sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Direito à dúvida.


Sinto-me no direito de ter dúvida. Grande parte da humanidade acha que a dúvida pertence aos fracos de espírito, aos menos informados, aos que negligenciam a informação, dentre outros do gênero. Na verdade, estas não são os únicos condicionantes da dúvida. O contrário também procede. Quando estamos em busca do conhecimento holístico à respeito de alguma coisa - principalmente a coisa subjetiva - enveredamos num caminho muitas vezes sem retorno. Quanto mais profundo formos, mais dúvidas ocorrerão, inevitavelmente. Até porque um caminho obrigatório para a se alcançar o conhecimento "do todo" diz respeito ao método dialético. Todo aquele que for honesto na sua busca, procurará saber os argumentos contrários ao determinado ponto de vista, objeto de sua análise. Tem que ser assim! É questão de honestidade com a própria consciência. Basta dizer - como se diz, com muita propriedade, na propaganda televisionada da Fundação Roberto Marinho - que existem mais dúvidas à respostas no mundo. O Ser humano é um "ser interrogação". Aprender faz da parte do processo de crescimento, e as respostas são frutos de dúvidas.
Felizmente, ou infelizmente, que nem tudo no mundo tem respostas simples, que aquietem nossas almas. São para estas questões complexas que muitos seres introspectivos pagam o preço e tentam trazer respostas, "para o bem de todos e felicidade geral da nação" - e de si mesmos. São horas à fio mergulhados numa profundidade de análise que muitos não se arriscam, muitas vezes motivado pelo medo que acompanha a dúvida: a infelicidade. Sejamos sinceros, quando estamos na High Way com destino à Verdade, descobrimos, no decorrer do caminho, coisas que nós não gostaríamos que fosse verdade. Às vezes são informações que nos tiram no primeiro foco de análise e nos levam, quase que automaticamente, a seguir outros rumos em busca da veracidade desta outra informação adquirida. Acabamos por mudar o escopo. O mais agoniante disso tudo é que quando trilhamos este outro caminho, nos deparamos com inúmeras outras informações que nos levam à outros caminhos e, se não tivermos punhos de aço, perderemos totalmente o foco de tudo e caimos num frenesi de querer tudo saber. Calo-me quando, para se atingir as respostas do primeiro foco, temos que enveredar, obrigatoriamente, outros caminhos, mas sem se esquecer do foco principal. A Metodologia serve para pôr nossos pés no chão nestas horas. Mas nem mesmo ela é um dogma (mas vamos deixar pra lá, antes que eu perca o foco, risos...).
Eu confesso abertamente (e aqui estou me enchendo de coragem inimaginável até mesmo por mim) que estou em dúvida em relação à doutrina cristã que melhor interpreta a vontade divina. SIM, É ISTO MESMO: NÃO SOU MAIS TÃO CALVINISTA QUANTO ANTES! E não é somente porque me angustio em saber que Deus não é tão amoroso assim ao preterir muitos para o inferno. É também motivado por análises que faço da Bíblia. O que dizer de Ezequiel 18.32: "Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor Deus; convertei-vos, pois, e vivei."? Sem contar com inúmeros outros textos que põe a doutrina calvinista contra a parede (Ezequeil 18.32 serve apenas como exemplo). O que me leva à dúvida em relação à doutrina da predestinação não é apenas isso, mas são os próprios defensores de tal doutrina. Por que crer numa doutrina defendida por alguém como Calvino, que chegou a defender que os pobres estavam predestinados ao inferno (pois, em sua análise, a riqueza e o sucesso dos ricos era um sinal da preferência de Deus sobre estes)? Não seriam os apóstolos pobres? Sendo assim, estariam eles predestinados ao inferno? O que dizer do próprio Cristo, que nasceu e morreu pobre? Mas o que dizer de Lutero, que autoflagelava-se com o intuito de se obter perdão de Deus por seus pecados? Não seria o sacrifício de Cristo na cruz suficiente para a remissão dos seus pecados? O que dizer também da principal denominação cristã, no mundo, que defende tal doutrina? Nasceu com o intuito de ser a religião oficial de uma nação (Escócia)! Criação (invenção) religiosa com fins políticos, que pena! Um outro condicionante que me levou à dúvida veio através do método empírico-comparativo. Quando comparo tal denominação defensora do calvinismo com a atual na qual faço parte, vejo que aquela está embebida numa religiosidade aparente (entendam aqui o termo "religiosidade" no sentido pejorativo); enquanto esta preocupa-se demasiadamente em fazer o IDE de Jesus, sentindo, assim, mais paixão pelas almas perdidas (como deve ser).
Enfim, precisei estudar a dialética da predestinação e da principal denominação defensora, bem como suas particularidades históricas, políticas e de seus principais ícones, para entender bem o surgimento de uma doutrina dessa! Não estou dizendo com isso que não creio mais na doutrina calvinista. O bom leitor saberá interpretar as linhas acima. O que quero dizer é que ESTOU EM DÚVIDA, E NÃO TENHO O MENOR RECEIO DE COMO FICARÁ MINHA IMAGEM DEPOIS DE DIZER ISTO. Não é com minha imagem que estou preocupado, mas sim com a verdade, principalmente a verdade bíblica. Gostaria muito de pôr um ponto final nessa história, mas ainda estou nas vírgulas e interrogações.

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