Mas deixe-a existir, pois
também elimina excessos. Ela também é pedagógica. Ensina que o
mundo não gira em torno de nós e que tudo o que ocorre ao nosso
redor não acontece para nos tornar o ator central da vida. Somos
coadjuvantes na vida; até de nossa própria história, acredite.
Ensina que não somos tão importantes quanto imaginamos, que o outro
é tão importante quanto nós; que a sua vida merece o mesmo
respeito que a nossa.
Viver achando que somos
os detentores da verdade é a mesma inclinação do outro. Pontos de
vistas se entrecruzam, por vezes tentam se eliminar. A experiência
do outro diz tanto quanto a nossa. Se há aceitação, bom, nada
impede que haja o intercâmbio. Se enriquece? Não sei, mas é
interessante. Interessa porque passam a existir e contar histórias,
construídas de ações, inações, vozes, silêncios, pensamentos e
por vezes estagnação destes.
Chorar nos aproxima de
Deus. Aliás, Ele requer isso, que reconheçamos que nada somos
diante Dele e de Sua criação. Também nos ensina que pessoas mais
sublimes que nós morreram de forma tão banal. Suas boas ações
serão lembradas somente pelos seus contemporâneos e mais próximos,
e ninguém mais. Um legado temporário e espacial, que desvanece com
o tempo e no alargar do espaço.
Chorar por medo nos faz
enxergar que não somos tão fortes quanto imaginamos; que tudo pode
nos atingir; que estamos sujeitos a todo tipo de mal, mesmo aqueles
não provocados. Tememos a morte, mas a vida também. É na vida que
acontecem as perdas – de todos os tipos. O medo mostra nossa
pequenez e antagonicamente nossa significância e insignificância.
Isto porque, diante do medo, é que vem em nossa mente que somos
significantes para algumas (poucas) pessoas, e ao mesmo tempo
insignificante num contexto social mais geral.
Chorar por solidão
também é aconselhável. Uma boa dose de solidão permite-nos
conversar conosco mesmo e com Deus. São nestas conversas que muitas
coisas são postas na mesa. Nem sempre um amigo, por mais
compreensível que seja, é fundamental para descobrir coisas
enterradas há centenas de metros da nossa superfície – aquilo que
mostramos socialmente. Ninguém melhor que o Autor da vida para pôr
um espelho diante de nós, um espelho d'alma. Ele nos mostra o quão
feios nós somos, e nos diz como podemos nos tornar belos.
Chorar por exclusão é
bom. Sentir-se excluído e culpar os que nos excluem é fácil e nos
vitimiza. Não é o caminho mais correto. Óbvio que há casos e
casos, mas refletir se somos nós os responsáveis pela exclusão nos
faz sermos honestos conosco mesmo. Nos faz olhar para dentro e ver o
que em nós nos afasta. Para tanto não é preciso negociar nossos
valores, princípios, educação e história. Não podemos abrir mão
de nenhum deles em busca da cura da solidão. Não é necessário
apegar-se a qualquer um. Há um vazio imenso nas pessoas,
principalmente em nossa época pós-moderna, e torna-se perigoso por
demais ajuntar-se a estes. São vazios que chamam outros vazios, e o
buraco vai se tornando ainda maior.
Chore, mas não chore
para (e por) si. Chore diante de Deus. Pois chorar para si mesmo não
vai trazer solução alguma em nossa alma. Chorar diante do Pai faz
toda a diferença. O poder está Nele e não em nós, nunca esteve! O
Ser humano é iludido por natureza; a própria espécie se ilude. Até
o livre-arbítrio é uma ilusão. Apegamo-nos facilmente à
ideologias de todo o tipo, principalmente aquelas que nos vem de
fora, bem distante de nós. É a ilusão do novo. Não cremos naquilo
que já conhecemos. Jesus Cristo, o Filho de Deus, já disse com
muita propriedade: “Um profeta
não fica sem honra senão
na sua terra e na sua própria casa”.
O
novo tem esse poder, de descartar o que já conhecemos e apostar
todas as nossas fichas naquilo que ainda não conhecemos por inteiro,
mas que só conhecemos de ouvir falar.
Chore
diante desse Deus que
você tanto ouviu falar; toda sua infância você ouviu falar de um
Deus “criador dos céus e da terra”, mas nunca buscou Nele
a solução para seus tormentos; nunca
se relacionou com Ele. Lembre-se,
o
que vem de fora ilude, o máximo que consegue é nos fazer conhecer
“mais uma” ideologia
e/ou religião. É este Deus de perto que faz com que o choro dure
uma noite, mas que a alegria venha pela manhã (Sal. 30. 5).
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