sábado, 30 de junho de 2012

Qual é a nossa esperança?

Trabalho apresentado para a obtenção de nota na disciplina "Introdução à Teologia", ministrada pelo professor Eduardo Vasconcelos, do Setbal - Seminário Teológico Batista de Alagoas. Trabalho baseado no capítulo 7 do livro "Introdução à Teologia", dos autores Justo González e Zaida Pérez. O capítulo VII do livro do livro Introdução à Teologia Cristão, intitulado “Qual é a nossa esperança?”, dos autores Justo González e Zaída Perez, traz, ao meu ver, o assunto da Escatologia sob uma perspectiva diferente das que tem se manifestado em livros, filmes e pregações de muitos cristãos – independente da época vivenciada. Isto porque os autores não trazem a escatologia sob a ótica do “medo”, procurando atemorizar seu leitores, tamanho o temor e mistério inerente ao assunto; mas sim sob a ótica do verdadeiramente salvo, onde a volta de Cristo é motivo de regozijo e sobretudo esperança, e não de temor. A palavra escatologia é oriunda de dois termos gregos que unidas significa “a ciência dos últimos dias”. Dentro desta ciência (ou disciplina), há varias vertentes explicativas dos acontecimentos que antecederão a volta de Cristo. O “dispensacionalismo”, por exemplo, é “uma doutrina que divide as intervenções de Deus na história em uma série de 7 períodos ou ‘dispensações’” (GONZÁLEZ e PÉREZ, 2006, p. 222). São eles, à saber (conforme entendimento dos dispensacionalistas “pré-milenistas”): GRAÇA → GRANDE TRIBULAÇÃO → RETORNO DE CRISTO → O MILÊNIO (Ver Apocalipse cap. 20) → CONFRONTO ENTRE O BEM E O MAL → ARMAGEDON → JUÍZO FINAL. No século XX, o dispensacionalismo moderno apareceu na obra de John N. Darby, que sistematizou este acontecimento citado no quadro acima. Esta doutrina fundamenta-se no capítulo 20 de Apocalipse, onde repetidamente se fala em “mil anos” dos versículos 1 ao 7. Tal doutrina foi popularizada graças à Bíblia de Scoffield, publicada em 1909 (cf. Gonzáles e Pérez, 2006). Porém, como dito no primeiro parágrafo, o tema central da escatologia deve ser a esperança. Deve-se haver um entendimento destes acontecimentos, por parte de nós cristãos, para que possamos estar preparados a “... responder a todo aquele que vos pedir explicação da esperança que há em [nós]” (1Pe. 3.15). Portanto, deve-se haver uma ligação entre entendimento e esperança. São duas coisas que devem andar juntas na vida do cristão, para nos tornar aptos a explicar os acontecimentos vindouros dos últimos dias. Mas, não se poderia falar de escatologia sem também tratarmos do Reino de Deus. Isto porque há uma inclinação de grande parte daqueles que se propõem à estudar a Bíblia, de que o Reino de Deus se refere ao lugar (geográfico) celestial. Como um Reino distante (confesso que também pensava assim, antes de ter meu entendimento aberto por este capítulo). Este Reino também se aplica ao mundo terreno, pois não se refere a um lugar, mas sim a uma outra ordem (p. 230) que abrange tudo – céu, terra, corpos e espíritos. Começou com Cristo (com a sua pregação), continuou com a Igreja apostólica e continua (ou deve continuar) com a igreja contemporânea. A idéia de que o “Reino dos céus” é um outro lugar, vem dos ensinamentos gnósticos, mais especificamente da filosofia platônica. Isto porque, “Platão havia afirmado que, acima deste mundo onde tudo passa e onde as coisas nos enganam, há outro mundo de ‘ideias puras’, quer dizer, de realidades últimas que não mudam, nem passam. Quando os primeiros cristãos saíram pelo mundo Greco-romano pregando sobre uma vida eterna, essa doutrina platônica acabou sendo um forte argumento apologético em defesa da esperança cristã de uma vida eterna e de um reino de Deus. Infelizmente. Uma das conseqüências de tudo isso foi que muitos cristãos se acostumaram a pensar no Reino de Deus como uma realidade ‘lá de cima’, no ‘mais distante’, e não como uma promessa futura” (GONZÁLEZ e PÉREZ, 2006, p. 231). Isto explica o “porquê” de grande parte do cristianismo contemporâneo entender o Reino de Deus (ou Reino dos céus, usado por Mateus para não infringir o mandamento do “não tomar o nome de Deus em vão”) não simplesmente como um lugar, mas um lugar distante. Esse errôneo entendimento de que o Reino de Deus é um lugar puramente espiritual, onde somente as coisas espirituais importam, fez com que houvesse o distanciamento da igreja pelas causas materiais, tais como as políticas e econômicas, que afligem diretamente as vidas dos menos favorecidos. Este entendimento não apenas cegou os cristãos hodiernos, como também anestesiou seus espíritos para as causas sociais. Isto me faz cogitar que este entendimento errado ajudou no esfriamento de nosso amor, tornando-nos coniventes com o aumento da iniquidade (Mt. 24.12), pela nossa inércia frente às injustiças sociais que acontecem debaixo de nossos narizes. O alcance da transformação política e social deste Reino passa pelo revesso do que tem sido feito pelo reino mundano (ou dos homens). O Reino de Deus chega mesmo a ter a lógica anversa ao que se tem praticado no reino dos homens. A bíblia nos mostra que a paz existente no Reino de Deus será tamanha, que até “o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto com o cabrito...” (Is. 11.6). Ou seja, a paz mudará até o mundo natural do reino animal. No reino humano, por sua vez, o conceito de paz é tão somente ausência de guerra, e, muitas vezes, para se estabelecer paz em um território ou nação, fazem-na por meio de guerras, o que contradiz o conceito de paz em sua essência. Vale ressaltar que o conceito de Reino traz em si um significado político, pois a palavra “reino” e “cidade” são termos políticos. Vejamos: “De fato, a própria palavra ‘política’ vem da raiz polis, que quer dizer cidade. Quando lemos hoje em Apocalipse que João viu uma nova cidade, pensamos em um lugar onde há muita gente. Qualquer centro urbano recebe o nome de cidade. Mas esse não era o sentido da palavra no primeiro século. A polis, a cidade, era uma unidade política, um estado [...] Boa parte do livro de Apocalipse pode ser lido como o conflito entre duas cidades ou duas ordens políticas: o de Roma atual [...] e o da nova Jerusalém, onde Deus há de governar” (GONZÁLEZ e PÉREZ, 2006, pp. 236/237). O que deixa evidenciado a diferença política (ou de governo) entre o sistema político que oprimia o povo judeu (adotado pelos romanos) e o “deste mundo” (Mt. 13.40) – referindo-se à política romana – é que este caracterizava-se pelo abuso de poder e pelo interesse próprio (GONZÁLEZ e PÉREZ, 2006). Já aquele, não apenas preocupava-se com os rejeitados e os necessitados, como também ensinou a “grandeza de servir”. Não resta dúvida de que se este preceito fosse culturalmente aceito pela humanidade (independente de ser ocidental ou oriental) não haveria tantas diferenças sociais como vemos hoje. O estabelecimento da polis romana se dava num contexto onde era comum e mais forte o conceito de comunidade entre os judeus – principalmente entre os judeus camponeses –, onde, por exemplo, se a terra de alguém não tivesse a produtividade esperada, suficiente para o sustento de sua família, outros camponeses vizinhos o socorriam, não deixando passar por necessidade. Com o domínio romano – e a imposição da cultura do “ser servido” – os agricultores e artesãos passavam a se preocupar tão somente com o pagamento dos altos impostos cobrados. Isso resultou na diminuição, ou mesmo aniquilação, do conceito de comunidade entre os judeus (Cf. Mesters). Isso mostra que política e ideologia estão imbricadas uma a outra; e que, com o estabelecimento da primeira, há a mudança de mentalidade propulsionada pela segunda. Com o Reino de Deus não é diferente – embora devamos ter o cuidado de não confundir o evangelho com uma mera ideologia humana, pois o evangelho é o “poder de Deus” (Rm 1.16). Seus ensinamentos de amor, paz, equidade e justiça propulsionam práticas que vão estabelecer o modus operandi da comunidade que os aceitam. Assim, se o Reino for caracterizado pelo amor, a vida cristã há de ser vida de amor; se for ensinado a paz, todo o movimento de contenda deve ser redirecionado para a paz; se for vivida a justiça, o cidadão do Reino de Deus lutará contra toda injustiça “neste século” (GOZÁLEZ e PÉREZ, 2006). Mas falar em escatologia é falar também de vida eterna. De início, deve-se deixar bem claro que a doutrina da imortalidade da alma não é doutrina cristã, muito pelo contrário, em São Tiago 5.20, lemos: “Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados”. Essa doutrina ganhou ares quando o cristianismo começou a ser pregado no mundo greco-romano e, com o intuito de convencer os greco-romanos de que o ensinamento da vida após a morte não parecesse tão absurda, começaram a relacioná-la à filosofia socrástica e platônica da imortalidade da alma. Muito embora o homem tivesse sido criado por Deus originariamente para a imortalidade, com a queda no Éden, esse atributo foi retirado do homem. Destarte, aos olhos da bíblia, para se obter a vida eterna – que culmina após a ressurreição do corpo – é preciso que se creia que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus, e que por meio de seu sacrifício na cruz, todos os que receberem de Deus a fé – o dom que nos é dado por Deus (Ef. 2.8) – obterão como graça este outro dom, de forma gratuita (Rm 6.23). Porém, aqueles que não receberam este dom (ou que não quiseram receber, conforme a interpretação Arminiana) irão receber as duras palavras: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt. 25:41). O termo “fogo eterno” tem está associado ao inferno. A palavra “’inferno’ vem da mesma raiz que ‘inferior’, e simplesmente quer dizer ‘o lugar de baixo’. Isso se originou na visão que a antiguidade tinha de um universo em três pisos. A terra na qual vivemos é o piso intermediário, por cima está o céu e em baixo, os lugares ‘inferiores’, ou seja, o inferno. [...] No Novo Testamento, as palavras mais comumente empregadas para referir-se ao inferno são ‘guehenna’ e ‘hades’. A primeira deriva-se de Hinom onde os gentios sacrificavam crianças no fogo, em honra a Moloc. A sgunda refere-se ao lugar dos mortos, como o sheol em hebraico’”. (GONZÁLEZ e PÉREZ, 2006, p. 249). Embora haja a clareza das escrituras sobre os dois destinos existentes para nossas almas, mas uma corrente teológica denominada “universalismo”, apregoa que o sacrifício de Cristo valeu para toda a humanidade – indistintamente de sua fé. Origens foi um dos patrísticos que mais sustentou esta linha interpretativa. Segundo sua visão, “o fogo da condenação não é eterno, mas é antes como um fogo purificador, cujo propósito é fazer os pecadores dignos da presença de Deus. Posteriormente, todos se salvarão – e isso não inclui somente os pecadores humanos, mas até os demônios, pois, de outro modo, o poder de Deus ficaria frustrado” (GONZÁLEZ e PÉREZ, 2006, p. 250). As passagens bíblicas mais usadas para esta interpretação são: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Romanos 5:18). “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Coríntios 15:22). Para a existência do inferno, há três posições distintas: - Que a condenação eterna contradiz esse amor; - Que a salvação manifesta seu amor, enquanto que a condenação manifesta sua justiça, pois a sua justiça não pode ser burlada; - Em Deus, o amor e a justiça concordam de um modo misterioso que nossa mente não consegue compreender. Mas, independente da existência da condenação eterna, o nosso interesse em Deus deve existir motivado não pelo medo do inferno, mas sim pelo reconhecimento do seu sacrifício na cruz do Calvário, que, movido de amor, se entregou por nós, indignos pecadores. Toda nossa obra em prol do seu reino, a entrega de nossa vida deve ser impulsionada pelo amor e não pelo medo. Em suma, a frase abaixo, diz tudo: “Move-me, enfim, teu amor, de tal maneira que mesmo se não houvesse céu, eu te amaria, e ainda que não houvesse inferno, temer-te-ia” (Cristão anônimo do séc. XVI apud GONZÁLEZ e PÉREZ, 2006, p. 252). BIBLIOGRAFIA GONZÁLEZ, Justo L., PÉREZ, Zaida M.. Introdução à teologia cristã. São Paulo: Hagnos, 2006. MESTERS, Frei Carlos. Com Jesus na Contramão. São Paulo: Paulinas, 1995. http://www.bibliaonline.com.br/

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