terça-feira, 7 de junho de 2011

Eis o problema do Poder.


A busca pelo poder e pela liderança é expressão do estado doentio pelo qual vive o mundo. Impor a “moral” em detrimento aos seus iguais, “não ficar por baixo” numa discussão com outros sujeitos sociais, são simples demonstrações de nossa chaga. Crescer profissionalmente, atingindo cargos mais altos no ambiente do trabalho tem sido uma constante na vida da sociedade capitalista ocidental de umas décadas para cá. Mas não um crescimento motivado pela paixão pelo o que faz, mas sim pelo poder e para o poder. Aliás, deve-se deixar bem claro, que foi a ganância pelo poder que fez Lúcifer ser expulso dos céus. O sentimento de poder e a sua busca está diametralmente oposto ao sentimento de se reconhecer no outro, como em comum, ou, mesmo que possa parecer paradoxal, de aceitar o outro como superior a si mesmo, como nos ensina o Evangelho de Jesus Cristo. O capitalismo, através de seus instrumentos práticos e ideológicos – ou práxis, como queiram – direciona-nos de forma doentia, a buscar o poder motivado tão somente pelo sentimento de superioridade, que lhe é tão imanente. É a “luciferização” da sociedade. Desde pequenos, quando ainda no desempenho dos papéis sociais de criança, filho e aluno (que vem do grego alumnus, ou seja, “lactante – aquele que está crescendo e sendo nutrido” e não de “sem luz”, como dizem os maus filósofos) somos bombardeados a buscar o conhecimento não pelo prazer (não tomem aqui como o falso prazer do hedonismo) e pela curiosidade, mas sim pelo sentimento de superioridade que isto vai lhe proporcionar num futuro próximo. Isso demole o princípio belo do conhecimento como auxiliadora da convivência humana e do desenvolvimento humano na vida em sociedade - desculpem-me pela proposital redundância.

A materialização do poder não se restringe às esferas macroestruturadas de nossa sociedade, mas perpassam – e não refletem – nos relacionamentos interpessoais. Aliás, o caminho chega mesmo a ser o inverso: a mácula na macroestrutura social é fruto direto da mácula pessoal – já que para o filósofo inglês Thomas Hobbes, à guisa de Plauto: “Homo homini lupus“ (o homem é o lobo do homem). A natureza social não apenas legitima essa prática doentia, mas a aprimora. Como ideologia, o capitalismo expõe em “pratos limpos”, para todo mundo ver, que o seu esteio é a acumulação (sobretudo a acumulação de bens) à todo custo. Repito: à todo custo! No Brasil, mais até do que outros países latino-americanos (que tiveram uma história de formação político e cultural mais ou menos parecido com a nossa), essa prática parece que se “aprimorou” (entre aspas, poque ganha conotação pejorativa) mais do que deveria. O célebre Sociólogo Sergio Buarque de Hollanda já nos alertou sobre a cordialidade brasileira. Mas não tomem o termo cordialidade como gentil, ou seja, em seu sentido nobre. Aqui ele se refere a um comportamento flexível ao ponto de atropelar a ética e a civilidade, confundindo o público com o privado, motivado pela ação emocional típica do brasileiro, em detrimento a ação racional. Apropriar-se do dinheiro público, enriquecendo ilicitamente, através de licitações de “cartas marcadas”, facilitado pelo tráfico de influência e formação de quadrilha, instalada nas três esferas de poder (executivo, legislativo e judiciário), contando também com o forte braço da mídia – que deveria ser imparcial em sua prática jornalística –, tem se tornado a maneira mais corriqueira e rápida de fazer crescer o seu patrimônio pessoal. Somos levados, muitas vezes, a fazer vista grossa, tendo em vista a manutenção de nossos empregos e consequente manutenção do triste status quo que de perto nos rodeia. O capitalismo utilizou-se da característica cordial do brasileiro para naturalizar algo que deveria ser extirpado de nosso meio. É campo fértil para a lavoura da corrupção! Estamos anestesiados (ora por pura e simples aceitação, ora pelo sentimento de impotência) diante da realidade. Vou mais além: é mais do que anestesia, é covardia! Achamo-nos sábios em não nos metermos em coisas maiores que nós, e principalmente quando não nos atingem direta e exclusivamente. Desculpa esfarrapada! Somos todos parte de um todo! “Um passo a frente e não estamos mais no mesmo lugar” já nos dizia o genial Chico Science. Sua ação diz alguma coisa, mesmo que lhe cause ônus. Aliás, perder algo, mesmo que a própria liberdade, por não compactuar com a corrupção, é algo nobre, digno de ser aplaudido pelas almas e mentes mais dignas da história. Não me refiro apenas às grandes personalidades que estamparam seus nomes nos anais da história social, mas àqueles anônimos que viveram materialmente pobres, mas incorruptíveis, ricos de uma dignidade que o mundo jamais foi merecedor de recebê-los.

Enquanto as licitações de “cartas marcadas”, apoiadas em quadrilhas de “colarinho branco” lhes rendem poder (financeiro, político e social), nossa educação continuará sendo sempre precária, nossa saúde “andará doente” com doenças dos séculos passados que ainda matam (tais como malária, dengue, meningite e tuberculose), a segurança continuará a inexistir, miseráveis continuarão a não ter um teto digno sobre suas cabeças, e toda sorte de mazelas que passam a existir por falta de investimento público, desviado aos cofres de seres egoístas que hipocritamente chegam a abrir e manter centros de cuidados a crianças carentes, como uma forma de maquiar a podridão que está por trás de seu caráter. “Sepulcros caiados”, bem já definia esses tipos nosso Senhor Jesus Cristo.

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