sábado, 6 de novembro de 2010

O Mundo Anda Doente.


Sei que todos já estão cansados de ouvir isso. Mas é uma realidade que deve ser dita todos os dias, para ver se, ao menos, como fruto da insistência, as pessoas acordam e vejam no que está se transformando o mundo em que elas não apenas vivem, mas ajudam a construir. Há quem achará alguns pontos conservadores demais, fruto de meu ascetismo religioso. Bom, não deixa de ser uma visão de mundo e, como tal, deve ser respeitada – como respeito as demais. O mundo anda doente sim! E em todos os sentidos. Tento enumerá-las:

1. A começar pelo consumismo exacerbado. Vejo que as pessoas enxergam no consumo um meio de status e de satisfação de seu ego perante os que lhes cercam mais imediatamente. A máxima tragicômica espalhada pelos correios eletrônicos à fora é uma verdade incontestável: “As pessoas possuem aquilo que não tem necessidade, para mostrar às pessoas que não gostam de que podem ter aquilo que não gostam”. Parabéns ao autor anônimo desta frase. É doentio! É loucura! Ando pela minha pequena cidade, e vejo a quantidade de carros novos – invariavelmente quase todos conseguidos de forma financiada, trocando muitas vezes o necessário pelo sonho de consumo – espalhados e apinhados em quase todos os cantos de Maceió. O sentimento de se pensar coletivamente inexiste nas mentes das pessoas. O que lhes importa mesmo é ter o seu carro novo, mesmo que não trafeguem como deveriam – ou como sonhariam. Tornam a cidade num verdadeiro caos, e transferem este caos para as suas vidas. Não é nenhuma mensagem de satanização ao carro. Ter carro é bom, útil e cômodo, desde que usado na medida certa. Olham apenas para os seus umbigos. E a tendência é que nunca acordem deste mal, mesmo que inúmeras vozes se levantem proclamando o caos que não há de vir, mas que já chegou! São “vozes que clamam no deserto”. Não adianta! Achamos que, como seres humanos, progredimos diametralmente ao progresso tecnológico e industrial; mas ao que parece, caminhamos em sentido oposto.

2. A fácil aceitação pelas coisas que vem de qualquer religião, mas o desprezo pelos elementos do cristianismo. Vejo artistas brasileiros cantarem e exaltarem divindades das religiões afro, e serem admirados por isso. Mas se algum deles cantar, em meio às suas canções, músicas que exaltem o nome de Cristo, são logo ridicularizados.

3. A valorização pelo exterior, e não pelo interior. Beleza virou mais do que meio de atração sexual – comportamento até então aceitável nos seres humanos, pois trata-se de algo imanente. Transformou-se em meio de aceitação social, status a ser perseguido e alcançado. A Moda contribui decisivamente para isso, ditando o que é belo e o que não é. Assim, quem quiser manter seu “estilo próprio” é considerado ridículo, ou quando menos gravemente, como alguém excêntrico, extemporâneo. Enfim, obrigatoriamente “temos que ser iguais”!

4. As oito horas de trabalho diários. Parece argumento de preguiçoso, mas acreditem: não é! André Gorz já me convenceu disso: onde fica o espaço para aprimorarmos nossas vocações? Nem todas as vocações são voltadas aos interesses capitalistas. Muitos, como eu, querem aprender a tocar algum instrumento, ou aprender uma arte qualquer. São coisas do interior, pertencentes ao individualismo. Onde fica o espaço de tempo diário dedicado à família? A lógica capitalista tende à segregação familiar, e nunca à sua união.

5. Insensibilidade social. Lembro-me de um programa televisivo que assisti no Nat Geo, de uma experiência em trazer membros de uma tribo que nunca estiveram em alguma cidade urbana. Hospedaram-nos numa família urbana e ali puderam trocar experiências. Numa dessas experiências, no intuito de aprenderem o dia a dia de uma família de classe média urbana, eles acompanharam o banho e tosa do animal de estimação da família. À caminho do Pet Shop, eles puderam ver homens e mulheres dormindo nas calçadas e bancos das praças. Quando todos já estavam de volta à casa, um dos membros da tribo perguntou: “Eu não consigo entender, como é que vocês cuidam tão bem de seus animais, mas deixam seus irmãos dormirem ao relento”. Meu Deus! Foi chocante em mim! Essas palavras foram dirigidas a mim! Como é que nunca pensei nisso?

6. Mal uso da política. Historicamente, o Brasil e muitos países das Américas do Sul e Central, além da África e Ásia, carregam em si uma construção deturpada dos valores políticos. É de berço. Desde a construção da res publica que o estilo patriarcal de governo transpassou do modelo familiar para o da política, no Brasil. Isso é bem demonstrado nas compras de votos e nas trocas de favores. Nestes último dias, época de campanha eleitoral, uma sobrinha de minha cunhada, ainda criança, acenou para um deputado estadual recentemente reeleito que passava em campanha. Na sua inocência como criança, esperava apenas uma retribuição de aceno, mas, ao invés disso, recebeu R$ 20,00. Revoltante! Mas o tiro saiu pela culatra pois a mãe desta criança também revoltou-se com a cena.

7. A banalização da vida. É lamentável como tirar a vida de alguém tornou-se algo tão natural! Natural não apenas para quem tira a vida, mas também para nós, que assistimos e lemos nos meios de comunicação, todos os dias, assassinatos de toda espécie. Nossa mente já calejou. Não conseguimos sentir mais nada com isso. A dor do próximo não nos diz mais nada!

8. Desesperança. Enquanto estivermos neste mundo não temos certeza de nada. Caminhamos desesperançosos, até mesmo esperando pelo pior mais à frente; isto para não enlouquecermos quando o mal nos vir de súbito. Assim vivemos sempre ansiosos, não sabendo o que nos sucederá. Às vezes estamos tão atolados à má sorte que estranhamos quando algo de bom nos bate à porta. Construímos na vida porque é o percurso esperado por todos, mas a vontade mesmo é não construir, para evitar decepções futuras. Em todas as culturas, mas, mais acentuadamente na cultura ocidental capitalista, retroagir é demérito, humilhante. Vivemos aqui como “mortos vivos”, e a nossa sorte estará sempre à mercê dos outros. Não existe estabilidade. Nosso bem-estar sempre estará à mercê de julgamentos alheios. Vivo sempre esperando pelo pior, até mesmo como forma de me fortalecer perante as intempéries da vida.

9. A supressão da liberdade. Ora, não é preciso viver preso para se concluir isto. Você já se imaginou vivendo numa sociedade onde uma simples opinião, visão de mundo, não pudesse ser simplesmente exposta? Você já se imaginou tendo sua opinião banalizada pela maioria? Já imaginou se prevalecesse apenas a vontade da maioria e você sendo obrigado a segui-la? Muitos países socialistas, tais como China, Coreia do Norte, Vietnã, Cuba, Iêmen, dentre muitos, ainda existe. Há quem diga – e com muita propriedade – que o capitalismo persegue os ideais da liberté, enquanto que o socialismo persegue apenas a égalité. Parece até que são ideais antagônicos. Mas o são por culpa nossa, pelo nosso egoísmo doentio. Um capitalismo urbano, em detrimento do selvagem, me parece mais apropriado.
E supressão da liberdade parece não apenas ser exclusividade de países socialistas. Países teocráticos, como o Irã, também são mestres na arte de suprimir. É lamentável que ainda se mate em nome de Deus!

10. A banalização do sexo. Saiu do plano natural e se encontra no plano da deturpação moral. Sexo perdeu sua finalidade de procriação e de intimidade. Tornou-se escopo a ser perseguido com toda a mente e força. É a Vulgarização da mais alta demonstração de amor entre dois seres humanos. Aliás, sexo virou a vulgarização, em si, do amor. Se não fosse pelas religiões, que se mantém numa posição de vanguarda, de defesa dos ideais simbólicos e dos bons costumes, e se dependesse das interpretações ultra-subjetivas das Ciências humanas e sociais, o amor receberia outros nomes, tamanhas as leituras e releituras que fazem de si. Ninguém consegue entrar em consenso quando se trata em defini-lo.
A sensualidade está exposta em todos os lugares e pessoas. Desejar ser sensual é mais do que conquista do sexo oposto, é um meio de aceitação social. A pornografia é um dos mercados que mais cresce no mundo. Isto não é um fenômeno de nossos dias, mas vem de muitos anos. Aqui no Brasil, só para servir de exemplo, a indústria pornográfica recebe isenção fiscal. Ou seja, é mais que uma permissão, é um incentivo à promiscuidade. Na Holanda, prostitutas são expostas em vitrines, e tenho certeza que isso servirá de exemplo a ser seguido no mundo inteiro, como demonstração de liberdade, laicidade e até mesmo como demonstração de amadurecimento social e desenvolvimento legal de uma nação. Posso dizer sem medo, que se fosse para dar nome à presente era, a chamaria de Era da Sexolatria. O termo resume tudo.

O mundo anda doente; estamos doentes. Doença da alma, da psiquê e do corpo. Somos Vítimas e algozes, ao mesmo tempo, desta construção do mundo objetivo e subjetivo. Para onde olhamos vemos o mundo sangrar. Sangramos juntos e não sentimos. “É dor que desatina sem doer”, parafraseando Camões. Não temos forças, em nós mesmos, para mudar este quadro, pois estamos por demais embebidos neste mundo, ao ponto de nos considerarmos: somos do mundo, somos o mundo! Olho para as igrejas cristãs, e enxergo alguém que poderia fazer a diferença no mundo, mas que tem estado doente igualmente. Este modelo de cristianismo business que tenho visto, nunca fará a diferença. É o espírito do capitalismo estado presente na vida das igrejas: visam o crescimento de seus templos e de sua membresia. Viver como Cristo viveu, é um preço que não estão dispostos à pagar. Tamanha omissão colabora para a chaga mundial. Só uma interferência divina direta poderá nos salvar, pois, à depender de seus eleitos, estamos perdidos! Mas não podemos exigir cuidados de alguém que também anda doente.

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