sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A DECISÃO DE DANIEL

Daniel, contudo, decidiu não se tornar impuro com a comida e com o vinho do rei, e pediu ao chefe dos oficiais permissão para se abster deles” (Daniel 1.8).



     Pessoas decididas sempre me fascinaram. Embora eu não seja tão enfático em minhas decisões – considero-me mais maleável –, pessoas decididas demonstram mais respeitabilidade e impõem mais respeito. Essa constatação adquiri através das várias experiências de pessoas fortes em suas decisões que pude conhecer. Doa o que (e a quem) doer, não estão interessados na autoimagem perante a opinião pública, na quantidade de amigos que porventura possam perder ao manter uma opinião, ou mesmo ideologia. Suas opiniões valem mais que amizades e o próprio bem-estar.

        Hodiernamente, temos visto o debate e a defesa maciça que os meios de comunicação têm feito sobre o homossexualismo. Enojo-me dos que se dizem cristãos passarem para o “lado de lá”. Estes demonstram que nunca estiveram interessados na defesa do evangelho; usam-no simplesmente como um meio de adquirir destaque ao emitirem uma opinião heterodoxa no que diz respeito ao homossexualismo, num ambiente contrário ao mesmo. Estão mais preocupados com seus egos. São os “adoradores” do próprio estômago, dito em Filipenses 3.19: “sentem orgulho do que é vergonhoso; eles só pensam nas coisas terrenas”. Pessoas assim estão mais preocupadas com a autoimagem… “dane-se o evangelho”, comunicam eles com suas atitudes.

        Quando olho para a história de Daniel, vejo alguém que tinha tudo para se dar bem na vida. Dar-se-ia bem no plano material (leia-se: econômico), intelectual (poderia muito bem viver com a vaidade intelectual sempre em alta, pois já era considerado “culto, inteligente e que dominava vários campos do conhecimento” (cf. v. 4)), e social (tinha boa aparência e, pelo fato de viver com – e para – o rei, gozava de certos privilégios).

         Porém, Daniel não enxergava nada disso. A ideologia que o habitava era maior que as benesses que estavam postas diante dele. Sua atitude afirmativa tinha uma fonte: seus princípios. Ele não fora ensinado a duvidar do que lhe ensinavam durante toda sua vida, por isso, estavam enraizados nele; eram-lhe mais valiosos que o ouro puro de Ofir.

         Percebe-se que poderia soar mais intelectualmente proveito – e vaidoso! – para Daniel confrontar os ensinamentos recebidos de seus pais e antepassados. Isso poderia demonstrar, para sua sociedade, a capacidade de crítica, de procurar antíteses e provas materiais e científicas contrárias aos ensinos, enfim, manter uma postura cética. Certamente que a sua intelectualidade seria mais acentuada e, quiçá, respeitada. Nossos tempos são tomados de tamanha vaidade bestial com o pseudônimo de “postura científica”!

     Mas não era com a autoimagem que Daniel se preocupava. Não se importava com o risco de parecer ter uma mentalidade tacanha. Seu compromisso com Deus e com os ideais era-lhe mais honroso, mesmo que não fosse compreendido por ninguém, e por isso não aceitou as iguarias do rei.

     Quando lemos a História geral, principalmente do renascimento até os nossos dias, percebemos que as iguarias (comida e vinho) do “deus deste século” (Cf. 2Co. 4.4) resumem-se numa só coisa: vaidade. Ela está por todos os lugares, inclusive, para infelicidade nossa, nas igrejas. O princípio ativo do veneno criado pelo deus deste século para cegar o entendimento dos “cristãos incrédulos” é, sem sombra de dúvidas, a vaidade. Ela impede o resplendor da luz do evangelho na sua essência! Não à toa que em João 12.24, o próprio Cristo nos diz que faz-se necessário o grão morrer para dar muitos frutos; mortificar nossas vaidades e planos pessoais que, diga-se de passagem, sempre são feitos para o nosso próprio engrandecimento!

       Mas, para estes “cristãos incrédulos”, o mais importante são seus planos e, óbvio, sua autoimagem. Os vemos defender o homossexualismo, o macroecumenismo, a não ressurreição de Cristo, a cobiça como “algo natural”, a volúpia (que se contrapõe à sabedoria ensinada em Provérbios), a libertação sexual, e não nos surpreendamos em vê-los defender coisas mais horrendas que estas, sempre travestidos de “sabedoria”. Percebam que a sabedoria mundana sempre consistiu numa só coisa: destruir a criação e os princípios divinos! Foi exatamente isto que queria fazer Nabucodonosor com Daniel e seus amigos.

        Porém, Daniel propôs em seu coração não se tornar impuro. Tal pureza o fez ter o discernimento necessário para enxergar que a “sabedoria” mundana só estava trazendo destruição moral, espiritual e material em sua sociedade; ele pôde ver o mal que a religião, os costumes e até mesmo a própria ciência babilônica estava trazendo ao seu tempo.

       Será que temos o mesmo grau de pureza de Daniel para enxergarmos a destruição que o deus deste século tem feito com os nossos dias e com a própria igreja? Será que a(s) vaidade(s) não tem reinado em nosso coração, ao ponto de contristar o Espírito Santo e de se lhe tornar inimigo (Cf. Is. 63.10)? Lembremo-nos: Quem ama a sua vida [seus planos e vaidades], perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” (Cf. Jo. 12.25, grifo meu).