“Mesmo
não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo
falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento
nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda
assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha
salvação” (Profeta
Habacuque cap. 3, vs. 17, 18).
Não
é preciso dizer que é um grande desconforto não ter suprimentos em
tempos de crise. Somado ao desconforto, recai sobre nós um
sentimento de impotência, vulnerabilidade, vergonha e decepção
consigo mesmo. Isso se intensifica quando estamos fragilizados
espiritualmente, onde, como corolário desta fragilização, as
benesses materiais se sobrepõem às espirituais.
Se
pararmos para pensar, em toda a trajetória de nossas vidas fomos
mais abençoados que amaldiçoados. Se chegamos à idade que chegamos
é porque Deus, em todo esse tempo, nos amou, alimentou, vestiu,
protegeu, abrigou, e nos deu motivos para sorrir. Porém, nos
esquecemos deste óbvio ululante quando somos assaltados por alguma
desgraça – seja ela em apenas uma ou mais esferas de nossas vidas.
Em momentos assim, tornamos o “agora” como base interpretativa de
toda
a nossa vida. É como se a
desgraça do
agora
fosse
o resumo de toda
uma
vida; num
estralar de dedos nos esquecemos de toda uma gama de bênçãos.
Foi
assim com o povo hebreu na travessia do deserto, está sendo com
alguns cristãos atuais, e sempre continuará a ser, infelizmente.
Porém,
a felicidade do profeta Habacuque nadava contra a maré emocional de
todo um povo. É natural termos nossa felicidade afetada pela
tristeza coletiva; podemos ver isso nos dramas – para não dizer
tragédia – em
Mariana-MG (nas
cidades
adjacentes e
não apenas!)
e Paris. Contudo,
sobrenatural é não se contaminar com a tristeza e a leitura da vida
que a coletividade faz da mesma, sempre
baseada nas circunstâncias.
O
termo “ainda” deixa claro que a desgraça econômica – a
atividade agropastoril era a base econômica à época da
declaração –
não se abateu na vida do profeta. Ainda
é uma condição de
possibilidade, sinônimo de “mesmo
que”.
Mesmo
que a desgraça acometesse a vida do profeta, seu espírito estava
pronto para enfrentar tais intempéries. Isto porque sua
felicidade não estava mirada nas benesses materiais, mas tão
somente naquilo que muitos crentes simplesmente
esquecem: a salvação.
A
cruz de Cristo para estes nada dizem. O sacrifício vivo na cruz do
Calvário, a eleição incondicional, o favor imerecido (graça), a
vida eterna, as misericórdias, enfim, todas estas manifestações do
amor de Deus não são as
condicionantes que os levam ao culto dominical. Vão
para agradecer as bênçãos recebidas durante a semana e para pedir
pela vindoura. É
como se dissessem na prática: “a
salvação para nada importa,
desde que Ele
me dê condições de suster minha família, e conservem todos com
saúde e paz”. Se fossem valorar as bênçãos de Deus, a salvação
seria a moeda de 1 centavo, e por dois motivos: não tem valor, e por
não mais existir (A
Casa da Moeda
não mais produz). Há
muito que desapareceu
dos corações dos
crentes – de
outrora e hodiernos
– o
verdadeiro sentido de felicidade e, de longe, a maior motivação de
culto: a
alegria da salvação.
Quanta
mediocridade! Quanta pobreza! Que cegueira terrível! Se
todos os cristãos mantivessem a alegria em meio à crise, seria como
uma luz que alumia uma cidade inteira. Um testemunho vivo de que a
verdadeira felicidade está em Cristo e não nas circunstâncias.
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