quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Saber Envelhecer...


Eis o título do livro que leio nestes dias, de autoria de um dos grandes flósofos que a humanidade já produziu. Trata-se de Marco Tulio Cícero, em 106 a.C. De fato, muitos temem chegar à chamada 3ª idade; mas a mesma produz suas pérolas que somente quem as atingem têm a satisfação de usufruí-las na sua integralidade. Mas para atingi-la, não se faz uma condição sine qua non chegar à 3ª idade. Se assim o fosse, o que dizer de muitos idosos que não comportam-se sabiamente? É certo que ninguém consegue ser sábio em 100% de suas vidas; há espaço para a volúpia - tão defendida por Erasmo de Rotterdam. Mas o que realmente conta é a sabedoria sendo usada nos momentos mais preciosos, significativos, visíveis, e que traga consequências por toda uma vida. Está intimamente entrelaçada com as escolhas. Sim, ser sábio nas escolhas. Ao meu ver, faz-se necessário que cada indivíduo possa construir um conhecimento holístico sobre a vida - mesmo que isso seja impossível, reconheço, por se tratar de diversas correntes que as várias ciências sociais, humanas e religiosas tenham à respeito da mesma - através da Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicanálise (e por que não, também, a Teologia?!). É preciso que se busque conhecimentos sobre tais ciências, pois as mesmas trazem em seu escopo principal análises sobre relações humanas e sociais. Creditar sua fé em tudo que elas dizem não é um caminho confiável, não aconselho; por isso mesmo que dentro de cada uma delas há o espaço para o contraditório, visões diferentes e muitas vezes divergentes sobre o Ser Humano (que bom, só temos a ganhar com isso!).
Tal conhecimento só tem a contribuir com a sabedoria que nós construímos ao longo de nossas vidas. Procurar saber o que elas dizem à respeito das relações humanas não vai te fazer perder nada, pelo contrário, só vai enriquecer seus conhecimentos - mesmo que você opte em não crer em absolutamente nada que elas digam.
A busca pela sabedoria deve ser uma constante em nossas vidas. Aliás, esse deveria ser o objetivo principal de cada Ser que habita nosso planeta Terra. Mas não é. Fico à imaginar se todos - perdoem-me pela utopia - procurassem construir a sabedoria desde cedo. Que fonte maravilhosa seriam os velhos! Verdadeiros livros abertos, com a maravilhosa "função" de serem orientadores dos mais jovens. Mas, como disse, trata-se de uma utopia. Isso porque a volúpia dos mais jovens, materializada pelos seus desejos desenfreados, milita contra as coisas do espírito e do pensamento. Como nos disse (e continua a dizer, pois o livro imortaliza os pensamentos) com muita propriedade Cícero: "Sem desejo, não há frustração: logo, é preferível não desejar". É isto, enquanto nossos desejos estiverem voltados para os desejos "carnais" - e aqui englobo o materialismo de nossa época - não poderemos, nunca, atingir, ou, sequer, dar o pontapé inicial para a construção da sabedoria em nossas vidas. Vivê-mo-la, até então, de forma vazia.
Não defendo aqui que, para a construção da sabedoria, somente os conhecimentos das supracitadas ciências sejam absolutas para atingi-la. Não! O conhecimento empírico também é deveras importante neste processo. As experiências do passado e do cotidiano nos dão um arsenal muito rico para o conhecimento das relações humanas e de como devemos nos portar diante delas. Aliás, mais além, as relações interpessoais são os únicos meios de praticarmos e aprimorarmos a sabedoria que construímos até o presente momento. Muito mais além: as relações interpessoais são, elas mesmas, as únicas fontes de análises das supracitadas ciências. Tamanha é a sua importância!
Destarte, podemos ver que a sabedoria está intimamente ligada ao conhecimento. Quer seja teórico ou prático, o conhecimento nos leva a um patamar mais elevado. Como nos diz Cícero: "o saber se vale das competências acumuladas e se enriquece à medida que envelhecemos".
Mas eu não poderia encerrar a reflexão de hoje sem mostrar "o reverso da moeda", o lado negativo do conhecimento e do saber. Mesmo para os que não crêem na Bíblia, não há como contestar tal assertiva de Salomão, filho do Rei Davi: "Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor". Como gostaríamos de passar por esta vida sem desilusões! Quantas e quantas informações poderíamos ser poupados de saber! Mas se não as houvesse, como se apossar da verdade? Afinal de contas ela tem o poder de nos mostrar a nossa "situação diante das situações". A busca pela verdade é um condicionante que habita os corações humanos. Ao que me parece, todos já nascemos com essa predisposição. Não há como fulgir! Até mesmo os espíritos mais fracos e ingênuos o procuram com muito ardor. Diante de tudo isso podemos refletir: Há possibilidade de se envelhecer sem dor? Creio que não. Mas a sabedoria que aumenta durante a velhice, sabe não apenas amortecê-la, como também extrair-lhes suas doses mais mortíferas. A isso chamamos de amadurecimento. Lembremo-nos que um fruto antes de amadurecer passa pelas intempéries; e objetivo natural do fruto é trazer alimento para alguém (humano ou não). Assim também se passa conosco, as intempéries da vida faz-nos mais maduros; mas não um amadurecimento qualquer, sem finalidade; e sim com a finalidade principal (natural) de guiar os mais jovens a trilharem os diversos terrenos da vida com sabedoria.

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