se tornar impuro com a comida e com o vinho do rei, e pediu ao chefe dos oficiais permissão para se abster deles” (Daniel 1.8).



     Pessoas decididas sempre me fascinaram. Embora eu não seja tão enfático em minhas decisões – considero-me mais maleável –, pessoas decididas demonstram mais respeitabilidade e impõem mais respeito. Essa constatação adquiri através das várias experiências de pessoas fortes em suas decisões que pude conhecer. Doa o que (e a quem) doer, não estão interessados na autoimagem perante a opinião pública, na quantidade de amigos que porventura possam perder ao manter uma opinião, ou mesmo ideologia. Suas opiniões valem mais que amizades e o próprio bem-estar.

        Hodiernamente, temos visto o debate e a defesa maciça que os meios de comunicação têm feito sobre o homossexualismo. Enojo-me dos que se dizem cristãos passarem para o “lado de lá”. Estes demonstram que nunca estiveram interessados na defesa do evangelho; usam-no simplesmente como um meio de adquirir destaque ao emitirem uma opinião heterodoxa no que diz respeito ao homossexualismo, num ambiente contrário ao mesmo. Estão mais preocupados com seus egos. São os “adoradores” do próprio estômago, dito em Filipenses 3.19: “sentem orgulho do que é vergonhoso; eles só pensam nas coisas terrenas”. Pessoas assim estão mais preocupadas com a autoimagem… “dane-se o evangelho”, comunicam eles com suas atitudes.

        Quando olho para a história de Daniel, vejo alguém que tinha tudo para se dar bem na vida. Dar-se-ia bem no plano material (leia-se: econômico), intelectual (poderia muito bem viver com a vaidade intelectual sempre em alta, pois já era considerado “culto, inteligente e que dominava vários campos do conhecimento” (cf. v. 4)), e social (tinha boa aparência e, pelo fato de viver com – e para – o rei, gozava de certos privilégios).

         Porém, Daniel não enxergava nada disso. A ideologia que o habitava era maior que as benesses que estavam postas diante dele. Sua atitude afirmativa tinha uma fonte: seus princípios. Ele não fora ensinado a duvidar do que lhe ensinavam durante toda sua vida, por isso, estavam enraizados nele; eram-lhe mais valiosos que o ouro puro de Ofir.

         Percebe-se que poderia soar mais intelectualmente proveito – e vaidoso! – para Daniel confrontar os ensinamentos recebidos de seus pais e antepassados. Isso poderia demonstrar, para sua sociedade, a capacidade de crítica, de procurar antíteses e provas materiais e científicas contrárias aos ensinos, enfim, manter uma postura cética. Certamente que a sua intelectualidade seria mais acentuada e, quiçá, respeitada. Nossos tempos são tomados de tamanha vaidade bestial com o pseudônimo de “postura científica”!

     Mas não era com a autoimagem que Daniel se preocupava. Não se importava com o risco de parecer ter uma mentalidade tacanha. Seu compromisso com Deus e com os ideais era-lhe mais honroso, mesmo que não fosse compreendido por ninguém, e por isso não aceitou as iguarias do rei.

     Quando lemos a História geral, principalmente do renascimento até os nossos dias, percebemos que as iguarias (comida e vinho) do “deus deste século” (Cf. 2Co. 4.4) resumem-se numa só coisa: vaidade. Ela está por todos os lugares, inclusive, para infelicidade nossa, nas igrejas. O princípio ativo do veneno criado pelo deus deste século para cegar o entendimento dos “cristãos incrédulos” é, sem sombra de dúvidas, a vaidade. Ela impede o resplendor da luz do evangelho na sua essência! Não à toa que em João 12.24, o próprio Cristo nos diz que faz-se necessário o grão morrer para dar muitos frutos; mortificar nossas vaidades e planos pessoais que, diga-se de passagem, sempre são feitos para o nosso próprio engrandecimento!

       Mas, para estes “cristãos incrédulos”, o mais importante são seus planos e, óbvio, sua autoimagem. Os vemos defender o homossexualismo, o macroecumenismo, a não ressurreição de Cristo, a cobiça como “algo natural”, a volúpia (que se contrapõe à sabedoria ensinada em Provérbios), a libertação sexual, e não nos surpreendamos em vê-los defender coisas mais horrendas que estas, sempre travestidos de “sabedoria”. Percebam que a sabedoria mundana sempre consistiu numa só coisa: destruir a criação e os princípios divinos! Foi exatamente isto que queria fazer Nabucodonosor com Daniel e seus amigos.

        Porém, Daniel propôs em seu coração não se tornar impuro. Tal pureza o fez ter o discernimento necessário para enxergar que a “sabedoria” mundana só estava trazendo destruição moral, espiritual e material em sua sociedade; ele pôde ver o mal que a religião, os costumes e até mesmo a própria ciência babilônica estava trazendo ao seu tempo.

       Será que temos o mesmo grau de pureza de Daniel para enxergarmos a destruição que o deus deste século tem feito com os nossos dias e com a própria igreja? Será que a(s) vaidade(s) não tem reinado em nosso coração, ao ponto de contristar o Espírito Santo e de se lhe tornar inimigo (Cf. Is. 63.10)? Lembremo-nos: Quem ama a sua vida [seus planos e vaidades], perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” (Cf. Jo. 12.25, grifo meu).