segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A TEOLOGIA DO COTIDIANO




Antes, gostaria de deixar claro que a teologia em epígrafe é uma expressão que tenho pensado e utilizado nos últimos dias. Qualquer similaridade é pura coincidência – digo isto com sinceridade; sequer me dei ao trabalho de pesquisar no google se já existia… não queria perder o sentimento de protagonismo (rsrsrs...).

   Numa conceituação primordial, é, dentre outras coisas, uma leitura (e sua interpretação inerente) da própria vida, das experiências espirituais individuais acumuladas, e da realidade que o cerca, à luz da escrituras sagradas – e longe das interpretações das grandes escolas teológicas existentes. É uma maneira de estar vigilante em todo tempo, sempre atento aos acontecimentos e diálogos do cotidiano, confrontando-os ao que a bíblia lhes diz sobre os fatos, aceitando-os ou rejeitando-os.

  É, também, uma maneira de manter-se sensível ao próximo, sempre procurando entender suas peculiaridades, seu histórico (se oportunidade houver!) e no que este influenciou em seu pensamento… enfim, interpretá-lo. Esta sensibilidade é mais do que compreendê-lo (compreensão dá uma conotação fria, distante e impessoal), é senti-lo. A Teologia do Cotidiano (TC) nos devolve a capacidade de sentir a dor do próximo como a nossa própria (Mt. 22. 39).

   Mais do que isso, a TC deve nos devolver a capacidade de respeitar o próximo; respeitar suas idiossincrasias, seus trejeitos, seus pensamentos e sentimentos, sua leitura da vida, enfim, respeitá-lo por completo.

  Destarte, é uma maneira de olhar o mundo, interpretá-lo e senti-lo com os olhos espirituais exclusivamente, desprezando o olhar crítico dos “pré-conceitos”, e dos diversos pressupostos das ciências humanas e sociais.

  Sei que isso pode gerar críticas por teólogos diversos, pois isso geraria uma espécie de teologia individualizada, frágil, fragmentada, desconstituída do crivo das grandes escolas teológicas já estabelecidas historicamente – que hoje nos servem como referenciais. Argumentariam, com a devida vênia, que isso abriria caminhos para surgimentos de discrepâncias teológicas, ou, para os adeptos de teorias da conspiração, a falência do corpo doutrinário e, conseguintemente, das denominações cristãs – pois não haveriam mais identificação de pessoas que comungam dos mesmos ideais. Para aquela, reconheço, há o perigo; porém, para esta, creio não haver o perigo pois, historicamente, a igreja de Cristo, desde sua fundação com os 12 discípulos, fez e faz uma leitura espiritual do cotidiano baseado em suas experiências espirituais individuais com Cristo. Basta ver os discípulos que romperam por completo com as tradições judaizantes, e outros que mantiveram. Pedro, após uma experiência individualizada com Cristo, mudou por completo com sua concepção à respeito dos gentios; e Paulo, embora reconhecendo a importância de algumas leis cerimoniais e tradições judaicas, baseado também em sua relação pessoal (individual) com Cristo – daquilo que o Espírito lho falou –, desprezou-as como significativas para fins salvíficos. Já Tiago, segundo Corrado Augias e Mauro Pesce, manteve seu posicionamento da necessidade da circuncisão entre os gentios, ao converterem-se ao cristianismo1.

   Embora as experiências individuais com Cristo estejam no âmago da TC, faz-se necessário deixar bem claro que isso não significa uma substituição às sagradas escrituras, nem mesmo uma outra forma comunicacional de Deus para o homem – a bíblia já cumpre muito bem este papel!2 –, mas uma maneira real de relacionamento do Espírito Santo com a nossa cognição (e, de maneira mais profunda, com nosso inconsciente).

   É justamente esta relação que fará toda a diferença em nosso maneira de olhar o mundo.

1 Embora este posicionamento não tenha fundamento na Carta de Tiago, mas é a interpretação dos autores citados, em seu livro Diálogo sobre Jesus – quem foi o homem que mudou o mundo? da Editora Bertrand Brasil, 2011.

2 Cf. Hebreus 1. 1,2.

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