Eu vejo poesia na cidade.
Vejo os carros que passam depressa; os ônibus cheios de pessoas com destinos, intenções, e motivações diferentes.
Vejo histórias diferentes; de crianças que logo cedo adentram os coletivos com destinos às escolas; de adolescentes que sonham e se esforçam para ganhar, talvez, não aquilo que querem, mas para evitar o mal que não querem.
Vejo as doces brincadeiras dos infantes; os rostos tensos dos adultos; a normalíssima
sensualidade da mulher brasileira; pés que correm para o sucesso; outros, que procuram meramente uma solução; a fome que obriga a pausa no caminhar.
Vejo o bom senso; a vontade de ajudar; o altruísmo nos jovens; a educação da menina
interiorana.
Vejo o típico sono daqueles que cedo madrugam; as pernas cansadas do trabalhador; a boa música que ameniza o percurso e que mescla lembranças e sentimentos.
Vejo o caminhar do hipócrita, que faz do seu caminho uma folha ao vento.
O maniqueísmo manifesto nos jingles das campanhas políticas; a traição, o pecado, o ócio, a oportunidade, a liberdade, e a libertinagem.
Vejo os microtemplos evangélicos espalhados nos subúrbios; vendedores de esperanças e de ilusões.
Vejo a indolência dos nossos políticos; o egoísmo dos nossos governantes, e a malversação expressa em cada rua malestruturada, em cada jovem ocioso, em cada pés descalços.
A cidade declama sua poesia. Não temos tempo em ouvi-la. Declama em cada lugar, em cada rosto, pés, mãos... em cada carro, moto, bicicleta, sons, silêncios...
Nossos olhos miram somente o objetivo; não sabem eles que no âmago de cada alma existe uma paisagem pronta a ser explorada, cheia de significados, que muitas vezes não se objetiviza. Os olhos do corpo não podem vê-la, interpretá-la, senti-la, tocá-la...
Sim, a cidade tem sua poesia!
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