quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Troca de E-mails

Eis o conteúdo da breve troca de e-mail's (ipsis literis) com o colega Matheus Barros.

Éder: Você jejua? Dê-me prova disto por suas obras. Se você vê um homem pobre, tenha piedade dele. Se você vê um amigo sendo honrado, não o inveje. Não deixe que somente a sua boca jejue, mas também o olho e o ouvido e o pé e as mãos e todos os membros do seu corpo. Que as mãos jejuem, sendo livres de avareza. Que os pés jejuem, cessando de correr atrás do pecado. Que os olhos jejuem, disciplinando-os a não fitarem o que é pecaminoso. Que os ouvidos jejuem, não ouvindo conversas más e fofocas. Que a boca jejue de palavras vis e de criticismo injusto. Porque, qual é o proveito se nos abstemos de aves e peixes, mas mordemos e devoramos os nossos irmãos? Possa Aquele que veio ao mundo para salvar pecadores nos fortalecer para completarmos o jejum com humildade, tendo misericórdia de nós e nos salvando. Escrito por: São João Crisóstomo (349-407), bispo de Constantinopla, foi um dos teólogos e escritores mais importantes do início da Igreja Cristã.

Matheus: Muito bom!!! Grato pela lembrança do email. Repasso também algo para meditação: Uma outra percepção errônea com respeito à natureza da Bíblia é considerar a Escritura como um mero registro de discursos e eventos reveladores, e não a revelação de Deus em si mesma. A pessoa de Cristo, suas ações e seus milagres revelavam a mente de Deus, mas é um engano pensar que a Bíblia é meramente um relato escrito deles. As próprias palavras da Bíblia constituem a revelação de Deus para nós, e não somente os eventos aos quais elas se referem. Alguns temem que uma forte devoção à Escritura implica em estimar mais o registro de um evento revelador do que o evento em si mesmo. Mas, se a Escritura possui o status de revelação divina, então tal preocupação não tem fundamento. Paulo explica que “Toda Escritura é soprada por Deus” (2 Timóteo 3:16). A própria Escritura foi soprada por Deus. Embora os eventos que a Bíblia registra possam ser reveladores, a única revelação objetiva com a qual temos contato direto é a Bíblia. Enquanto uma pessoa negar que a Escritura seja a revelação divina em si mesma, ela permanece sendo “apenas um livro”, e essa pessoa hesita em lhe dar reverência completa, como se fosse possível adorá-la excessivamente. Há supostos ministros cristãos que pressionam os crentes a olhar para “o Senhor do livro, e não para o livro do Senhor”, ou para algo com esse objetivo. Mas, visto que as palavras da Escritura foram sopradas por Deus, e aquelas são a única revelação objetiva e explícita de Deus, é impossível olhar para o Senhor sem olhar para o seu livro. Visto que as palavras da Escritura são as próprias palavras divinas, alguém está olhando para o Senhor somente até onde estiver olhando para as palavras da Bíblia. Nosso contato com Deus é através das palavras da Escritura. Deus governa sua igreja através da Bíblia; portanto, nossa atitude para com ela reflete nossa atitude para com ele. Ninguém que ama a Deus não amará as suas palavras da mesma forma. Aqueles que declaram amá-lo, devem demonstrar isso por uma obsessão zelosa para com as suas palavras: Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia inteiro... Como são doces para o meu paladar as tuas palavras! Mais que o mel para a minha boca! (Salmo 119:97,103)

Éder: Muito boa palavra meu irmão, parabéns! No entanto, gostaria de polemizar um pouco, se me permite. Quando você fala “Mas, visto que as palavras da Escritura foram sopradas por Deus, e aquelas são a única revelação objetiva e explícita de Deus...”, isso me fez lembrar 2Ts. 2.15: “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa”. Não me tenha por liberal, mas você não acha que essas palavras dão abertura a levarmos em conta não apenas as escrituras como modo de conhecer e cultuar a Deus, visto que a própria escritura dá abertura a levarmos em conta não apenas as palavras contidas nas epístolas, mas também as tradições que foram ensinadas? Um outro ponto: quando o apóstolo Paulo aconselha sobre a vida conjugal, e diz que “é melhor o homem estar só”(cf. 1Co. 7.7), no verso 12 do mesmo capítulo, o próprio Paulo aconselha e deixa bem claro que “quem fala é ele, e não o Senhor”, isso já não serveria para dizer que nem toda a escritura é inspirada? Ainda uma outra coisa: quando dizemos que a Bíblia é a Palavra de Deus, não estamos, de certa forma, limitando o vocabulário de Deus? Peço sua ajuda, como amigo e irmão, porque muitas vezes esses questionamentos me tiram o sono.

Matheus: Querido irmão, Deus em sua soberania controla todas as coisas inclusive os pensamentos e inclinações que temosao ponto de nos vivificar (eleitos) ou deixar que permaneçamos mortos em nosso pecados (réprobros), isso é verdade com respeito a todo indivíduo, incluindo os escritores bíblicos. Deus de uma tal forma ordenou, dirigiu e controlou as vidas e pensamentos de seus instrumentos escolhidos que, quando o tempo chegou, suas personalidades e os seus cenários eram perfeitamente adequados para escrever aquelas porções da Escritura que Deus tinha designado para eles: Disse-lhe o SENHOR: “Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou o torna cego? Não sou eu, o SENHOR? Agora, pois, vá; eu estarei com você, ensinando-lhe o que dizer” (Êxodo 4:11-12). Quanto a tradição oral, devemos compreender que primeiro o registro da escritura estava ainda em formação canônica, ou seja, ainda não havia sido fechados os 66 livros (Deus ainda estava escrevendo a Bíblia por intermédio dos seus instrumentos os homens) por este motivo o que os apóstolos ensinavam condiziam com aquilo que foram construindo o novo testamento, conquanto o que os rabinos ensinavam por tradição, entendo que se remetia ao que conhecemos por antigo testamento, ou seja, ao final é tudo da Bíblia que estamos falando, o que difere é a época em que foi vivida. Então, quando chegou o tempo de escrever, o Espírito de Deus supervisionou o processo para que o conteúdo da Escritura fosse além do que a inteligência natural dos escritores pudesse conceber. O produto foi a revelação verbal de Deus, e ela foi literalmente o que Ele desejava pôr por escrito. Deus não encontrou as pessoas certas para escrever a Escritura; Ele fez as pessoas certas para escrevê-la, e então, supervisionou o processo de escrita. Portanto, a inspiração da Escritura não se refere somente aos tempos em que o Espírito Santo exerceu controle especial sobre os escritores bíblicos, embora isto tenha deveras acontecido, mas a preparação começou antes da criação do mundo. Esse ponto de vista acerca da inspiração explica o suposto “elemento humano” evidente na Escritura. Os documentos bíblicos refletem vários cenários sociais, econômicos e intelectuais dos autores, suas diferentes possibilidades, e seus vocabulários e estilos literários singulares. Este fenômeno é o que se poderia esperar, dado o ponto de vista bíblico sobre a inspiração, no qual Deus exerceu controle total sobre a vida dos escritores, e não somente sobre o processo de escrita. O “elemento humano” da Escritura, portanto, não prejudica a doutrina da inspiração, mas é consistente com ela e pela mesma explicado. Quando o Apóstolo Paulo fala digo eu e não o Senhor, ele não estava ciente de que estava escrevendo a Bíblia apesar de estar assim o fazendo, isto é, mesmos as passagens que o elemento humano parece se evidenciar, em ultima analise é Deus quem está governando na escrita. Espero que possamos continuar aprendendo juntos nessa caminhada excelente chamada vida cristã. Seu irmão, Matheus.

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