terça-feira, 7 de abril de 2015

REFLEXÕES SOBRE O ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA (Jo. 4. 1-26) - PARTE I


            O episódio se deu quando Jesus retornava da Judeia e se dirigia à Galileia. O deslocamento (forçado) de Jesus se após acompanhar os batismos que seus discípulos faziam na Judeia. A informação havia chegado de forma distorcida aos ouvidos do fariseus, onde acreditavam que ele praticava os batismos.
Para chegar à cidade da Galileia em curto espaço de tempo, era necessário passar pela Samaria (ou Samária em algumas traduções). Nesta região havia uma cidade chamada Sicar, onde havia um poço de importância histórica e simbólica – foi onde Isaque havia cavado e dado ao seu filho Jacó. Neste poço, Jesus, cansado da viagem, sentou-se para descansar e hidratar-se. Mas não apenas isso, creio que ele aguardava chegar a mulher samaritana (da qual a bíblia não cita seu nome) para travar um dos mais emblemáticos diálogos narrados no Novo Testamento.
Para entender ou relembrar a história, basta consultar o texto supracitado. Porém, é necessário lermos essa história fazendo um paralelo entre o fato narrado com a nossa história e idiossincrasias cotidianas. Creio que de uma maneira simbólica (alegórica) podemos contextualizar esse diálogo e fazer uma leitura das entrelinhas do que se passava.
v. 7“Dá-me de beber”. Uma simples expressão denota a iniciativa de Jesus em não apenas iniciar um diálogo, como também de quebrar as barreiras sociais que haviam entre judeus e samaritanos. É um Jesus revolucionário, quebrando os paradigmas sociais – mais uma vez! –, não dando importância ao mau falatório que isso poderia gerar entre os seus discípulos e para todo um povo. Era Jesus demonstrando que não estava interessado com as opiniões alheias à seu respeito. Ele sabia quem era, de onde veio e para que veio; fazia o que tinha de fazer, cumprir com as ordens do Pai, sem temor algum de sofrer retaliações morais e preconceito social.
Mas também nos ensina que, se somos nós os interessados em falar quem é Jesus, de onde veio, para que veio, e o que fez pela humanidade, então nos cabe a iniciativa de um diálogo. Não vamos aguardar que venham nos perguntar – a não ser por mera curiosidade –, pois isso é impossível para os que estão mortos em seus delitos e pecados (Ef. 2.1).
v. 9“Como sendo tu judeu, me pedes a beber a mim, mulher samaritana?”. Percebe-se duplamente introjetado na mulher as barreiras sociais. Não apenas o fato de ser “samaritana”, mas “mulher samaritana”. Bem sabemos que a cultura daquele tempo e região – assim como ainda ocorre em algumas regiões do planeta – as mulheres eram relevadas ao segundo plano; sequer eram contadas. Foi o meio em que ela viveu, viu durante toda sua vida um afastamento social entre o seu povo e os judeus, e não se tratava de um afastamento natural, mas recheada de ódio, brigas e perseguições. Não a julgamos, talvez nós tivéssemos introjetado esse mesmo tipo de sentimento. Sentimento compassivo entre estes povos existia apenas em uma única parábola (o bom samaritano) e mais em canto nenhum.
v. 10“Se tivesses conhecido o dom de Deus...”. Podemos entender este “dom” como sendo ele mesmo (Rm. 5.15), seu poder (At. 8.20), sua graça (Ef. 2.8), ou a vida eterna (Rm. 6.23) – as quatro formas interpretativas não são excludentes! Fico a imaginar o quão diferente seria a reação da mulher ao avistar Jesus, mas na condição de quem sabe sê-lo o dom de Deus. Isso nos faz pensar o quão importante é o conhecimento, e o tamanho de nossa responsabilidade de fazer Cristo conhecido entre os povos. Muitos (membros de nossas igrejas) podem ter ouvido falar de Cristo, mas conhecê-lo plenamente é outra condição completamente diferente, transforma a história de vida de quem passa a conhecê-lo.
Quem o conhece, o trata de uma maneira diferente, e aproveita de sua presença para ser abençoado (e por que não?!). Foi assim com os discípulos do caminho de Emaús, ao perceberem de quem se tratava o “nobre andarilho” que os acompanhavam, não queriam deixá-lo ir. Sua presença é agradável, dá segurança, dá paz, enfim, abençoa!
A mulher samaritana não o tratou de maneira diferente porque não o conhecia. Mas ela estava perdoada, pois não sabia o que fazia (Lc. 23.34). E muitos não o tratam com a devida honra porque da mesma maneira não o conhece. Fazer Cristo conhecido é uma maneira de honrá-lo, dignificar Sua pessoa e seu maravilhoso feito por nós!
vs. 11 e 12 – “Senhor, não tens como tirá-la [...] és, porventura, maior que o nosso pai Jacó... ?” – Pergunta clássica de quem não apenas desconhecia o Seu poder, como de quem tem suas tradições maior do que alguém ou qualquer outra coisa. É a reação típica de quem ainda não conhece a Jesus, não é de se espantar.
Também é a reação clássica de quem não conhece plenamente o poder deste maravilhoso Deus. É, também, a reação de quem confia em suas tradições, quando enxergam que elas nada podem fazer pela sua amarga situação.
- “Senhor, meu problema é grave demais, o poço é fundo! Como é que o Senhor vai tirar uma solução?”.
Quando estamos mergulhados no lamaçal dos problemas da vida, o desconhecimento de nosso Deus e a cor turva da lama (problemas) escurecem nosso campo de visão, ação e emoção. Minam nossas esperanças! O desconhecimento de Jesus Cristo (Deus!) de certa forma incapacita o poder de ação (e reação) Dele. Não se choquem com o que acabaram de ler, mas a fé – etapa posterior ao conhecimento – e a entrega da vida (consequência da fé) são condições primordiais para mudar de vida, nascer de novo! Se os doentes e aflitos que procuraram Jesus não o conhecessem, jamais teriam o procurado para sanar seus males. Mas eles não apenas conheciam, como também acreditaram que não havia poço fundo demais que ele não pudesse buscar a água de suas sedes.
v. 13“Todo o que beber desta água tornará a ter sede”. Jesus não se referia apenas à água do poço, referia-se também às tradições e história daquela mulher, bem como a todas e quaisquer benesses que o mundo possa oferecer. Sabia que todas as benesses da história que construiu as tradições e costumes de seu povo não eram suficientes para matar a sede espiritual daquela mulher.
Muitos são assim. Olham para trás e se orgulham de seus feitos. Chega um tempo em que olharão para trás e não sentirão mais tanto orgulho. Então, para manter seus orgulhos, sempre correrão atrás de novos feitos que sirvam de lenitivos para a sua alma, e isso vira uma cadeia de dependência sem fim; ou seja, sempre tornarão a ter sede!

v. 14“Aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede...”. “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Cristo” (Gl. 6.14); “tenho também como perda todas as coisas ‘pela excelência do conhecimento de Cristo’ [...] as considero como esterco...” (Fil. 3.8). Eis a diferença de quem já conheceu plenamente a Cristo!! Não há história, tradições, vitórias na vida que possam satisfazer sua sede! Somente “pela excelência do conhecimento de Cristo” é que se pode matar definitivamente a sede do homem. Quem bebe (conhece e crê) jamais terá sede! Muito mais que isso: tornar-se-á uma fonte que jorrará esta água, ou seja, passará a fazer Cristo conhecido na vida de muitos – não só através de palavras, mas, sobretudo, no comportamento –, tornando-se o pai na fé de muitas vidas.

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