sábado, 30 de junho de 2012

O Ressurgimento da língua hebraica

Trabalho apresentado para a obtenção de nota na disciplina Hebraico I, ministrada pelo professor Ivaldo, do Setbal - Seminário Teológico Batista de Alagoas. Trabalho baseado no artigo "RENASCIMENTO DO HEBRAICO: A BUSCA PELA IDENTIDADE DE UM POVO" de autoria de Thiago Humberto do Nascimento (USP). A reconstrução da língua hebraica passou por diversos fatores (sociológicos, políticos, educacionais, etc.). Na verdade, todos estes fatores caminhavam de mãos dadas numa única direção: a construção do Estado de Israel, e de sua identidade como nação e povo, com suas peculiaridades históricas e culturais – características comuns a qualquer nação existente. O judeu Eliezer Bem Yehuda (1856-1927) foi o maior dos idealizadores e defensores da língua hebraica como língua oficial dos judeus. Para ele, “o povo judeu deveria desvincular-se das línguas nacionais e empregar uma língua comum que entesourasse as memórias históricas e culturais do povo judeu, e que fosse empregada por todas as camadas do povo” (NASCIMENTO, 2005, p. 144). Embora o autor Thiago Nascimento – a quem uso como fonte para a presente pesquisa – tenha atribuído esta particularidade à característica nacionalista européia, discordo deste pensamento, haja vista que em todas as nações existentes sempre há intelectuais ortodoxos que defendem com “unhas e dentes” a manutenção da cultura e de suas manifestações frente ao avanço da globalização – que põe diversas culturas em constante choque e/ou intercâmbio. Yehuda, na verdade, pretendeu que o uso do hebraico fosse um ponto em comum entre o povo judeu, pois, em sua visão, a língua é o principal atributo de uma nação. Historicamente, o povo judeu utilizou o hebraico como língua falada até o período de exílio da Babilônia (aproximadamente 586 aC), quando passou a falar a língua as línguas nacionais em que se fixaram. Apesar do abandono da língua falada, mas mantiveram suas tradições através da tradição, cultura e religiosidade pela escrita em hebraico. Em outras palavras, mantiveram a identidade com o uso do hebraico. Esse uso ininterrupto na escrita, propiciou a integração do povo judeu – embora exilados em diversos países e mormente recebendo fortemente a cultura destes países, o que é natural. Como podemos observar, foram fatores não lingüísticos, mas sim políticos e culturais, que proporcionaram o uso do hebraico como língua que identifique um povo em detrimento dos povos e nações em que estavam inseridos. Não deixa de ser uma forma de sectarismo, que os diferenciassem das nações em que estavam exilados: “os imigrantes estavam determinados a construir para si uma nova vida, diferente daquela que levavam na Rússia, e estavam dispostos a qualquer renovação que os afastasse da assimilação na Europa e que os aproximasse de uma existência cultural judaica autônoma”. (NASCIMENTO, 2005, p. 148). Embora exilados – e isso é uma característica que observamos até hoje – os judeus sempre procuram formas de se diferenciarem das nações em que estão inseridos. Isso se observa não apenas pela manifestação religiosa – fator preponderante na sua distinção como povo – mas também através de outras manifestações culturais (como a música, dança, culinária e cumprimentos na língua hebraica). Mas do ponto de vista lingüístico, vemos que não houve um ressurgimento do hebraico de forma pura, como pretendiam os lingüistas ortodoxos (Eliezer Yeruda é um exemplo clássico). Isso se deu por alguns fatores. O primeiro deles – e o mais natural, comum a todas as nações –, é que a língua não pode nunca ser vista como um fator estático, isolada das mudanças sociais e culturais. Ao contrário, a língua se desenvolve juntamente com a sociedade, tornando-a dinâmica, assim como é dinâmica as transformações sociais. Tais transformações contribuíram para que palavras novas surgissem na gramática hebréia. O segundo fator (e não menos importante), é que o povo judeu se encontrava – como até se encontra – disperso em várias nações. O contato permanente com as culturas das nações em que estão inseridos se torna preponderante para o surgimento de novas palavras, e até mesmo na contextualização de palavras já existentes, que passam a ter um significado diferente (o termo “bicha” é um exemplo clássico para diferentes significações entre o português brasileiro e o de Portugal). O mesmo pode ocorrer com alguns termos hebraicos. Shalom, por exemplo, entre os judeus (e não judeus) brasileiros, é uma saudação em que se deseja “paz” ao outro; já entre os Israelitas (considerando a nação) passa a ter um significado mais contundente, que vai além de simplesmente “um desejo de paz”. Mas vale salientar que quando falamos em ressurgimento da língua hebraica, não significa necessariamente dizer que ela já estava extinta, morta. Como pudemos ver, o seu uso era bastante comum na forma escrita, como manutenção da identidade e de comunicação entre um povo. O termo pode significar também o impedimento de seu declínio. No caso do hebraico, trata-se de seu ressurgimento como língua falada, e não extinta. Como métodos utilizados para que se pudesse haver êxito na pretensão de ser ter o hebraico como língua falada, seu uso foi bastante utilizado no seio familiar, no círculo de amizades, e principalmente na sala de aula – local considerado, em detrimento das demais, como a mais eficaz. O completo êxito no ressurgimento da língua hebraica como língua falada, deu-se ao nascerem as primeiras crianças falantes nativas do hebraico, no seio das famílias que a falavam, sendo assim educadas nesse idioma, sem nunca terem conhecido outra língua que não o hebraico. Como já dito, o fator político também foi preponderante. O estabelecimento do Estado de Israel, em 1948, conferiu ao hebraico o status de língua oficial e ao mesmo tempo uma posição reconhecida internacionalmente. Embora já se tenha o status de língua oficial da nação israelense, mas deve-se deixar bem claro que o hebraico falado ainda mantém uma certa distância do hebraico escrito, considerado mais erudito. Essa diferenciação se deu pelo fato de que, quando o hebraico se tornou a língua de comunicação de todas as classes de pessoas (juventude, dos não instruídos, de todos os setores de atividade, escapou-se forçosamente do zelo dos escritores e dos gramáticos cautelosos, alterando assim a estrutura das línguas vivas. Chaim Rabin, vem nos dizer que, “quer estas alterações no hebraico tenham sido causadas pela ignorância de parte dos falantes, quer seja pela influência das línguas estrangeiras que falavam anteriormente, [...] ou por forças geradas dentro da própria língua, o fato é que a língua falada se distanciou da língua da literatura” (RABIN et apud NASCIMENTO, 2005, p. 150). Toco mais uma vez no ponto de que o constante contato com outros idiomas, motivado pela globalização, propicia mudanças em qualquer outra língua. Portanto, esta particularidade não cabe apenas ao hebraico, mas sim a todas as línguas, principalmente aos países que tem o seu capital cultural e econômico aberto a outras nações. Com o peso da globalização, compactuo com a idéia de que não é possível uma pureza cultural e lingüística de uma nação. BIBLIOGRAFIA NASCIMENTO, Thiago Humberto do. Renascimento do hebraico: a busca pela identidade de um povo. SOLETRAS, ano V, Nº 09. São Gonçalo: UERJ, jan./jun., 2005.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto ,expõe muitas questoes que enfluenciam na linguagem, escrita e nas pronuncias de uma língua .
    Conseguimos observar também o esforço de uma nação em manter suas origens,nos dando exemplos da necessidade de mantermos uma identidade .

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