segunda-feira, 11 de abril de 2016

Justiça como punição, ou prevenção?

Mateus: 1.19 - "E como José, seu esposo, era justo, e não a queria infamar, intentou deixá-la secretamente."

Me chama a atenção a concepção de justiça neste verso. Eu mesmo confesso que "justiça" seria pôr a boca no trombone e espalhar aos quatro cantos da terra o mal que me fora feito, para que todos saibam a espécie de mulher que ela fora e o mal que me causara. Seria uma espécie de punição pelo mal cometido; uma forma de não permitir que a impunidade impere.

Nosso senso de justiça baseia-se mais pela punição do que pela prevenção. Achamos justo quando um meliante recebe a sentença, mas não achamos que seja justiça dá-lo as condições necessárias - sejam elas objetivas (materias) e/ou subjetivas (psíquicas) - para uma boa vivência neste mundo. Achamos justo a aplicação da pena, mas não achamos justo conceder os meios de livrá-lo da condenação.

E foi o que José fez com Maria, concedeu-lhe uma maneira de não submetê-la à pena da infâmia e do vexame perante a sociedade. Concedeu-lhe "oportunidade", considerada por mim como a maior forma de justiça que se possa dar a alguém.

Quando falamos que nossos governantes e sociedade são injustos, assim dizemos  mentalizados na corrupção que lhes são inerentes; mas não falamos pelas oportunidades usurpadas, pelos mesmos,  dos menos favorecidos. Estes lutam em condições desiguais, são violentados pela própria sociedade, e esta ainda exige daqueles o mesmo desempenho dos abastados (que nasceram cercados de oportunidades), o que, ao meu ver, trata-se de mais uma violência velada, uma violência subjetiva dantesca! Se não atingirem os mesmos patamares de vida dos filhos da elite é porque são fracos, incompetentes e preguiçosos!

Uma luta só pode ser considerada justa quando todos estão em condições iguais de lutarem. A elite política de nossa sociedade (e não apenas esta!) é covarde à medida que não permite a igualdade de condições de luta da sociedade COMO UM TODO. É o meio que encontram de manter os seus sempre no topo da pirâmide.

Voltando ao texto bíblico, José até teria o direito (legal) de iniciar a luta pelo julgamento da sociedade, sobre a possível traição, de maneira desigual; era só narrar o fato de que Maria estava grávida mesmo antes de conhecê-la - o que não era nenhuma mentira. Porém, ele bem sabia que não teria o direito (moral) de iniciar a luta de maneira desigual. Sabia da necessidade de concedê-la a oportunidade de explicar-se à sociedade sem antes contaminá-la (a sociedade) com seu pré julgamento.

Que possamos, assim como José, conceber "justiça" como prevenção e não apenas como punição.

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