sexta-feira, 2 de abril de 2010

Pequeno ensaio sobre a vida e a morte.


Na verdade o que falar? A verdade, e do meu jeito! Tenho medo. Vivo com medo. Ao mesmo tempo que tenho ciência de que a vida – por mais bem vivida que seja – não tem valor, não passa de vapor e vaidade, mais eu tento dá-la sentido. É um paradoxo que não consigo explicar. A nossa passagem pelo mundo deixa suas marcas, mas com efeitos voltados apenas para aqueles que nos cercam mais imediatamente - ainda assim, não para todos. Pouquíssimos são aqueles que guardam um pouco de nós dentro deles. E cabe mais um “ainda assim”: gerações vindouras não guardarão mais nada de você. É apenas uma prova fática de que a vida não tem valor, pois o que verdadeiramente tem valor não perece, sobrevive às intempéries dos anos, e continua a ter seu valor para sempre. Diante desta realidade, como viver a vida? Por que enchê-la de sentido? E o que mais me intriga: por que o medo da morte? Tento, como qualquer outro Ser humano, e no usufruo do meu direito de humano, conjeturar algo como resposta. A minha conclusão é a mais simplória e foge de qualquer prolixidade filosófica, aproximando-se até do senso comum: “desejamos aquilo que os olhos veem”. Nossa limitação humana, faz-nos apegarmos à vida, porque nos acostumamos com aquilo que vemos. Isso se explica até para aqueles que vivem – ou apenas sobrevivem – condições miseráveis em quaisquer aspectos. Nos acostumamos com a vida como ela é e, por desconhecermos a morte – ou o que nos espera no pós-morte – não queremos nos desapegar àquilo em que temos conhecimento de causa.

É bem verdade que sou frustrado nesta vida, reconheço abertamente! Mas, movido pela minha condição inerente de Ser humano, aposso-me de uma esperança sobrenatural que me impulsiona a dar a volta por cima e ver, a cada porta que se abre, uma nova chance de reescrever minha história, mesmo acreditando que a vida per si não tem valor.
Então, por que dar sentido a algo que não tem valor? Não existe nisso uma contradição? Sim, é bem verdade, é aí que entra a Sociologia tentando, assim como a Filosofia, dar explicações a algo sem valor. O processo de sociabilidade humana elege alguns comportamentos e situações (status) que introjetam no homem a falsa ideia de ser algo valorativo. Tais status e comportamentos variam de acordo com a época e o meio sócio-cultural do indivíduo. Para cada campo social há seu habitus específico e os poderes simbólicos – conforme conceituações de Pierre Bourdieu – que nos iludem e nos fazem depreender energias em busca de uma aparência e aceitação social efêmeras. Às vezes a fugacidade é tão grande que desaparece antes mesmo da morte.
Quando nos deparamos com a realidade absoluta de que vamos morrer, torna-mo-nos tristes, e esvaia-se nossas energias em busca do crescimento e da aceitação social. Mas a vida tem seus subterfúgios, destacando-se como principal delas a inconstância dos pensamentos em relação a morte. Não pensar a toda hora e a todo momento que um dia teremos de enfrentá-la, traz-nos um efeito anestesiante e, como efeitos colaterais desta anestesia, tendemos ao lazer, ao bem-estar, enfim, a toda sorte de prazeres que a vida, dentro de seu dinamismo, nos oferece. Destarte, isso não passa de um efeito anestésico, e, como tal, tem seu fim; cedo ou tarde. Não a toa que o rei Salomão – considerado o mais sábio de sua época – declarou com muita propriedade um de seus provérbios: “É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia vamos morrer. E os vivos nunca devem se esquecer disso”. O simples fato de não nos esquecermos disso, já nos acorda do sono profundo provocado pela anestesia. Creio, com toda convicção de minha alma que, se tivéssemos a certeza da morte constante em nossas mentes, acabaríamos por agir mais sabiamente no nosso viver e proceder. E isso vale a mim. O quão louco e idiota eu fui na vida! Quantas decisões erradas! Quantos caminhos tortuosos eu construí! Lembrar-me deles, causa-me arrepios.

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