terça-feira, 28 de junho de 2011

Uma Breve Análise da Realidade

Sentimento é algo enganoso e fugaz. O Ser humano, por ter como parte constituinte de seu Ser os sentimentos, não tem como tomar decisões no tocante ao seu próprio caminho com total racionalidade. Vivemos num mundo onde o capitalismo é mais do que um modo de produção, é mesmo uma ideologia. Tal ideologia nos convence que, assim como é preciso a total racionalidade para o desenvolvimento tecnológico voltado à produção em massa e, conseqüentemente, ao acúmulo financeiro exacerbado, essa mesma racionalidade deve ser aplicada ao controle de nossos sentimentos. Tal pensamento faz aumentar a chaga de nossas almas. Queremos nos tornar em algo não inanimado, porém, desalmado, sem a interferência das emoções.

Este culto ao racionalismo nos move ao ponto de sermos uma espécie de “videntes”. Como assim? Queremos viver no mundo de tal forma que não queremos ter decepções. Para que isso nunca ocorra, passamos a nos precaver de forma errônea, desconfiando de tudo e de todos – pois em nossa mente qualquer palavra a nosso respeito soa como algo maquiavélico. É uma espécie de auto-reclusão que dista da convivência sadia que alimenta e fortalece nossa personalidade – pois o contato com o diferente nos fortalece o entendimento, abre nossas mentes para o novo.

Pois bem, e por que então o sentimento é enganoso? Quando nos inflamamos de ódio de alguém, interpretamos-lhe tão somente como um sentimento ruim, que adoece a alma e faz a razão rumar por caminhos desconhecidos por ela mesma. Trata-se de uma interpretação “pigméia”, rasa, sem qualquer tipo de profundidade de raciocínio. O que mais nos faz nascer e domesticar este tipo de sentimento em é a profunda certeza de que nos sentimos inferiores ao objeto de nosso ódio. Tão profunda é essa certeza que chega mesmo a se esconder nos recôncavos de nossa alma e psique. Tal profundidade dificulta a sua descoberta em rápidos pensamentos. Muito “lixo emocional” dificulta a clareza da análise e faz com que uma enxurrada de emoções – e conseqüentes maus pensamentos – tomem conta da verdade em essência. Na verdade, não é o impedimento das emoções que nos fazem chegar a tal conclusão, mas sim, a sua substituição por outros sentimentos. Não há, na verdade, como divorciar a razão da emoção. Mesmo o tipo de racionalidade tecnológica é imbuída de sentimento. Não seria possível seu desenvolvimento se não houvesse o orgulho pelo que faz e a satisfação que isso traz. A vaidade, por assim dizer, toma conta do Ser, impulsionando-o ao “infinito”, fazendo-o se apaixonar pelo trabalho. A satisfação financeira, fruto dessa motivação (entenda: motivação = satisfação + vaidade), o impulsiona à busca pelo aprimoramento. Embora o dinheiro seja algo objetivo, sua essência é subjetiva. É como um espírito do baixo espiritismo que ganha “cara e cor” através de um deus materializado em imagem esculpida, presentes nos centros de candomblé. Há uma essência por trás dele, algo mesmo subjetivo, que foge do campo da compreensão. No mundo capitalista de hoje podemos dizer que a motivação é regada pelo dinheiro e pelo seu espírito que possui àqueles que assim se vendem ao presente sistema. Em outras palavras: quanto mais você se vende, mais motivado se sente, e mais ambientado (à vontade) se sente ao presente século. Na verdade, a humanidade, em sua grande maioria, está possuída pelo espírito do capitalismo. Tal espírito o incapacita a procurar outras saídas e, para aqueles que querem sair de sua égide, o mesmo espírito procura meios – coisa que não é difícil para ele – de prendê-lo. Escravidão seria o termo mais apropriado. Não há como sair. É a mão invisível que a nós todos controla.

A nossa felicidade, como exemplo da fugacidade de nossos sentimentos, é constantemente alimentada e retroalimentada por alguns “momentos alegres” igualmente fugazes. Na grande maioria das vezes, tais momentos só existem graças à interferência direta ou indireta do dinheiro. Interferência indireta? Como assim? Explico: até mesmo os sentimentos humanos que julgamos mais belos estão contaminados pelo espírito do capitalismo. Não conseguimos direcionar nossa paixão e o amor Eros àqueles que não se aproximam de nossa realidade financeira e/ou educacional (pois a educação, como a conhecemos, também está sob a lógica do acúmulo, que, por sua vez, é parte integrante da lógica maior do capitalismo). Agir contra essa lógica chega a ser vergonhoso. Até mesmo a beleza exterior, algo que deveria ser uma qualidade estética cultural, está com o seu conceito deturpado pela realidade capitalista. A moda, juntamente com as indústrias de cosméticos e de confecções, são instrumentos do capitalismo que ditam o belo, modificando-o ao seu bel-prazer. É desta forma que a beleza, como intermediadora primeira da paixão e do amor Eros – por estar imbuída do espírito capitalista – interfere indiretamente nos sentimentos mais belos da humanidade – principalmente a humanidade ocidental capitalista.

“Se ficar o bixo pega, se correr o bixo come” – seria o adágio popular mais apropriado para nossa realidade. O momento de mudança desta realidade já passou: o muro já ruiu! Mudança ainda é possível, no entanto, depreenderá de nós um esforço incomunal, de nadar contra a maré, sempre e sem parar!

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