Desenvolvi todas as formas de
manipulação da realidade através da criação mental de contextos
inexistentes. Ver a vida sob determinado ângulo não é uma
peculiaridade minha, óbvio. Todos temos.
Porém, minha perspectiva é risível,
recheada de interpretações que somente minha mente cria,
interpreta e por fim entende. É mais movida pela intuição à
realidade. A realidade se põe diante de mim, mas não consigo
absorvê-la como de direito. Ela sempre é filtrada pela minha torpe
intuição e preconceitos e acabo por devolver (responder) à
realidade algo agressivo, defeituoso e por vezes danoso. Ora culposo,
ora doloso. Não importa. Quem está ao redor sente o “mal cheiro”
das minhas atitudes..., meu mal humor, minha infidelidade, meu
pessimismo, minha inconstância, minha dramaturgia ao explicar minha
visão de mundo e de pessoas em particular.
Chamo de bom aquilo que não é, e de
ruim de igual modo. Tenho em mim todas as deturpações do mundo!
Tudo isso me afasta de verdadeiras amizades, pois não tenho nada
construtivo à oferecer. Que seja assim, pois não faço mais
vítimas, porém algozes à granel. Sou algoz de pseudo-algozes;
bonificador de exaladores de azedumes e mentirosos; crucificador de
almas impolutas; uma catapulta de bons corações.
Brinco com o sério, e torno o sério
uma catarse. A vida é uma catarse.
Tornei meu jardim num campo minado,
tomado por ervas daninhas – umas deixei crescer, outras plantei.
As flores multicoloridas já as arranquei, as belas e aromatizadas
folhas nunca as deixei desenvolver. É feio de se ver. O pior é que
se localiza em meio aos campos mais belos e perfumados da redondeza,
tornando meu opróbrio ainda maior.
Demolidor de construções alheias,
ladrão daquilo que nunca foi dos outros; pois roubo o que não lhes
pertence e chamo de meu aquilo que nunca existiu. Até o nada já
roubei; e o tudo descartei.
O vazio já enchi, e esvaziei o que um
dia me encheu. Não permito, pelas minhas atitudes, a entrada do bom
visitante; até o anfitrião já expulsei.
Minha mente vaga, igual a vaga-lume,
ora aceso, ora apagado... aceso, apagado, aceso.... De dia escurece-se,
de noite acende-se... e apaga-se.
Temo a solidão, mas chamo-a para
dançar à noite, só nós dois, uma música sem voz, instrumentos,
nem compasso. Aproveito-me de sua presença para dialogar. Sim, pois ela
tem muito a me ensinar, respondendo aos meus questionamentos.
Silencio-me e deixo-a falar. Fala sem parar. Fala tanto que me cansa
a mente e os ouvidos, e a atenção acaba se perdendo no próprio
silêncio.
Pensar me faz sentir vivo, porém
inexistente.
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