sábado, 30 de junho de 2012

A "Alta" e a "Baixa" crítica

Trabalho apresentado para a obtenção de nota na disciplina "Introdução Bíblica", ministrada pela professora Lourdes Torres, do Setbal - Seminário Teológico Batista de Alagoas. Trabalho baseado nos livros Curso vida nova de teologia básica – introdução à Bíblia, de Laird Harris, e Introdução bíblica – como a bíblia chegou até nós, de Norma Geisler e William Nix. Críticas à respeito das escrituras sempre existiram. Antes mesmo de Cristo, fariseus e saduceus brigavam pela real interpretação das escrituras (Torah, Neebim e Ketubim). Com a popularização das escrituras (Antigo e Novo testamentos), houve a diversificação de interpretações e métodos de interpretação, jogados sobre as escrituras ao longo dos tempos. Com a impressão das escrituras, houve a facilitação ao acesso ao seu conteúdo, facilitando o surgimento de mais estudiosos e críticos das escrituras. Dentre estes estudiosos, destacam-se os da “Alta Crítica”, que contribuíram com uma crítica racionalista – e esvaziada de zelo – das escrituras. Suas críticas trouxeram grande incômodo à Teologia ortodoxa, pois destruíam (ou pretendiam destruir) algumas crenças asseguradas pela Tradição e pela historiografia ortodoxa. Dentre suas teorias, há o de que alguns livros da bíblia não foram escritos pelos homens mencionados nos próprios livros como seus autores. Afirmam que esses livros não foram escritos nas datas estimadas, bem como foram formados por vários documentos de diferentes datas. Começando pela ordem cronológica, o Veterotestamento foi, digamos, a primeira vítima desta corrente teológica (ou seria antiteológica?). Em 1753, o francês Jean Astruc defendeu a idéia de que o livro de Gênesis teve duas fontes diferentes. Isto porque o nome “divino” aparece como Elohim ou YHWH. Segundo essa linha, isso fez com que Moisés tivesse usado duas fontes escriturais diferentes, ou seja, livros existentes anteriormente ao surgimento do livro de Gênesis. Mais tarde, escritores racionalistas franceses e alemães ampliaram a teoria “Astrucquiana”, e disseram que o Pentateuco foi uma obra construída uma época posterior a Moises. Outro teólogo, Wellhausen, corroborou com essa teoria, ao afirmar que “nenhum dos textos do Pentateuco foi escrito por Moisés e estimou que todo o registro relativo aos sistemas sacerdotal ou às leis sacrificiais foi compilado por homens que viveram mil anos depois de Moisés” (HARRIS, 2010, p. 101). Mas sua crítica em relação ao Pentateuco não se limita apenas a negar a autoria mosaica do mesmo, mas também a acontecimentos históricos narrados em seus escritos. Como exemplo, pode-se citar a existência, ou não, do tabernáculo no deserto; afirmam que esse relato foi inventado por sacerdotes do período pós-exílico. Outra grave afirmação desta corrente teológica, foi a de que Deus não se revelou ao povo da antiguidade como o único Deus. Para eles, “os patriarcas da época de Abraão eram animistas simplórios (adoradores de pedras e árvores). Já nos tempos de Moisés teriam sido politeístas (adoradores de muitos deuses). Afirmaram também que Davi foi henoteísta (alguém que crê que toda nação tinha seu deus particular” (HARRIS, 2010, p. 101). Mas suas críticas foram além do Pentateuco. Para eles, o livro de Isaías foi escrito supostamente por três ou mais indivíduos, refutando assim a profecia da chegada de Ciro com 175 anos de antecedência. Conforme seus ensinos, isso teria sido registrados por Deutero-Isaías, que viveu durante o reinado daquele monarca. Assim, tratavam como registro da história antiga e não como profecia. Embora seus ensinos tentem refutar as verdades bíblicas, mas a maior prova da veracidade das escrituras veterotestamentárias são dadas pelo próprio Senhor Jesus, quando afirmou que o “testemunho do Antigo Testamento (AT) era mais convincente do que o de alguém que ressuscitasse dos mortos (Lc. 16.29-31)” (HARRIS, 2010, p. 102). Podemos enxergar a alta crítica como fruto do modernismo liberal surgido no Iluminismo, no século das luzes (XVIII). Destaque para a escola alemã, que, no início do séc. XX infectou vários estudantes de teologia que iam à Europa estudar. Dentro da alta crítica há a “nova crítica” que, dentre seus principais ensinos, afirmam que as tradições hebraicas foram passadas de forma oral. Ao nosso ver, há fragilidades nesse argumento: 1) Não necessariamente a tradição oral deve ser vista como uma forma fraca de passagem de ensinamentos ao longo das gerações. Em detrimento à forma escrita, pode até ser vista como mais frágil e a mercê de influências ideológicas. Mas até a própria escrita tem seus perigos, tendo em vista a diversidade de interpretações que podem existir ao longo dos séculos, de acordo com os valores culturais e ideológicos hegemônicos de uma dada região geográfica. 2) Os hebreus tinham (e ainda tem com os judeus) escribas que preocupavam-se só, e somente só, em descrever e guardar os ensinos e acontecimentos de sua época. Mas felizmente, desde 1920, que arqueólogos vêm fazendo novas descobertas que confirmam os ensinos dos teólogos cristãos ortodoxos. Quando falamos de “alta crítica”, ficamos a perguntar da existência de uma “baixa crítica”. Sim, ela existe, e Norman Geisler e William Nix fazem essa distinção: “Quando se aplica o julgamento dos estudiosos à autenticidade dos textos bíblicos, esse julgamento se chama alta crítica ou crítica histórica. O assunto desse tipo de julgamento dos especialistas diz respeito à data do texto, seu estilo literário, sua estrutura, sua historicidade e sua autoria. [...] Quando o julgamento dos estudiosos se aplica à confiabilidade do texto bíblico, ela é classificada como baixa crítica ou crítica textual. A baixa crítica se aplica à forma ou ao texto da bíblia, numa tentativa de restaurar o texto original (...) estuda a forma das palavras de um documento, e não seu valor documental” (GEISLER e NIX, 1997, pp. 155/157). O olhar da alta crítica sobre o Novo testamento (NT) também foi devastador ao ensino ortodoxo. Eles negaram a autoria de Paulo da maior parte das cartas a ele atribuídas (GEISLER e NIX, 1997). Concluíram que só poderiam ser atribuídas a Paulo as cartas de Romanos, Gálatas, 1 e 2 Coríntios). Em detrimento à alta crítica, o trabalho desenvolvido pela baixa crítica é considerado construtivo, pois fazem a análise das formas e dos textos bíblicos sempre levando em conta o zelo pelas escrituras. Seu trabalho não pode ser desaprovada pela ortodoxia simplesmente porque muitos da alta crítica também abraçaram a crítica textual. Os críticos textuais não podem ser vistos como “modernistas” – conceito aplicado aos da alta crítica. Isso seria o mesmo que “jogar o bebê junto com a água do banho”. Até porque, o escopo de análise da baixa crítica não é de ordem doutrinária, mas de ordem técnico-científica, ou seja, de metodologias de pesquisas aplicadas às críticas literárias. A crítica textual foi assim desenvolvido (em referência ao NT): 1) Período de reduplicação (até 325): Com a tentativa, por parte dos estudiosos de Alexandria, de restaurar os textos dos poetas e pensadores gregos, veio à luz a Septuaginta (a versão grega do AT entre 280 e 150 a.C.). nesse período não houve nenhuma crítica textual, tão somente a reduplicação dos manuscritos. Com o tempo, foram-se perdendo as cópias mais antigas, porém, antes de perecerem, foram providenciadas cópias que circularam pelas igrejas do séc. I. À partir do momento em que foram feitas outras várias cópias, erros foram aparecendo e se misturando com as verdades. Isso ocorreu pelo fato de muitas dessas cópias terem sido feitas sem a revisão de um escriba. A qualidade da cópia dependia da capacidade do escriba (GEISLER e NIX, 1997). Com o passar dos anos, a perseguição à igreja de Cristo foi tomando cada vez mais corpo, principalmente com o fim do período apostólico. As perseguições dos imperadores Décio e Diocleciano, por exemplo, não apenas destruíam as vidas dos cristãos, como também as escrituras. Por conta desta perseguição, e para não correr o risco dos cristãos ficarem sem livro sagrado, os cristãos faziam cópias, com a maior rapidez possível. Esse fato fazia com que, inevitavelmente, os erros aparecessem. 2) Período de padronização (325-1500): Após o fim da perseguição, com a promulgação do Édito de Milão (313), houve uma melhora significativa na qualidade dos manuscritos. Até porque foi o período em que ocorreu a conversão do imperador Constantino ao cristianismo. O próprio imperador solicitou a Eusébio de Cesareia, 50 exemplares das escrituras cristãs, e isso fez com que houvesse um novo tempo na história do NT. Com o decorrer dos séculos, já no século XII, houve a abundância quantitativa das escrituras, por começarem a ser impressos em papel (com letras cursivas). 3) Período de cristalização (1500-1648): Cristalização, ao nosso entender, foi o processo de imprensa dos manuscritos, tomando a forma de letras não cursivas, própria da manuscrita. Com o advento da imprensa, por Joahnn Gutemberg, em 1454, tornou-se mais fácil a “produção” de escritos em várias línguas simultaneamente, como por exemplo: a Poliglota complutense (1514-17), a Poliglota Antuérpia (1569-72), a Poliglota de Paris (1629-45) e a Poliglota de Londres (1657-69) (Cf. GEISLER e NIX, 1997). A primeira edição do NT a ser publicada, se deu com o humanista holandês Erasmo de Roterdã, no século XVI. Foi publicado em grego. Foi um trabalho feito às pressas, o que fez com que contivesse inúmeros erros tipográficos e mecânicos. Além disso, essa versão não se baseou nos manuscritos primitivos, mas por textos que não passaram por revisões confiáveis, o que trouxe descrédito a esta versão. Mesmo assim, a segunda edição desta obra tornou-se a base pela qual Lutero utilizou-se para a tradução para o alemão. 4) Período de crítica e de revisão (1648 até o presente): Com o fim da era da Reforma, a bíblia passou por um período de crítica e revisão, que se deu (e ainda se dá), dentre as quais destacamos dois períodos: a) Período de progresso (1831-1881) – Foi quando se deu o agrupamento dos textos, e com isso a crítica construtiva desses textos. Também foi nesse período em que primeiros se comentou a bíblia, feito por Henry Alford (1810-1871) que “deitou por terra a reverência pedantesca e indevida ao texto recebido” (GEISLER e NIX, 1997, p. 165). b) Período de purificação (1881 até o presente) – Foi um período em que houve a reação contra a “teoria genealógica” de Westcott e Hort que dividiu os textos em quatro tipos: siríacos, ocidentais, neutros e alexandrinos. Os argumentos podem ser resumidos da seguinte forma: “b1) o texto tradicional utilizada pela igreja durante 1500 anos deve ser correto por causa de sua durabilidade; b2) o texto tradicional possuía centenas de manuscritos que lhe eram favoráveis, enquanto o texto crítico só possuía uns poucos dos primitivos; e b3) o texto tradicional é melhor porque é mais antigo” (GEISLER e NIX, 1997, p. 167). BIBLIOGRAFIA HARRIS, R. Laird. Curso vida nova de teologia básica – introdução à Bíblia. São Paulo: Ed. Vida Nova, 2010. GEISLER, Norman, NIX, William. Introdução bíblica – como a bíblia chegou até nós. São Paulo: Ed. Vida, 2006.

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