quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Seriam 60 anos de idade!!


Fico à imaginar como estaríamos agora, 18 de Fevereiro. Ela completaria 60 anos de idade e, com certeza, estaríamos comemorando seu aniversário. De forma simples, sem muito luxo; aliás, simples como ela era. Simplicidade era a sua marca, em tudo que fazia não havia toque glamouroso, mas o simples feito com perfeição.
Ela foi capaz de transcender o ambiente em que nasceu e viveu, mostrando, através de sua vida, que o ambiente interfere mas não determina o futuro de alguém. Nasceu numa família pobre, filha de pais agricultores, tendo muitos irmãos(ãs), sempre levou os estudos à sério em um meio onde tinha a incumbência de cuidar de seus irmãos menores, bem como de ajudar os pais no campo. Mas isso tudo não foi empecilho para que ela desistisse ou simplesmente esfriasse seus planos. Não chegou a ter diploma de curso superior (que na época não tinha a obrigatoriedade vaidosa de hoje), mas fez o Magistério e chegou a passar em dois concursos públicos (Bandepe - foi nomeada, mas não empossada - e Secretaria de Educação do Estado de Alagoas, no qual terminou sua vida).
Como esposa de pastor sofreu e alegrou-se, ao lado do marido, as particularidades de um Ministério verdadeiro. Agia com muita sabedoria, e sabia se portar em momentos delicados, deixando para desabafar - e muitas vezes desabar - quando chegava no seu recinto. Lembro-me das vezes em que a via preparando o jantar e chorando, triste com alguma situação no trabalho, na igreja, ou até mesmo dentro da família (com suas irmãs ou filhos). Sofria calada. Compartilhava somente com meu pai seus problemas. Tinha um casamento perfeito, nunca vi (repito: NUNCA!, SEM EXAGERO) brigar ou simplesmente discutir com meu pai por coisa alguma. Sabia decifrar o cuidado de Deus em sua vida nas coisas mais simples. Como exemplo, lembro-me de uma vez, quando tinha mais ou menos oito anos de idade. Estava aprendendo a mexer na máquina de datilografar. Enquanto "reinava" na máquina, minha mãe estava preparando o almoço e chorando - não sei o que a fazia chorar naquele momento. Em frente à mesa, onde ficava a máquina de datilografar, tinha um quadro com uma imagem de um pôr-do-sol e o seguinte versículo bíblico: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus" (Salmo 46. 10a). Aquilo me chamou a atenção e datilografei, num papel "chamex", tal frase. Claro que no momento o que mais me motivava a escrever tal versículo era a novidade de mexer na máquina. Mas por alguma razão entreguei-a o texto. Ela recortou e colou em seu guarda-roupa, para sempre se lembrar do cuidado de Deus, que me usou, para trazer conforto naquele momento. Para ela, os detalhes tinham significados e não era mera coincidência; por isso mesmo que ela sempre ficava atenta aos detalhes. Até um tempo atrás eu também era assim, mas confesso que perdi esta sensibilidade.
Lembro-me, também, de seu cuidado para com as coisas de Deus e de nos criar em Seus caminhos. Quando éramos crianças detestávamos (meus irmãos e eu) acordar cedo para ir à Escola Bíblica Dominical. Ela tinha seus artifícios pra nos fazer acordar: 1º) Desligar o ventilador - como o quarto era abafado, sentíamos calor rapidinho (mas não era o suficiente para nos fazer acordar); 2º) Tirar os lençóis que nos cobriam - ficávamos mais expostos aos mosquitos (mas ainda não era o suficiente); 3º) Ligava a radiola na música "Sou Feliz" de Feliciano Amaral, bem alto (mas ainda assim ficávamos na situação intermediária entre o sono e o despertar); e 4º) Com a ponta dos dedos ela batia em nossas costelas - Ah, esse era tiro e queda, não tínhamos como resistir, levantávamos rapidinho e cheios de raiva (risos...). Mas foi assim que ela colocou dentro de nós não somente o desejo, como também o dever de valorizar a Escola Bíblica Dominical. Hoje, sabemos muito bem o quão importante foi para nós. Se Deus quiser que eu tenha filhos(as) usarei dos mesmos artifícios para fazê-los(las) ir à E.B.D. - se necessário.
Ela era muito voltada para a família, preocupava-se demasiadamente com seus pais e conosco (filhos). Tinha dentro de si algo que falta para nossa sociedade atual: a certeza que a família vem numa colocação superior ao trabalho. Muito me entristece ver mães que priorizam o trabalho em detrimento às suas famílias. Seu trabalho tinha como foco o sustento e a manutenção da família, e não o de seu ego. Quanto aos seus irmãos(ãs), com absoluta certeza, era a filha mais dedicada ao Reino de Deus e aos seus pais. Nunca foi valorizada pelas suas três irmãs; lembro-me das inúmeras vezes que a via chorar porque suas irmãs vinham a Maceió e nunca apareciam em casa, sequer para dar um "oi". Muito pelo contrário, as três uniam-se para falar mal dela. E isso a fazia sofrer muito. Nada mais torturante que o desprezo! Mas isso não era o suficiente para fazê-la desgostar de suas irmãs. Quanto aos irmãos (homens), sempre gostou de todos eles, e os mesmos sempre correspondiam ao seu amor, atenção e carinho - dentro do grau de intimidade que tinha com cada um, obviamente. Percebo que a forma de relacionamento que eles têm uns com os outros é o mesmo que os meus irmãos e eu temos: nas brincadeiras, na ajuda mútua, no gosto das lembranças pelo passado, na consideração e nas brincadeiras que se têm com as esposas uns dos outros. Não que estivéssemos preocupados em imitar, mas que acontece muito naturalmente. Até hoje guardo grande admiração deles!
Nos deixou aos cinquenta anos de idade, em 20 de Agosto de 2000. Deus honrou sua vida - e a nós como família – dando seu nome a uma Escola Estadual, inaugurada em 2001 pelo então governador Ronaldo Lessa. Escola Estadual Anaías de Lima, localizada entre os bairros do Vergel e Trapiche da Barra. Não apenas isso. Há poucos dias recebo um e-mail de meu irmão Esdras informando que a vida dela consta no livro Dicionário Mulheres de Alagoas – Ontem e Hoje, pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal), entre as mulheres que mais se destacaram no Estado de Alagoas.
Deixa-nos com muitas saudades. Mas temos convicção de que onde ela está agora é um local onde ninguém jamais pensa em retornar, por melhor que fosse sua vida na Terra!

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