quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

MÁSCARAS


Desenvolvi todas as formas de manipulação da realidade através da criação mental de contextos inexistentes. Ver a vida sob determinado ângulo não é uma peculiaridade minha, óbvio. Todos temos.


Porém, minha perspectiva é risível, recheada de interpretações que somente minha mente cria, interpreta e por fim entende. É mais movida pela intuição à realidade. A realidade se põe diante de mim, mas não consigo absorvê-la como de direito. Ela sempre é filtrada pela minha torpe intuição e preconceitos e acabo por devolver (responder) à realidade algo agressivo, defeituoso e por vezes danoso. Ora culposo, ora doloso. Não importa. Quem está ao redor sente o “mal cheiro” das minhas atitudes..., meu mal humor, minha infidelidade, meu pessimismo, minha inconstância, minha dramaturgia ao explicar minha visão de mundo e de pessoas em particular.


Chamo de bom aquilo que não é, e de ruim de igual modo. Tenho em mim todas as deturpações do mundo! Tudo isso me afasta de verdadeiras amizades, pois não tenho nada construtivo à oferecer. Que seja assim, pois não faço mais vítimas, porém algozes à granel. Sou algoz de pseudo-algozes; bonificador de exaladores de azedumes e mentirosos; crucificador de almas impolutas; uma catapulta de bons corações.


Brinco com o sério, e torno o sério uma catarse. A vida é uma catarse.


Tornei meu jardim num campo minado, tomado por ervas daninhas – umas deixei crescer, outras plantei. As flores multicoloridas já as arranquei, as belas e aromatizadas folhas nunca as deixei desenvolver. É feio de se ver. O pior é que se localiza em meio aos campos mais belos e perfumados da redondeza, tornando meu opróbrio ainda maior.


Demolidor de construções alheias, ladrão daquilo que nunca foi dos outros; pois roubo o que não lhes pertence e chamo de meu aquilo que nunca existiu. Até o nada já roubei; e o tudo descartei.


O vazio já enchi, e esvaziei o que um dia me encheu. Não permito, pelas minhas atitudes, a entrada do bom visitante; até o anfitrião já expulsei.


Minha mente vaga, igual a vaga-lume, ora aceso, ora apagado... aceso, apagado, aceso.... De dia escurece-se, de noite acende-se... e apaga-se.


Temo a solidão, mas chamo-a para dançar à noite, só nós dois, uma música sem voz, instrumentos, nem compasso. Aproveito-me de sua presença para dialogar. Sim, pois ela tem muito a me ensinar, respondendo aos meus questionamentos. Silencio-me e deixo-a falar. Fala sem parar. Fala tanto que me cansa a mente e os ouvidos, e a atenção acaba se perdendo no próprio silêncio.


Pensar me faz sentir vivo, porém inexistente.

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