sábado, 8 de outubro de 2011

Sobre a Ilusão.

A ilusão não apenas faz parte da vida, como é a força motriz dela. Caçamos a ilusão em todas as esquinas; tudo nos vira motivo de nos iludirmos. Construímos uma imagem lúdica de nós mesmos que nos dão força para “seguirmos em frente” na estrada da vida. A ilusão bloqueia nossa capacidade de autoavaliação; aliás, podemos até dar nomes às nossas falhas, mas a ilusão faz-nos crer que nossas qualidades as superam.
A ilusão nos faz fugir da realidade daquilo que somos, de nossas incapacidades, assim como do mundo – que mais parece um campo de batalha. Procuramos meios de fugir desta selva de pedra; a desesperança perante a vida faz-nos apegar a tudo aquilo que nos dar prazer. É um meio de fuga. Se pararmos para analisar, veremos que o mundo nos oferece a doença, mas ao mesmo tempo nos apresenta o remédio. Ou melhor, o pseudo-remédio. A indústria do entretenimento e da pornografia, assim como o consumo, são os antídotos oferecidos que amenizam a dor de viver neste mundo. As artes de um modo geral, nos faz esquecer dos mundos externo e interno. O filme, por exemplo, faz-nos entrar em outras realidades e temporariamente (enquanto durar o filme) esquecer o nosso. Num mundo consumista como o nosso, a nossa capacidade de consumir interfere diretamente em nosso estado de felicidade. Não permitir que a nossa capacidade ou incapacidade de consumo dite o nosso estado de felicidade, é ir de encontro com a ilusão.
Ao dizer que a ilusão é a força motriz da vida, dizemo-la capaz de fazer com que não reconheçamos nossa incapacidade de aprender algo ou mesmo de pertencer a um certo meio. Isso gera um conforto sobrenatural que nos faz procurar a diferença. A ilusão tem esse poder: de ludibriar-nos a fazer com que busquemos caminhos diferentes, achando que coisas diferentes nos acontecerão. Pensamos: “precisamos ser diferentes, fazer coisas diferentes, para que coisas diferentes aconteçam em nossas vidas”. É um pensamento que, embora tenha um fundo de verdade, não passa de estratégia da ilusão para nos fazer seguir em frente.
Há quem olhe a ilusão como algo maléfico, destrutivo. Mas quem poderia me dizer que seria capaz de lançar um olhar profundo de si mesmo e permanecer inerte, sem choque algum? Ao lançarmos este olhar de nós mesmos, de pronto a desilusão toma-nos conta. É para combater a desilusão que buscamos, desenfreadamente, toda forma que nos proporcione prazer, e que, por usa vez, nos façam esquecer de olhar pra nós mesmos.
O mundo tenta, através de suas nomenclaturas, pôr a depressão como categoria de doença. Mas eu diria que deprimidos são todos aqueles que um dia tiveram a ousadia de olhar para si mesmos, e de reconhecer que seus defeitos superam suas qualidades. A verdade nua e crua fez com que colidissem com a ilusão e, para estes, a ilusão não tem poder.
Uma outra estratégia da ilusão é fazer com que creiamos no nosso próprio ponto de vista. Mas como bem sabemos, a vida é muito mais aquilo que os nossos olhos podem ver. A própria História e Sociologia, lançam um olhar parcial para um determinado fato histórico-social. O olhar vai de acordo com as inquietações do pesquisador. Por isso, a incapacidade humana de saber interpretar o fato em sua completude. A visão holística não passa de uma ilusão; uma tentativa frustrada de pôr o humano no mesmo patamar de Deus, ou mesmo uma negação ou superação do Ser Divino.
Vivo no mundo desiludido, ou seja, sei o fiasco que sou. Quando olho para o meu passado, vejo alguém que tentava, a todo custo, ser alguém que realmente nuca fui. E não adianta, nesta altura da vida, culpar os meios os quais fui inserido. Sei do poder de influência do meio, mas sei que seu poder não é total. Aliás, diga-se de passagem, duas observações merecem atenção: a primeira é que a ilusão recebe o codinome de autoestima; e a segunda é que nunca deve-se confundir a ilusão com a quimera, pois a primeira é atingível, enquanto que a segunda é inatingível.
Não serei um janízaro da desilusão. Guardo-a para mim. Embora saiba que a ilusão não é imanentemente saudável, sei que o poder da desilusão deixa inerte àqueles que dela se apoderam. Por isso, não me dou ao direito de tirar de ninguém a sua ilusão; deixo-o seguir em frente. Afinal de contas, estou cônscio de que nunca poderei mudar o curso do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário